Bluff…

Professores sem avaliação não progridem na carreira – adverte ministra

E com avaliação, os professores progridem na carreira?

Como professorezeco, não titular, atingi precocemente o topo da carreira (na prática estou a 2 escalões do topo) de forma coerciva. Como eu estarão milhares de professores. Todos sofremos os efeitos da perda do poder de compra ao longo dos últimos anos, efeitos que parecem irreversíveis. Não vislumbro alterações deste quadro enquanto o ME persistir em cobrar aos professores os erros de gestão das finanças públicas que ele próprio e os antecessores governos cometeram.

Creio que a senhora ministra pensa que a ameaça do retardamento da progressão na carreira será suficiente para dissuadir a resistência dos professores fazendo-os baixar os braços diante de um modelo de avaliação iníquo. Se pensa, pensa mal. Não estou a insinuar que os professores são insensíveis à questão material ou que a progressão na carreira deixou de preocupar os docentes. Estou apenas a dizer que os professores são profissionais do pensamento. Sabem identificar com alguma facilidade a teoria da cenoura do chicote (já perceberam que me deixo levar com alguma facilidade para as generalizações 😉 ).
Parem de menosprezar a nossa inteligência!

(Imagem aqui)

Prémio “Dardos”

Deixo aqui os meus agradecimentos à brit do blogue O Cartel por ter agraciado o outrÒÓlhar com o prémio “Dardos”, mais uma das nossas correntes blogosféricas, no qual «se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web”

Quem recebe o “Prémio Dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:
1. – Exibir a distinta imagem;
2. – Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3. – Escolher quinze (15) outros blogues a que entregar o Prémio Dardos.»

Os blogues são, sem ordem específica:

1. (Re)Flexões
2. correntes
3. Da crítica da Educação à Educação Crítica
4. coisas de Cabeça
5. Ruptura Vizela
6. Ecos
7. Memórias soltas de prof
8. Professores sem quadro
9. Tempo de teia
10. Terrear
11. O cantinho da educação
12. 4thefun
13. Vida de Professor
14. Talvez península
15. O canto do vento

Um ligeiro murmúrio

Afinal não fui o único a ficar atado após a entrevista da Ministra da Educação à revista Visão.

Li no blogue O Cartel que o CNAPEF (Conselho Nacional das Associações de Professores de Educação Física) e a SPEF (Sociedade Portuguesa de Educação Física) também ficaram ensarilhados com a entrevista e decidiram esclarecer a senhora ministra.

E fizeram muito bem, fizeram o que lhes competia. E já que meteram a mão na massa, aguardo que as prestigiadas associações de classe se pronunciem com mais acutilância sobre o processo de implementação do modelo de avaliação do desempenho docente. 😉

Loucura ou maldade

Aconselho vivamente a leitura deste texto da Maria Lisboa.

“Que o diploma sobre a avaliação docente é um verdadeiro monstro burocrático já todos constatámos. Que a esse monstro foram sendo implementadas mais cabeças, com os diferentes despachos e memorandos que lhe foram sendo anexados, em nome da regulamentação do monstro, transformando-o numa hidra de Lerna, também já todos nos apercebemos. Que os serviços intermédios do ME, com as suas estranhas interpretações, ainda, o “amostrenguem” mais, também já todos sabemos.

Que entre nós ainda consigamos aprimorar o “bicho” tornando-o ainda pior do que é, é que já ninguém entende.

Espanto-me, cada vez mais, como alguns elementos de uma classe diferenciada, portadora das mais altas habilitações académicas, revela a sua total iliteracia quanto à leitura, interpretação e aplicação de simples articulados de uma legislação.” (continuar a ler aqui)

Um olhar simplista para o problema da imposição do modelo de ADD.

É pertinente a analogia entre as recentes declarações da ministra da educação a respeito dos pedidos de suspensão da avaliação de desempenho docente e a indizível intervenção televisiva do ministro da defesa iraquiano no momento em que as tropas americanas entravam em Bagdad. O episódio que envolveu o sinistro ministro da defesa iraquiano demonstra, de forma inequívoca, que nem sempre a versão oficial dos acontecimentos reflecte a realidade das pessoas e das instituições.

Há uma explicação plausível para a obstinação da ministra da educação em prosseguir com a imposição de um modelo que é iníquo e inexequível, a não ser que se perverta a lei que o concebeu: a ministra e o seu aparelho partidário percepcionam ganhos políticos. Depois de o Governo fazer da avaliação dos professores uma bandeira eleitoral, os professores terão sérias dificuldades em resolver o problema da avaliação apenas pela via “técnica”, em contraponto com a via “política”. E que argumentos tem usado a ministra para fazer-de-conta que o problema da avaliação é um problema técnico? O regresso ao velho fantasma de que os professores têm medo da avaliação; Que os sindicatos de professores agem de má-fé porque rompem unilateralmente os acordos; Que há escolas que não denunciam as dificuldades de implementação do modelo porque o processo está a decorrer normalmente.

Contra factos, outros factos:

1. Queremos ser avaliados e temos um modelo alternativo!

2. Que os acordos devem ser quebrados quando uma das partes não assegura o respeito pelos termos do acordo. Como escrevi em resposta a um comentário de um estimado colega: A Plataforma Sindical fez a uma declaração para a acta do Memorando de Entendimento que, entre vários considerandos, diz o seguinte: “A Plataforma Sindical considera ainda ser imperioso racionalizar a organização do horário dos docentes, aprofundando o que nesta matéria consta do Entendimento, no sentido de respeitar o direito ao tempo necessário para a excelência do exercício da docência, incluindo o tempo necessário para a actualização científica.”
A questão fundamental não é, portanto, a justeza do acordo (como quis fazer crer o primeiro-ministro em declarações públicas sobre o pretenso rompimento unilateral do acordo pelos sindicatos). A questão fundamental é a falta de racionalidade na organização dos horários dos docentes, matéria que devia ter sido devidamente acautelada pelo governo, e não foi.

3. Que a regra é a insuportável tensão nas escolas e os consequentes danos na qualidade da oferta educativa; e que a excepção é a aparente acalmia que decorre da decisão de adiar o processo até ao final do 1º período (como se sabe, é muito variável o ritmo de implementação do processo).

Caros colegas, não bastará refutar a argumentação frágil do ME porque o problema é o problema do voto. Desenganem-se aqueles que pensam obrigar o governo a inflectir através da contra-argumentação porque a retórica política transportará a discussão para terrenos para os quais é preciso mais do que o simples voluntarismo. É preciso lutar com armas de longo alcance… e mais não digo porque nem tudo deverá ser dito.

Usar a estratégia e a táctica política para garantir a sobrevivência profissional.

Quando afirmo que o problema dos professores é político quero dizer, também, que é necessário recorrer ao léxico político para recuperar os vocábulos: táctica e estratégia.
Numa luta política, tal como numa competição desportiva, é necessário ter uma estratégia de jogo bem definida, tendo em conta as singularidades da própria equipa e o potencial da equipa adversária, e recorrer a uma táctica ou um conjunto de tácticas que permitam capitalizar ganhos e minorar as perdas.

Isto vem a propósito de comentários menos abonatórios sobre a assinatura do Memorando de Entendimento pela Plataforma Sindical. Neste momento, ainda há colegas que crêem que a não assinatura do Memorando traduzir-se-ia numa vitória estrondosa dos professores, por KO. Quem insiste nesta ideia, apesar de se saber que a Plataforma não ficou manietada pelo facto de ter assinado o documento, não só pelas condições que impôs no próprio documento como pelas posições de princípio que quis salvaguardar, quem insiste nesta ideia repito, é porque pensa que este assunto é apenas uma questão do uso desta ou daquela técnica ou, mais grave ainda, que ignore que o árbitro é, também, jogador.
Ora, se jogamos contra um adversário que arbitra o próprio jogo, será necessária uma estratégia ainda mais elaborada e uma táctica ainda mais meticulosa.

Admitamos a possibilidade de a Plataforma sindical não ter encontrado a melhor estratégia num dado momento. Admitamos que uma avaliação futura permitirá concluir que nem sempre se usaram as melhores acções tácticas para resolver diversas situações de jogo. Não virá o mal ao mundo por isso. E não vem o mal ao mundo por isso porque neste jogo interminável, os sindicatos não esquecerão um aspecto crucial: a volatilidade das circunstâncias que determinam as condições de realização destes jogos requer uma boa plasticidade para evitar contragolpes que poderão ser fatais. Se assim não fosse, se essa característica já tivesse desaparecido do movimento sindical, o jogo da sobrevivência profissional já teria acabado.

E por falar em estratégia e táctica, estarei atento, amanhã, à conferência de imprensa onde a Plataforma Sindical dos Professores apresenta publicamente exigência de suspensão do processo de avaliação em curso.

Mangas-de-alpaca

O estatuto do aluno (Lei 3/2008) já produz efeitos colaterais: a intensificação do trabalho docente. Sempre que um aluno falte, sem justificação, o director de turma terá de comunicar a ausência ao respectivo encarregado de educação. Por cada falta injustificada uma comunicação [Artigo 19.º #5.], uma carta registada (os CTT agradecem). Como se antevê, este processo irá infernizar a vida dos directores de turma agora metamorfoseados em mangas-de-alpaca.
Não bastava a implementação da ADD, que contribuiu fortemente para que o início de ano lectivo fosse ainda mais atribulado, a entropia nas escolas atinge agora contornos alucinatórios com a aplicação das alterações ao Estatuto do Aluno introduzidas pela Lei nº 3/2008, no âmbito do regime de assiduidade dos Cursos Profissionais e dos CEF’s.

Atente-se a este ofício-circular que antecipa, desde já, o processo burocrático que v(n)os espera quando um aluno ultrapassar o limiar de assiduidade. Refiro-me à consequente elaboração de uma prova de recuperação:

Caso o aluno não obtenha aprovação na prova (nº3, do artigo 22º do Estatuto do Aluno), cabe ao conselho de turma optar entre:
i) O cumprimento de um plano de acompanhamento especial e a consequente realização de uma nova prova;
ii) A retenção do aluno, quando o mesmo esteja inserido no âmbito da escolaridade obrigatória ou a frequentar o ensino básico, com a sua manutenção, no ano lectivo seguinte, no mesmo ano de escolaridade que está a frequentar – neste sentido, o nº 3, do artigo 9º do Regulamento dos CEF deverá ser estendido a todos os alunos que frequentam CEF de nível básico, independentemente;
iii) A exclusão do aluno que se encontra fora da escolaridade obrigatória, com a impossibilidade de o mesmo frequentar, até ao final do ano lectivo em curso, a disciplina ou disciplinas em relação às quais não obteve aprovação na referida prova, sem prejuízo do disposto na subalínea anterior;”
(apreciem a redacção do ii 😉 )

Caso o aluno obtenha aprovação na prova (nº 4, do artigo 22º do estatuto do Aluno), retoma o seu percurso escolar normal, sem prejuízo da competência da escola para determinar os efeitos administrativos das faltas injustificadas dadas pelos alunos antes da realização da prova de recuperação, nomeadamente, no que diz respeito ao facto de essas faltas entrarem ou não no cômputo de posteriores faltas que o aluno venha a dar”.

Abreviando esta trapalhada: caso o aluno faltoso obtenha aprovação na prova, o contador das faltas não regressará ao seu valor mínimo [não sendo obrigatório será o procedimento mais razoável se se pretender responsabilizar o aluno faltoso]. Neste caso, o professor fabrica uma prova de recuperação por cada falta adicional, por aluno faltoso.

Com 136 alunos esperava tudo, neste ano lectivo, menos ter de preparar uma bolsa de provas de recuperação.

Mas pensando bem: Para um manga-de-alpaca compulsivo até não está mal pensado…

O que me importa saber sobre a saída de JMAlves do CCAP.

“Dizer a Verdade

1. Veio a público que depois da presidente do CCAP ter cessado funções devido a pedido de aposentação, tinha agora sido demitido o autor deste blogue.

2. Alegou-se que esta demissão era um sinal que o ME queria calar uma voz crítica.

3. Tentei, o mais possível, nada escrever sobre o CCAP nem sobre as saídas, ainda que tenha sido pressionado de diversos lados, porque entendi que isso era inoportuno e irrelevante.

4. Dada a mentira da alegação, é minha obrigação esclarecer:

a) dirigi à presidente cessante do CCAP no início de Setembro um pedido de cessação de funções;
b) esse pedido dizia nomeadamente o seguinte: José Joaquim Ferreira Matias Alves, membro do Conselho Científico para a Avaliação de Professores, na qualidade de professor titular do ensino secundário em exercício efectivo de funções, nomeado pelo Despacho nº 6753/2008 de 7 de Março, vem requerer a cessação de funções a partir de Setembro de 2008 uma vez que a partir dessa data deixou de exercer a função de professor titular que legitimou a sua nomeação.
Gondomar, 1 de Setembro de 2008.
Pede deferimento

5. Esclareço ainda que enquanto membro do órgão citado nunca me senti obrigado nem violentado nas posições que assumi.

6. Também é verdade que, enquanto órgão, o CCAP nunca teve qualquer interferência do poder político.

7. Expresso, no entanto, a convicção que o pensamento e acção do CCAP, expressas nas suas recomendações, não tiveram o impacto e a influência que a meu ver deveriam ter. E que corre o risco de ser um órgão inútil.”

JMA in: http://terrear.blogspot.com/2008/10/dizer-verdade.html

Um grande nó.

Tenho andado tão entretido com a ADD que acabei por deixar para segundo plano um grande acontecimento mediático: a entrevista de MLRodrigues à revista Visão.

No blogue O Cantinho da Educação acabei por recuperar esse momento único do qual destacarei duas afirmações da ministra, mas que me deixaram extremamente baralhado. Referindo-se à excessiva carga horária dos alunos do 3º CEB, a ministra parece decidida a mexer na matriz curricular e, pasme-se, o alvo parecia ser o desporto e a música, duas áreas que não são obrigatórias no 3º CEB e não fazem parte, portanto, da matriz curricular (não deve ser nada fácil cortar o que não existe). Eu disse… parecia, porque, logo a seguir, considera ter melhorado muito o 1º ciclo através da introdução do Inglês, a Música e a Educação Física. Será que quis dizer Desporto Escolar, senhora ministra?… Olhe que no 1º CEB não há Educação Física.

Aguardarei que desensarilhe o nó 😉

Porque está de volta…

Mario Henrique Leiria

Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo da ameaça

Sophia de Mello Breyner

in: http://marialisbo.blogspot.com/

Tiros na água.

“Um conselho de amigo aos sindicatos: meçam forças com a ministra, não meçam forças com os professores. Os movimentos difusos vieram para ficar, vão acabar por vencer, e se nessa altura os sindicatos estiverem do lado institucional (ou seja, o da ministra) vão ficar entre os derrotados. Não peçam aos professores que se juntem a vocês: juntem-se vocês aos professores. Marquem a manifestação para o dia 15. E se quiserem pôr-se à frente, nós até deixamos, como deixámos a 8 de Março.” José Luiz Sarmento

Retomo um comentário do colega José Luiz Sarmento no blogue do Francisco Santos para aclarar um dos equívocos que têm marcado inúmeros comentários no recente diferendo movimentos /sindicatos de professores.
O comentário do JLSarmento aparentemente conciliador é parcial quando coloca nas mãos dos sindicatos a solução do problema da conciliação entre movimentos e sindicatos de professores. Aliás, este comentário pode servir de padrão para o diferendo que foi artificialmente criado entre professores para permitir a necessária catarse dos problemas, designadamente, a deterioração das condições de trabalho e dos climas de escola. O deslocamento do foco da contestação pode ser explicado pelo autismo do ME que não tem permitido aos professores purgar a agonia que marca o seu dia-a-dia. Como José Gil tão bem notou, o ME deixa intactos os meios de contestação mas faz desaparecer o seu alvo (institucional). Paradoxalmente, os sindicatos acabaram por representar esse alvo e o protocolo de entendimento foi o pretexto para centrar a contestação.

Os conflitos inter-pares que extravasam as paredes da escola e são focalizados nos sindicatos terão sido a solução artificial encontrada para a catarse de frustrações profissionais.
Esta é a razão de fundo que fez emergir uma cascata de recomendações aos sindicatos, mais ou menos paternalistas, agora transformados em bodes expiatórios
.

Será legítimo então que me interrogue sobre o alcance de tais recomendações e se elas não revelam o profundo estado de alienação colectiva em que nos encontramos.

Para relembrar…

O processo de implementação do modelo de avaliação não está a correr bem! Todos os intervenientes, avaliados e avaliadores, PCE e burocratas, todos já perceberam que o modelo é inexequível. Ainda a procissão vai no adro e a contestação nas escolas vai num crescendo de revolta aparentemente irreversível: Pedidos de suspensão do processo pelos C. Pedagógicos, abaixo-assinados e tomadas de posição de grupos e departamentos disciplinares, atestam isso mesmo.

Os conselhos executivos parecem remetidos a um silêncio… conivente, deixando bem claro que não estão interessados na contestação, alguns por convicção, outros por temor.

O Conselho de Escolas… alguém sabe do paradeiro do Conselho de Escolas?

Movimentos pré-sindicais.

Pergunta a colega brit do blogue o Cartel pel’As evidências?
“1. Quem tem poder negocial? Sindicatos ou movimentos?
2. Os movimentos a ter poder negocial quando será? Este ano? Daqui a dois? Nunca?
3. Interessa-nos o quê? Este ano? Daqui a dois? Nunca?
4. O que farão/poderão fazer os sindicatos com uma grande manif?
5. O que farão/poderão fazer os movimentos com uma grande manif?
6. O que farão os sindicatos e os movimentos com duas pequenas manifs?
Não estou a tomar posição, apenas a colocar questões…”

Eu agradeço o guião da brit para retomar a minha posição: Estas questões conduzem-nos ao cerne do problema: Será possível resolver o problema da sobrevivência profissional sem uma acção política consistente? Sabendo que o ECD e a panóplia de políticas deste governo no domínio da educação têm trasladado os professores do “lugar do morto” (metáfora que o António Nóvoa soube utilizar) para o lugar do morto desconhecido (o que significa que o professor nem sequer terá direito a uma identidade profissional), que organização profissional deve evitar a decapitação profissional?

Respondo peremptoriamente: Os sindicatos!
A não ser que os “movimentos” se metamorfoseiem em pré-sindicatos (e aqui já seria inteligível a tentativa de antecipação em relação aos sindicatos e consequente protagonismo na marcação de uma acção de luta), não existe alternativa política.

E só não vê quem não ouve…

Caldos de galinha…

Como penso que tenho uma boa noção das minhas limitações, não correrei o risco de ser acusado de dividir a “classe”. Malogradamente 😉 , estou numa posição confortável porque posso defender os meus pontos de vista sabendo que o impacto do que disser será despiciendo face à (des)união dos professores.

Temos (este plural quer significar, nós, professores) motivos de sobra para agir e lutar contra as políticas deste ME.
Temos razões para ir para a rua e protestar.
Temos necessidade de extravasar o nosso descontentamento até por uma questão terapêutica.
Há três formas de luta possíveis: intra ou extra-muros da escola e uma forma que posso designar de híbrida.
Há três tipos de organizações: as organizações sindicais, os grupos organizados parasindicais ou acções esporádicas das duas organizações. Há adeptos para todos os tipos de organizações!

Tenho acompanhado a discussão na blogosfera sobre o momento difícil que atravessamos e os blogues do Paulo e do Ramiro têm-me permitido perceber o sentir colectivo (seja lá o que isso for) dos bloggers. O que verifico, naturalmente, é que cada cabeça sua sentença: as soluções para os problemas divergem a tal ponto que o problema principal deveria ser a busca de um denominador comum que permitisse sustentar uma acção colectiva que produzisse efeitos positivos. Ora, apesar de ser evidente esse esforço por parte do Paulo e do Ramiro, e de outros colegas onde me incluo, assistimos, não raras vezes, à radicalização no discurso à medida que o tempo e a paciência se esgotam.

Há dias alguém decidiu manifestar-se em frente ao ME (por razões legítimas e válidas, obviamente) e a convocatória foi realizada por SMS e por email. As organizações sindicais, que têm a sua própria agenda, não aderiram. Os manifestantes puderam verificar as dificuldades da mobilização, no terreno. Agora repete-se a experiência (combinando uma manifestação para o 15 de Novembro) sem se garantir, até ao momento, o apoio das organizações sindicais. Dizem os mais entusiastas da iniciativa que os sindicatos irão a reboque ou que serão até dispensáveis. Não irei fazer futurologia: Veremos. Veremos se os sindicatos irão a reboque e veremos se serão dispensáveis…

A meu ver, o caminho que está a ser trilhado é perigoso… sei que numa luta política com este governo, os professores precisam de uma boa organização política. Ao mantermos este divisionismo corremos o risco de ficarmos ainda mais vulneráveis, mais espartilhados e encurralados, entretidos numa luta individual nas escolas situadas.

Olhemos para o exemplo dos professores contratados. No ano lectivo transacto surgiram problemas com a avaliação do desempenho. Quantos é que protestaram junto dos órgãos de gestão e quantos decidiram recorrer das classificações? Quantos colegas abdicaram do direito de exigir informação sobre pseudo classificações injustas e quantos agiram em conformidade? Pois…

Adenda: Tal como receara, começou a guerra nas trincheiras.

Sobre a falácia do mérito profissional

“A verdade é que todos os professores são profissionalmente diferentes; uns melhores que outros, uns mais competentes, mais assíduos, mais responsáveis mais experientes, mais esforçados e mais capazes que outros, independentemente do tempo de serviço. Os melhores merecem ganhar mais e os piores menos!” (Reitor)

“De caminho esquece-se que o termo “mérito” tem significados diversos, de acordo com os “óculos” de quem o pronuncia.” (fjsantos)

A crítica do Reitor à proposta da FENPROF de avaliação do desempenho docente e este texto do fjsantos sobre a armadilha do “mérito”, levaram-me a discorrer sobre a falácia do mérito profissional.

Partindo do princípio, irrefutável, de que todos os sujeitos são diferentes, os sujeitos “professores” serão profissionalmente diferentes. E sendo diferentes podem ser ordenados numa escala de mérito traduzida pelas máximas: “os melhores merecem ganhar mais e os piores menos!” ou os “bons ficam no sistema e os piores merecem sair do sistema”, etc., etc.

Sendo consensual a aceitação do princípio de que “todos os professores são diferentes”, é controversa a definição do quadro de referência para a ordenação do mérito profissional. A definição do quadro de referência utilizado para comparar desempenhos profissionais é, a meu ver, o busílis da questão. Esse quadro de referência dir-nos-á qual o modelo de professor, o professor-tipo, que nos dever servir de referência. Se o quadro de referência contemplar apenas um critério, por exemplo, o tempo de serviço ou tempo de experiência profissional, há um risco elevado de professores mais esforçados perderem o seu lugar na hierarquia do mérito; isto é, sempre que se acrescenta um novo critério, a ordenação dos professores na escala do mérito sofrerá alterações. Quem definir o quadro de referência para comparar desempenhos define o modelo de professor – o professor tipo.

Em Portugal é o governo que decide o professor-tipo, o professor que merece ganhar mais e o que merece ganhar menos, o que merece ficar ou sair do sistema,…

Mas se um governo decide arbitrariamente qual o professor-tipo, ele irá beneficiar um conjunto de professores (cuja formação se enquadra nesse modelo) e penalizar os restantes (cuja formação profissional não se reflecte nesse modelo). Se em cada mudança de governo for suscitada uma mudança do quadro de referência para classificar o mérito dos professores, haverá uma alteração da ordem do mérito.

Ora, como se vê, o problema da “qualidade” dos professores é mais um problema de governação e menos um problema técnico!

A avaliação não é estritamente uma questão técnica. Tem também uma dimensão ética muito importante.

“[…] É preciso que as escolas e os professores sejam realistas e modestos nas suas intenções avaliativas, reconhecendo que é impossível avaliar tudo, que é necessário identificar o que é fundamental e que mais vale avaliar bem do que avaliar muito. Estes são desafios para quem crê que a avaliação é também uma questão ética, que tem muito a ver com o bem estar das pessoas, das organizações e das sociedades.

Se a avaliação dos professores fizer parte integrante dos Projectos Educativos e das boas rotinas instaladas, não será provavelmente difícil que a avaliação formativa tenha um papel relevante e que a sua articulação com a avaliação legislada, de pendor mais sumativo, seja uma realidade naturalmente presente na vida das escolas.

Desta forma a avaliação será essencialmente uma oportunidade de desenvolvimento e de satisfação profissional dos professores, com importantes reflexos na qualidade do seu trabalho pedagógico e, consequentemente, nas aprendizagens dos alunos.
Melhorar a vida e o bem estar das pessoas, das organizações e das sociedades, isto é, contribuir decisivamente para a construção da justiça a todos os níveis e para a implantação de sistemas sociais e políticos plenamente democráticos, é também um dos mais prementes desafios às teorias, às práticas e às políticas de avaliação.” (Domingos Fernandes in: a página da educação)

Para relembrar…

Enquanto as escolas e os professores andam, literalmente, às voltas com a avaliação do desempenho docente, o processo de implementação do novo modelo de gestão escolar vai avançando, paulatina e silenciosamente.
A escola fabril, com a sua linha de montagem de certificados escolares, está a ser preparada para receber o novo director.

Pergunto: há alguém que se importe?

(Imagem: Carlinda Leite, 2003)

Um breve olhar sobre o modelo alternativo de avaliação de desempenho – FENPROF

Como sugerira aqui:
1. Qualquer proposta alternativa de avaliação do desempenho docente, venha ela de onde vier, da FENPROF, da FNE,… deve ser analisada e discutida nas escolas buscando O MAIOR CONSENSO POSSÍVEL antes de ser fechada e apresentada ao ME como A Proposta Alternativa [de Avaliação do Desempenho dos Professores] à proposta imposta pelo ME;
2. Depois de conhecida a base de trabalho, há que procurar eliminar eventuais excrescências e determinar com clareza o que importa conservar na proposta.

A FENPROF decidiu, e bem, responder às posições de contestação com uma alternativa de avaliação de desempenho docente. Apraz-me constatar que não há vestígios dos piores vaticínios que serviram de mote, durante algum tempo, a uma intensa discussão na blogosfera docente.
Gostei de ler que esta alternativa requer outro quadro de referência. É “Uma alternativa que não é compatível com o paradigma de escola que tem vindo a ser imposto, antes exige um contexto diferente em que a gestão seja democrática, em que a carreira docente não esteja dividida, em que os horários de trabalho sejam adequados à actividade pedagógica a desenvolver, em que a formação contínua se ajuste às reais necessidades dos docentes e dos projectos educativos das escolas…

Gostei de me rever nos pressupostos e princípios que estão subjacentes à alternativa apresentada pela FENPROF. Considero que existe um bom ponto de partida para as discussões intra-muros!
Mãos à obra!

2ª Mega manifestação de professores.

O secretário-geral da FENPROF, Mário Nogueira, admitiu hoje a realização de uma manifestação nacional ainda este ano, para quebrar o «actual clima de medo e intimidação» sentido pelos professores nas escolas.
[…] Mário Nogueira avisou que uma marcha nacional, à semelhança da realizada em Março, poderá surgir «ainda antes do segundo período» lectivo.
«Não vamos deixar que os professores morram asfixiados dentro da escola», afirmou, sublinhando que nos últimos tempos, têm surgido no correio electrónico da estrutura sindical denúncias que «omitem o nome do professor e do agrupamento de escolas» em causa. [in: Sol]

Há que saber usar o poder, com legitimidade.

A LBSE demarca os limites da intervenção do Estado nas questões educativas. Se os princípios gerais que enformam as mudanças na educação enfatizam o primado do pedagógico sobre o administrativo, o “político” está na decisão dos educadores e dos professores.

Os professores sabem que o processo em curso de domesticação da sociedade a que se referia o filósofo José Gil pode e deve ser obstaculizado na escola situada. O que fazer para resistir a este movimento de acefalia compulsiva?
Sugiro a adopção de uma atitude de questionamento permanente: das directivas hierárquicas, das orientações e recomendações das estruturas de classe, das teorias mais ou menos reaccionárias dos fazedores de opinião.

Amanhã é 2ª feira.

Hoje reflectimos (?) sobre os sinais da crise que afecta os professores: desencanto, receio e culpa. Amanhã é dia de renovar a esperança, na primeira aula, no primeiro contacto com a escola situada, na primeira conversa com os alunos.
Sempre que penso nos sentimentos de culpa evoco Hargreaves para aligeirar os danos. É uma espécie de profilaxia, um paliativo:
“1. Há que baixar as exigências de prestação de contas e de intensificação do ensino. (…) Deter a burocracia, reduzindo a ênfase que é colocada sobre os resultados dos testes e outras formas impressas de prestação de contas.
2. Há que reduzir a dependência em relação ao cuidado pessoal e ao tratamento dos outros…
3. Há que aliviar a incerteza e a natureza aberta do ensino, criando, ao nível do estabelecimento de ensino, comunidades de colegas que trabalham em colaboração, estabelecendo os seus próprios limites de exigência profissional e permanecendo ao mesmo tempo empenhadas num aperfeiçoamento contínuo.”

Amanhã é dia de renovar a esperança!

A notícia…

… do dia é, a meu ver, a saída da presidente do Conselho Científico para a Avaliação dos Professores (CCAP).
Mário Nogueira parece surpreendido: “É no mínimo estranho que, tendo tomado posse há tão pouco tempo, a doutora Conceição Castro Ramos não tenha desejado, pelo menos, acompanhar o processo até ao final do ano lectivo“.

Eu não me deixo supreender com estas coisas. É que considero a saída tão normal como considerei a entrada. Ou será que já se esqueceram do processo da constituição da CCAP e o funcionamento atípico de um órgão colegial, temporariamente (enquanto interessou à tutela) unipessoal?