A competição é intrinsecamente positiva e a participação em atividades competitivas cria oportunidades do desenvolvimento de competências, na procura da excelência e da superação. Nem todos os adultos que acompanham as competições dos mais jovens percebem as diferenças conceptuais entre a competição dos adultos e a competição dos mais jovens. Um breve percurso pela investigação permite-nos encontrar sinais que comprovam a ideia de que, também no desporto, as crianças e jovens não são adultos em miniatura.
Sem pretender ser muito exaustivo, porque este espaço é meramente opinativo, vejamos o que defendem alguns autores de referência nesta área do conhecimento:
“No desporto de alto rendimento a competição é o quadro de referência para a organização do treino; no desporto de crianças e pubescentes, a competição deve constituir uma extensão e complemento do treino” (Marques, 1999: 26). As competições devem servir os propósitos da formação, e por isso, devem estar ligados não só no plano organizativo, como nos conteúdos (Weineck, 1983).
As competições devem ser encaradas numa óptica de progressão, mesmo num quadro que visa a preparação de atletas para o alto nível. Nas primeiras fases, o divertimento e o prazer são os objectivos primeiros, existindo de seguida uma evolução posterior até se chegar às competições olímpicas (Bompa, 2000).
Se as alterações na estrutura e regulamentos das competições começam a deixar de gerar resistências por parte dos responsáveis pelas actividades físicas dos mais jovens, a alteração do conteúdo das competições já é defendida por um número crescente de especialistas (Rost, 2000; Lima, 2000).
O que se pretende é introduzir alterações na competição de forma a torná-la mais adequada aos objectivos de formação: por um lado, contribuindo para o desenvolvimento da multilateralidade, não só uma multilateralidade geral – competições múltiplas (Rost, 2000) – como uma multilateralidade específica – adequada às necessidades de cada desporto (Marques, 1997); e por outro lado, estimular o desenvolvimento de pressupostos de prestação que já são treináveis, nas primeiras fases da preparação desportiva – desenvolvendo preferencialmente os pressupostos coordenativos. Uma questão que terá de ser equacionada, quando se sugere a alteração da competição dos mais jovens é o problema dos escalões competitivos, organizados em função da idade cronológica.
Etc, etc…
Se a competição desportiva e o sistema de treino devem ser diferentes quer se trate do desporto de crianças e jovens ou desporto para os adultos, também devia ser diferente o modo e as expectativas dos pais, dirigentes e treinadores sobre o valor dos resultados desportivos na competição dos mais novos.
Ora, malogradamente, na realidade sobram os exemplos de má formação desportiva daqueles que têm a responsabilidade de acompanhar os mais novos. Num quadro de ajustamento das responsabilidades, sou muito mais complacente com a atitude errática de pais desportivamente analfabetos do que com a atitude irresponsável de dirigentes e treinadores que se projetam nos resultados desportivos dos mais jovens para suprir os seus próprios recalcamentos.
Só o acompanhamento de proximidade permite que os pais mais informados compensem desvarios dos agentes desportivos que acompanham o desporto dos filhos. Se nenhum encarregado de educação está obrigado (a não ser que se trate de um profissional da área) a aferir se os técnicos e dirigentes que acompanham os mais novos dominam a matéria técnico-pedagógica do desporto que ensinam; todos os encarregados de educação devem ser exigentes e inflexíveis quanto ao incumprimento de regras que ofendem a dignidade da pessoa. Aqui não há desculpa!