Abrir a caixa de Pandora.

Isabel Alçada tem sido referenciada como putativa ministra da educação. A sua aparição mediática na apresentação do programa eleitoral do PS permite a especulação.
O problema de IAlçada começa logo pela sua ligação umbilical às políticas de MLRodrigues como se vê aqui.

É evidente que o PS ganhou as eleições com um programa eleitoral que será o ponto de partida para a elaboração do programa de governo. Programa esse que terá de ser exequível, isto é, terá de ser negociado para ter condições de ser implementado. Face às circunstâncias políticas que decorrem de um governo sem maioria parlamentar e ao grau de conflitualidade e de animosidade entre o ME e os professores, será de todo conveniente que o próximo ministro da educação seja um bom político.
Ora, se há qualidades difíceis de identificar em IAlçada, a aptidão política é uma delas.

É por esta razão que eu arquitecto outra personagem para ministro da educação. António José Seguro parece ter a experiência política necessária para a função e o cargo que desempenhou como presidente da Comissão da Educação e Ciência, várias vezes chamado a mediar os conflitos com os professores, faz dele um potencial candidato à pasta da educação.

O problema de AJSeguro é o que se espera dele: AJSeguro é o líder reservista para o PS; seria um ministro talhado para os assuntos parlamentares; pode ser um trunfo que o PS guardará para outras pastas, menos secundárias – como é a pasta da educação (na perspectiva dos arautos neoliberais que nos governam, obviamente).

IAlçada ou AJSeguro representam dois modos diferentes olhar o problema da educação. Por aproximação, IAlçada ou AJSeguro representam dois modos diferentes olhar o problema da liderança que JSócrates pretende para o país:

IAlçada é a imgem da continuidade no ME; AJSeguro representa uma ruptura com um determinado estilo de governação. A escolha de um ou de outro (AJSeguro ou alguém com o mesmo perfil) ministro definirá o estilo que JSócrates irá adoptar durante este mandato. Se optar pelo primeiro, podemos inferir que JSócrates quer precipitar eleições antecipadas; Se optar pelo segundo estilo de governação, podemos inferir que JSócrates quer concluir o seu mandato.

Um mal menor ou a vitória possível?

 Será que estou a ver mal o problema? É que o voto útil, cirúrgico, dos professores fez toda a diferença. Mas para lá das leituras que serão feitas pelos analistas importa perceber, para os professores é uma questão essencial porque se trata de aferir a credibilidade dos partidos da oposição, se há condições, face ao quadro parlamentar, para fazer retroceder as medidas impostas por MLRodrigues.

Ouvi com muita satisfação FLouçã evocar a luta dos professores e as suas causas. Para fazer recuar o novo governo é necessário um acordo da oposição, reafirmando o que fora prometido na campanaha eleitoral. Aguardarei pelas declarações de PPortas para ver se é capaz de ser tão explícito neste tema como o foi FLouçã. Mantenho um receio: que os arranjos socratinos com o PSD remetam a educação para o lugar do morto. MFLeite é bem capaz de “trocar” a questão educativa por outra questão mais conveniente para o PSD. Veremos…

Adenda: Não ouvi o discurso do PPortas até ao fim. Ajudem-me: o homem não aflorou a questão da educação no seu discurso de vitória. Terá sido uma amnésia “orgasmica”? Não se quis comprometer com os tais arranjos a que fiz referência atrás? Ou as declarações foram proferidas em off?

Carne para canhão

Nao_Voto_PSDispensaria o dia de reflexão. Se as campanhas eleitorais servissem para esclarecer os eleitores, para lhes apresentar as propostas do partido ou coligação, o dia de reflexão não serviria para grande coisa. E seria dispensável num processo mais racional, mais elevado, mais introspectivo, mais solitário, talvez menos festivo, menos psicótico. A decisão seria tomada com antecedência, seria ponderada face à substância dos argumentos apresentados e à coerência das propostas. Ora, como todos bem sabemos, as campanhas eleitorais visam apenas inebriar o eleitorado para lhe que lhe seja extraído o votozinho, de preferência sem dor, se possível com prazer. O esclarecimento das diferentes(?) propostas políticas são, deste ponto de vista, meros rituais de campanha a que nenhum partido dá verdadeira relevância. Até no caso dos debates televisivos, onde supostamente deveriam ser dissecadas todas as propostas dos partidos com representação parlamentar, prevaleceu a simulação ardilosa dos diferentes actores.

É por isso que os partidos políticos, sem excepção, não prescindem das técnicas de marketing político para convencer o eleitorado (disse bem, convencer, que é usado aqui com o sentido de iludir). Mas não sejamos ingénuos: a turba não dispensa este tipo de festa. Sei que me ponho a jeito para o rótulo de elitista ou de reaccionário. Paciência. Mas não me convenço que uma nação culta daria uma esmola para este festim.

Isto vem a propósito já não sei bem de quê ;)

[…] Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima com o poder, é, quase sempre, um perigo.
Oremos.
Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.

Alexandre O’Neill, in “Uma Coisa em Forma de Assim”

O que fazer com os movimentos?

Terminado o ciclo tenebroso da educação portuguesa (espero eu), há que fazer contas à vida. Os movimentos de professores foram excelentes catalisadores da luta durante este período e a questão que o Ramiro coloca é pertinente: O que fazer com os movimentos? Nada, criar um sindicato verdadeiramente independente dos partidos ou uma ordem?

Das hipóteses que o Ramiro enunciou falta a hipótese da dissolução dos movimentos. Presume-se que o vírus da educação terá sido exterminado e que os movimentos podem regressar a um estado de latência… vigilante.

A segunda hipótese – o nada fazer com eles – admite-se que se mantêm as mesmas lógicas de mobilização, os mesmos meios, os mesmos actores. Convenhamos que isso implicaria um esforço insuportável para os seus líderes e os meios são finitos como se sabe.

A terceira hipótese – a criação de um sindicato – aponta-se para a pluralidade sindical. Hummm… se os movimentos não foram capazes de constituir um único movimento, se o máximo consenso dos movimentos é o acerto de uma data para uma acção de luta, é altamente improvável que se juntem para formar um sindicato. Além das dificuldades endógenas ainda temos o problema da fragmentação sindical: mais um sindicato? Se o motivo para um novo sindicato é a pretensa independência partidária há sempre sindicato já constituído que emergiu pelos mesmos motivos. E oferta não falta: há oferta para todas as sensibilidades.

A quarta hipótese – a criação de uma Ordem. Criar uma Ordem significa impor uma ordem. Fartos de prescrições, de mandos e desmandos, os professores portugueses precisam de sossego. Poupem-nos, por favor.

Credibilidade é uma palavra vã.

José Sócrates começou a campanha eleitoral oficial do PS a corrigir-se a si próprio. Se ontem à noite, à saída do debate televisivo com Manuela Ferreira Leite, prometera ministros novos em todas as pastas, hoje no Alentejo esclareceu que haverá “um novo Governo e novos ministros”, mas não prometeu que a renovação seja total.

“Eu não disse isso, o que eu disse é que vai haver um novo Governo e haverá novos ministros. Todos compreenderam o que eu quis dizer”, afirmou, à chegada à primeira acção de campanha, um almoço na casa do presidente da Junta de Freguesia de Mosteiros, concelho de Arronches. (in: Público)

Sócrates é incorrigível. Não entendo como ainda há quem o leve a sério.
Há pessoas que não crescem e serão adolescentes a vida toda!

Asneira da grossa

A FENPROF dirigiu (11/09/2009) um ofício às ministras da Educação e da Saúde em que solicita que sejam tomadas as providências necessárias para que, durante o período de risco da Gripe A, sejam excluídas algumas áreas do programa de Educação Física do Ensino Secundário, correspondendo à preocupação que muitos docentes têm manifestado.

Ora diga lá outra vez? A FENPROF propõe que sejam excluídas algumas áreas obrigatórias, a ginástica pelo que percebi, pelo risco de contágio que encerram? Bem, e os jogos desportivos colectivos? Como evitar o contacto com os materiais e com os colegas? Sim, se a questão central passa pela utilização dos materiais expliquem-me como abordar estas matérias sem bolas, por exemplo? E se excluíssem todas as áreas? Até seria mais prudente! Ou fechar as escolas? Isso então…

Já não sei o que pensar. Que é uma pena a FENPROF alinhar neste jogo, disso não tenho dúvidas. É que há momentos em que o melhor seria fazer falta de comparência… e deixar o bitaite!

Sócrates/Louçã – um debate curto favorece um político de ideias curtas.

O debate foi curto como convinha a José Sócrates. Um debate mais demorado seria porventura menos espectacular mas necessariamente mais esclarecedor. Convinha a José Sócrates um debate que tratasse os assuntos pela rama e que lhe permitisse saltitar de chavão em chavão sem aprofundar uma ideia. Foi isso que Sócrates procurou ao centrar-se em duas medidas avulsas do programa do BE, a questão da fiscalidade e a questão das nacionalizações, para induzir uma ideia de partido radical e demonstrar uma pretensa inexequibilidade do programa do BE. Louça é um especialista da metáfora. É hábil no raciocínio. Louçã preferiria um debate que lhe permitisse explorar as fragilidades e os paradoxos de um partido socialista que adoptou uma cartilha neoliberal. O formato do debate favoreceu José Sócrates.

Expliquem-me como se eu fosse muito burro…

gripeO ME e MS combinaram elaborar um plano de contingência para a gripe A a aplicar nas escolas. Minimizar os riscos de contágio e retardar a propagação da doença são as duas ideias dominantes do plano. Salas de isolamento, antissépticos qb, roteiros de procedimentos minuciosamente elaborados para accionar os mecanismos de controlo do maldito vírus, enfim, as escolas estão prevenidas para a epidemia…. Bem, façamos um pequeno esforço para acreditar que estão prevenidas, pode ser?

Percebo perfeitamente os receios de todos aqueles que cuidam da saúde pública, da segurança nas escolas, do bem-estar dos nossos filhos. A prudência recomenda que se antecipem cenários de propagação generalizada do vírus o que pode implicar o encerramento dos estabelecimentos escolares se não se forem asseguradas as condições mínimas de segurança. Percebo tudo isso. E como percebo isso tudo e estou de boa fé neste processo, espero que alguém mais esclarecido do que eu me ajude a perceber como é que a epidemia pode ser minimizada numa aula de Educação Física. Isto é, não alterando as circunstâncias da prática da actividade física nas escolas como é que avisamos o vírus para que se contenha enquanto os alunos praticam actividades físicas desportivas?

Debate dos pobres ou pobres debates?

Há um elevado consenso nas opiniões dos professores, não só na blogosfera como nas conversas colaterais, acerca da pobreza do debate da Educação nos frente-a-frente dos candidatos. Não obstante o grau de exigência entre um especialista e um leigo na matéria ser muito variável quando se trata de avaliar um debate televisivo, um professor do ensino não superior, que é um especialista em Educação, não pode esperar de um debate de banda larga, normalmente discutido ao nível do senso-comum, a profundidade de análise que é possível obter numa tertúlia inter-pares.

O que eu espero deste tipo de debate não é a profundidade do argumento de cada um dos candidatos. O que eu espero destes debates é a clarificação dos compromissos em cada área de governação.

Na Educação, por exemplo, importa que José Sócrates seja desafiado a dizer o que irá mudar ou manter na sua política educativa e se admite aguentar a mesma equipa ministerial no caso de voltar a ganhar as eleições; importa que os candidatos da [actual] oposição sejam desafiados a dizer quais as iniciativas parlamentares que se comprometem desenvolver para inverter o rumo das políticas do PS; e finalmente, importa conhecer a ideia de Escola que está subjacente a cada um dos programas eleitorais.

Há quem queira vender gato por lebre

Governo ultima regulamentação e formação de professores de educação sexual

Apesar das “dificuldades” de formar professores para a educação sexual, no âmbito da educação para a saúde, o psiquiatra Daniel Sampaio estima que no final de Setembro seja apresentado o programa de formação dos docentes para esta área. Daniel Sampaio afirmou que o programa de formação em educação para a saúde deverá estar concluído no final de Setembro e que deverá estar em prática antes do final do ano. O objectivo desta formação é assegurar que os professores que ainda não foram formados nestas áreas recebam os devidos contributos dos especialistas.” (Público)

Alguém que me explique a necessidade de fazer avançar um programa sem assegurar a formação de professores nessa área. Não seria mais sensato adiar o projecto? Para quê tanta pressa? Para mostrar obra feita?
Bem, resta esperar que o bom senso prevaleça na futura equipa governativa e faça o que deve ser feito: suspender este faz-de-conta!