Complexo de inferioridade

O azar e a influência da má arbitragem justificarão o resultado do primeiro jogo no europeu. Será assim que os analistas da bola vão tentar formatar a opinião pública para camuflar o óbvio: a ausência de ambição e o complexo de inferioridade face ao poder dos de fora, são as duas causas mais profundas da atitude subserviente que demonstraram os jogadores da seleção nacional no jogo com os alemães.

A culpa? É do Queiroz, claro!

Seleção nacional – Um baile de debutantes

Não vou comentar a prestação desportiva da seleção nacional de futebol nos dois últimos jogos de preparação para o europeu. Nem sequer irei evidenciar o modo complacente como a comunicação social trata o selecionador nacional agora que desapareceu de cena o mal-amado Carlos Queiroz. Sei que ficará muito por dizer mas não temos tempo e, honestamente, não me apetece remexer no assunto.

O que me impressiona mesmo é a desvinculação de uma equipa profissional de futebol, que é altamente cotada e experiente mas que denota – este é o paradoxo – laivos de amadorismo. Num momento em que se exige concentração máxima de todos os jogadores, o grupo andou na última semana numa roda-viva de compromissos sociais como se de um baile de debutantes se tratasse.

Este processo autofágico não serve apenas os interesses da indústria do futebol, que não são despicientes face às receitas que gera, mas serve sobretudo para engordar os egos de uma oligarquia de dirigentes que se eternizam nas estruturas associativas.

Receio bem que a subversão dos objetivos de preparação de uma equipa de futebol conduza à autofagia competitiva. É bem provável que as inúmeras variáveis que determinam o sucesso ou insucesso competitivo sejam evocadas à la carte para camuflar a aleivosia, que nenhum interveniente direto se atreverá a confirmar. É pouco provável que alguém morda a mão que lhe dá de comer!

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Adenda: Hoje, Manuel José, o treinador em exercício mais experiente corrobora a minha opinião, aqui.

Surreal

A clubite e a partidarite são duas variantes de uma doença degenerativa do sistema nervoso central, digo eu que não sou médico.

Os portadores desta doença não têm a noção do real e vivem num estado de permanente alienação.

Não acreditam? Então atentem à sequência noticiosa:

FC Porto diz que gritos de macaco eram “Hulk, Hulk, Hulk”

Explicação do diretor de comunicação Rui Cerqueira sobre alegados insultos racistas no jogo com o City

F.C. Porto nega racismo e fala em mal-entendido

“Rui Cerqueira entende que tudo não passou de um mal-entendido. «Gritos como Hulk, Hulk, Hulk ou Kun, Kun Kun [referindo-se a Aguero] podem facilmente ser confundidos com cânticos racistas», explicou.”

FC Porto vai apresentar queixa à UEFA contra os adeptos do City

E se ainda tiver paciência veja este vídeo:

Parabéns…

… ao FCPorto porque ganhou o campeonato nacional de futebol.

Não gostei do ambiente que se viveu estádio da Luz. Como adepto benfiquista, mas principalmente como amante do desporto, quero relembrar que os estádios desportivos são as novas catedrais desta época. Existem para consagrar e celebrar o homem.

Lamento profundamente que os inimigos dos palcos desportivos, que o menorizam intelectual, cultural e socialmente, os tenham tomado de assalto. Chegou o tempo de expulsar os vendilhões do templo!

O verdadeiro artista.

(Imagem daqui)

O futebol é um desporto multifacetado. A sua dimensão mais mediática parece reduzir o jogo ao espectáculo e as implicações deste olhar são óbvias: os protagonistas, e quando me refiro aos protagonistas estou a pensar nos jogadores, dirigentes e demais profissionais dependentes, acabam por desenvolver competências artísticas próprias de qualquer actor hollywoodesco.

É por esta razão que considero o presidente da FPF um artista. O verdadeiro artista. E se pensa que este intróito é descabido então é porque não gosta do fenómeno, ou considera um exagero mobilizar um neurónio que seja para cogitar sobre o assunto. É uma posição respeitável, certamente, e se assim pensa este post acaba aqui porque nada lhe dirá. Se gosta do fenómeno, o que não significa aceitar discuti-lo como se fosse unidimensional, não ficou indiferente à notícia do dia: Madaíl está em Madrid para convidar Mourinho para 2 jogos.

Depois do canto de finados da reestruturação do futebol português, porque foi abandonado o mentor do projecto mais consistente e bem delineado, credível e exequível, que alguma vez se produzira, é extraordinário que tudo se tenha passado sem conhecer uma única voz dissonante que fosse a contestar o projecto. O que se conhece são opiniões de figuras públicas ou de figurantes, aparentemente preocupadas com as questões comezinhas da substituição frustrada, ou da relação empática falhada, como se apenas existisse a árvore quando o que está em jogo é a qualidade da floresta.

A solução Mourinho parece divinal. Madaíl e os seus acólitos da federação estão de parabéns. O number one é, quiçá, a única estrela capaz de ofuscar o buraco negro da agnosia em que mergulhou o futebol nacional. Para que a porcaria não seja atirada para debaixo do tapete, uma vez mais, é bom que Mourinho decline o frete.

Polichinelo

(imagem daqui)

Laurentino Dias recusa comentar acusações de Vieira

Acusado pelo presidente do Benfica de «orquestrar» todo o processo em torno de Carlos Queiroz, o secretário de Estado do Desporto diz estar de consciência tranquila, garantindo ter actuado com toda a transparência.

Última hora: Carlos Queiroz despedido

Ponto final para Carlos Queiroz na Selecção Nacional de futebol. A direcção da FPF, reunida em Lisboa, decidiu esta quinta-feira prescindir de Carlos Queiroz.
É seguro que para os responsáveis federativos já concordaram quanto ao destino de Queiroz.

Basta de boas vontades incompetentes.

Como adepto incondicional do Benfica, assisti com tristeza ao desenrolar do jogo desta noite com o Nacional da Madeira. Estou certo de que são momentos como este que definem a grandeza das equipas. E como diria Lipovetsky se fosse treinador de futebol: valem mais acções “interessadas” mas capazes de melhorar o destino dos homens (das equipas), do que boas vontades incompetentes.

Espero que uma luz ilumine a cabeça de Jesus.

Ciência de algibeira…

“O jornal Correio da Manhã adianta hoje queixas de «um grupo de pessoas daltónicas» de que a cor laranja da bola se confunde com o relvado, tornando difícil o acompanhamento dos lances nos espectáculos ao vivo e nas transmissões televisivas de encontros de futebol.

«Mal tomou conhecimento desta eventualidade a Liga pediu informações ao fabricante da bola e solicitou que, a ser verdade, a mudança da cor da mesma. Para a Liga devem ser criadas condições técnicas e humanas disponíveis e possíveis para que todos os adeptos e cidadãos possam usufruir do espectáculo do futebol», disse à Agência Lusa uma fonte da Liga de Clubes.” (in: Sol)

Esta notícia, cujo teor será despiciendo para a maioria das pessoas interessadas pelo fenómeno desportivo, e completamente fútil para aqueles para quem o futebol é uma manifestação cultural árida, encerra um dos paradoxos dos arautos da ciência de bolso: negar a realidade que nos entra, literalmente, pelos olhos dentro. O senhor presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, António Travassos, afirmou hoje à agência Lusa que os daltónicos conseguem ver "perfeitamente" a bola de futebol Jabulani, mas com uma tonalidade cinzenta em vez de laranja.

Do alto da sua cátedra, o senhor presidente da Sociedade Portuguesa de Oftamologia atreve-se a desmentir os queixosos. Muito bem. Eu, daltónico confesso, vejo com dificuldade a bola laranja durante as transmissões televisivas. (percebe-se agora a minha aversão pelo laranja? 😉 ) Agora pergunto: Qual a credibilidade de um médico que depois de declarar o óbito ao doente, acaba por ser questionado pelo próprio doente sobre o grau de veracidade do diagnóstico?

Isto é de doidos!

A quadratura do círculo – um comentário a um texto do Pedro Barroso.

Pensava não regressar ao assunto mas impõe-se um comentário a um longo texto de um colega de grupo, Pedro Barroso, mais conhecido pela sua faceta artística e menos pela sua formação académica. Agradeço ao Sérgio a referência e a possibilidade que me dá para aclarar o que penso sobre o tema.

Duas notas prévias:

1. Ninguém deve ficar imune à crítica. O problema não está, portanto, na crítica mas na substância dessa crítica.

2. Todos devem prestar contas, não direi a todos, mas quando se trata de um “serviço público” há que submeter ao escrutínio da opinião pública a qualidade desse serviço.

Sobre o texto de Pedro Barroso, encontro duas linhas argumentativas:

· Uma, focada nos traços da personalidade do Carlos Queiroz que determinam negativamente, no entender do Pedro Barroso, o estilo de liderança;

· Outra, dirigida às opções equívocas quer da estratégia de jogo quer das opções táctico-técnicas;

O texto não consegue esconder uma certa animosidade pessoal de Pedro Barroso com Carlos Queiroz, com quem algum dia privou, parecendo ressabiado com uma vida que não escolheu porque optou, e bem no seu entender, por se deixar guiar por valores mais elevados.

Reconhece que CQ possui características que são importantes num perfil de um líder (“o estudo, a calma, a cultura e ponderação que inegavelmente possui(s)”), mas não reconhece em Queiroz “ambição, o golpe de génio, a raiva, o combate, a capacidade motivacional, o cuspo, o grito, o abraço sincero e a agressividade atacante que inegavelmente sofreia(s)”.

Porém, é factual, estas críticas caem por terra depois de analisado o jogo de qualificação com a Dinamarca, cujo volume e qualidade do jogo ofensivo foram unanimemente reconhecidos. Mais recentemente, o jogo com a Coreia do Norte mereceu os mais rasgados elogios pela sagacidade do treinador, pela ambição dos jogadores, pela eficácia na finalização. Aí não faltou ao Carlos Queiroz ambição, o golpe de génio, a raiva, o combate, a capacidade motivacional, o cuspo, o grito, o abraço sincero e a agressividade atacante. O problema é que no primeiro jogo o que sobrou em eficiência escasseou em eficácia ofensiva. Não se trata, a meu ver, de não ter capacidade para agir. O problema não é a ausência de capacidade de liderança ou de competência para o cargo, como Pedro Barroso defende. O problema é bem mais simples: há treinadores que nos desagradam, seja pelo seu estilo, seja pelas concepções de jogo, pela imagem que cultivam, ou por algum recalcamento encoberto. E não vem o mal ao mundo que tornemos público esse desagrado. Os gostos valem o que valem… Mas reconheçamos esta evidência: Carlos Queiroz tem um projecto coerente, de longo prazo, para as selecções. Após a apresentação pública do seu projecto foram surdas as críticas. Não procuremos razões obscuras para justificar o óbvio: todos os seleccionadores nacionais que não vão ganhar o campeonato do mundo serão contestados pela escassez de resultados. Até o próprio Scolari viveu este drama com os resultados que a selecção alcançou em tempo das vacas gordas.

Quanto à segunda linha argumentativa de Pedro Barroso, que as opções foram equívocas quanto à estratégia de jogo assim como às decisões táctico-técnicas, há que reconhecer as fragilidades da nossa selecção que são ainda mais evidentes no confronto com as melhores equipas do mundo. Como disse num post anterior, a selecção está num processo de reconstrução, há margem de progressão e saberemos aprender com estes erros. Reduzir esta discussão ao processo defensivo que foi ineficaz porque não acautelou a primeira fase de construção de jogo, ou às incidências do próprio jogo, pode fazer sentido quando se disseca um jogo, mas é abusivo partir desta análise circunscrita para a determinação da competência de um seleccionador nacional que defende um projecto com enorme amplitude e que ninguém, até à data, contestou.

Acabo de escrever estas linhas depois de saber que o Brasil perdeu a eliminatória com a Holanda. Foi encontrado mais um seleccionador inapto.

Não quero com isto dizer que todos os seleccionadores são competentes. O seleccionador grego, por exemplo, vencedor do Euro 2004, ficou a saber que era incompetente depois da Grécia não passar a fase de grupos neste mundial. O Dunga seria um seleccionador competente se vencesse a prova.

É uma lástima que a avaliação de competência dependa tanto da volatilidade dos resultados. É por isso que defendo que só se devem contratar treinadores ou seleccionadores depois de terminarem as competições, enquanto não encontrarmos modelos de avaliação mais consistentes.

Mundial de futebol – Um outro olhar.

É do senso comum olhar para um jogo de futebol e apreciar apenas a fase ofensiva. Mas quem aprecia o jogo de futebol pela sua lógica interna, pela alternância das fases de jogo, pela expressão das possibilidades dos jogadores nesse mosaico fluído de movimentos debilmente articulados, em que o TODO é sempre maior do que a soma das partes, não pode deixar de louvar o trabalho que foi realizado pela equipa técnica da selecção. Quem acompanhou esta equipa desde o início, desde o começo, onde a equipa era uma manta de retalhos sem uma ideia de jogo, sem um modelo de jogo, metamorfoseou-se num conjunto homogéneo que é, hoje, valorizado e respeitado por todos os intervenientes directos no próprio jogo, pelos jogadores e treinadores adversários.

Hoje observámos dois modelos de jogo antagónicos. Venceu o espanhol, é verdade. Mas não encontro motivos para menorizar o nosso modelo de jogo. Quem assistiu, recentemente, ao jogo defensivo da equipa de José Mourinho em Barcelona, exaltou a excelência do trabalho defensivo. Mais até do que a organização ofensiva da equipa, no jogo da 1º volta, que lhe permitiu entrar na 2ª volta da eliminatória com vantagem. Teria saído enaltecida a audácia do treinador se o resultado final fosse negativo?

É evidente que a selecção portuguesa tem margem de progressão. Ao contrário da selecção espanhola em que dá a ideia que a equipa começou a ser construída da frente para trás, face à qualidade dos médios e atacantes, a nossa selecção foi construída, e bem, de trás para a frente face às características dos “nossos” jogadores. Esta competição foi apenas o começo e, face aos resultados alcançados, começámos bem.

Para memória futura, não posso deixar de enaltecer o trabalho da equipa técnica e dos jogadores porque acrescentaram valor ao JOGO.

Queiroz, o mal-amado.

Prof_queiroz_blogCarlos Queiroz, seleccionador nacional de futebol, é um treinador mal-amado para muitos portugueses. Encontro duas razões para justificar o desamor a que é votado:

1. Não sabe despertar o sentido religioso das grandes massas de adeptos. Para ganhar os jogos nunca ninguém o ouviu apelar à virgem ou ao bruxo de Fafe;
2. É um académico e um professor. O que o povo gosta é de rústicos, bazófias e de boçais.

Ouço, aqui e ali, alguém invocar as tácticas, as estratégias, o modelo de jogo ou outros quejandos para justificar a (in)competência do seleccionador. Mas o que vale mesmo, o que o povo da bola gosta é o exercício especulativo simplificado, um deve e haver dos resultados dos jogos. A competência profissional do professor Carlos Queiroz é reduzida a uma simples fórmula: Não lhe basta ganhar, ele tem de convencer os incrédulos, mesmo quando ganha. E lá voltamos nós à razão de fundo, ao problema da fé ou da falta dela.

Podes voltar Scolari que estás perdoado!

(imagem: http://carloslaranjeirailustracao.blogspot.com)

Teoria da manipulação ou uma simples táctica para mobilizar os acólitos?

Sobre os incidentes, disse (o secretário de estado Jorge Pedreira) ser uma “acção organizada por quem quer impedir que as políticas de reforma se concretizem“.

Há um certo paralelismo entre as declarações do Jorge Pedreira e as inúmeras intervenções de Pinto da Costa dirigidas aos seus apaniguados em momentos de crise clubista. Eleger um fantasma como adversário hostil, que nos quer tramar e para o qual devemos estar unidos, vigilantes e disponíveis, foi um táctica frequentemente usada pelo presidente do FC Porto, da qual resultaram ganhos no domínio da filiação clubista.

É uma táctica que se caracteriza por um estilo de intervenção acintosa, um discurso virado para dentro, hermético, fechando as portas à conciliação. O objectivo é manter a coesão do grupo e nada melhor do que adoptar um inimigo, mesmo que ficcional, para que as tropas não se desconcentrem com quezílias no interior da sua trincheira.
Aliás, esta intervenção de Jorge Pedreira segue na esteira do seu líder, que deu o mote ao procurar isolar as vozes críticas que surgem do interior do partido, nomeadamente, as intervenções recentes de Manuel Alegre, Ana Benavente e António Seguro, a respeito da Avaliação do Desempenho Docente.

Isolar os adversários internos e eleger um fantasmagórico inimigo externo, parece ser a táctica para mobilizar os acólitos, não obstante as minhas reservas quanto aos resultados que ela possa suscitar.