Categoria: Zeco em campanha
Dois em um.
Olha que maravilha: Com um voto apenas…
E não há mais ninguém do PS que se queira associar?
SPN presente, sentir o sindicato nas escolas
Déjà vu
Os dois grupos de trabalho que o Paulo descortinou na luta interna do PSD, fazem-me lembrar uma contenda antiga e de má memória para o Sistema Educativo porque dela resultou um modelo de escola assente numa filosofia tecnocrática ao invés de se ter optado por uma filosofia humanista e personalizante. A contenda a que me refiro emerge dos grupos de trabalho constituídos no âmbito da Comissão de Reforma do Sistema Educativo (CRSE), criada pela Resolução do Conselho de Ministros nº 8/86, publicada em DR em 22/01/86. Os dois grupos de trabalho eram coordenados, respectivamente, por Fraústo da Silva (responsável pela proposta de reorganização dos planos curriculares, cuja figura central era a Área-Escola) e por Manuel Ferreira Patrício que apresentou a proposta da “Escola Cultural” (que relevava a pluridimensionalidade pedagógica da Escola).
Hoje, a escola continua agarrada a essa lógica burocrática de “Reforma” segundo a qual há um movimento transformador do topo para a base. MLRodrigues foi a ministra que melhor interpretou esta lógica pedagógica e hoje, no PSD, esta mudança de filosofia não se enxerga no seu programa eleitoral, a não ser que a promessa de PPCoelho se cumpra nesse sentido.
A escola deve estar no centro do sistema educativo, que deve estruturar-se e funcionar em obediência aos imperativos pedagógicos da escola, como defendia, e bem, Manuel Ferreira Patrício. Se é isto que defende Santana Castilho no seu livro (que ainda não tive oportunidade de ler), se é esta a sua luta, será também a minha luta!
A Educação em campanha eleitoral – CDS
O CDS apresentou o seu programa eleitoral. O documento contempla um conjunto de medidas de política educativa que os seus autores dizem ser promotoras dos gastos e inócuos chavões: exigência, rigor e mérito.
A concorrência entre a escola pública e privada é, para este partido político, a chave da qualidade. Qualidade que é conseguida à custa da concorrência das escolas entre si, através do reforço da autonomia (celebração de contratos de autonomia) e da descentralização de competências escolares para as autarquias.
É reafirmada a importância da educação como “principal mecanismo do elevador social” embora a realidade demostre que a filosofia da CUNHA e dos COMPRADIOS, e as práticas CACIQUES, são os principais motores do tal elevador social.
É um programa que é demasiado ambíguo no modo como pretende ver reforçada a autoridade dos professores e responsabilizadas as famílias pela educação das crianças e jovens.
Ficou por aclarar também o modelo de avaliação de desempenho docente. Não basta dizer que o modelo de ADD não será burocrático, que a avaliação é hierárquica – direcção pedagógica – o que evita que avaliador e avaliado concorram entre si, que é inspirado no modelo de avaliação que está em vigor no ensino particular e cooperativo.
Convém relembrar ao CDS que a direcção pedagógica e a direcção executiva não são a mesma coisa. Que a existir hierarquia pedagógica, haveria que recuperar a carreira dos titulares (ou outra iniquidade do género) da ministra de má memória, MLRodrigues. Será mesmo isto que o CDS pretende?
A questão dos exames nacionais nos finais de ciclos de escolaridade regressa à retórica deste partido (para ser correcto, essa retórica nunca foi abandonada) para mistificar a questão da qualidade, exigência e rigor, numa tentativa de estabelecer um nexo causal entre a quantidade de exames e a qualidade das aprendizagens.
Reforça-se a ideia do ensino instrumental, ao serviço do mercado de trabalho. O CDS propõe uma “revisão curricular, não essencialmente por razões financeiras (note-se bem, digo eu), mas por redefinição de uma estratégia de conteúdos que prepare realmente os alunos para a inserção do mercado de trabalho. Tal deve incluir a estrutura curricular nos 2º e 3º ciclos de escolaridade, concentrando as aprendizagens dos alunos em torno de um núcleo de disciplinas estruturantes; o reforço da carga horário das disciplinas de português e matemática no ensino básico; em contrapartida, a eliminação da área de projecto e de estudo acompanhado; e a introdução de cursos profissionais mais cedo, no 3º ciclo de escolaridade.”
Depois segue-se o palavreado habitual da liberdade de ensino…
A Educação em campanha eleitoral– PCP
No seu programa eleitoral, o PCP advoga uma nova lei de gestão democrática que respeite os princípios, objectivos e valores consagrados na Constituição e na Lei de bases do Sistema Educativo. Não se adianta muito mais mas quero acreditar que se trata do retorno da colegialidade à direcção das escolas.
Como quase todos os partidos políticos, o PCP recupera o tema do reforço da autonomia das escolas públicas que passa pela garantia de um regime de Financiamento da Educação Pré-Escolar e dos Ensinos Básico e Secundário, que clarifique responsáveis e responsabilidades e garanta o normal funcionamento das escolas públicas financiadas, essencialmente por verbas consagradas no OE; Demarca-se da direita ao sugerir a revogação do decreto que estabelece o processo de municipalização do ensino básico, com o objectivo de impedir a perda de autonomia administrativa e pedagógica das escolas ou a sua privatização.
O PCP defende a revogação do Estatuto da Carreira Docente, tendo como prioridades: a revisão da estrutura da carreira docente eliminando a sua divisão em categorias e revendo as regras de progressão; defende a eliminação da prova de acesso à profissão e a substituição do actual modelo de avaliação de desempenho cujo modelo deve ser baseado numa concepção formativa da avaliação que tenha como objectivo a melhoria do desempenho dos docentes e não a sua penalização em termos de progressão da carreira ou em qualquer outra dimensão da sua condição laboral.
Curto mas conciso nas questões fracturantes!
Não confundamos estrada da Beira com beira da estrada.
O Ramiro parece incomodado com a falta de adesão da blogosfera docente às propostas eleitorais do PSD. Já rotulou os professores de socialistas, de esquerda, e agora considera que só têm comportamentos esquizofrénicos porque, heresia, dizem mal dos dois únicos partidos capazes de nos livrarem do partido e do primeiro-ministro que lhes fizeram a vida negra nos últimos seis anos.
Em primeiro lugar, os partidos políticos que nos conduziram à bancarrota estão bem identificados e basta percorrer o histórico da governação do país para concluir que o seu PSD (com o apêndice CDS) não está isento de culpas. A lógica do voto útil, a polarização do eleitorado nos dois partidos do centrão, conduziu-nos à pré-bancarrota. Esperar resultados diferentes apostando nos mesmos protagonistas é um equívoco que importa desmistificar.
Em segundo lugar, não sei qual o estudo de opinião que sustentará o quadro identitário dos professores portugueses. É um erro crasso considerar que as opiniões soterradas nas caixas de comentários dos blogues mais frequentados dos professores constituem uma amostra significativa do pensar dos professores das escolas situadas. É uma generalização abusiva e o Ramiro não precisa de evocar a sua condição de investigador para o reconhecer. Nem os blogues podem constituir uma corrente de opinião dentro da classe, nem o juízo que vamos formulando nestes fóruns de opinião podem ser extrapolados para um sentir de classe. Mas avancemos no intróito para chegarmos ao que importa.
O Ramiro parece apreciar as lideranças unipessoais. Por isso diz, demagogicamente, que os professores “opõem-se a qualquer medida que dê verdadeira autonomia às escolas que passe pelo reforço das competências do diretor.” Descentralizar competências para a escola não significa centralizar as competências no director. Não encontro qualquer incongruência entre o desejo do reforço da autonomia das escolas com o desejo de ver essa autonomia ser conduzida por um órgão colegial.
Diz também que “os professores não querem uma avaliação de desempenho burocrática, consumidora de tempo, subjetiva e faz-de-conta mas opõe-se a uma avaliação a sério e com componente externa.” Ora, será por rotularmos a avaliação de séria que ela vai ser capaz de avaliar o que se propõe avaliar: o desempenho docente!? Não é na sala de aula que esse desempenho se materializa? Não devia ser esse o quadro de referência para o desempenho docente? É o avaliador externo que credibiliza a avaliação? Será um exame de conhecimentos, ou a assistência a uma, duas, três aulas por ano, por um avaliador externo, por mais consagrado que ele seja, que dá credibilidade à avaliação? Se isso é uma avaliação séria, então eu defendo uma avaliação a brincar, e até lhe podem chamar de avaliação formativa, se isso servir para purgar consciências!
Quanto à questão da avaliação dos alunos, o Ramiro considera que “os professores queixam-se de que há alunos a passarem de ano sem saber nada e que a escola pública está ameaçada pelo facilitismo mas reagem negativamente à proposta de criação de exames nacionais à saída de todos os ciclos de ensino.” Precisamos de exames nacionais para impedir que alunos passem de ano sem saber nada? Por que não se afastam os empecilhos normativos que permitem que alunos passem de ano sem saber nada? Por que não se afasta “a burocracia imposta por um modelo de prestação de contas que não confia nos professores e que lhes nega liberdade e autonomia na concepção e utilização dos meios, métodos e procedimentos”?
O Ramiro é um blogger sério. Espero que a sua militância partidária não lhe obscureça a habitual lucidez.
A Educação em campanha eleitoral–PSD III
DRE´s – Jobs for the boys
O papel das estruturas regionais do ME, as DRE’s, é um papel decorativo e tem servido de albergue para os boys dos partidos do governo. A extinção destas estruturas, num tempo em que se exige a maior contenção da despesa pública, seria um acto de racionalidade económica e um bom exemplo de rigor na gestão da coisa pública.
Ora, a ingenuidade levou-me a pensar que o PSD, um partido cuja militância interesseira em nada difere da militância do PS, iria cortar nas benesses dos seus apaniguados acabando ou cortando com os serviços inócuos das DRE´s.
Fica então claro que as “estruturas centrais e regionais do Ministério de Educação devem focalizar a sua acção na criação de valor e na correcção de assimetrias do sistema educativo, pelo que haverá que apostar na gestão do talento e das carreiras dos seus quadros, com o objectivo de constituição de uma nova geração de elevada competência, assente no mérito e com uma cultura de gestão por objectivos e resultados.” (*)
Isto é, as estruturas regionais do ME vão continuar a fazer-de-conta que corrigem o que quer que seja das assimetrias do sistema educativo, como sempre o fizeram, logo que os seus quadros adquiram competência…
Fantástico!
______________
(*) in: programa eleitoral do PSD
A Educação em campanha eleitoral–PSD II (Notas soltas)
Gestão das escolas e envolvimento dos pais e da comunidade
Em termos gerais, o PSD entende que se deve exigir um significativo reforço da descentralização de funções para o nível de responsabilidade das escolas, do Director, dos pais e da comunidade local.
Parece-me bem! Resta saber quais as funções que se descentralizam e que meios são agregados.
O primeiro sinal e passo a dar neste sentido é o do estabelecimento de uma nova carreira profissionalizada de Director Escolar que confira um quadro adequado para atrair, seleccionar, desenvolver e manter os perfis de talento e de competências adequados às novas necessidades de liderança e de gestão dos agrupamentos de escolas;
Parece-me mal! Sou um adepto de uma direcção colegial da escola porque a colegialidade envolve com mais profundidade os intérpretes do acto educativo.
Continue reading “A Educação em campanha eleitoral–PSD II (Notas soltas)”
A Educação em campanha eleitoral–PSD
O Ramiro já divulgou algumas das medidas para a Educação aprovadas esta manhã pela Comissão Política do PSD.
Estou genericamente de acordo com as medidas anunciadas (embora não prescinda de as analisar no detalhe) excepto na que diz respeito à introdução de exames nacionais no 6º e alargamento o número de disciplinas do 9º ano sujeitas a exame. É, a meu ver, a medida mais demagógica que se encontra no lote das propostas, porque cria a ilusão de rigor, e é a mais iníqua porque distorcerá o sentido da acção educativa por afunilar o treino dos saberes aos saberes hegemónicos criados pelos Pseudo–Experts do ME.
_________________
Adenda: Consultar o programa do PSD
(Des)Apoiado.
"Sócrates apoiou-me por convicção e desta vez é para ganhar".
Durante algum tempo tive apenas a certeza de que não votaria num putativo candidato. Por que carga de água haveria de votar naquela candidatura que simboliza a aliança perfeita entre neoconservadores e neoliberais da nossa praça?
Hoje sei em quem não votarei na primeira volta das eleições. Durante algum tempo ainda vacilei entre as duas candidaturas que assumem a defesa de um modelo de Estado (Social), esse modelo que alguns burocratas neoliberais insistem em classificar de caduco porque, dizem eles, é insustentável.
Depois da entrevista de Alegre (bipolar) no canal 1 e da declaração de apoio de José Sócrates, tomei a minha decisão.
(imagem fabricada pelo Antero)
Carne para canhão
Dispensaria o dia de reflexão. Se as campanhas eleitorais servissem para esclarecer os eleitores, para lhes apresentar as propostas do partido ou coligação, o dia de reflexão não serviria para grande coisa. E seria dispensável num processo mais racional, mais elevado, mais introspectivo, mais solitário, talvez menos festivo, menos psicótico. A decisão seria tomada com antecedência, seria ponderada face à substância dos argumentos apresentados e à coerência das propostas. Ora, como todos bem sabemos, as campanhas eleitorais visam apenas inebriar o eleitorado para lhe que lhe seja extraído o votozinho, de preferência sem dor, se possível com prazer. O esclarecimento das diferentes(?) propostas políticas são, deste ponto de vista, meros rituais de campanha a que nenhum partido dá verdadeira relevância. Até no caso dos debates televisivos, onde supostamente deveriam ser dissecadas todas as propostas dos partidos com representação parlamentar, prevaleceu a simulação ardilosa dos diferentes actores.
É por isso que os partidos políticos, sem excepção, não prescindem das técnicas de marketing político para convencer o eleitorado (disse bem, convencer, que é usado aqui com o sentido de iludir). Mas não sejamos ingénuos: a turba não dispensa este tipo de festa. Sei que me ponho a jeito para o rótulo de elitista ou de reaccionário. Paciência. Mas não me convenço que uma nação culta daria uma esmola para este festim.
Isto vem a propósito já não sei bem de quê ;)
[…] Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima com o poder, é, quase sempre, um perigo.
Oremos.
Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.
Alexandre O’Neill, in “Uma Coisa em Forma de Assim”
Mau de mais só de pensar.
Haverá, provavelmente, apenas um acontecimento pior do que uma vitória eleitoral do PS: o discurso fanfarrão do seu líder.
Para memória futura.
Não havia necessidade, Manuel Alegre.
Credibilidade é uma palavra vã.
José Sócrates começou a campanha eleitoral oficial do PS a corrigir-se a si próprio. Se ontem à noite, à saída do debate televisivo com Manuela Ferreira Leite, prometera ministros novos em todas as pastas, hoje no Alentejo esclareceu que haverá “um novo Governo e novos ministros”, mas não prometeu que a renovação seja total.
“Eu não disse isso, o que eu disse é que vai haver um novo Governo e haverá novos ministros. Todos compreenderam o que eu quis dizer”, afirmou, à chegada à primeira acção de campanha, um almoço na casa do presidente da Junta de Freguesia de Mosteiros, concelho de Arronches. (in: Público)
Sócrates é incorrigível. Não entendo como ainda há quem o leve a sério.
Há pessoas que não crescem e serão adolescentes a vida toda!
Debate JSócrates/MFLeite
Sócrates/Louçã – um debate curto favorece um político de ideias curtas.
O debate foi curto como convinha a José Sócrates. Um debate mais demorado seria porventura menos espectacular mas necessariamente mais esclarecedor. Convinha a José Sócrates um debate que tratasse os assuntos pela rama e que lhe permitisse saltitar de chavão em chavão sem aprofundar uma ideia. Foi isso que Sócrates procurou ao centrar-se em duas medidas avulsas do programa do BE, a questão da fiscalidade e a questão das nacionalizações, para induzir uma ideia de partido radical e demonstrar uma pretensa inexequibilidade do programa do BE. Louça é um especialista da metáfora. É hábil no raciocínio. Louçã preferiria um debate que lhe permitisse explorar as fragilidades e os paradoxos de um partido socialista que adoptou uma cartilha neoliberal. O formato do debate favoreceu José Sócrates.
Educação – Respostas dos principais partidos políticos.
Sonsice
Carlos Laranjeira in: Revista do Correio da Manhã
Debate dos pobres ou pobres debates?
Há um elevado consenso nas opiniões dos professores, não só na blogosfera como nas conversas colaterais, acerca da pobreza do debate da Educação nos frente-a-frente dos candidatos. Não obstante o grau de exigência entre um especialista e um leigo na matéria ser muito variável quando se trata de avaliar um debate televisivo, um professor do ensino não superior, que é um especialista em Educação, não pode esperar de um debate de banda larga, normalmente discutido ao nível do senso-comum, a profundidade de análise que é possível obter numa tertúlia inter-pares.
O que eu espero deste tipo de debate não é a profundidade do argumento de cada um dos candidatos. O que eu espero destes debates é a clarificação dos compromissos em cada área de governação.
Na Educação, por exemplo, importa que José Sócrates seja desafiado a dizer o que irá mudar ou manter na sua política educativa e se admite aguentar a mesma equipa ministerial no caso de voltar a ganhar as eleições; importa que os candidatos da [actual] oposição sejam desafiados a dizer quais as iniciativas parlamentares que se comprometem desenvolver para inverter o rumo das políticas do PS; e finalmente, importa conhecer a ideia de Escola que está subjacente a cada um dos programas eleitorais.
A arte do fingimento ou um artista fingido?
Eu ainda não ouvi José Sócrates dizer, e espero que os meus leitores me desmintam, que houve um lamentável equívoco e que está na disposição de, em tempo útil, corrigir o programa eleitoral do PS, designadamente, a política educativa que está plasmada nesse documento.
Um ME regulador… do quê, exactamente?
A prudência não me permite grandes euforias e até me parece bem que os dois dossiers mais controversos no sector da educação sejam resolvidos já – o estatuto do aluno e o ECD (passando, obviamente, pela ADD).
Hummm… mas fiquei com a pulga atrás da orelha quando ouvi MFL dizer que o ME passará a assumir apenas uma função reguladora. Isso significa precisamente o quê? É que se perguntarem à excelsa ministra da educação ela dirá que a função do SEU ME é… regular!
Grão a grão…
Dois eleitores assumidamente PS ouviram as minhas razões para não votar PS. São familiares muito próximos e, naturalmente, sensíveis à minha condição socioprofissional. Houve um argumento de peso que dificultou a minha tarefa: a ausência de credibilidade nas alternativas de governação. Houve um argumento de peso que facilitou a minha tarefa: o princípio subjacente ao rompimento unilateral de um contrato [que podia designar de roubo já que não encontro outra palavra para descrever o logro que foi a divisão da carreira] e a correspondente perda salarial.
A luta dos professores começa e acaba no espaço privado.
O PS não podia ter escolhido melhor.
(via abnóxio)
Correio da Manhã, 24.08.2009
PS folclórico; PSD espartano
Comentário político
Ontem ouvi a entrevista de MFLeite na RTP1 e já foi possível perceber a cadência que marcará a campanha eleitoral do PSD. Não fora o embaraço evidente que decorre da inclusão de António Preto nas listas do partido, a senhora tentou passar uma mensagem de credibilidade e de serenidade. MFL adoptará uma estratégia de campanha que marque a diferença em relação a JSócrates, uma diferença não só no estilo – mais austero, menos exibicionista – mas também na substância – Jsócrates promete e não cumpre; eu só prometo o que poderei cumprir.
Prevejo que JSócrates contra-ataque trazendo para o debate político a questão “António Preto”, mesmo que isso possa parecer um acto político suicida por evocar a questão “Freeport”. Por um lado, denotará coragem política [para muitos poderá será considerado um acto de pura alienação] de quem não deve não teme e terá oportunidade de vestir a pele de vítima que tão bem representa; por outro lado, minará a credibilidade da líder do PSD porque desviará os holofotes mediáticos para o lado menos transparente de MFLeite.
PS (salvo-seja): MFLeite disse que o seu programa eleitoral contemplará tudo aquilo que fora defendido pelo PSD no último ano, de onde se infere que a questão da divisão da carreira estará arrumada se o PSD for governo.
Qual a estratégia de luta para o final do ciclo governativo?
Já estive mais entusiasmado com a ideia de uma mega manifestação em final de mandato. Defendi esta ideia depois de perceber a obstinação do ME sempre e cada vez mais atado à sua estratégia de dominação da classe docente. Foi no rescaldo da manifestação de Maio e a contribuição deste evento para os resultados eleitorais negativos do Governo (presumo, obviamente, a indivisibilidade do partido do Governo com o Governo e com o candidato Vital do Governo) que apontei para a necessidade de uma nova mega manifestação de professores. Adivinhara nessa altura uma réplica dos efeitos de uma nova contestação, isto é, uma nova derrota eleitoral do PS. Relembro que a Manifestação de Maio ocorreu após um período relativamente longo sem contestação o que pode ter sugerido que existia um lastro de esmorecimento e de resignação dos professores. O número de manifestantes desfez essa hipótese e demonstrou ao ME e à opinião publicada que a relação do ME com os professores terminaria como começou.
A meu ver, foi a percepção de balcanização irresolúvel que terá levado os responsáveis do ME a caminharem firmes e hirtos (como uma barra de ferro) em direcção ao abismo, como se cada dia fosse o último dia da governação, como se cada “negociação” fosse a última negociação da equipa, como se o amanhã não existisse. Vejo sem surpresa, portanto, a intransigência do ME em todas as matérias sujeitas a negociação com os sindicatos.
A imagem do ME na opinião pública agravou-se. O último episódio público protagonizado pela equipa governativa a respeito das bolsas para os alunos do secundário ridicularizou a imagem do governo, descredibilizando-o fatalmente. Mais achas na fogueira poderão fazer virar o feitiço contra o feiticeiro. Mais achas na fogueira podem fazer despontar num certo eleitorado não professor (para os eleitores professores as acções de luta serão dispensáveis, digo eu) aquele sentimento de pena e de comiseração que por vezes nos faz tomar o partido dos mais fracos numa contenda desigual.
Não se trata de depreciar a equipa maravilha ou de a considerar arredada de uma vitória eleitoral. Nem tão pouco se trata de pensar que este PS é incapaz de renascer das cinzas depois de ter feito tudo para se queimar. Nada disso. Trata-se de encontrar a melhor estratégia de luta para o fim de ciclo governativo.
Vamos considerar, como hipótese académica, que o governo renasce das cinzas depois das férias. Que o ME abre um novo concurso para professores titulares e que passa para a opinião pública a ideia de que com este “nova” medida os professores foram reconquistados. Serão utilizados os números, previsivelmente elevados, de candidatos ao concurso para demonstrar essa reconciliação. E que até os opinadores mais consagrados acreditam na propaganda. Será que a plataforma sindical tem a sua máquina oleada? Será que é possível montar a tenda em Lisboa em apenas duas semanas? Há trabalho de casa para as férias? Os delegados e os activistas estão a ser preparados para o que der e vier?…
[reedição]
Na mouche (II).
PROGRAMA DE GOVERNO – BLOCO DE ESQUERDA
SÍNTESE DA POLÍTICA EDUCATIVA BLOQUISTA:
RETENÇÕES
O Bloco de Esquerda entende que a actual confusão sobre o espírito e o sentido dos ciclos de estudo na escolaridade básica tem tido custos demasiado elevados. Recorde-se que esta opção implica a definição de objectivos para o final de cada ciclo plurianual, e não para o ano de estudos, retirando sentido às reprovações por ano. O objectivo do fim das retenções na escolaridade básica não pode ser entendido como uma medida administrativa para poupar recursos, nem o Bloco dá à direita o argumento comummente usado na sua cruzada contra a escola pública, o do facilitismo.
TURMAS
• Limitação do número de alunos/as por turma, nomeadamente nas escolas sobrelotadas (20 no máximo para o 1.º ciclo e 22 para os demais).
NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS
• Unidades de referência nas escolas, que possam colmatar, dentro do concelho ou nas proximidades, as diferentes áreas das necessidades educativas especiais, com os respectivos técnicos especializados para cada Unidade específica para além do docente e do psicólogo. Não faz sentido que estas crianças e adolescentes, tenham de se deslocar diariamente para longe, para terem acesso a uma unidade de referência na sua problemática, com os respectivos técnicos.
• Assegurar protocolos eficazes entre Escola, Estabelecimentos de saúde pública, Associações, IPSS, Autarquias, que promovam uma verdadeira rede de suporte, e que possam dar resposta prioritária, em tempo útil, nas diversas áreas, para estes alunos(as), pois o que existe é insuficiente.
• Assegurar nos espaços escolares: acessibilidades/equipamentos adaptados; exigi-lo nas zonas circundantes. A ligação Escola-Comunidade não passa pela presença de empresas nos Conselhos gerais transitórios, mas sim pelo compromisso entre Escola e entidades da comunidade (Autarquias, Entidades competentes, Associações e IPSS), que leva à prática as acessibilidades dentro e fora da Escola para todos.
• Assegurar a estabilidade dos docentes de educação especial com especialização adequada na área de disfunção específica, garantindo o acompanhamento adequado de forma continuada.
• Assegurar técnico(s) de psicologia, tendo em conta o rácio adequado às necessidades educativas especiais, que proporcione acompanhamento de continuidade, e avaliação especializada, promova integração no espaço escolar, envolvimento dos familiares e grupo de pares, construção de projecto de vida.
• Não ser a direcção de turma, sem especialização específica, a coordenar os programas educativos individuais, sobrecarregando docentes, sem benefício para alunos/as. Estes programas devem ser coordenados pelo docente, em colaboração com Técnico de Psicologia e outros técnicos se necessário.
• Existência de real flexibilidade nestes programas, promovendo aprendizagens diferenciadas e adequadas caso a caso, eficazes na construção da autonomia e integração.
GESTÃO
O reforço da autonomia e responsabilidade das instituições é a alternativa.
• Defendemos a co-decisão das instituições no seu modelo de organização e gestão, pela diversidade de modelos e contra a formatação dos governos, e assente nos princípios: – do alargamento da representação e participação das comunidades e actores escolares (a sub-representação de alunos e profissionais não docentes é inaceitável); – na electividade, na colegialidade, na participação, no dever de publicitação de todos os actos e decisões na limitação dos mandatos.
• Um modelo de avaliação das escolas, que concilie as vertentes, externa e interna, e que valorize o trabalho de professores naquilo que ele é: um trabalho de equipa; que assuma os contextos e as necessidades de meios, que articule a avaliação individual dos docentes com a das escolas;
• No princípio da equidade de representação e decisão de todos os graus de ensino na organização dos agpamentos de escola, quando estes agrupamentos tendem a perverter as necessárias relações de cooperação e respeito pelas identidades definidas, gerando hierarquização entre os diversos graus de ensino.
CARREIRA/AVALIAÇÃO
O Bloco de Esquerda compromete-se na defesa:
• da estabilidade profissional e contra a precarização;
• do fim da fractura entre professores de primeira e de segunda, sublinhada como um dos ataques mais lesivos da escola pública e que não foi fundada nem em critérios de qualidade nem em conteúdos funcionais diferenciáveis;
• por uma avaliação credível, que se inicia pelas escolas em contexto, alia vertentes internas e externas, e assuma a responsabilidade colectiva do trabalho docente;
• por um horário de trabalho que reconheça o aumento do tempo de qualidade para todo o trabalho docente vergonhosamente silenciado, e para dar resposta às exigências de mudança na escola pública;
• pela componente colectiva do trabalho docente como uma das vertentes mais positivas da sua actividade e como um dos aspectos que mais conteúdo dão à relação com os alunos/as.
in: http://www.bloco.org/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=65&Itemid=63
O outro lado da história de MPinho
Que pena. O verdadeiro artista, o meu ministro “predilecto”, foi obrigado a abandonar a cena por ser mal interpretado.
Ao contrário do que dizem as más-línguas, Pinho foi expulso do governo por ter um comportamento indigno de um membro do governo na casa da democracia quando o que se trata é algo muito mais simples e banal. Estamos ou não a passar por um período de crise? Estamos ou não renascer das cinzas pela terceira vez em menos de um ano, segundo dizem os cronistas do governo? Estamos ou não a atravessar um período de vacas magras? Vacas magras… corninhos das vaquinhas? Estão a acompanhar?
Ora, o incompreendido ministro MPinho estava a dizer a um deputado da oposição que as vaquinhas são coisa do passado, corroborando afinal as afirmações do seu colega do governo e ministro das finanças, uns dias antes, que a época das vacas magras, a famigerada crise, acabou. Finito. Foi-se.
Os corninhos, que ele tão graciosamente colocou na sua carola, foram nem mais nem menos uma fabulação perfeitamente inócua.
Valha-me Deus que ninguém entendeu o Pinho. Ele é assim… um ministro básico, prontos… diz o que lhe vai na alma,… não é político profissional, prontos…
É por esta e principalmente pelas outras que eu estou solidário com o Pinho. Não merecia sair do governo pela porta dos toiros. Se saísse pela porta do cavalo, ainda vá que não vá. Sempre era mais digno. Agora pela porta dos curros?!…
Pinho, pá, estou contigo!