Carta aberta aos professores portugueses que usam as redes sociais, mas em formato minimalista.

Caros colegas.

É aviltante assistir aqui e noutros lugares onde se noticia o diferendo entre professores e o ME ao achincalhar da profissão docente. Estes ataques são, em regra, perpetrados por avençados mais ou menos camuflados de professores. Não interessa agora saber quem paga e porquê. Os motivos são óbvios e fizeram escola no tempo de Maria de Lurdes Rodrigues. Noto com tristeza que alguns colegas, por ingenuidade ou porque ainda creem que o insulto gratuito pode ser combatido com racionalidade argumentativa, lutam desesperadamente pela defesa da honra da classe exaltando a relevância social da função docente.
Lamento muito desiludir-vos, mas o vosso esforço é inglório para este tipo de gente.
Ser professor não pode esgotar-se no saber ensinar. É preciso estar disponível para aprender e interpretar as circunstâncias que condicionam a aprendizagem. E no caso das redes sociais, face às singularidades do mundo digital, é fundamental separar o trigo do joio; reconhecer e diferenciar uma discussão séria de uma discussão estéril, de soma nula; perceber se estamos a discutir com um canalha avençado ou com um interlocutor que faz assentar as suas posições num quadro de referência diferente do nosso.
Permitam-me uma sugestão básica, mas com resultados inquestionáveis:
Mandem-nos bugiar e passem à frente!
Só para rematar, acabei de me lembrar de um slogan que vem do tempo do PREC e que se adequa perfeitamente ao tempo que vivemos hoje: Unidos venceremos!

Raiva

A minha intermitência neste blogue ocorre no preciso momento em que mais preciso dele: As notícias diárias na imprensa vão exibindo, paulatinamente, as verdadeiras intenções do governo em destruir a escola pública (como o referencial de qualidade do serviço educativo), o desinvestimento na educação, repetidas tentativas do governo em desqualificar os professores, cada vez mais reduzidos a meros operários acríticos.

O meu tempo subjetivo desviou-me deste espaço. O voluntariado a que me dediquei absorve-me completamente, guilhotinando-me outras causas.

A estória mal contada de alienar a escola pública a grupos económicos de privados, repetindo na educação o exemplo da saúde, é um atentado à inteligência de qualquer pessoa de bem. A raiva é um sentimento benigno se resultar da defesa da nossa sanidade. É o caso!

Sinto raiva! Não do Paulo Portas e da quadrilha que nos desgoverna. Desses, sinto asco! Sinto raiva daqueles colegas, professores, que conivente e acriticamente legitimam estas políticas evocando o chavão de que são todos iguais!

Vão dar banho ao cão!

Abril de sim, Abril de Não

Eu vi Abril por fora e Abril por dentro

vi o Abril que foi e Abril de agora

eu vi Abril em festa e Abril lamento

Abril como quem ri como quem chora.

Eu vi chorar Abril e Abril partir

vi o Abril de sim e Abril de não

Abril que já não é Abril por vir

e como tudo o mais contradição.

Vi o Abril que ganha e Abril que perde

Abril que foi Abril e o que não foi

eu vi Abril de ser e de não ser.

Abril de Abril vestido (Abril tão verde)

Abril de Abril despido (Abril que dói)

Abril já feito. E ainda por fazer.

Manuel Alegre

Déjà vu (II)

É um facto indesmentível que as associações/federações sindicais ainda não conseguiram acertar os passos numa caminhada conjunta, como constatou o Nuno. As razões que determinaram esse facto são especulativas. Cada um enfatizará o que mais lhe convier para explicar a aparente idiotice: Do meu ponto de vista, o facto de a FENPROF caminhar sozinha decorre de outro facto: a FNE encontra-se ideologicamente cativa das políticas de direita que não lhe permite fazer uma oposição enérgica ao governo; do ponto de vista daqueles que se situam no lado direito do quadrante político, é compreensível que necessitem de culpar a FENPROF pelo desejo de um putativo protagonismo nas iniciativas de rua ou nos protestos de massas; do ponto de vista dos pseudoindependentes das estruturas sindicais, este assunto é irrelevante porque as iniciativas coletivas são estéreis, sobrando as heroicas iniciativas individuais que a existirem são desconhecidas pelas massas e obstaculizam, sabe-se lá como, o avanço das políticas opressivas deste governo.

A realidade é multicolor!

Não se trata de uma refundação. É mais uma reestruturação… ou uma reculturação :)


Recomendação do Conselho Nacional de Educação

Mega-agrupamentos” fragilizam” autonomia das escolas

(…) No documento, a que o PÚBLICO teve acesso, e que aguarda ainda publicação em Diário da República, o CNE constata que a recente criação dos chamados mega-agrupamentos “tem vindo a criar problemas novos onde eles não existiam”.

São exemplo o “reforço da centralização burocrática dentro dos agrupamentos, o aumento do fosso entre quem decide e os problemas concretos a reclamar decisão” ou a “sobrevalorização da gestão administrativa face à gestão autónoma das vertentes pedagógicas”.

Ao ser desafiado por um colega a reanimar este cantinho, não podia escrever sobre outro tema: É que as culturas profissionais estão na ordem do dia, pelas piores razões.

Para quem acredita, como é o meu caso, que as culturas profissionais de colaboração, designadamente as culturas de colaboração que não dividem (não é o caso dos vários tipos de balcanização), mitigam alguns dos efeitos da intensificação do trabalho docente, não tem sido fácil encontrar terreno fértil na escola situada para deixar germinar algumas dessas sementes.

Elejo duas razões, embora existam inúmeras causas para a cultura do individualismo, que justificam o quadro descrito:

1ª Porque há sentimentos de culpa recalcados pelas dificuldades de lidar com a falta de tempo e pela sobrecarga de trabalho que conduzem muitos professores ao isolamento;

2ª Porque os padrões de sucesso da resistência dos professores contra as hostilidades do MEC estão orientados exclusivamente para os resultados imediatos, quando deviam orientar-se fundamentalmente para os processos.

Não se vislumbrando sinais de melhoria nas condições de trabalho, nem sendo expectável a alteração súbita da perceção de sucesso dos professores nas suas lutas contra a tutela, a solução contra esse isolamento perverso depende da criação de pequenas comunidades docentes que lutam nas escolas situadas pelo reforço do poder discricionário dos professores em certos domínios, cedendo o poder a outros parceiros em outros domínios, se necessário for, de modo a garantir a centralidade do pedagógico sobre o administrativo.

50%

Para quem gosta de contar as espingardas da insatisfação fica a saber que metade do professorado que devia cumprir atividade letiva lá no meu burgo não se apresentou ao serviço. Ainda é cedo para contabilizar quantos, como eu, ordenaram a marcação da respetiva falta porque nestas coisas de trabalho individual misturado com a formação contínua causa algum embaraço a quem tem de tratar da contagem. Como somos cerca de 20, a percentagem ainda poderá baixar para os 40%.

Nada mal para o que é habitual nestas ocasiões que, mais coisa menos coisa, costuma andar perto dos 30%.

Muito pouco se atendermos à lamechice quotidiana que vai azedando o ambiente nas salas de professores.

Greve Geral: Se o meu avô tivesse rodas era um camião.

É nos momentos em que as palavras não dispensam a ação, como é o caso da adesão a uma greve, que ainda consigo ficar espantado com a candura argumentativa de alguns pseudointelectuais da nossa praça.

Ontem, Carlos Fiolhais, um físico, ensaísta e professor universitário, declarava ao DN: “Esta greve não é eficaz, se eu tivesse a certeza que a minha participação mudaria alguma coisa, obviamente, faria greve

Utilizando a linha argumentativa relativa à eficácia da greve usada por Carlos Fiolhais, Ilídio Trindade, um professor que emergiu dos movimentos de professores contestatários às políticas educativas dos governos Sócrates, afirmava: “Sou favorável apenas a greves que resolvam os problemas. Uma greve de um dia não faz sentido, porque não serve de nada, não tem efeito. E no caso dos funcionários públicos, como são os professores, o Governo ainda vai ficar contente por poupar uns quantos milhões nos vencimentos.”

Esperava mais substância nas razões invocadas quer pelo reputado físico quer pelo colega Ilídio. Um e outro afinaram pelo mesmo diapasão argumentativo mas desafinam na coerência.

Vejamos: o que levaria Carlos Fiolhais a fazer greve? A garantia de que a sua presença seria determinante para o sucesso da greve. É um ideia tão absurda que até custa desmontar. Pensemos em dois exemplos similares para demonstrar a fragilidade argumentativa, um assertivo e um exemplo perverso: 1º posso depreender que Carlos Fiolhais não exerce o seu direito ao voto porque é ínfima a probabilidade de poder determinar o resultado de qualquer eleição; 2º como é despicienda a sua contribuição para o volume de receitas do Estado, posso depreender que Carlos Fiolhais não paga os seus impostos?

O argumento hiperbólico do Ilídio fez escola na governação do governo Sócrates: é o argumento da fuga em frente; é um problema de dose. Chegar ao sucesso reforçando a receita do insucesso. Só que da receita do Ilídio emergem algumas questões que importa responder: Será que o governo infletiria as suas políticas se houvesse uma greve geral de uma semana, de um mês ou de um ano, só com meia dúzia de guerreiros? Neste caso a quantidade importa. De que valeria uma greve de um ano sem adesão significativa? É aqui que se cruza o argumento do Carlos Fiolhais: “Esta greve não é eficaz, se eu tivesse a certeza que a minha participação mudaria alguma coisa, obviamente, faria greve”

Pois…

purga…

… para quando faltar o alento! Ainda vale a pena olhar para aqueles que não se resignam…

Quero É Viver

(Humanos)

Vou viver
até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver

Amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será
mais um prazer

e a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com a idade
interessa-me o que está para vir
a vida em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir

encontrar, renovar, vou fugir ou repetir

vou viver,
até quando, eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver
amanhã, espero sempre um amanhã
eacredito que será mais um prazer

a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com idade
interessa-me o que está para vir
a vida, em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir

encontrar, renovar vou fugir ou repetir

vou viver
até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver,
amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será mais um prazer

_______

Adenda: Creio que não ficaram indiferentes à semiótica da letra da música 😉

Manual de sobrevivência…

Fiquei indignado quando li um documento emanado do MEC explicando aos professores como se dirige uma reunião de trabalho entre pares. Foi uma espécie de manual para totós que supostamente pretendia minimizar os efeitos da intensificação do trabalho docente que surgiu animado pela avaliatite. Era um tempo em que recusava a ideia de que os professores devessem ser tratados como meros operários da educação, porque não eram acéfalos, porque eram intelectuais livres do pensamento. Aquilo era um manual para diretores de turma, delegados de grupo e coordenadores excessivamente zelosos que esticavam as reuniões até ao limite da paciência de um santo. A ideia do MEC seria o combate ao formalismo e ao esquematismo que faziam escola nesse tempo mas que ainda não desapareceram das práticas de alguns professores.

Hoje ficaria menos indignado!…

Mudam-se os tempos…

Reinvenção da equidade ou como descobrir a roda em 2012.

Funcionários públicos e reformados só perdem um subsídio.

Digam-me lá se o Gasparzinho não merecia levar com um gato morto na carola até ele miar…

Expliquem-me como se fosse muito burro: a medida era inconstitucional quando se tratava de dois subsídios; passou a ser uma medida constitucional só porque o governo decide apropriar-se de “apenas” um subsídio? Extraordinário!

Excesso de zelo, partidarismo…

O presidente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) vai abrir um inquérito disciplinar ao aluno que, na semana passada, insultou o primeiro-ministro.

Ao Diário de Notícias, Manuel Meirinho – foi cabeça de lista do PSD pela Guarda nas últimas eleições legislativas, – explicou que “no domínio interno há um regulamento e há um código de conduta da Universidade Técnica de Lisboa, à luz dos quais este acto tem de ser analisado. Há uma função pedagógica que a presidência do ISCSP procurará sempre pôr em prática, mas há também uma função disciplinar”.

O poder que emerge da mentira é um embuste. Se queremos conhecer exemplos convincentes de um estado cuja democracia faz-de-conta, conheçamos os lacaios desse poder. 

O neoconservador Nuno Crato

Nuno Crato desejou fazer “implodir” o MEC. Houve quem conotasse esta pretensão com um impulso neoliberal de emagrecimento do Estado com a consequente transferência de mais autonomia para as escolas situadas.

Puro engano!

Nuno Crato é o arquétipo de um político neoconservador que deseja um Estado forte. E os seus impulsos neoconservadores revelam-se em coisas como:

O controlo sobre o saber legítimo, que a recente revisão curricular reduziu a duas ou três disciplinas putativamente nucleares;

A definição de metas de aprendizagem que não conseguem disfarçar o “policiamento” do trabalho dos professores cada vez mais padronizado e racionalizado, baseado numa profunda falta de confiança da tutela nas competências dos professores;

A proliferação de testes intermédios e de exames nacionais que visa, em última instância, providenciar não só o conteúdo legítimo a ser ensinado como os métodos legítimos (métodos de ensino centrados mais nos resultados e menos nos processos de aprendizagem);

A alteração das regras de organização do ano letivo que prossegue o objetivo de intensificar o trabalho dos professores (diminuindo em 110 minutos o tempo de trabalho individual semanal).

Quais as consequências desta deriva neoconservadora?

O empobrecimento da escola pública e a degradação do estatuto social do professor!

Governo de iniciativa presidencial

imageVou ao cerne da questão e passo ao largo da contextualização, que é redundante face ao atual momento político e social: O país necessita de um governo de iniciativa presidencial (eu sei, eu sei, a credibilidade deste presidente foi chão que deu uvas…) por políticos com estaleca, mas fora do ativo; Deve ser um governo de políticos não carreiristas, altruístas, movidos pelo sentimento de privilégio por servir a nação; Nenhum desses putativos governantes pode julgar a Constituição um obstáculo ou um entrave para decisões políticas justas e solidárias.

Não sei bem como se poderá lá chegar e que deambulações serão necessárias para atingir esse ponto. O que eu sei é que as sondagens não auguram nada de bom!…

100 palavras bastam!…

Li a entrevista de Nuno Crato ao Sol que o blogue Aventar partilha aqui.

Quando um ministro inepto decide aparecer e dá uma entrevista que ultrapassa as 100 palavras, por mais amigável que seja o entrevistador acaba por revelar mais a ignorância do que a sapiência.

Nuno Crato esteve remetido ao silêncio enquanto se situava no labirinto do MEC. Esta fase da governação terá durado cerca de um mês e pode ser considerado o estado de graça. Depois começou a mostrar ao que vinha sempre que mandava publicar em Diário da República. E bastou um ano! Bastou um ano para revelar que a política para a educação é meramente instrumental face a uma política mais global de definhamento dos serviços públicos. O objetivo principal é, como se verá, a transferência para os privados de funções sociais que, por enquanto, ainda estão sob a alçada do Estado.

O princípio da gratuitidade da educação obrigatória ainda não é assunto, como revela o ministro na entrevista, mas percebe-se que está aberto o caminho para as discussões que fazem parte do linguajar neoliberal e neoconservador: Regressaremos (porque é uma conversa recorrente sempre que a direita toma conta do poder) às retóricas sobre a “liberdade de escolha”, às narrativas sobre programas de cheques-ensino; sistemas de gestão privada das escolas; etc., etc.

Não irei dissecar a entrevista de Nuno Crato à procura de dissonâncias de um ministro impreparado para o cargo. O Paulo Guinote fez esse trabalho com competência aqui, aqui e aqui, o que me permite enfatizar os dois principais equívocos do cratês: considerar que as mudanças na educação fazem-se por decreto; que as mudanças significativas na qualidade das aprendizagens podem ser concretizadas sem os professores.

Farol

António Nóvoa foi entrevistado na RTP em horário nobre.

Não acredito que fizesse rebentar as audiências porque a concorrência das futilidades é imbatível. Mas tenho a certeza que o seu discurso não caiu em saco roto.

Que raciocínio límpido e escorreito; que frontalidade e honestidade intelectual; que convicção e esperança no futuro!

Não sei se foi capaz de inspirar algum político do centrão… provavelmente nenhum se sentirá livre para o reconhecer em público.

Sei que a narrativa de António Nóvoa é herética e funciona como um farol!

Nem sempre o óbvio é tangível!

Recolocando o problema da luta dos professores: há que pressionar o governo para obstaculizar o avanço das políticas que deterioram a qualidade da escola pública e ostracizam os seus profissionais.

O modo como se deve influenciar o governo em geral, e o MEC em particular, não é consensual e, nos últimos anos, sindicatos, movimentos e blogues de professores divergem nas formas que preconizam. Contudo, há um denominador comum entre estas forças de pressão: todos procuram mobilizar os professores porque se presume que o tamanho conta. A chave do problema parece ser a MOBILIZAÇÃO.

Houve um tempo, logo que Nuno Crato chegou ao MEC, que muitos professores acreditaram que bastavam os argumentos para conter a ofensiva do governo. Talvez por ingenuidade ou pela evidente afinidade ideológica de Nuno Crato comentador, alguns professores acreditaram que estariam dispensados de regressar à rua e que esse tempo estaria esgotado.

Como todos reconhecem agora, quero crer que a opinião dos colegas citados pelo Público retratam a opinião geral dos professores, a mobilização, seja ela em torno de uma iniciativa de sofá ou de uma iniciativa de rua, é uma condição necessária para inverter o rumo dos acontecimentos.

Nem sempre o que parece óbvio é tangível. Quer pela inabilidade de alguns dirigentes sindicais em lidar com a blogosfera, quer pelos preconceitos bacocos de professores com as estruturas sindicais, a verdade é que a onda divisionista, a que se referia o Paulo Guinote na peça jornalística do jornal Público, serve perfeitamente os interesses dos inimigos da escola pública, promotora de uma sociedade sem castas, e de algumas coutadas.

Ora, se o problema são os divisionistas, criem-se as pontes. Há dois colegas que reúnem, a meu ver, o perfil adequado para desempenhar esse papel: o Paulo Prudêncio, pela visibilidade que tem na blogosfera docente e pelo equilíbrio das suas posições críticas, e o João Paulo pela sua experiência sindical e ligação à FENPROF. Tivessem eles vontade porque não lhes falta a capacidade!

Se pensam que já batemos no fundo…

atentem à notícia:

Hoje entram em vigor um conjunto de alterações à lei laboral, algumas das quais terão um impacto quase imediato na vida dos trabalhadores. A partir de agora, as empresas podem reduzir para metade o valor das horas extraordinárias que pagam até aqui e o mesmo acontecerá com a compensação (em tempo e dinheiro) do trabalho em dia feriado. 

O que poderá provocar uma verdadeira hecatombe no serviço público da educação é a possibilidade do trabalho docente poder ser ainda mais intensificado. Para já é ainda distante a possibilidade do Banco de horas individual. Mas pensemos quão atrativos são, para um econometrista, claro, os períodos de interrupção das atividades letivas. Serão resmas de horários zero!…

“Banco de horas individual
A reorganização do tempo de trabalho que até agora só podia ser negociada coletivamente desce para o nível individual.

Assim, o empregador pode negociar diretamente com o trabalhador a criação de bancos de horas, tendo de observar dois limites: este não poderá exceder as 150 horas anuais e permite que em alturas de “picos” de atividade o tempo de trabalho passa ser aumentado em duas horas diárias.

A proposta é feita por escrito ao trabalhador e se este não responder no prazo de 14 dias considera-se que aceitou. Assim que 75% dos trabalhadores estiver de acordo, o banco de horas estende-se a todos. O grande objetivo deste instrumentos é permitir às empresas poupar com o pagamento de horas extraordinárias.”

O bom samaritano…

Detesto unanimismos mas, reconheçamos: Nuno Crato teve o mérito de superar a sua antecessora por ter provocado um elevado consenso entre classe docente contra a sua reformazinha num tempo recorde – e bastou apenas um ano.

Isto só foi possível porque Nuno Crato adoptou uma política rigorosa de degradação da escola pública (assente em dois pilares: 1º empobrecimento/afunilamento curricular; 2º redução de meios e das condições da oferta do serviço educativo – mega agrupamentos, aumento de alunos por turma e intensificação do trabalho docente) e a bazófia demagógica do bom samaritano.

Como diz o Antero: “ele é um homem que enfrenta a questões de frente”.

Por que vale a pena lutar?

Michael Fullan e Andy Hargreaves, fizeram publicar em 1991, no Canadá, um texto que ainda considero atual. Por que vale a pena lutar? aclara o modo como podemos transformar as escolas em lugares atrativos  e gratificantes e aborda as formas de introduzir alterações significativas  na vida quotidiana e na experiência de cada vez mais docentes, diretores de escolas e alunos.

Havia muito a dizer sobre o livro e, fundamentalmente, sobre as questões que ele suscita. Quem o leu sabe bem do que falo e para quem não o leu aconselho vivamente a leitura, até porque não pretendo reduzir e empobrecer o seu conteúdo a meia dúzia de linhas soltas.

Hoje, as circunstâncias que marcam o nosso quotidiano são extremamente conflituantes e potencialmente tensas. Há dois tipos de exaustão que, nas palavras dos autores, provoca efeitos opostos nos professores: o primeiro decorre das batalhas solitárias, dos esforços não reconhecidos, da perda de terreno e de um sentimento crescente e corrosivo de impotência; o outro tem a ver com aquela espécie de cansaço total que acompanha o trabalho duro enquanto membro de uma equipa, um reconhecimento crescente de que se está envolvido numa luta que vale a pena travar e de que aquilo que se está a fazer tem um efeito crítico junto de uma criança ou de um colega desanimado. Com o tempo, o primeiro tipo de exaustão faz sentir os seus efeitos sobre a motivação do docente mais entusiasta; o segundo tem a sua própria reserva interna que nos permite recuperar após uma boa noite de sono. Na realidade o primeiro tipo provoca ansiedade e insónias, enquanto o segundo induz o descanso e a regeneração das energias.

Pergunta retórica: será o nosso dispêndio de esforço inglório ou vantajoso?

Dependerá de cada um de nós, embora a solução não dependa exclusivamente de nós. São os indivíduos e pequenos grupos de professores e de diretores que terão de criar as culturas profissionais que desejam.

Ora, quem lê criticamente as caixas de comentários dos blogues mais frequentados, quem for capaz de observar com distanciamento as lutas inter geracionais de docentes de teor autofágico, percebe que nós temos a solução, que nós somos a solução!

Sem esta consciência de classe, sem entendermos que este é o ponto de partida, não há plano de ação que nos valha, por mais assertivo que ele nos pareça.

Necrófagos

Passos Coelho alerta para possibilidade de cortes na Saúde e na Educação

Não corro o risco de influenciar positiva ou negativamente a gentalha que persuade a governança a atacar a escola pública, porque este blogue é muito bem frequentado – perdoem-me a imodéstia.

Quando li a notícia, a primeira coisa que me ocorreu foi o artigo 79º do ECD, com tudo o que isso implica ao nível da intensificação do trabalho docente e a dispensabilidade de milhares de professores.

A reformazinha…

Nuno Crato não aprendeu nada com o passado. Corroboro a ideia de que o espírito reformista que o anima emerge da necessidade de mostrar serviço, de deixar uma marca. Mas bastava ter acompanhado os anos de governação de MLRodrigues para compreender que nenhuma reforma na educação será consequente e sustentada no tempo sem envolver os professores, sem mobilizar o país. Com todas as falhas e reversos, a reforma de 86 foi, muito provavelmente, aquela que mais resistiu no tempo, porque foi pensada e concebida com um enorme envolvimento social. Nuno Crato, tal como MLRodrigues, abriga-se na maioria parlamentar para impor a sua reformazinha, que durará apenas o tempo que durar o seu governo. E pelo andar da carruagem, durará muito pouco! A reformazinha de Nuno Crato durará apenas uma legislatura.

A palavra de ordem é resistir: Sobreviver no sistema de ensino sem definhar, sem recaídas e sem perder o discernimento.

Vamos para a rua protestar! Há que mitigar a alma… No dia 12, em Lisboa…