O homem está a engolir sapos?
… Balha-me Deus!
Desde há 3 anos que a avaliação do desempenho dos docentes tem estado sempre no centro da agenda e da turbulência educativa. Porque era impossível (como tive oportunidade de dizer e demonstrar), porque era burocrática e monstruosa (também por responsabilidade das próprias escolas), porque era um instrumento de persecução de autoridades que o não sabiam ser, porque minava os modos de ser professor, porque requeria um excessivo tempo (que era roubado ao essencial da profissão – ensinar-fazer aprender-avaliar – porque não tinha condições de realização por falta de conhecimentos e de preparação, porque o campo profissional estava minado por uma vasta desconfiança mútua.
Por razões de oportunidade (leia-se de oportunismo político), o PSD e toda a oposição parlamentar deliberou suspender a avaliação em curso. Há razões objetivas (e demonstráveis) que tornam evidente que este sistema de avaliação estava longe de concorrer para elevar as qualidades de ensino e das aprendizagens. Há evidências que permitem sustentar (de um geral e sem se poder generalizar) que os prejuízos estavam a ser maiores que os benefícios. E por isso, o discurso da indignação soa a uma manifesta falsidade.
Mas deve também dizer-se que esta suspensão se pode virar contra os professores. Porque se cria a ideia de que os professores, definitivamente, não querem ser avaliados. E são uma espécie de classe profissional pária. E isto pode ter muito nefastas consequências na imagem pública e, posteriormente, na ação política (cerceando e limitando ainda mais os direitos profissionais).
Por isso, temos de reivindicar uma avaliação com significado e sentido. Uma avaliação que aposte claramente na dimensão interna, formativa, colaborativa. Na construção de uma cultura profissional que se resgate da clausura, da solidão e do sofrimento profissional. Uma avaliação que esteja nas mãos dos professores. E que se distinga dos mecanismos de progressão na carreira (embora esteja necessariamente conectada). Mais do que celebrar o fim, temos de ousar um início. Antes que seja tarde demais.
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O José Matias Alves disse com mais competência aquilo que eu defendo aqui. É verdade: “Temos de reivindicar uma avaliação com significado e sentido. Uma avaliação que aposte claramente na dimensão interna, formativa, colaborativa. […]Uma avaliação que esteja nas mãos dos professores.”
Há muito tempo que desejava concordar com a ministra. De facto, esta ADD terminou tal como começou! E só uma decisão baseada em circunstâncias políticas poderia terminar com a farsa. Foi de tal forma lamentável e irresponsável iniciar o processo que a decisão de o terminar peca por tardia. É lamentável e irresponsável ter permitido que esta avaliação de faz-de-conta tivesse desbaratado tanto potencial nas escolas situadas!
É lamentável, senhora ministra, porque foi irresponsável!
Cavaco Silva não vai intervir na avaliação dos professores
Cavaco Silva prepara-se para promulgar a proposta da oposição que revoga o modelo de avaliação dos professores, sabe o i. O Presidente da República não irá atender ao pedido do governo e não irá enviar para o Tribunal Constitucional o diploma de revogação do modelo aprovado a semana passada pela Assembleia da República. Belém considera que o argumentário do Partido Socialista sobre a inconstitucionalidade da proposta da oposição não é juridicamente correcto. […]
A Assembleia da República revogou a ADD.
Até ao final do presente ano lectivo, o Governo inicia o processo de negociação sindical tendente a aprovação do enquadramento legal e regulamentar que concretize um novo modelo de avaliação do desempenho docente, produzindo efeitos a partir do início do próximo ano lectivo.
Para efeitos de avaliação desempenho docente, e até à entrada em vigor do novo modelo de avaliação, são aplicáveis os procedimentos previstos no Despacho nº 4913-B/2010, de 18 de Março, no âmbito da apreciação intercalar, até ao final de Agosto de 2011.
Este é o momento para auscultar os professores e encontrar um modelo de avaliação que seja o mais consensual possível entre a classe. Sabemos o que significa consensualizar um modelo de avaliação de desempenho. Sabemos que a tarefa é ciclópica porque há uma pluralidade de sentidos da profissão. O que me leva a pensar que nenhum sindicato será capaz de encontrar um modelo, não direi que seja aceite por todos os professores mas que seja entendido por todos. E para ser entendido por todos os professores esse modelo só pode ser exclusivamente formativo. Não há que recear os remoques dos Pachecos e Tavares da nossa praça que não perderão a oportunidade para fazer passar a ideia que os professores não querem ser avaliados. Há que explicar a complexidade da função docente e a impossibilidade de verificar e confirmar a materialização das várias dimensões do exercício profissional.
Uma vez mais, os professores estão no centro do debate político. E não poderia ser de outra forma porque uma bandeira eleitoral do PS ficou, hoje, depois da votação da revogação da ADD, a meia-haste.
Enquanto o animal feroz vociferava em Bruxelas contra os hereges que ousaram terminar com uma das maiores farsas que viveu a escola pública depois do 25 de Abril, Pacheco Pereira justificava aos jornalistas de serviço na Assembleia de República o seu sentido de voto. Foi o um preconceito anti-sindical que o terá levado a votar ao lado dos socialistas. Inacreditável. Se não foi por distracção, foi, certamente, por recalcamento político. Se Pacheco Pereira conhecesse as lógicas de funcionamento das escolas públicas, se alguma vez tivesse lido a documentação produzida pelo ME no âmbito da ADD, não precisaria de fugir das razões mais que fundadas de claro oportunismo político do PSD para justificar a sua tomada de posição.
Uma das bandeiras do PS acabou de ser içada a meia-haste.
Respeitemos o luto do primeiro-ministro, da bancada parlamentar do PS e de todos aqueles professores que viram neste modelo de avaliação de desempenho docente falacioso um meio artificial de auto-promoção profissional.
Oremos!
É difícil de descrever o sentimento que se apoderou de mim, hoje, depois de saber que a ADD, esta malfadada ADD, vai perecer.
É um misto de regozijo e de inquietação!
Regozijo por ver desaparecer um elemento de putrefacção de relações profissionais;
Inquietação por pressentir que os tiranetes que se exibiram fora da caverna regressarão, talvez ainda mais recalcados do que outrora, ao pousio de onde emergiram.
Terei percebido mal? JSócrates disse que se recandidata a primeiro-ministro depois de se demitir por ausência de condições para governar? Mas, será que ainda não percebeu que ele é parte do problema e não da solução? Admitamos que vence novamente as eleições, com maioria relativa. Sem a confiança política dos partidos da oposição, como pensa governar?
É por se recusar ver o óbvio que este PS nos conduziu ao buraco onde nos encontramos!
… espera, espera, ainda vai falar o Sebastião!
A discussão do PEC 4 no Parlamento expõe um PS apavorado com a possibilidade de abandono do poder!
Ridículo!
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Extrapolando das palavras do Paulo, o PSD já exibiu a cenoura aos professores: a ADD será suspensa antes do final do ano lectivo, num pacote que incluirá um projecto de resolução sobre as linhas orientadoras de um novo modelo.
Seria bom que não menosprezassem o Sempre em Pé e, já agora, não se esqueçam de anunciar atempadamente que propostas têm na manga em matéria de educação.
É que pode parecer despiciendo nesta fase do campeonato, mas estamos fartos de ver este filme!
Uma das consequências nefastas da avaliatite (uma tipo de obsessão pela avaliação) é a uniformização de processos e métodos de ensino, formas e meios de aprendizagem, instrumentos e contextos de avaliação. A avaliação sumativa, a avaliação que visa a distribuição de indivíduos numa ardilosa escala de mérito, tomou conta da Escola. A avaliação formativa, a avaliação que atende às diferenças, embora continue colada à oratória do educativamente correcto, desapareceu (?) das preocupações reais dos professores porque não serve os objectivos desta Escola cada vez mais mercantilizada.
Paradoxalmente, ao mesmo que se faz um apelo à uniformização de rotinas de ensino e de materiais de planificação para “facilitar” o controlo dos desempenhos, a ideia meritocrática que emerge da ADD carece de evidências de inovação e de originalidade.
É por estas e por outras que nenhum professor deve ceder a qualquer tentativa de terraplanagem da sua singularidade profissional.
Desporto Escolar: Secretário de Estado defende redefinição
Menos modalidades nas escolas
As notícias que apontam para o fim do Desporto Escolar são “infundadas”, mas o secretário de Estado Adjunto e da Educação, Alexandre Ventura, defende uma redução do número de modalidades do programa. O objectivo é “aumentar a sua eficiência e visibilidade”, de modo a não prejudicar “a totalidade do programa”.
O secretário de Estado Adjunto e da Educação acaba por fortalecer uma ideia que me parece insofismável: este governo conseguiu, como nenhum outro governo pós-25 de Abril, escamotear o primado do pedagógico sobre o administrativo e financeiro.
Porque o Desporto é plural de formas e modelos, valores e sentidos, reduzir o leque das modalidades desportivas no Desporto Escolar significa negligenciar o desenvolvimento de distintas aptidões desportivas dos alunos, empobrecendo a cultura desportiva da escola e do país.
Uma escola culturalmente rica não tem de ser necessariamente uma escola cara. Mas a educação e a cultura custam dinheiro e para a promoção da cultura desportiva e escolar é preciso gastar o mínimo necessário para cumprir essa ambição.
Alguns analistas parecem surpreendidos com a dimensão dos protestos, outros fazem análises retorcidas sobre o significado das manifestações, mas se há um elemento que é consensual em qualquer diagnóstico da situação, esse elemento é a precariedade.
Sabendo:
· que as acções de rua são essenciais para o condicionamento das agendas partidárias;
· que os partidos do centrão, e o apêndice predilecto, são os principais responsáveis pelo estado da situação dos precários porque são os procriadores das políticas,
pergunto:
como vai o centrão compatibilizar os apelos dos governantes, arautos neoliberais que lhes produzem os programas eleitorais, com os apelos dos governados, as mulheres e homens da rua e da luta?
Excluindo as razões que perpassam o sobrenatural, do domínio do religioso, não há motivos para crer na capacidade do PSD para estancar o avanço das políticas educativas neoliberais protagonizadas pelo PS. Não se conhece uma ideia, um mero compromisso do PSD para a educação.
É por isso descabido pensar que a queda (pré)anunciada de JSócrates significará o fim da ADD, o óbito do modelo de gestão escolar, a inversão de um movimento que transforme os mega-agrupamentos em escolas de proximidade de média e pequena dimensão, o fim de uma governança subjugada às estatísticas.
Como eu gostava de estar redondamente enganado, Ramiro: com este PSD, com este PSD mudo e oportunisticamente quedo, dificilmente são criadas condições para travar o actual modelo de avaliação de desempenho.
Reli o texto que escrevi em 7 de Março de 2008. A pergunta retórica “Até onde queremos ir?” pressagiava uma atitude pré dinâmica. Dizia eu que “A avaliação do desempenho é a face visível, talvez mais mediatizada, de um mal-estar que impregna a profissão docente e que é traduzida numa expressão carregada de sentido: Os professores estão indignados! Há razões próximas e distantes de um sentimento que emerge das entranhas da profissionalidade. E quem ainda não entendeu este problema não estará em condições de participar na busca das soluções. Não se trata, portanto, de tapar o sol com a peneira, mudando os rostos do ME. Embora uma grande parte dos professores o clame [porque a ministra da educação e a sua equipa corporalizam, na perspectiva dos professores, a perversidade das políticas educativas], a mudança de um ministro e dos seus acólitos não atacará as causas do problema. Como afirmou e bem Mário Nogueira, não há decisão política que venha a ser tomada até ao dia da marcha que possa interromper esta manifestação de descontentamento.”
A marcha foi realizada, a equipa ministerial mudou, e, como se viu, o descontentamento metamorfoseou-se em cepticismo. A perversidade das políticas educativas acabou por abater esse pré dinamismo. Ficamos quietos. Ficamos à espera, incrédulos! Hoje pergunto: Depois dessa manifestação, o que fizemos na escola situada, que acções realizámos no quotidiano escolar para sacudir o torpor? Que acções empreendemos para conter o avanço deste taylorismo modernaço?
Podemos buscar razões exogéneas para consolar consciências inquietas. Podemos transferir a culpa do que não foi feito para os sindicatos, para os movimentos de professores, para os colegas do grupo disciplinar, para a direcção da escola. Podemos purgar o sentimento de culpa para camuflar o encolhimento e os amuos.
A resistência faz-se todos os dias na escola situada! Mas pensar que a acção se desenvolve apenas num tabuleiro é ver curto, é não querer ver que a micropolítica não dispensa a macropolítica e vice-versa.
No dia 12 de Março, em Abril, em Maio ou Junho, que importa o dia e o mês, é uma oportunidade para jogarmos noutro tabuleiro. Dirão que seremos peões por um dia. Não costumo menosprezar a acção de um peão num jogo de xadrez. Até porque no dia-a-dia (e não o digo apenas porque hoje é o dia da Mulher) seremos sempre as “rainhas” da acção.
A realidade é plural de sentidos e de interpretações. Atentem ao fenómeno que emerge no nosso quotidiano mediático – os Homens da Luta. Onde o PauloG vê revivalismo mental de 70, eu vejo nos Homens da Luta uma representação fiel da GERAÇÃO DESTE TEMPO. O sarcasmo patenteará quão nos encontramos em clara reversão evolutiva. É como se todo o percurso de conquistas de direitos civilizacionais se pudesse apagar por obra e graça dos agiotas do capital, em clara conivência com uma classe política amnésica.
O que me leva a pensar que, independentemente da forma, os “velhos direitos” reclamam por “velhas lutas”.
Os homens da luta ganharam o festival da canção. Não é que ligue grande coisa ao festival da canção e, se me permitem a frontalidade, estou-me nas tintas para quem vai representar Portugal no festival da Eurovisão. Aliás, pelo modo como Portugal tem sido ostracizado na Euro(pa)visão, só um grupo musical que é precisamente o avesso de um grupo musical poderia representar tão fielmente o estado de espírito da maioria dos portugueses face à Eurovisão.
Portugal está a mudar! Há sinais, e este é mais um sinal de que Portugal está a mudar. E está a mudar por detrás do biombo, longe dos olhares dos profissionais da política.
Portugal e os portugueses vão sair do biombo! Imagino a cara de pasmo desta gente que nos (des)governa. Imagino e rio só de imaginar!
A ministra da Educação garantiu esta sexta-feira que o Governo vai «recorrer a todas as medidas» ao seu alcance «para que a reestruturação curricular [do ensino básico] se mantenha, porque melhora a qualidade do ensino».
(…)
«Surpreende-me muito o comportamento dos partidos da oposição, que estão sempre a exigir redução na despesa e quando o Governo toma medidas para contenção de custos imediatamente as tentam impedir», lamenta a ministra. (in: iol)
Se há motivos de regozijo porque, pela primeira vez, JSócrates perdeu uma votação na Assembleia de República, há igualmente motivos para exasperação: por que será que a farsa da ADD não suscita o entendimento da oposição?
Por uma simples razão: o PSD e o CDS sofrem do mesmo mal – são partidos bipolares!
Tento ler os números sem qualquer preconceito, como sugere o Ramiro: 40% dos professores pedem aulas assistidas.
Admitamos que hoje, seis meses depois do início do ano lectivo, 40% dos professores mantêm o seu pedido de aulas assistidas, o que eu duvido seriamente; Admitamos que perdura o movimento espontâneo de assentimento às aulas assistidas que fez ensarilhar motivos distintos com formas de luta mais ou menos inócuas.
Será possível inferir que o modelo foi legitimado por 40% dos professores? Será irrelevante que a aplicação do modelo corresponda a um processo esotérico que armadilhou as relações profissionais entre docentes na escola situada?
Os professores, uma larguíssima maioria dos professores da minha escola, em abaixo-assinado, consideram que o Ministério da Educação deve suspender de imediato a aplicação do actual regime de avaliação de desempenho. Os motivos são os do costume e bem conhecidos de todos. Dispenso-me a enunciá-los porque já sinto náuseas só de pensar no assunto.
Sem surpresa, os professores e o ME continuam acantonados!
Relembro que esta ministra da educação se propôs, no início do seu mandato, suprimir as desinteligências que marcaram o mandato da sua antecessora.
Sem capacidade negocial por óbvia subordinação ao seu colega das finanças, pergunto:
Por que não te vás?!