Os megas situados – Entre o anacrónico e o paroquial!

Ainda é cedo para formular um juízo situado sobre os problemas que decorrem da agregação que “vitimou” a minha escola. A notícia e os testemunhos que surgem nesta pequena janela do DN (que roubei descaradamente ao Arlindo) remetem-nos para questões materiais, não direi que são despiciendas porque a degradação das condições salariais dos professores configura um roubo de igreja, e quase que deixam escapar outros sinais que atestam a transformação das escolas… para pior:

É anacrónico o modo como a informação encrava quando deveria ser processada mais rapidamente, ou não estivéssemos no tempo da velocidade, dos bites e dos bytes (é o tempo do bitaite!);

É daltónica a cultura visual, instantânea, marcada pela superficialidade, como se se ousasse substituir a reflexão aturada e o debate público rigoroso;

É paradoxal a tentativa de centralizar a gestão quando as boas práticas aconselham a descentralização das decisões e das lideranças;

É irónico que as estruturas organizacionais mais planas sejam amarfanhadas num controlo hierárquico dissimulado.

Há quem os designe de equívocos “pós-modernistas” gestionários. Eu chamo-lhe apenas paroquialismo!

Com papas e bolos se enganam os tolos

Não foi por obra do acaso que o país chegou onde chegou. Foi necessário conjugar vários elementos perversos para a saúde da nossa democracia: irresponsabilidade política de inúmeros oportunistas, videirinhos que tomaram de assalto lugares de comando do Estado; inércia abstencionista de milhares de eleitores que deixam terreno fértil para a aberração democrática designada por “partidos do arco do poder”; conivência da comunicação social, em muitos casos acéfala, que por manifesta incompetência parece mais vocacionada para propagandear o poder hegemónico do que para desconstruir os factos políticos, garantindo o mesmo espaço mediático ao contraditório.

E mais grave do que não abrir um espaço para o contraditório é ocupar esse espaço com uma metamorfose da propaganda oficial travestida de contraditório. A opinião de Maria de Lurdes Rodrigues, só para dar um exemplo, é em termos conceptuais a opinião do atual ministro da educação: são econometristas da educação e acreditam cegamente de que é possível melhorar a qualidade do serviço educativo sem contar com os professores. No fundo, fazem parte da mesma família política, a família de “partidos políticos do arco do poder” que nos conduziu ao ponto onde nos encontramos!

Com papas e bolos se enganam os tolos.

Privatizar a educação – fraude eleitoral

O PCP pediu hoje a presença do ministro da Educação no Parlamento para explicar as “verdadeiras intenções” do Governo em relação ao financiamento do ensino obrigatório, considerando que existe o risco de introdução de propinas.

(…)
Para o PCP, “não há dúvida nenhuma” de que o primeiro-ministro se referiu “à introdução do pagamento de propinas” na escolaridade obrigatória, disse o deputado Miguel Tiago, em declarações aos jornalistas no Parlamento.

Passos Coelho foi claro: advoga a supremacia dos princípios e mecanismos de mercado sobre os princípios de cidadania e financiamento democráticos da escola pública. Passos Coelho defende um modo de privatizar a educação pela via do aumento da percentagem de financiamento da escola pública pelas famílias.

Se não podemos dizer que estamos surpreendidos com a ideologia neoliberal do primeiro-ministro, podemos dizer que as medidas que agora vem defender com o pretexto de não haver dinheiro para sustentar o Estado Social não foram sufragadas pelo voto dos pacóvios que nele acreditaram, o que configura, a meu ver, uma fraude eleitoral.

Se Portugal tivesse Presidente República, o governo seria deposto!

Greve Geral: Se o meu avô tivesse rodas era um camião.

É nos momentos em que as palavras não dispensam a ação, como é o caso da adesão a uma greve, que ainda consigo ficar espantado com a candura argumentativa de alguns pseudointelectuais da nossa praça.

Ontem, Carlos Fiolhais, um físico, ensaísta e professor universitário, declarava ao DN: “Esta greve não é eficaz, se eu tivesse a certeza que a minha participação mudaria alguma coisa, obviamente, faria greve

Utilizando a linha argumentativa relativa à eficácia da greve usada por Carlos Fiolhais, Ilídio Trindade, um professor que emergiu dos movimentos de professores contestatários às políticas educativas dos governos Sócrates, afirmava: “Sou favorável apenas a greves que resolvam os problemas. Uma greve de um dia não faz sentido, porque não serve de nada, não tem efeito. E no caso dos funcionários públicos, como são os professores, o Governo ainda vai ficar contente por poupar uns quantos milhões nos vencimentos.”

Esperava mais substância nas razões invocadas quer pelo reputado físico quer pelo colega Ilídio. Um e outro afinaram pelo mesmo diapasão argumentativo mas desafinam na coerência.

Vejamos: o que levaria Carlos Fiolhais a fazer greve? A garantia de que a sua presença seria determinante para o sucesso da greve. É um ideia tão absurda que até custa desmontar. Pensemos em dois exemplos similares para demonstrar a fragilidade argumentativa, um assertivo e um exemplo perverso: 1º posso depreender que Carlos Fiolhais não exerce o seu direito ao voto porque é ínfima a probabilidade de poder determinar o resultado de qualquer eleição; 2º como é despicienda a sua contribuição para o volume de receitas do Estado, posso depreender que Carlos Fiolhais não paga os seus impostos?

O argumento hiperbólico do Ilídio fez escola na governação do governo Sócrates: é o argumento da fuga em frente; é um problema de dose. Chegar ao sucesso reforçando a receita do insucesso. Só que da receita do Ilídio emergem algumas questões que importa responder: Será que o governo infletiria as suas políticas se houvesse uma greve geral de uma semana, de um mês ou de um ano, só com meia dúzia de guerreiros? Neste caso a quantidade importa. De que valeria uma greve de um ano sem adesão significativa? É aqui que se cruza o argumento do Carlos Fiolhais: “Esta greve não é eficaz, se eu tivesse a certeza que a minha participação mudaria alguma coisa, obviamente, faria greve”

Pois…

Esperem que depois do modelo germânico virá o chinês…

Crato chegou ao governo e ao MEC com a reputação de um cientista. Era espectável que o rigor, a racionalidade, a coerência, características fundamentais num homem de ciência, fizessem parte do código genético do “homem político” em que se transformou.

Puro engano! Crato parece aquele “aprendiz de feiticeiro” cuja mágica duplica um problema sempre que julga ter encontrado uma solução.

Crato vai a Berlim assinar acordo para reforçar ensino profissional em Portugal

Não chega de lamber as botas?

Percebe-se melhor, depois de conhecida a boleia, o ziguezaguear do Cata-vento.

Hoje verborreia sobre o crime de lesa-pátria que foi o crescimento do grupo de Educação Física usando como argumento, o financeiro. Diz ele que fica caro. Diz também que o desporto deve fazer-se sobretudo nas associações e clubes desportivos. Defende que o Estado deve lavar as suas mãos nesta matéria…

150 minutos por semana chegam, diz lá do alto da sua cátedra o sabichão. Presume-se que a OMS, o Parlamento Europeu e os especialistas da área estejam todos enganados.

Lá pelo meio do texto ainda opina sobre a falácia que resulta do facto da classificação de Educação deixar de contar para a contabilização da média aos alunos que prosseguem estudos no ensino superior. O argumento é pobre, pobrezinho de todo. Parece que há alunos prejudicados porque têm notas baixas a Educação Física. “Não me parece que os alunos devam ser prejudicados na média por causa de não terem gosto nem aptidão pela Educação Física.” O professor José Soares já desmontou aqui o argumento biológico, mas o tipo faz ouvidos de mercador…

E a cereja em cima do bolo aparece no remate. Parece que corporalidade não é estruturante. Estruturante é superstição, não é Ramiro?

Rankings da treta

A hierarquização das escolas, como efeito da publicação dos resultados dos alunos nos exames nacionais, é um dos entretenimentos favoritos da comunicação social nesta altura do ano.

A proliferação de listas pela comunicação social acaba por refletir o entendimento hegemónico de que uma boa escola é aquela que ocasiona os melhores resultados em prova de exame.

Claro que esta tese colhe muito bem sempre que há uma normalidade nos resultados. Nós que vivemos em organizações vocacionadas para a competição sabemos bem que os resultados são multifatoriais e que a realidade não pode ser contida numa folha de excel. E se gosta de folhas de excel, pode tentar elencar hipóteses de explicação para as diferenças de posicionamento de escolas em dois anos consecutivos.

AscDes

Mas pode, e deve, ir um pouco mais longe:

“Como tenho repetido ao longo destes anos, o nosso olhar deve dirigir-se não só para as 100 escolas melhor posicionadas, mas também e sobretudo para as 100 pior colocadas e para todas aquelas cujos resultados estão abaixo do “valor esperado para o seu contexto”. Uma cultura que promove o sucesso dos bem-sucedidos incentiva apenas o olhar para os melhores. Mas essa não é a única cultura que devemos valorizar. Nas escolas em contexto mais desfavorecido estudam muitos milhares de alunos a quem não são proporcionadas boas condições de aprendizagem; pode haver directores e equipas dirigentes que devam ser substituídas logo que possível; há muitos professores que não vêem valorizado o seu desempenho profissional (realizado por vezes em condições muito difíceis); pode haver muito desinteresse por parte das instituições da comunidade local face à situação das escolas…
Da análise destes dados resultam duas conclusões: (i) existe uma elevada influência do contexto cultural e socioeconómico sobre os resultados dos exames; (ii) esta certeza não é nenhuma fatalidade social, porque se trabalha em muitas escolas acima do “esperado”; (iii) urge agir publicamente junto das escolas em maiores dificuldades.
A escola democrática não é apenas a escola aberta a todos; é a escola que promove as aprendizagens e o desenvolvimento por parte de cada um. E esta é a escola que temos de continuar a construir.” (Joaquim Azevedo)

Reinvenção da equidade ou como descobrir a roda em 2012.

Funcionários públicos e reformados só perdem um subsídio.

Digam-me lá se o Gasparzinho não merecia levar com um gato morto na carola até ele miar…

Expliquem-me como se fosse muito burro: a medida era inconstitucional quando se tratava de dois subsídios; passou a ser uma medida constitucional só porque o governo decide apropriar-se de “apenas” um subsídio? Extraordinário!

Excesso de zelo, partidarismo…

O presidente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) vai abrir um inquérito disciplinar ao aluno que, na semana passada, insultou o primeiro-ministro.

Ao Diário de Notícias, Manuel Meirinho – foi cabeça de lista do PSD pela Guarda nas últimas eleições legislativas, – explicou que “no domínio interno há um regulamento e há um código de conduta da Universidade Técnica de Lisboa, à luz dos quais este acto tem de ser analisado. Há uma função pedagógica que a presidência do ISCSP procurará sempre pôr em prática, mas há também uma função disciplinar”.

O poder que emerge da mentira é um embuste. Se queremos conhecer exemplos convincentes de um estado cuja democracia faz-de-conta, conheçamos os lacaios desse poder. 

Não pedes pouco, não!…

O governo quer que 50% dos jovens do ensino secundário escolham o ensino profissional. É esse o seu objetivo já para este ano.

Como é que o governo vai aliciar os jovens a escolher o ensino profissional? Alegando que o país precisa? Prometendo empregos que ninguém pode garantir? Colocando entraves de natureza administrativa para que as escolas limitem a oferta dos cursos orientados para o prosseguimento de estudos?…

Que empregos fazem sentido para o país? Será possível confiar no sistema de qualificação profissional dos nossos jovens? Ou será que assistiremos a uma mudança de paradigma dos cursos profissionais? Pode o governo garantir que esta repentina aposta na formação de nível secundário não faz parte do projeto “troikiano” de rebaixamento salarial dos portugueses (presumindo-se que, em regra, os licenciados com emprego conseguem salários mais altos)?

Sei que são perguntas excessivas para final de período balnear… mas há que promover sinapses de neurónios “encarquilhados”.

Se houvesse coerência…

… Nuno Crato apressar-se-ia a lastimar o desempenho das nossas melhores universidades.

 A Universidade do Porto, a Técnica de Lisboa e a Clássica encontram-se entre as 500 melhores universidades de todo mundo, num ranking mundial que seleccionou mais de 1.200 instituições de ensino superior.

No rescaldo da participação olímpica, “O secretário de Estado Alexandre Mestre adiantou que o Governo quer «premiar o mérito» e assegurou que «já houve mudanças ao nível dos critérios de comparticipação financeira»”. Estar entre os vinte melhores do mundo é muito mau. Mas estar entre os 500 melhores do mundo pode ser muito bom. Desde que seja numa área estruturante.

Haja paciência!

Educação Física – Resposta do Diretor-Geral da Educação ao Diretor da FADEUP

Acabei de tomar conhecimento da resposta do MEC (por intermédio do Diretor-Geral da Educação, Fernando Egídio Reis) à tomada de posição da FADEUP depois de conhecido o teor da reorganização curricular que desvaloriza a disciplina de Educação Física, contrariando não só esta recomendação do Parlamento Europeu como os resultados da investigação que tem sido produzida nesta área de conhecimento.

É preciso muita desfaçatez para dizer o que disse o senhor Diretor-Geral:

O ponto 10 da Resolução “Exorta os Estados-Membros a tornarem obrigatória a educação física no ensino primário e secundário e a aceitarem o princípio de que o horário escolar inclua, pelo menos, três aulas de educação física por semana, embora as escolas devam, na medida do possível, ser incentivadas a ultrapassar este objectivo mínimo;”

Desafio aqui o senhor Diretor-Geral a provar que existe uma, e basta-me uma, escola pública do país que ofereça três aulas semanais de Educação Física. E se, por hipótese do absurdo, houvesse uma escola a oferecer esse tempo, ainda teria de demonstrar que são cumpridos os 45 minutos de tempo útil de aula que, como se sabe, não contempla o tempo de balneário – equipar e desequipar.

Deixe-se de demagogia barata e reconheça o óbvio e assumam lá a vossa visão atávica de desenvolvimento curricular!

Quanto à resposta falaciosa, junto o PDF para os interessados.

Mau! Se não acerta com a Matemática…

São decisões atrás de decisões sem qualquer sustentação científica ou pedagógica. Em nome de um racionalidade económica que o tempo se encarregará de fazer desacreditar, Nuno Crato tomou uma série de decisões cretinas, porque empobrecerão o serviço público de educação. Dou dois exemplos: a reorganização curricular conceptualmente errada, porque menospreza o desenvolvimento multilateral dos alunos;  e a gestão irracional de recursos, porque coloca em trânsito professores que são necessários às escolas e intensifica o trabalho daqueles que têm horas para completar horário.

Hoje, no blogue do Arlindo, encontrei dois pareceres de duas associações de matemática. Dão que pensar. Quem olha para as Metas de Aprendizagem como um instrumento de controlo e domesticação do trabalho dos professores, vê nestes dois pareceres um documento herético. Eu vejo uma evidência de como o cratês é uma falácia; é uma ideologia populista que assenta num falso critério de autoridade.

Pela análise apresentada, a SPIEM reitera a necessidade de o MEC retirar a proposta de metas curriculares em discussão. Note-se ainda que estão em fase de experimentação outras metas de aprendizagem sobre as quais não existe qualquer avaliação, pese embora a sua sintonia com o Programa de Matemática em vigor no ensino básico. Assim, a SPIEM recomenda que o Ministério da Educação e da Ciência, em vez de propor “novas” metas curriculares, canalize os seus esforços e investimentos para uma ação cientificamente sustentada e que permita que os alunos portugueses continuem a melhorar as suas aprendizagens matemáticas.

Sociedade Portuguesa de Investigação em Educação Matemática

 

O Conselho Nacional da Associação de Professores de Matemática (APM) considera assim que, não tendo ainda terminado a generalização do atual programa de Matemática, introduzir um documento que lhe é antagónico vai ter consequências negativas para o normal funcionamento nas escolas, perturbando o trabalho que os professores vêm realizando e, naturalmente também as aprendizagens dos alunos e a sua relação com a Matemática.

Lisboa, 23 de julho de 2012

Conselho Nacional da APM

Desmitificando os exames

Um estudo CIENTÍFICO (senhor ministro Crato) da Universidade do Porto vem revelar algo que por aqui se vai dizendo insistentemente em contra corrente blogoEsférica:

– Os exames não separam o trigo do joio – médias excelentes no secundário não garantem percursos de excelência no ensino superior; assim como médias de 13 e 14 no secundário não obstam percursos de excelência no ensino superior;

– As situações de avaliação do ensino superior são muito diferentes das que são colocadas nos exames nacionais requerendo capacidades que não são estimuladas com o treino para os exames nacionais;

– Os alunos do ensino público têm um grau de autonomia maior… ;

– As escolas privadas treinam melhor os alunos para os exames;

O que me permite inferir que o sistema de seleção dos alunos para o ensino superior, tão influenciado pelos resultados em exames nacionais, é iníquo e prejudica fundamentalmente os alunos do ensino público.

Beija-mão

Como revela a página do governo, hoje tomam posse as comissões administrativas provisórias dos novos agrupamentos de escolas – que derivam de um processo de nomeações cujos critérios se desconhecem, o que reforça um conceito de transparência típico de organizações autocráticas – com a presença do Secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida.

O beija-mão está tão entranhado na lógica governativa que os escrivas do regime, por preguiça ou por incompetência, nem se dão ao trabalho de ler o diploma que eles próprios conceberam e que regulamenta os ajuntamentos de escolas.

Lê-se na página do governo que “Para além da nomeação das CAP, é também nomeado um conselho geral provisório.” Errado! A não ser que revoguem o DL  nº137/2012 dois dias depois de ser publicado. O que sendo estranho, não me admiraria nada, face ao desnorte da equipa que se propôs implodir o MEC e que vai dando mostras de que o irá fazer, de baixo para cima.

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CAPÍTULO VIII

Disposições finais

Artigo 60.º

Conselho geral transitório

4 — A forma de designação e eleição dos membros do conselho geral transitório é a prevista nos artigos 14.º e 15.º, utilizando -se, em termos processuais, o regime previsto no regulamento interno da escola não agrupada ou do agrupamento a que pertencia a escola sede da nova unidade orgânica.

Artigo 14.º

Designação de representantes

1 — Os representantes do pessoal docente são eleitos por todos os docentes e formadores em exercício de funções no agrupamento de escolas ou escola não agrupada.

2 — Os representantes dos alunos e do pessoal não docente são eleitos separadamente pelos respetivos corpos, nos termos definidos no regulamento interno.

3 — Os representantes dos pais e encarregados de educação são eleitos em assembleia geral de pais e encarregados de educação do agrupamento de escolas ou escola não agrupada, sob proposta das respetivas organizações representativas, e, na falta das mesmas, nos termos a definir no regulamento interno.

4 — Os representantes do município são designados pela câmara municipal, podendo esta delegar tal competência nas juntas de freguesia.

5 — Os representantes da comunidade local, quando se trate de individualidades ou representantes de atividades de caráter económico, social, cultural e científico, são cooptados pelos demais membros nos termos do regulamento interno.

6 — Os representantes da comunidade local, quando se trate de representantes de instituições ou organizações são indicados pelas mesmas nos termos do regulamento interno.

Artigo 15.º

Eleições

1 — Os representantes referidos no n.º 1 do artigo anterior candidatam -se à eleição, apresentando -se em listas separadas.

2 — As listas devem conter a indicação dos candidatos a membros efetivos, em número igual ao dos respetivos representantes no conselho geral, bem como dos candidatos a membros suplentes.

3 — As listas do pessoal docente devem assegurar, sempre que possível, a representação dos diferentes níveis e ciclos de ensino, nos termos definidos no regulamento interno.

4 — A conversão dos votos em mandatos faz -se de acordo com o método de representação proporcional da média mais alta de Hondt.

Farinha do mesmo saco

Todos temos consciência de que a generalidade dos alunos, na generalidade das disciplinas, só estuda empenhadamente quando a avaliação a sério. Serão poucos os que investem quando a passagem é «de borla». E só se aprende quando se estuda, ao contrário do que é prometido pelos «especialistas» da educação. (Guilherme Valente)

Este senhor, um defensor do cratês que põe a cabeça no cepo pelo rigor não consegue evidências científicas que atestem que sem exames a sério os alunos não estudam.

De tão avesso ao eduquês (conotado com a pretensa ausência de rigor e de exigência sabe-se lá em quê) acaba por estatelar-se na retórica oca da incoerência, como atesta a inexistência de uma crítica ao ministro pela medida facilitista do governo em ostracizar a disciplina de Educação Física e os seus profissionais.

Diz Guilherme Valente que só se aprende com uma avaliação (e classificação, já agora) a sério. Ora, se as coisas funcionam desse modo, que sinal dá Nuno Crato aos alunos do ensino secundário ao não considerar a classificação de Educação Física na Média do Ens Sec para efeito de Ingresso no Ensino Superior? Que as aprendizagens na Educação Física são inócuas e dispensáveis?

Percebem agora por que razão o eduquês e o cratês são farinha do mesmo saco?

Classificação de Educação Física na Média do Ens Sec para efeito de Ingresso no Ensino Superior

Boi manda homem para o hospital quando cobria vaca

O sentido de oportunidade terá traído o homem. Certo?

Isto vem a propósito da medida que o MEC está a preparar, que ostraciza a disciplina de Educação Física e relança um velho assunto:

O relatório foi produzido pelo Grupo de Avaliação e Acompanhamento da Implementação da reforma do Ensino Secundário (GAAIRES) 

Cenário A

A classificação da disciplina não é contabilizada no cálculo da média do ensino secundário para efeitos de acesso ao ensino superior.

Argumentos favoráveis

  • Diversidade na oferta efectiva da disciplina nas diferentes vias do ensino secundário;
  • Desigualdades nas condições das instalações, equipamentos e materiais dos estabelecimentos de ensino que oferecem a disciplina;
  • Pressão por parte dos alunos e famílias;
  • Diversidade de opções por parte dos professores, decorrente das modalidades propostas pelo programa em alternativa, por um lado, e condicionadas pelos recursos das escolas, por outro.

Argumentos contrários

  • Atribuição de um estatuto de excepção à disciplina de Educação Física no contexto das demais disciplinas e áreas curriculares;
  • Promoção de atitudes de pouco investimento na disciplina por parte dos alunos;
  • Legitimação do estado de coisas no que diz respeito à desigualdade das condições físicas e materiais dos diferentes estabelecimentos de ensino;
  • Prejuízo dos alunos que investem na disciplina e obtêm classificações elevadas.


Cenário B

A classificação da disciplina é contabilizada na média do ensino secundário para efeitos de acesso ao ensino superior.

Argumentos favoráveis

  • Igualdade de estatuto entre as disciplinas do currículo, designadamente as que integram a componente de formação geral ou equivalente em todas as vias do ensino secundário;
  • Importância da disciplina para o desenvolvimento dos alunos, no desenvolvimento de aptidões, atitudes e valores, proporcionadas pela exploração das suas capacidades mediante actividade física adequada, intensa, saudável, gratificante e culturalmente significante.

Argumentos contrários

  • Diversidade de características biológicas/genéticas dos alunos que se reflecte no seu desempenho;
  • Desigualdades nas condições das instalações, equipamentos e materiais dos estabelecimentos de ensino que oferecem a disciplina;
  • Diversidade na oferta efectiva da disciplina nas diferentes vias do ensino secundário;
  • Pressão por parte dos alunos e famílias;
  • Diversidade de opções por parte dos professores, decorrente das modalidades propostas pelo programa em alternativa, por um lado, e condicionadas pelos recursos das escolas, por outro;

Cenário C

O aluno poderá excluir uma das disciplinas do seu plano curricular, cuja classificação lhe seja menos favorável (podendo esta ser ou não a da disciplina de Educação Física), com excepção das disciplinas que integram a componente de formação específica.

Argumentos favoráveis

  • Maior equidade no acesso ao ensino superior, uma vez que ao aluno seria facultada a possibilidade de prescindir da classificação que mais o prejudicasse;
  • Maior equidade na consideração das disciplinas e do seu valor relativo.

Argumentos contrários

  • Dificuldade de aceitação, por parte de determinados sectores, da possibilidade de não serem consideradas as classificações de disciplinas como Português ou Filosofia, no cálculo da média para efeitos de acesso ao ensino superior;
  • Facilitação de atitudes de desinvestimento, por parte dos alunos, em disciplinas definidas à partida.


Cenário D

O aluno pode decidir se pretende contabilizar a classificação de Educação Física no cálculo da média para efeito de acesso ao ensino superior.

Argumentos favoráveis

  • A decisão cabe ao aluno, permitindo-lhe optar pela situação que mais o beneficie;
  • Promoção da valorização da disciplina por parte dos alunos que nela legitimamente investem ou poderão vir a investir.

Argumentos contrários

  • Iniquidade no acesso entre os alunos cujo plano de estudo inclui a disciplina de Educação Física e os alunos cujo plano de estudo efectivo não inclui a disciplina de Educação Física, por exemplo, alunos das escolas profissionais privadas em que esta não seja oferecida.

Por que não emigra?…

“o secretário de Estado reforçou a ideia, em declarações à Lusa: «as áreas sociais são áreas que devem ser o mais descentralizadas possível, no sentido de ficarem mais próximas das pessoas».

Paulo Júlio deu a escola onde hoje esteve como «bom exemplo» da descentralização face ao poder estatal. «Isso já é feito de algum modo neste nível de ensino básico, no primeiro ciclo, mas de forma crescente deve ser reflectida e continuada para outros níveis», disse.

Se esta afirmação não camuflasse a verdadeira intenção de esvaziar o Estado das funções sociais, privatizando-as, até poderia ser considerada uma afirmação ridícula. Então, ajuntam escolas, centralizam a gestão, afastam (fecham) as escolas das pessoas quando consideram que há número insuficiente de alunos (numa lógica de pretensa racionalidade económica) e depois, sem qualquer pejo, difundem que a educação é uma área que deve ser o mais descentralizada possível!?

Estou a precisar de um xanax tinto do Alentejo…

Hipocrisia legislativa.

A mexida nas matrizes curriculares e a subtil diminuição dos tempos letivos em quase todas as disciplinas que fazem parte dos planos curriculares vem, inevitavelmente, relançar a discussão sobre os limites da autonomia das escolas. O MEC não abandona a bandeira da autonomia e insinua que, dentro de limites temporais máximos por ano letivo e mínimos por disciplina, as escolas têm liberdade para organizar e gerir o seu tempo.

Não tardará a confirmação sobre a boa-fé do MEC, quando for explicada a forma de contabilização dos minutos letivos a cumprir pelos docentes e a forma como serão considerados nos horários legalmente atribuídos aos professores, como alerta a FENPROF. Adiante.

Admitamos que o MEC agiu com honestidade e que os objetivos pedagógicos prevaleceram face aos objetivos económicos. Admitamos que não está em causa a intensificação do trabalho docente, para os que ficam, e a diminuição de horários de trabalho, para troika ver. Centremos o olhar na lógica organizacional e esqueçamos a rotina dos toques de campainha e outros constrangimentos que atentam contra a liberdade de organizar o trabalho escolar. Esqueçamos ainda que estes constrangimentos existem porque a escola passou a ser um depósito de alunos e a lógica taylorista acaba por ser exclusiva e paradoxalmente necessária para evitar o caos. Esqueçamos a entropia que emerge da criação dos Mega ou Hiper-agrupamentos. Depois desta amnésia que vos sugeri, passemos à liberdade de organização das escolas e à propalada autonomia. Mas façamo-lo aclarando a noção do tempo, ou dos tempos, dos vários tempos:

O MEC determinou um tempo para o programa. É o tempo institucional, formal. Foi mais longe e definiu que esse tempo é um tempo útil ou funcional que, no caso da Educação Física, por exemplo, é o tempo que resta depois de descontar o tempo passado nos balneários. Resta ainda o tempo disponível para a prática, o tempo na tarefa e os restantes tempos didáticos adstritos a cada disciplina.

Ora, regressando ao caso da organização do tempo da disciplina de Educação Física, as lógicas administrativas têm roubado aos alunos tempo útil ou funcional. Arrisco dizer, e não imaginam como gostava de ser desmentido, que não há uma escola portuguesa que cumpra o tempo útil que legalmente está definido para a disciplina. Nenhuma escola cumpre a lei!

E conhecendo bem as lógicas que prevalecem na escola taylorista, não me venham acenar com a cenoura da autonomia porque o que está em causa é a legitimação do roubo aos alunos de um tempo a que têm direito e que é vital para o seu desenvolvimento físico-motor (como demonstram inúmeros estudos nacionais e internacionais repetidamente anunciados pela imprensa, mas hipocritamente ignorados pelos (ir)responsáveis políticos.

Se houvesse boa-fé do ME sobre a organização do tempo, até porque conhecem o que se passa com a disciplina de educação física e a incapacidade das escolas em gerirem o tempo, esta proposta de reorganização curricular teria ficado na gaveta.

E não se pense que o digo porque me deixo entrincheirar por uma lógico corporativista. Pelo contrário: se as escolas soubessem, ou pudessem, gerir a pluralidade de formas organizativas do tempo, a perda de 30 minutos semanais na disciplina de Educação Física no ensino secundário (de 180 para 150 na atual proposta), por exemplo, traduzir-se-ia num ganho considerável para os alunos. Se as escolas respeitassem a lei, 150 minutos de tempo útil por semana expressaria uma distribuição do tempo útil de 2 períodos de 60 minutos e 1 período de 50 minutos por semana, por exemplo. Havia, face ao atual quadro, um acréscimo de tempo de aula para os alunos. Ora, nenhuma escola pode respeitar a lei porque esta “escola contentor” não admite criatividade na organização do tempo.

Sejam sérios e deixem-se de demagogia barata, por favor!

Chico-espertice

Findo o período de discussão sobre a revisão da estrutura curricular dos ensinos básico e secundário, o ME apresentou em Março do corrente ano as matrizes com a distribuição das cargas letivas semanais por disciplina em períodos de 45 minutos. clip_image002

Antecipando a apresentação do diploma completo que aguarda publicação, o MEC reformula as matrizes com uma cândida cambiante: apresenta a carga horária mínima semanal por disciplina… em horas.

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O Nuno explica muito bem o que está verdadeiramente em jogo bem(?) camuflado pela retórica da autonomia:

150 ou 180 minutos?

150 corresponde a três tempos de 50 minutos.

180 corresponde a quatro tempos de 45 minutos. 

Com 150 minutos ganha-se um tempo nos horários!

250 ou 270 minutos?

250 corresponde a cinco tempos de 50 minutos.

270 corresponde a seis tempos de 45 minutos. 

Com 250 minutos ganha-se um tempo nos horários!

Aquilo a que o Nuno denominou de engenharia legislativa, na minha terra chama-se chico-espertice.

E qual é a novidade?

Jovens portugueses com melhor alimentação e menos exercício físico

Os adolescentes portugueses são os que mais tomam o pequeno-almoço, mais fruta consomem e menos fumam. Os indicadores mostram que praticam pouco exercício físico e apresentam mais excesso de peso, de acordo com um estudo publicado esta quarta-feira.

(…)

Margarida Gaspar de Matos acrescentou que a “prática de atividade física é das mais baixas” e que as raparigas de 15 anos se destacam porque “têm dos piores indicadores de todos os países”.

Outra questão que aparece no estudo é o aumento do excesso de peso e Portugal está acima da média, principalmente as meninas mais novas, de 11 anos, que estão em segundo lugar, com 20 %, depois das norte-americanas, com 30%.

O problema da obesidade e excesso de peso nos jovens tem tido a atenção dos especialistas, que alertam para o aumento dos casos em Portugal.

“Tanto a questão da prática de atividade física, como a alimentação saudável são dois focos de intervenção em termos políticos que temos de ter em atenção”, defendeu a coordenadora do trabalho.

Lógica cratense: Se piorarmos o que é mau, chegaremos ao bom…

Non seulement les élèves scolarisés en petites classes obtenaient de meilleurs résultats que les autres aux tests en mathématique, lecture et science. Mais surtout, cet effet bénéfique persistait et augmentait même après la cinquième année, c’est-à-dire une fois que les enfants étaient à nouveau tous regroupés dans les mêmes classes.

Em bom rigor, o número de alunos por turma era já elevado para suscitar melhorias significativas nos resultados escolares. E qual foi o raciocínio lógico-matemático do ministro Crato? Se a coisa já é má com 24 ou 25 alunos, não ficará muito pior se acrescentarmos às turmas mais 1, 2 ou meia dúzia de alunos.

É a isto que se chama uma trajetória de melhoria recorrendo a um burilado raciocínio lógico-matemático: se menos com menos dá mais, talvez piorando o que já está mau se alcance o sucesso.

E não é que a coisa agora começa a fazer mais sentido? Recorramos à lógica matemática, meus caros!