O caldo de cultura que levou o Trump…

… ao poder está aí e veio para ficar, temo eu.
É o mesmo caldinho que leva toda esta multidão ao aeroporto de Lisboa para receber os jogadores da seleção nacional, depois de uma sofrível prestação no campeonato do mundo.
Se são assim tão nacionalistas ao ponto de se deixarem extasiar pela presença de um símbolo nacional, por que motivo se calam quando as várias instâncias europeias colocam em causa a nossa soberania e nos colocam entre a espada e a parede.
Pensaria eu que tanto fervor patriótico os levassem a escolher a espada, quando está em jogo um dos valores mais altos da nossa democracia: a Liberdade!
Carneirada!

Carta aberta aos professores portugueses que usam as redes sociais, mas em formato minimalista.

Caros colegas.

É aviltante assistir aqui e noutros lugares onde se noticia o diferendo entre professores e o ME ao achincalhar da profissão docente. Estes ataques são, em regra, perpetrados por avençados mais ou menos camuflados de professores. Não interessa agora saber quem paga e porquê. Os motivos são óbvios e fizeram escola no tempo de Maria de Lurdes Rodrigues. Noto com tristeza que alguns colegas, por ingenuidade ou porque ainda creem que o insulto gratuito pode ser combatido com racionalidade argumentativa, lutam desesperadamente pela defesa da honra da classe exaltando a relevância social da função docente.
Lamento muito desiludir-vos, mas o vosso esforço é inglório para este tipo de gente.
Ser professor não pode esgotar-se no saber ensinar. É preciso estar disponível para aprender e interpretar as circunstâncias que condicionam a aprendizagem. E no caso das redes sociais, face às singularidades do mundo digital, é fundamental separar o trigo do joio; reconhecer e diferenciar uma discussão séria de uma discussão estéril, de soma nula; perceber se estamos a discutir com um canalha avençado ou com um interlocutor que faz assentar as suas posições num quadro de referência diferente do nosso.
Permitam-me uma sugestão básica, mas com resultados inquestionáveis:
Mandem-nos bugiar e passem à frente!
Só para rematar, acabei de me lembrar de um slogan que vem do tempo do PREC e que se adequa perfeitamente ao tempo que vivemos hoje: Unidos venceremos!

Começo…

…  a sentir saudades deste espaço. É bom e mau sinal! É bom sinal porque regresso à escrita, ao reordenamento de algumas ideias soltas que me atormentam e inquietam; é mau sinal porque sinto um déjà vu… dizem as más línguas que não se deve regressar a um lugar onde se foi feliz.

10 anos.

… de permanência na blogosfera. Admirável, permitam-me a imodéstia! Quer concordando ou discordando das minhas opiniões, sempre sugeri seriedade na discussão, desejei o debate construtivo, procurei a congruência entre o que defendi, e defendo, e a minha prática profissional. Não foi um olhar inócuo sobre a realidade que percecionei. Foi um olhar comprometido com o modo como me situo na vida.

Este outroolhar só fez sentido porque existiu o olhar do outro. Um bem-haja a todos os meus companheiros na blogosfera que partilharam este espaço: pelo sistema de relações que criámos, pela possibilidade de desocultarmos progressivamente a realidade, e pela oportunidade que me deram para acelerar o meu crescimento e desenvolvimento pessoal.

Até já! E já agora: sobrevivam por favor ao ano que aí vem!

Raiva

A minha intermitência neste blogue ocorre no preciso momento em que mais preciso dele: As notícias diárias na imprensa vão exibindo, paulatinamente, as verdadeiras intenções do governo em destruir a escola pública (como o referencial de qualidade do serviço educativo), o desinvestimento na educação, repetidas tentativas do governo em desqualificar os professores, cada vez mais reduzidos a meros operários acríticos.

O meu tempo subjetivo desviou-me deste espaço. O voluntariado a que me dediquei absorve-me completamente, guilhotinando-me outras causas.

A estória mal contada de alienar a escola pública a grupos económicos de privados, repetindo na educação o exemplo da saúde, é um atentado à inteligência de qualquer pessoa de bem. A raiva é um sentimento benigno se resultar da defesa da nossa sanidade. É o caso!

Sinto raiva! Não do Paulo Portas e da quadrilha que nos desgoverna. Desses, sinto asco! Sinto raiva daqueles colegas, professores, que conivente e acriticamente legitimam estas políticas evocando o chavão de que são todos iguais!

Vão dar banho ao cão!

Abril de sim, Abril de Não

Eu vi Abril por fora e Abril por dentro

vi o Abril que foi e Abril de agora

eu vi Abril em festa e Abril lamento

Abril como quem ri como quem chora.

Eu vi chorar Abril e Abril partir

vi o Abril de sim e Abril de não

Abril que já não é Abril por vir

e como tudo o mais contradição.

Vi o Abril que ganha e Abril que perde

Abril que foi Abril e o que não foi

eu vi Abril de ser e de não ser.

Abril de Abril vestido (Abril tão verde)

Abril de Abril despido (Abril que dói)

Abril já feito. E ainda por fazer.

Manuel Alegre

Os influentes

As lutas pelo poder nas escolas nem sempre mitigam os interesses interesseiros. É um caldo de ascendências de onde emerge uma figura singular que encontra paralelismo nas Farpas do Eça sob o nome de influente.

“O influente ordinariamente é proprietário; (…) Na véspera de eleições todos o vêem montado na sua mula, pelos caminhos das freguesias, ou, nos dias de mercado, misturado entre os grupos: fala, gesticula, grita, tem pragas e anedotas. Dispõe de 200 ou 300 votos: são os seus criados de lavoura, os seus devedores, os seus empreiteiros, aqueles a quem livrou os filhos do recrutamento, a bolsa do aumento de décima, ou o corpo da cadeia. A autoridade acaricia o influente, passa-lhe a mão por cima do ombro, fala-lhe vagamente no hábito de Cristo. Tudo o que ele pede é satisfeito, tudo o que ele lembra é realizado. As leis curvam-se, ou afastam-se para ele passar. As suas fazendas não são colectadas à justa: é o influente! Os criminosos por quem ele pede são absolvidos: é o influente! (…)”

O influente quer crer que faz parte de uma espécie de casta superior só porque se move na penumbra dos poderes instituídos; é um verdadeiro peão de brega.

Este “cromo do ensino” é inteligível a partir de um quadro de referência que inverte a lógica de serviço público. É a cultura da cunha em todo o seu esplendor. Os influentes não desejam equidade, prescindem da liberdade intelectual e receiam a perda de confiança do poder que ajudaram a conquistar. Alguns desaparecem das salas de professores quando são desmascarados. Através de um pacto de regime, silencioso ou declarado, o clube dos influentes congrega vários tipos de docentes. Amortecem as críticas, impulsionam a intriga para tomar o pulso da contestação e impedem a inovação. Rejeitam a mudança, sobretudo, a que suscitar a modificação do modus vivendi instalado.

Há vários tipos de influentes e agregam-se numa oligarquia:

Os irritados criticam as pequenas falhas de organização, são intolerantes com os alunos e colegas, principalmente, com os mais novos. Creem na sua coragem consubstanciada numa crítica ligeira, disfarçada, que ninguém leva a sério.

Os trabalhadores andam sempre atarefados, azedos e nunca erram. Isto é, raramente assumem o erro, o engano, o descuido, a falha. São os super profissionais.

Os calados não têm opinião, apresentam-se descomprometidos com a escola. São insuspeitos, são os desejados porque não “complicam”. São os ouvidos que as paredes escondem.

Os estrategas preocupam-se com o clima da escola e com as pessoas, mas o que lhes realmente lhes interessa é a conjuntura. Se pressentem sinais de um eventual contrapoder tornam-se visíveis, atuam concertadamente e, com muita facilidade, mobilizam um batalhão de fiéis seguidores. São implacáveis na retaliação.

Os anónimos diferem dos calados porque não têm a capacidade de discernir o seu grau de influência. Fazem o que for preciso para subir na escala de influência.

Raramente os influentes aparecem no seu estado puro; São híbridos e multifacetados. São os videirinhos!

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(reedição com pequenos arranjos na redação (14/1/2004)

Poesia aplicada…

perrenoudPerrenoud será sempre uma referência incontornável da nossa vida escolar, ou não fosse o autor um guru do nosso referencial externo no processo de autoavaliação. Percorrer os textos de Perrenoud e imaginar a escola situada é um exercício poético imperdível, digo eu que não tenho qualquer sensibilidade poética.

Um dos livrinhos do autor que é de leitura obrigatória para quem ousa promover a mudança, a reforma, ou, não sendo o caso de mudar porque se quer crer que está tudo bem, manter as práticas pedagógicas diferenciadas e ativas, data de 2002 na sua versão portuguesa. A capa desse “guia de boas práticas” (para quem o quiser adquirir encontra-o num canto esquecido de uma livraria com saída) ilustra este pequeno apontamento.

Diz o autor que “O sistema educativo é ingovernável sem a adesão de, pelo menos, uma parte dos professores e dos utentes, pais e alunos”; que “Nas sociedades desenvolvidas, os poderes organizadores e o establishment político começam a compreender que não vale a pena tentar “domar” os professores”; que “a ausência de negociação não bloqueia, portanto, constantemente, as decisões, mas acaba sempre por as esvaziar do seu sentido…”. Perrenoud quer enfatizar a necessidade de uma pilotagem negociada da mudança. E uma verdadeira instância de pilotagem de uma mudança na escola situada consiste em ultrapassar as clivagens e os regateios habituais, para adotar uma visão coletiva.

Percebem agora porque considero que imaginar as ideias de Perrenoud aplicadas à escola situada pode constituir um exercício poético imperdível e… hilariante?

Já agora: ampliem a imagem e leiam tudo, porque vale a pena!

Normativite

Numa ação dirigida às lideranças intermédias no âmbito de um processo de autoavaliação das escolas do agrupamento (algo que não deve ser confundido com o processo de autoavaliação do agrupamento de escolas), o investigador convidado que dirigia os trabalhos alinhava o seu pensamento com as ideias de Perrenoud, sociólogo e professor na Universidade de Genebra, autor de uma vasta obra na formação de professores. Para os mais familiarizados com o linguajar “gestionário”, Perrenoud é um dos referentes externos do nosso referencial. Para os menos familiarizados com esse linguajar, Perrenoud será um dos nossos gurus, não só da avaliação dos resultados escolares como da avaliação de outras áreas a avaliar. Para o bem e para o mal!

Muito haveria a dizer sobre o pensamento de Perrenoud e mais ainda sobre os perigos de se treslerem as ideias de autores de referência (quem não se lembra do caso do escritor Nuno Crato ter treslido Rousseau?)…. mas não temos tempo.

O que diria Perrenoud se fosse convocado para a “discussão pública” desenhada em torno de um documento estruturante, como é o caso do regulamento interno, “estrangulado” por uma resma de documentos reguladores?

Diria, muito provavelmente: “… que uma parte do problema da escola não reside nas suas intenções, mas na maneira como ela organiza o trabalho, como perde tempo e energia no prosseguimento de objetivos sem grande importância, na sua falta de continuidade no tratamento dos problemas.” (Perrenoud, 2002)

O pensamento de Perrenoud, no que diz respeito ao peso burocrático que afeta a escola e extenua os professores, não podia ser tão desafiante e tão contundente face às rotinas instaladas.

Os megas situados – Entre o anacrónico e o paroquial!

Ainda é cedo para formular um juízo situado sobre os problemas que decorrem da agregação que “vitimou” a minha escola. A notícia e os testemunhos que surgem nesta pequena janela do DN (que roubei descaradamente ao Arlindo) remetem-nos para questões materiais, não direi que são despiciendas porque a degradação das condições salariais dos professores configura um roubo de igreja, e quase que deixam escapar outros sinais que atestam a transformação das escolas… para pior:

É anacrónico o modo como a informação encrava quando deveria ser processada mais rapidamente, ou não estivéssemos no tempo da velocidade, dos bites e dos bytes (é o tempo do bitaite!);

É daltónica a cultura visual, instantânea, marcada pela superficialidade, como se se ousasse substituir a reflexão aturada e o debate público rigoroso;

É paradoxal a tentativa de centralizar a gestão quando as boas práticas aconselham a descentralização das decisões e das lideranças;

É irónico que as estruturas organizacionais mais planas sejam amarfanhadas num controlo hierárquico dissimulado.

Há quem os designe de equívocos “pós-modernistas” gestionários. Eu chamo-lhe apenas paroquialismo!

Só nos faltava mais este…

Miguel Relvas anunciou ainda que o desporto escolar irá ser alargado ao 1.º ciclo do ensino básico.

“O Governo não faz campeões, mas cria as condições para que esses campeões sejam feitos. E, nesse sentido, o Governo criou todas as condições”, defendeu.

Convém ter presente que estas palavras são de Miguel Relvas. E quando Miguel Relvas toca num assunto, há que temer o pior. Depois da previsível machadada na Educação Física, porque não se esperaria outra coisa de um ministro sectário ofuscado pela matemática, resta o desporto escolar para a atrofia definitiva da escola. Ou será que ainda não perceberam que a educação física é uma forma específica da relação do sistema educativo com o corpo?!

Déjà vu (II)

É um facto indesmentível que as associações/federações sindicais ainda não conseguiram acertar os passos numa caminhada conjunta, como constatou o Nuno. As razões que determinaram esse facto são especulativas. Cada um enfatizará o que mais lhe convier para explicar a aparente idiotice: Do meu ponto de vista, o facto de a FENPROF caminhar sozinha decorre de outro facto: a FNE encontra-se ideologicamente cativa das políticas de direita que não lhe permite fazer uma oposição enérgica ao governo; do ponto de vista daqueles que se situam no lado direito do quadrante político, é compreensível que necessitem de culpar a FENPROF pelo desejo de um putativo protagonismo nas iniciativas de rua ou nos protestos de massas; do ponto de vista dos pseudoindependentes das estruturas sindicais, este assunto é irrelevante porque as iniciativas coletivas são estéreis, sobrando as heroicas iniciativas individuais que a existirem são desconhecidas pelas massas e obstaculizam, sabe-se lá como, o avanço das políticas opressivas deste governo.

A realidade é multicolor!

Mais proximidade, mais acompanhamento, mais exigência…

A competição é intrinsecamente positiva e a participação em atividades competitivas cria oportunidades do desenvolvimento de competências, na procura da excelência e da superação. Nem todos os adultos que acompanham as competições dos mais jovens percebem as diferenças conceptuais entre a competição dos adultos e a competição dos mais jovens. Um breve percurso pela investigação permite-nos encontrar sinais que comprovam a ideia de que, também no desporto, as crianças e jovens não são adultos em miniatura.

Sem pretender ser muito exaustivo, porque este espaço é meramente opinativo, vejamos o que defendem alguns autores de referência nesta área do conhecimento:

“No desporto de alto rendimento a competição é o quadro de referência para a organização do treino; no desporto de crianças e pubescentes, a competição deve constituir uma extensão e complemento do treino” (Marques, 1999: 26). As competições devem servir os propósitos da formação, e por isso, devem estar ligados não só no plano organizativo, como nos conteúdos (Weineck, 1983).

As competições devem ser encaradas numa óptica de progressão, mesmo num quadro que visa a preparação de atletas para o alto nível. Nas primeiras fases, o divertimento e o prazer são os objectivos primeiros, existindo de seguida uma evolução posterior até se chegar às competições olímpicas (Bompa, 2000).

Se as alterações na estrutura e regulamentos das competições começam a deixar de gerar resistências por parte dos responsáveis pelas actividades físicas dos mais jovens, a alteração do conteúdo das competições já é defendida por um número crescente de especialistas (Rost, 2000; Lima, 2000).

O que se pretende é introduzir alterações na competição de forma a torná-la mais adequada aos objectivos de formação: por um lado, contribuindo para o desenvolvimento da multilateralidade, não só uma multilateralidade geral – competições múltiplas (Rost, 2000) – como uma multilateralidade específica – adequada às necessidades de cada desporto (Marques, 1997); e por outro lado, estimular o desenvolvimento de pressupostos de prestação que já são treináveis, nas primeiras fases da preparação desportiva – desenvolvendo preferencialmente os pressupostos coordenativos. Uma questão que terá de ser equacionada, quando se sugere a alteração da competição dos mais jovens é o problema dos escalões competitivos, organizados em função da idade cronológica.

Etc, etc…

Se a competição desportiva e o sistema de treino devem ser diferentes quer se trate do desporto de crianças e jovens ou desporto para os adultos, também devia ser diferente o modo e as expectativas dos pais, dirigentes e treinadores sobre o valor dos resultados desportivos na competição dos mais novos.

Ora, malogradamente, na realidade sobram os exemplos de má formação desportiva daqueles que têm a responsabilidade de acompanhar os mais novos. Num quadro de ajustamento das responsabilidades, sou muito mais complacente com a atitude errática de pais desportivamente analfabetos do que com a atitude irresponsável de dirigentes e treinadores que se projetam nos resultados desportivos dos mais jovens para suprir os seus próprios recalcamentos.

Só o acompanhamento de proximidade permite que os pais mais informados compensem desvarios dos agentes desportivos que acompanham o desporto dos filhos. Se nenhum encarregado de educação está obrigado (a não ser que se trate de um profissional da área) a aferir se os técnicos e dirigentes que acompanham os mais novos dominam a matéria técnico-pedagógica do desporto que ensinam; todos os encarregados de educação devem ser exigentes e inflexíveis quanto ao incumprimento de regras que ofendem a dignidade da pessoa. Aqui não há desculpa!

Sonho para 2013…

Um sonho cego a nada

 

Prometemos

que teríamos em comum

não sermos dois, apenas um

E que as nossas almas nuas

viciadas na bruma

não fossem duas

apenas uma.

 

Prometemos

um sonho para lá do aterro

um sonho sem medo

um sonho semente enraizada

um sonho sem ego

um sonho cego

a nada.

 

Um sonho

um sonho apenas

só um

um sonho sem penas

apenas um

um sonho

realizado por nenhum.

 

Paulo Anes

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“roubado” aqui

9 anos…

Há dias o Pedro falou ao país. Percebendo a indiferença dos portugueses, abrigou-se numa rede social para se lamechar aos seus amigos… Triste figura!

O espetáculo tomou conta do nosso quotidiano. Agregado aos órgãos de comunicação social, o espetáculo disfarça a fraca política. É incontornável a incursão mediática sobre as mais diversas manifestações humanas e não adianta carpir mágoas suspirando por um tempo de estadistas. É a lógica imediatista, consumista e vertiginosa, que ordena o quadro valorativo deste tempo. É o tempo dos clichés. É o tempo do efémero! Lamentavelmente, a escola acaba por projetar este tempo…

9 anos na blogosfera e não se vislumbra um sinal de esperança e de mudança, Sophia?…

Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura

Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura

Este é o tempo em que os homens renunciam.

Sophia de Mello Breyner
in Mar Novo (1958)

Bom Natal!

Aproveito este espaço para renovar o votos de um Bom Natal para todos os amigos e companheiros de viagem.

A acompanhar os meus votos, junto este poema que roubei à Maria Lisboa no seu cantinho:

tempo de adulto, tempo de criança

Imagem (in: www.fizogg.co.uk/gallery2_22.html)natal

espero que me calhe a fava

que é costume meter no bolo-rei;
quer dizer que o comi, que o partilhei
no natal com quem mais partilhava

numa ordem das coisas cuja lei
dos afectos e memória em nós grava
nalgum lugar da alma e que destrava
tanta coisa sumida que, bem sei,

pela sua presença cristaliza
saudade e alegria em sons e brilhos,
sabores, cores, luzes, estribilhos…
e até por quem nos falta então se irisa

na mais pobre semente a intensa dança
do tempo de adulto e tempo de criança.
Vasco Graça Moura

Com papas e bolos se enganam os tolos

Não foi por obra do acaso que o país chegou onde chegou. Foi necessário conjugar vários elementos perversos para a saúde da nossa democracia: irresponsabilidade política de inúmeros oportunistas, videirinhos que tomaram de assalto lugares de comando do Estado; inércia abstencionista de milhares de eleitores que deixam terreno fértil para a aberração democrática designada por “partidos do arco do poder”; conivência da comunicação social, em muitos casos acéfala, que por manifesta incompetência parece mais vocacionada para propagandear o poder hegemónico do que para desconstruir os factos políticos, garantindo o mesmo espaço mediático ao contraditório.

E mais grave do que não abrir um espaço para o contraditório é ocupar esse espaço com uma metamorfose da propaganda oficial travestida de contraditório. A opinião de Maria de Lurdes Rodrigues, só para dar um exemplo, é em termos conceptuais a opinião do atual ministro da educação: são econometristas da educação e acreditam cegamente de que é possível melhorar a qualidade do serviço educativo sem contar com os professores. No fundo, fazem parte da mesma família política, a família de “partidos políticos do arco do poder” que nos conduziu ao ponto onde nos encontramos!

Com papas e bolos se enganam os tolos.

Privatizar a educação – fraude eleitoral

O PCP pediu hoje a presença do ministro da Educação no Parlamento para explicar as “verdadeiras intenções” do Governo em relação ao financiamento do ensino obrigatório, considerando que existe o risco de introdução de propinas.

(…)
Para o PCP, “não há dúvida nenhuma” de que o primeiro-ministro se referiu “à introdução do pagamento de propinas” na escolaridade obrigatória, disse o deputado Miguel Tiago, em declarações aos jornalistas no Parlamento.

Passos Coelho foi claro: advoga a supremacia dos princípios e mecanismos de mercado sobre os princípios de cidadania e financiamento democráticos da escola pública. Passos Coelho defende um modo de privatizar a educação pela via do aumento da percentagem de financiamento da escola pública pelas famílias.

Se não podemos dizer que estamos surpreendidos com a ideologia neoliberal do primeiro-ministro, podemos dizer que as medidas que agora vem defender com o pretexto de não haver dinheiro para sustentar o Estado Social não foram sufragadas pelo voto dos pacóvios que nele acreditaram, o que configura, a meu ver, uma fraude eleitoral.

Se Portugal tivesse Presidente República, o governo seria deposto!