A luta dos professores e a negação da individualidade

Para compreender este comentário, necessita de ler este texto muito certeiro do Luís.

O individualismo como cultura organizacional é, a meu ver, a negação da individualidade. Enquanto o individualismo significa atomização social, a individualidade implica independência e realização pessoal. Há muito tempo que os professores cultivam hábitos do individualismo o que revela ausência de uma ética do cuidado com os outros. Maria de Lurdes Rodrigues, pelas piores razões, acabou por fazer despertar essa ética e nunca estivemos profissionalmente tão perto de uma cultura de colaboração na escola situada. Agora regressamos ao passado, com a agravante de capitularmos perante a opinião pública e perante nós próprios, fazendo perigar a nossa individualidade. Adivinham-se tempos em que emergem sentimentos de culpa e agora, mais do que nunca, os professores mais lúcidos e mais assertivos precisam de ligar as pontas, criando culturas de colaboração, a bem da sanidade mental de todos.

Na ressaca da greve geral…

Na ressaca da greve geral dou comigo a pensar na distância inexorável que separa o ator político profissional, que julga ser capaz de modificar a realidade por controlo remoto e pela ação legislativa, do simples operário (ou do simples professor cada vez mais proletário)*, que se limita a cumprir prescrições.

Não irei recuperar os motivos pelos quais fez todo o sentido uma adesão alargada dos professores à greve geral, que não veio a acontecer. A ideia que quero desenvolver remete-nos para a questão da regulação das práticas, da pilotagem das práticas, e para a ineficácia das políticas autoritárias que se propõem alterar essas práticas pedagógicas. Independentemente da dimensão da adesão dos professores à greve geral há imensos sinais na escola situada, sinais que se vão intensificando, de uma confrontação sem paralelo na nossa história democrática entre a administração escolar e os professores. Esse conflito decorre da degradação do estatuto sócio profissional, do empobrecimento das condições laborais, e do definhamento das representações de sucesso profissional dos professores. O défice das contas públicas não explica tudo, nem pode legitimar opções de políticas que remetem a profissão docente para um ofício de simples assalariados desqualificados.

Não se conhece uma medida que toque na acendalha da motivação dos professores, bem pelo contrário. Apenas se conhecem ameaças de piores dias. O político profissional deixa-se alienar pela sensação de controlo que o poder legislativo lhe oferece e, como é evidente, não se augura qualquer mudança significativa nas práticas pedagógicas.

Na ressaca da greve geral dou comigo a pensar na distância inexorável que separa o ator político profissional do simples professor proletário…

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*A função docente é cada vez menos autónoma e cada vez mais prescritiva, por vontade do administrador escolar que não confia no profissionalismo dos professores e, reconheçamos, por vontade de muitos professores que preferem menos responsabilidade, porque as prescrições são sempre insuficientes para regular o trabalho abrangente do professor.

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imagem daqui

Alarme

Quem foi que anoiteceu a tarde em água e vento
e encheu de Inverno o Outono em que me escondo?
Quem foi que amarfanhou o meu sorriso antigo
e encheu de lama estrelas que sonhava?
Vontade de escarrar,
vontade louca
de dizer palavrões
a toda a gente!…
E tudo fica igual,
como se nada
tivesse acontecido
em qualquer parte;
e tudo fica mudo,
a mastigar
pra dentro
os palavrões
que era
preciso
dizer,
para que a tarde
fosse tarde
e o Outono
Outono
e o riso fosse riso
– um bimbalhar de sinos –
e as estrelas
brilhassem como sóis…
É preciso
acordar
a madrugada
-antes que a matem,
inda mal desperta!…

Alfredo Reguengo

(Deslocalizado do blogue da Maria Lisboa ;))

nem o país induca, nem o vinho instrói…

‘País não está a conseguir educar os jovens’, Nuno Crato

O ministro da Educação disse hoje em Mafra que é preciso estimular os jovens para o gosto pela Matemática e pelas Ciências, admitindo que o país «não está a conseguir educá-los».

«Temos um problema. É que não estamos a conseguir educar os nossos jovens como gostaríamos. No que se refere à Matemática e à Física temos muitos jovens que gostariam de ser engenheiros, cientistas, gestores ou economistas e não conseguem, porque não têm sucesso. É importante despertar os jovens para a cultura científica», afirmou Nuno Crato.

Bem, difícil é educá-los senhor ministro!…

Porque faço greve: enésima razão

(imagem daqui: http://blog.comunidades.net/pide/)

Atenção, divisionistas!

“O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, elogiou esta segunda-feira os trabalhadores do Estado que ajudaram o Governo a passar no segundo exame da ‘troika’ à execução do programa de ajuda externa. 

“Estas mulheres e homens não pensaram apenas nos seus direitos mas na forma como podiam ajudar o País”, sublinhou Vítor Gaspar numa alusão à polémica que o corte dos subsídios de Férias e de Natal e uma eventual revisão das tabelas salariais na Função Pública tem gerado na opinião pública.

Para o governante, estes funcionários são um exemplo “para aqueles que fomentam a divisão” num momento como aquele que Portugal atravessa.”

(in: CM)

Porque faço greve: 5 razões

O Ramiro foi inquirido por um jornalista sobre as suas razões para não fazer greve (entre parênteses). Razões falaciosas! Tanto servem para não fazer com para fazer greve (a negrito).

(#1. Porque não quero contribuir para criar uma imagem de país à deriva e sem norte.)

Porque não quero contribuir para criar uma imagem de um país acabrunhado e resignado.

(#2. Porque o país está falido e há dois responsáveis principais pela falência: os governos socialistas e os sindicatos, sobretudo os mais odiados pelos portugueses, os sindicatos dos transportes, que andam há décadas a exigir a Lua sem se preocuparem com a melhoria da produtividade e da competitividade do país.)

Porque o país está falido e há dois responsáveis principais pela falência: os governos PS e PSD (com o seu tradicional apêndice) com a conivência de milhares de oportunistas e fazedores de opinião que cobiçam a cadeira do poder (ou a cadeira de avençados) fazendo o que for preciso para lá chegar, sem qualquer réstia de pudor pela incongruência das suas posições políticas que são norteadas, unicamente, pela ganância do poder.

(#3. Porque o país precisa de trabalho e não de paralisia. Só com mais trabalho e mais responsabilidade é que Portugal pode aspirar a manter-se na União Europeia e eu não quero voltar à época do “sozinhos, pobres mas honrados”.)

Porque o país precisa de trabalho e de políticas que o promovam. Só com mais responsabilidade é que Portugal pode aspirar a manter-se na União Europeia e quem promove políticas de austeridade, que são fins em si mesmas, denota vontade em voltar à época do “sozinhos, pobres mas honrados”.

(#4. Porque Portugal tem um problema de credibilidade face aos credores, aos mercados e aos nossos parceiros da zona euro. Não se ganha credibilidade com greves gerais.)

Porque Portugal tem um problema de credibilidade face aos credores, aos mercados e aos nossos parceiros da zona euro. A credibilidade não se ganha ou perde com greve gerais. A credibilidade ganha-se com a credibilidade dos líderes políticos europeus. Os mercados são pessoas, são aforradores, a maioria das quais envolvidas nas greves gerais, que desejam uma ação concertada de médio e longo prazo ao invés de medidas avulsas que resultam das cimeiras de líderes.

(#5. Porque a greve geral interessa aos partidos que mais colaboraram na destruição da economia do País e eu não quero dar-lhes força. Ao invés, desejo que tenham cada vez menos influência nos destinos políticos do país.)

Porque a greve geral não interessa aos partidos que destruíram a economia do País e eu não quero dar-lhes força. Ao invés, desejo que tenham cada vez menos influência nos destinos políticos do país.

Revisitando a agenda da blogosfera docente

Dois assuntos marcaram a agenda semanal de uma boa parte da blogosfera docente:

1. O assunto sério, porque é determinante para o nosso futuro coletivo, foi a discussão do orçamento de estado para 2012 que configura opções de política educativa, a meu ver muito discutíveis porque são perniciosas ao desenvolvimento cultural dos portugueses;

2 . Um tema encomendado pela revista Sábado que procurou fazer evidenciar, de forma preconceituosa, digo eu, a ignorância dos alunos do ensino superior, na linha de uma imprensa de fait diverts que luta pela sobrevivência no combate à evasão de leitores.

Quanto à discussão do orçamento de estado e à presença do ministro da educação no parlamento, foi evidente que Nuno Crato não tem peso político neste governo (aliás, ele próprio reconheceu a sua incompetência parlamentar durante o debate) e que as opções de política educativa são determinadas inteiramente pelo diretório do ministério das finanças, com menosprezo dos seus efeitos a médio e longo prazo.

Na educação, tal como nas restantes áreas sociais do Estado, os cortes orçamentais não são confinados pelo problema da dívida soberana. Seguem uma linha de orientação ideológica que visa depauperar estes serviços, tornando-os irrelevantes, logo, dispensáveis, para serem oferecidos mais tarde a grupos de interesse privados onde as lógicas de negócio são incompatíveis com os princípios de equidade e de coesão social.

Para terminar a revista da agenda da blogosfera, não posso deixar de me antecipar ao assunto que vai marcar a próxima semana com um dos cartazes mais felizes que alguma vez foi produzido para uma Greve Geral. Foi no blogue do Luís Costa que o vi pela primeira vez… (e já agora, ouçam por lá a música do Zeca).

Descontar mais com menos

(…) De acordo com a Lei 49/2001, a sobretaxa é fixada em 3,5 por cento e incide sobre o total dos rendimentos coletáveis que estejam acima do salário mínimo nacional.

Para o cálculo desta sobretaxa será ainda deduzido aos contribuintes 2,5 por cento do valor do salário mínimo garantido por cada filho (ou seja, 12,125 euros).

No caso dos trabalhadores dependentes e pensionistas, a retenção será feita sobre uma importância correspondente a 50 por cento do valor devido do subsídio no mesmo mês em que se recebe o subsídio.

A somar a este corte, os funcionários públicos no ativo mais antigos passam também a partir deste ano a descontar para a ADSE sobre o subsídio de Natal (já o tinham sido sobre o de férias).

Numa situação semelhante à que já se aplicava aos funcionários aposentados e aos que entraram na Administração Pública a partir de 1 de Janeiro de 2009, todos os funcionários do Estado, sem excepções, passam a partir deste ano a descontar 1,5 por cento sobre 14 meses (e já não sobre 12 meses) para poderem beneficiar dos serviços de saúde comparticipados.

A medida está prevista num decreto-lei de execução orçamental publicado a 1 de Março e visa o reforço da autonomia financeira da ADSE para que o sistema dependa cada vez menos das transferências do Orçamento do Estado.

Lusa/SOL

Faltam motivos para aderirmos à GREVE GERAL?

Solidário…

Aproveito para manifestar aqui a minha solidariedade ao Paulo Guinote no processo que lhe foi movido pelo jornalista Paulo Chitas. Não o faço por algum sentido corporativo, embora não fosse completamente descabido face ao ostracismo a que fomos votados por uma certa comunicação social amiga dos governos de circunstância.

Faço-o porque a liberdade de expressão deve ser biunívoca e não é seguramente um feudo exclusivo de uma classe profissional.

As dissonâncias intermitentes com o Paulo são irrelevantes quando valores mais altos se levantam.

Vem aí uma Greve, chegaram as carpideiras…

… do costume: as arrependidas, os arautos da desgraça, e levanta-se uma onda de videirinhos que só aderem a uma greve no dia seguinte, depois de se confirmar que afinal houve grande adesão.

Todas partilham o desprazer das lutas de massas, mas por motivos diferentes: as carpideiras arrependidas tiveram de vencer a sua luta interior contra um certo snobismo – porque não ficam bem a calcorrear as ruas gritando palavras de ordem, coisa de pelintra, numa mescla com proletários do ensino ou detestam as encenações dos sindicatos; outras por fidelidade/oportunidade política preferem alimentar a teoria do caos – porque a greve apressará o país para a bancarrota; e, claro, os videirinhos não fazem greve porque não vai valer a pena, aliás, nada vale a pena.

É mais do mesmo…

A pessoa é um número.

A educação faz parte de um conjunto de criações humanas que se aceita como algo de bom e que é conveniente para todos, até ao ponto de ser convertida num direito humano e universal e num dever de toda a população, que deverá usufruí-la em condições de igualdade e gratuitidade.

A educação é a saúde disputam, pelas mesmas razões, um espaço mítico no qual se encontram as representações de progresso. E é difícil de conceber a obrigatoriedade da educação, assim como o direito ao serviço nacional de saúde, sem se garantirem as condições de acesso.

Hoje, depois de passar pelo blogue do Arlindo, fui encaminhado para uma declaração de Manuela Ferreira Leite, em meados do mês de Outubro, em que a antiga ministra das Finanças pede ao Governo que sejam feitas reformas estruturais no sector público que acompanhem as medidas de austeridade, propondo que a saúde e a educação sejam temporariamente “pagas por todos aqueles que podem pagar”.

Esta afirmação daria pano para mangas. Da falácia do que é apresentado como temporário para se afirmar como definitivo, à perda de significado, de valor, e de expectativas, da escolarização, podíamos construir o quadro mental em que se desenham as correntes neoliberais que tiranizam as pessoas.

Um governo equívoco.

Percebo o desencanto daqueles que depositaram o seu voto e a confiança neste governo, acreditando na rutura com o passado. Um passado marcado pelo embuste, pelo cinismo político, por um modo de fazer política assente numa poderosa máquina de criação de equívocos.

O equívoco é o diapasão que permite ao governo afinar as suas políticas depois de tatear as expetativas dos adversários políticos, dos fazedores de opinião, das organizações e das corporações.

O equívoco é a imagem de marca deste governo. O primeiro-ministro deu o mote. Relvas explica como se faz…

Há dois dias.

Relvas admite cortar apenas um subsídio

Hoje.

Relvas: “Não há almofadas para manter um subsídio”

Mais uma viagem…

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Encontrar-nos-emos, no próximo sábado, uma vez mais!

Não me faltam os motivos e a acendalha é a indignação pela iniquidade das medidas de austeridade. Mas há sempre quem apele à resignação por patriotismo. Pasmemos, por patriotismo!

Que estranha forma de pensar a democracia. Que forma inquinada de patriotismo…

Resignação para não afundar o país?!…

Resignação para comover os mercados?!…

Resignação para a Troika ver?!…

(Re)Agir para desencorajar os coveiros do país!

Uma noite bem passada

Ontem à noite, num gesto de grande coragem (porque é mais fácil guardar a sete chaves as opções metodológicas dentro da sala de aula), a direção da escola da minha petiza convocou os pais para lhes explicar por que razão foi adotada a metodologia de aprendizagem cooperativa. Foram explicadas as bases desta metodologia e a ideia que importa relevar é o desenvolvimento das inteligências interpessoal, intrapessoal, e linguísticas, normalmente subvalorizadas em metodologias de ensino mais diretivas.

Pelo que me foi dado observar, a maioria dos pais saíram sossegados, mesmo aqueles que vivem mais obcecados com as lógicas da campeonite que tomaram conta do ensino secundário.

Mas senti a falta dos cratenses e dos seus fantasmas…

Vender os anéis antes dos dedos…

No vídeo que sugeri aqui, a professora Maria da Conceição Tavares considera que a “ajuda” do FMI é nefasta pelas medidas estruturais que encerra e usou como exemplo a dívida brasileira e a visão estratégica de Lula da Silva que recusou tornar-se refém do Fundo Monetário.

Corrijam-me se digo algum disparate:

Atendendo à trajetória de empobrecimento desencadeada pela aplicação das medidas impostas pela troika, não seria este o momento de utilizar as reservas em ouro do Estado para resgatar a dívida ou, sendo estas reservas insuficientes, amortizá-la para um valor suportável?

Como não podemos contar com a ajuda do BCE, que parece maniatado pelos termos dos tratados que os países membros assinaram noutra conjuntura, não será este o momento de vender os anéis antes que nos exijam os dedos?

Sendo a economia uma ciência esotérica, não acham que é tempo dos videntes apontarem para outras estrelas?