Carta aberta aos professores portugueses que usam as redes sociais, mas em formato minimalista.

Caros colegas.

É aviltante assistir aqui e noutros lugares onde se noticia o diferendo entre professores e o ME ao achincalhar da profissão docente. Estes ataques são, em regra, perpetrados por avençados mais ou menos camuflados de professores. Não interessa agora saber quem paga e porquê. Os motivos são óbvios e fizeram escola no tempo de Maria de Lurdes Rodrigues. Noto com tristeza que alguns colegas, por ingenuidade ou porque ainda creem que o insulto gratuito pode ser combatido com racionalidade argumentativa, lutam desesperadamente pela defesa da honra da classe exaltando a relevância social da função docente.
Lamento muito desiludir-vos, mas o vosso esforço é inglório para este tipo de gente.
Ser professor não pode esgotar-se no saber ensinar. É preciso estar disponível para aprender e interpretar as circunstâncias que condicionam a aprendizagem. E no caso das redes sociais, face às singularidades do mundo digital, é fundamental separar o trigo do joio; reconhecer e diferenciar uma discussão séria de uma discussão estéril, de soma nula; perceber se estamos a discutir com um canalha avençado ou com um interlocutor que faz assentar as suas posições num quadro de referência diferente do nosso.
Permitam-me uma sugestão básica, mas com resultados inquestionáveis:
Mandem-nos bugiar e passem à frente!
Só para rematar, acabei de me lembrar de um slogan que vem do tempo do PREC e que se adequa perfeitamente ao tempo que vivemos hoje: Unidos venceremos!

A gargalhada…

O Secretário de Estado da Educação reconheceu, esta sexta-feira, «alguma preocupação» com os resultados no exame nacional de Português e prometeu tomar medidas para inverter a situação.”

Se há motivos para grande apreensão da parte dos responsáveis pelo ME, esses motivos não deveriam ser (creio que não serão) os resultados dos alunos no exame de português. Valter Lemos saberá melhor que ninguém como meter o Rossio na Betesga. O que justificará a apreensão da equipa maravilha do ME será a “missão impossível”: a recuperação da credibilidade, a recuperação da confiança, a criação de um clima de esperança no ensino.
Afinal, qual é o plano?

Luta pela sobrevivência.

Não estranho o ruído que gerou a ideia peregrina de cobrar uma taxa aos trabalhadores não sindicalizados que beneficiam, indirectamente, dos benefícios conquistados nas discussões com as associações patronais. Ser sindicalizado é uma questão que deve ser discutida no domínio da consciência profissional. Quero dizer com isto o seguinte: se a ideia de profissionalidade existir dissociada da filiação sindical, não me parece justo cobrar qualquer encargo ao trabalhador; por outro lado, se essa ideia de profissionalidade não dispensar as lutas políico-laborais o trabalhador irá, voluntariamente, agregar-se e filiar-se no sindicato mais bem posicionado para responder à contenda.
Não me agrada a ideia de pretender sindicalizar os professores de forma compulsiva. É preciso que o professor, cada vez mais remetido à sua condição de “operário”, acredite no projecto e na prática sindical. E sem uma percepção do sentido de associação, sem compreender a necessidade de um sindicalismo forte como resposta à desqualificação profissional, jamais teremos professores mobilizados contra as políticas neoliberais responsáveis pela erosão dos direitos laborais mais básicos.

A desertificação sindical é um problema complexo, é um problema multifactorial que não pode ser ultrapassado com leis coercivas. O espírito de sobrevivência da UGT terá levado João Proença, líder da UGT, a uma fuga para a frente.

É prudente que a CGTP se demarque desta posição: As moscas não se apanham com vinagre!

Oportunidade perdida ou uma oportunidade de reestruturação?

Um olhar mais atento ao modo como decorre o processo de constituição do conselho geral transitório, leva-me a constatar que o significado do conceito de colaboração entre professores não é amplamente compreendido. No actual contexto em que evoluem as políticas educativas neoliberais e a competição entre pares é estimulada por via da avaliação normativa [com o propósito de ordenar os professores numa espécie de hierarquia de competência], a colaboração assume formas muito diferentes mas que, malogradamente, não se têm repercutido no reforço da autonomia e no fortalecimento dos professores como classe profissional. A meu ver, a colaboração dos professores só pode ser considerada positiva se suscitar benefícios ao nível da sua autonomia profissional e estimular a prática reflexiva.

Tenho percebido que as diversas manifestações de colaboração que emergem da constituição de listas para o conselho geral transitório visam prolongar um modus vivendi instalado, mais dirigidas para as questões micropolíticas e menos orientadas para as grandes questões da profissionalidade, nomeadamente, a luta colectiva contra a imposição de modelos de controlo burocrático do trabalho docente e contra as reformas que desqualificam a função docente.
O desafio da reestruturação da confiança [nas pessoas e nos processos] passa, necessariamente, pela capacidade de escutar vozes díspares de professores, passa pelo respeito do poder de discrição dos professores e pelo fortalecimento da sua capacidade de tomada de decisões.

Saibamos ouvir porque o pior cego é aquele que não quer ouvir!

Não ao conselho geral transitório!

Apesar de manifestar uma clara e assumida oposição ao novo regime de gestão imposto pelo ME, o professorado parece vacilar quando desafiado a agir e a recusar a participação no conselho geral transitório.

Saber por que motivo(s) os professores rejeitam a Luta para alinhar, coniventemente, num processo que lhes é desfavorável (?), é a pergunta que importa responder nas escolas. Estou plenamente convencido de que ao aclararmos os motivos para tamanha incongruência, deciframos o código da colaboração artificial que mina as relações de confiança nas escolas.

O umbigo, a nossa mundividência e a acomodação.

“Acredita-se comumente que a carga obriga a escravidão. Indianos esmagados sob o peso da juta ou chineses arqueados sob o palanquim, vocês já transportaram alguma vez? Perdemos o porte.” (Michel Serres)

Menosprezei a capacidade de antecipação e de previsão dos promotores da Manifestação Regional na cidade do Porto. Protestei aqui pelo espaço encontrado para concretizar a iniciativa porque, de facto, a Praça D. João I seria sempre um espaço exíguo face aos motivos da contestação. Quis acreditar que os professores persistiriam na luta de forma genuína. Deixei-me alienar por um optimismo que era justificado pela retórica de resistência que escutei da boca de muitos professores e que, malogradamente, tem sido contradito pelas suas próprias práticas.

Os resquícios do Memorando de Entendimento entre o Ministério da Educação e a Plataforma Sindical dos Professores demonstram que bastou uma brecha no cerco imposto pelos professores ao ME para que emergisse a faceta paroquialista dos professores. É o regresso às questiúnculas da escola situada e à “vidinha” rotineira: o umbigo é, afinal, a nossa mundividência. A indignação metamorfoseou-se de acomodação. Que esta nobre capacidade de adaptação, que tanto nos pode levar ao céu como ao inferno da humanidade, não nos faça perder o porte.

Protesto…

… também pelo lugar exíguo que foi encontrado pela plataforma sindical para o protesto regional a realizar, no próximo sábado, na cidade do Porto.

O meu protesto simbólico resulta da presunção de coerência dos docentes, não só daqueles que marcharam em Lisboa no dia 8 de Março, como dos outros que se ficaram pelas promessas de um reencontro na rua.

Não ao Conselho Geral Transitório!

Como eu gostava de estar enganado e de vir a reconhecer a minha precipitação quando corroborei a afirmação da Isabel: “o previsível esmorecimento da classe é causa da estratégia sindical e esta é pretexto oportuno para o (aparente?) esmorecimento da classe docente”.

O diploma de gestão escolar, já publicado em DR, deve merecer a forte oposição dos professores. Por razões conceptuais, que têm que ver com a falência dos modelos gestionários que se sustentam em lideranças “heróicas”; por razões políticas, que têm que ver com a colocação dos professores no “lugar do morto”.

Além dos motivos de fundo – conceptuais e políticos – que devem mobilizar os professores para a resistência, existe o instrumento que, bem usado, poderá estancar o processo em curso: a participação, ou melhor, a ausência de participação.
Nenhum professor é obrigado a participar no processo que conduzirá à formação do Conselho Geral Transitório. Relembro que sem Conselho Geral Transitório não é possível avançar com o processo de selecção do “líder heróico” metamorfoseado de Director. E sem Director, o processo de nomeação dos coordenadores de departamento é inviável e o diploma de gestão imposto pelo ME terá obrigatoriamente de ser remendado.

Agir concertadamente é o sinal inequívoco de que os professores estão dispostos a resistir! Este não é o tempo para lamechices, lamúrias e de “tiros na água”!

Este é o tempo para agir!

Roteiro para chegar a um compromisso.

No âmbito das mudanças normativas do sistema educativo, o ME procurou isolar um dos seus interlocutores legítimos – os sindicatos. Criou o conselho de escolas para amenizar eventuais protestos. 100 000 professores foram à rua obrigar o ME a parar! O ME percebeu que não podia continuar a legislar sem negociação, sem ouvir os representantes dos professores, e parou.

Os sindicatos, que entretanto se uniram numa plataforma sindical, entram para a negociação comprometidos com uma resolução aprovada na marcha da indignação. O modelo de avaliação do ME foi estancado, como desejaram os manifestantes. O ME, para não perder a face, afirma em público que o SEU modelo está em andamento, numa versão minimalista. Os professores sabem que os procedimentos ou os parâmetros de avaliação [como gosta de lhe chamar a ministra] já existiam no anterior modelo. A negociação do novo modelo fica em aberto e será remendado, anulado, reconstruído. Alguns movimentos de professores que emergiram na onda de contestação às políticas deste ME reclamam mais protagonismo. Querem ser chamados à negociação porque dizem que não se projectam nos interlocutores legítimos – os sindicatos. O acordo/entendimento dos sindicatos com o ME é contestado. Parece vislumbrar-se um novo movimento sindical sob o signo da defesa da escola pública. O espaço educativo continua plural.

Na 3ª feira está agendada uma acção de luta nas escolas. É o dia (de) D(ebate). Haverá uma pluralidade de olhares e a idiossincrasia é incontornável. Que todos saibam respeitar a vontade colectiva! Que vença a democracia!

Pruridos?

Estarei a ver mal ou a recolocação dos sindicatos no seu devido lugar [negocial] está causar desconforto aos diversos movimentos “independentistas” de professores [não posso incluir neste grupo o conselho de escolas]?

Espero que todos entendam que a luz dos holofotes encandeia todos, a seu tempo. Seria bom que o exemplo do movimento sindical, que se manteve exemplarmente unido, fizesse escola!

O engodo…

Ninguém de bom senso, nem a equipa maravilha do ME, acreditará que a avaliação do desempenho docente é para levar a sério. É muito raro concordar com as ideias do director do Público, mas sou obrigado a aceitar a ideia da generalização do fingimento. Todos parecem fingir que a avaliação irá avaliar alguém. O circo mediático montado pelo ME e a farsa negocial da avaliação do desempenho servem apenas um objectivo: desviar a atenção da opinião pública e dos professores de outros grandes problemas que afligem as escolas. De forma ardilosa foi preparado um ataque à imagem e ao estatuto dos professores provocando uma reacção visceral e generalizada da classe. O engodo foi tão bem preparado que outras questões, igualmente importantes, acabaram na penumbra dos holofotes mediáticos: a alteração (mal amanhada) de paradigma no ensino secundário – de antecâmara do ensino superior, o ensino secundário está a transformar-se numa antecâmara fabril; (a promessa d)o alargamento da escolaridade obrigatória; o (evidente) empobrecimento dos climas escolares; a (anunciada) revisão do currículo do segundo ciclo.

Será que temos engenho e arte para alargar a frente de combate?

Contra-fogo táctico para as políticas educativas de terra queimada.

Esta espécie de “reforma educativa” imposta pelo governo foi construída sob alicerces minados. É uma reforma que ambiciona construir uma sociedade humana de liberdade, igualdade e fraternidade com “trabalhadores” do ensino. Uma sociedade de qualidade reclama professores de qualidade. Urge por isso revitalizar o estatuto social, profissional e remuneratório dos professores. Não é este o caminho que está a ser trilhado pelo governo. Não se trata, portanto, de uma reivindicação corporativista exigir que o governo contribua para recuperar a dignidade da função docente.
A intransigência do ME e do Governo relativamente a desqualificação da profissão docente deve suscitar uma acção forte e concertada dos professores. Há que persistir desenvolvendo formas de luta que não coloquem em causa a promoção da qualidade educativa. É este o enquadramento que devemos ter sempre presente na luta contra as políticas educativas deste ME/Governo que visam a proletarização do professor (a antítese do professor de qualidade).

O que quis significar com a afirmação de que seria necessário “fazer inundar a blogosfera com alternativas criadas para confundir o adversário”? Quis alertar os colegas para o perigo de extremarmos a acção, fazendo-a resvalar para o incumprimento da deontologia e da ética. A contra-informação pode ser um instrumento político interessante se for usado para desmascarar os adversários da educação de qualidade. A contra-informação não pode ser nunca confundida e não pode ser uma cartilha para professores incautos levando-os a descurar o imperativo categórico da qualidade da acção educativa.

A Idalina pergunta se concordo com “aquela da política incendiária da terra queimada”? Apesar de não ser capaz de descortinar muito bem o alcance da expressão, atrevo-me a admitir que essa política possa ser usada como “contra-fogo táctico” para impedir os cenários do desinvestimento e da inércia na educação portuguesa.

O que fazer(?), eis a questão.

Arrisco um vaticínio: o ME perdeu, definitivamente, o apoio da opinião pública se é que alguma vez teve a população do seu lado; os professores, os 100 000(?) acreditam que há um elevado consenso acerca da iniquidade de uma parte das políticas educativas, designadamente, das políticas que decorrem da operacionalização de dois diplomas – o novo ECD e o estatuto do aluno; a esmagadora maioria dos fazedores de opinião consagrados, habituados a remar com a maré, têm sido inflexíveis contra estas políticas que conotam de “facilitistas”.

O ME criou um ambiente hostil onde reina uma visão maniqueísta em que de um lado estão os bons que desejam mudar a ordem existente e do outro lado estão os maus que querem conservar as regalias e os privilégios. Facilmente se perceberá o lado onde estão os professores, na óptica do ME. Ora, a meu ver, a política do “dividir para reinar” foi um erro crasso porque transformou o jogo educativo, dito de outro modo, transformou as relações entre parceiros no jogo educativo num jogo de soma nula: a vitória das políticas impostas pelo ME implicará sempre uma derrota dos professores; ou um ganho dos professores só ocorrerá após uma perda no ME.

Chegados aqui, o que fazer?

Jogar o jogo. Os professores já perceberam que não podem passar ao lado do jogo. Têm de participar nele com inteligência e persistência. Há que definir a estratégia e as tácticas. Onde? Dentro do balneário – nas escolas, associações profissionais, sindicatos, tertúlias de activistas, etc. Abrir a porta do balneário ao adversário para lhe revelar as nossas intenções, os esquemas de acção, as acções tácticas, seria contraproducente. É evidente que as convocatórias anteriores e a discussão na blogosfera marcaram um período importantíssimo que serviu para mobilizar os indecisos e reunir os jogadores. Mas o jogo ainda mal começou e prevê-se que dure mais tempo do que seria desejável. Se a estratégia passar por inundar a blogosfera com alternativas criadas para confundir o adversário, ainda se percebe. Creio que seria uma excelente ideia usar a contra-informação. Só que há o risco de baralhar e confundir os colegas menos assíduos e contribuir para a desmobilização.

Será que estou a ver mal o problema?

Nota muito breve sobre uma negociata fracassada…

Factos:
O ME negligenciou a avaliação dos professores nos últimos 2 anos e meio. Num acordar sobressaltado, o ME decidiu unilateralmente que a avaliação dos professores resolveria o problema das aprendizagens dos alunos. Num clique agitou as escolas e juntou 100 000 professores numa manifestação de desagrado. Percebeu que era necessário dar sinais de abertura. Chamou os sindicatos e aligeirou o processo para não perder a face. O movimento sindical não colaborou e disse que não legitimaria na mesa da negociação uma versão minimalista da avaliação. Como tem sido habitual, o ME recusou as reivindicações dos representantes dos professores e imporá uma versão aligeirada do modelo de avaliação.

Adenda: Se há matéria que tem suscitado um elevado consenso é a falta de oportunidade da implementação de um novo modelo de avaliação de professores. Os argumentos do ME para prosseguir com o processo de avaliação são inócuos e a versão minimalista apresentada afasta definitivamente a discussão do domínio pedagógico para a situar apenas no domínio político. Se se admite desvirtuar o modelo de avaliação por que razão não se admite suspender a sua aplicação até ao fim do ano lectivo? A avaliação dos professores passou a ser um instrumento do governo na batalha política. E é neste domínio que devemos manter a discussão. A meu ver, a posição da FENPROF de recusar legitimar a acção governativa é acertada, coerente e não defraudará as expectativas da maioria dos professores.

Até onde queremos ir?

A avaliação do desempenho é a face visível, talvez mais mediatizada, de um mal-estar que impregna a profissão docente e que é traduzida numa expressão carregada de sentido: Os professores estão indignados! Há razões próximas e distantes de um sentimento que emerge das entranhas da profissionalidade. E quem ainda não entendeu este problema não estará em condições de participar na busca das soluções. Não se trata, portanto, de tapar o sol com a peneira, mudando os rostos do ME. Embora uma grande parte dos professores o clame [porque a ministra da educação e a sua equipa corporalizam, na perspectiva dos professores, a perversidade das políticas educativas], a mudança de um ministro e dos seus acólitos não atacará as causas do problema. Como afirmou e bem Mário Nogueira, não há decisão política que venha a ser tomada até ao dia da marcha que possa interromper esta manifestação de descontentamento. Apesar de entender o apelo da Teresa, ampliado por um conjunto de colegas na blogosfera docente, a marcha silenciosa seria uma excelente iniciativa política [porque incrementaria os dividendos políticos] mas seria um tampão à catarse colectiva, que é uma das dimensões motivacionais dos manifestantes. Conter o grito da revolta e adiá-lo até ao fim da manifestação poderá ser violento para aqueles que não tiveram uma oportunidade de subir ao cume de uma montanha para ouvir o seu eco; ou que não encontram qualquer sentido no bruar de um estádio de futebol.

A marcha da indignação, silenciosa ou ruidosa, pode ser uma oportunidade para afinar estratégias e reorientar a acção. É necessário começar já a preparar o dia seguinte.
Desafio os colegas a considerarem todos os cenários possíveis na pós-manifestação. Seria um desperdício se, durante uma parte das conversas que animarão esta intervenção cívica, não projectássemos a acção colectiva. Até onde queremos ir?

FNE e o toque de finados

“O Governo teve a preocupação de dispersar os sindicatos, que foram quem sempre mobilizou a luta dos docentes” e quem assumiu o papel de interlocutor do executivo. Se, no passado, após um período de contestação, havia acordos entre ministério e sindicatos, os sócios destes últimos aceitavam o acordado. Agora, quando são grupos de docentes a, espontaneamente, marcar vigílias e marchas, “será muito mais difícil travar este movimento, porque o Governo não tem interlocutores”. (Manuela Teixeira)

Manuela Teixeira (MT) está numa posição privilegiada para destacar o papel dos sindicatos, da FNE obviamente, na anuência das políticas educativas que relegaram os professores para o “lugar do morto” no triângulo político desenhado a partir dos seguintes vértices: os professores, o Estado e os pais/comunidades. MT tem razão quando refere que agora será muito mais difícil travar este movimento. Presumo que esta revelação de MT tem tanto de nostálgico como de dramático:

  • De nostálgico porque é uma tomada de consciência de que nada será com antes. Votada ao desprezo pelo actual executivo, a FNE é hoje uma noiva abandonada no dia do seu casamento. Sente-se duplamente traída: pelo governo, que a maltratou como uma igual entre as outras [forças sindicais]; pelos professores, que aderem em massa a formas de manifestação consideradas reaccionárias pelos sindicatos amigáveis.
  • De dramático porque perante a ausência de representatividade, de protagonismo e de espaço negocial, a FNE sabe que o terreno da luta e da contestação não é o seu. O drama da luta pela sobrevivência é hoje o drama da FNE. A única réstia de esperança é aguardar que um raio de luz ilumine o pensamento do primeiro-ministro. José Sócrates mais cedo ou mais tarde irá perceber que necessita de sindicatos amigos que amorteçam a contestação e legitimem as suas políticas de empobrecimento do estatuto social e económico dos professores. A FNE, se ainda existir, aguardará por esse momento celestial…

3 notas avulsas

Legitimação do movimento sindical

As recentes manifestações [espontâneas] de professores de contestação às políticas educativas e os vários movimentos que lutam pela defesa da escola pública acabaram por prestar um serviço relevante ao movimento sindical. Ninguém ousará duvidar que as reivindicações sindicais emergem de um descontentamento docente generalizado e que a base de apoio à contestação não é uma ficção construída por activistas e militantes do PCP, ao contrário do que insinuava o primeiro-ministro no dia da concentração espontânea no Largo do Rato.

Um movimento plural

O ME conseguiu um feito inédito: fez convergir associações sindicais e profissionais em torno de duas causas – a defesa da dignidade profissional e a defesa da escola pública. O renascimento da consciência associativa impulsionou uma pluralidade de formas de manifestação do descontentamento da classe que devem agora convergir para o mesmo alvo: a defesa de políticas educativas que valorizem a função docente e a exigência de uma mudança de atitude do ministério da educação face às associações representativas da classe, nomeadamente, os sindicatos e as diversas associações [e confederações] de professores.

“Pós-Lurdismo” e o nó górdio da política educativa

Neste primeiro dia do “pós-Lurdismo” [não confundir com o previsível prós lurdismo], é tempo de procurarmos o nó górdio da política educativa. A necessária e urgente revisão do Estatuto da Carreira Docente será apenas um ponto de passagem para a outra margem: a construção de uma Escola Pública mais preocupada com a equidade e com a coesão social.

O que as escolas dizem ao primeiro-ministro…

“O que eu tenho a dizer às escolas é que na educação não temos tempo a perder” (Sócrates, SIC 18/2/08)*

Eis uma nova resposta. Desta vez respondeu o Conselho Pedagógico da Escola Secundária de Caldas de Vizela que bebeu da fonte da Escola Secundária de Vilela.

*Adenda: É irritante assistir a uma entrevista e ficar com a sensação de que o entrevistador receia fazer perguntas embaraçosas ao entrevistado.

O nosso tempo.

A figura da entrada anterior reflecte um determinado estado de espírito profissional: olhando para o abismo que caracteriza a escola situada, o professor evita o passo em frente segurando-se às amarras da ética profissional. Quer evitar o abandono, o cinismo defensivo, suporta as maleitas até à exaustão.

Isto vem a propósito das grelhas de avaliação [é verdade… apesar das providências cautelares há sempre alguém a escutar a voz do dono] cuja construção revela um mundo de fragilidades dos professores, nomeadamente, ao nível do domínio dos conceitos básicos de avaliação. É grave? Pois…

Por todas as razões que sustentam as práticas colaborativas na escola, é preciso dar tempo para que as equipas de trabalho reforcem as relações de confiança entre os seus membros; é preciso ter tempo para que todos os professores sejam envolvidos na construção dos instrumentos pelos quais serão recolhidos os elementos de avaliação; é preciso ter tempo e evitar a tendência para a uniformização de procedimentos e metodologias de trabalho que desprezem as singularidades disciplinares.

Este é o nosso tempo. Esta é a nossa agenda. É preciso lutar por ela!

Acção!

No meio desta onda de contestação acabo por perder o fio à meada. É uma nova iniciativa, é um novo(?) grupo de pressão. Paradoxalmente, ou talvez não, à medida que cresce a contestação sinto cada vez mais que o que «faz falta é animar a malta» na escola situada. Vocês sabem do que falo. Se cada um de nós se deixar envolver na escola, mobilizando os colegas para a acção, actuando pró-activamente junto das estruturas de gestão… não é pedir muito, pois não? Quero acreditar que esta tertúlia blogoEsferica reflecte um determinado estilo de viver a escola. Que há dinâmica, que há uma intencionalidade em modificar o modus vivendi instalado e visivelmente rejeitado nos textos que vamos produzindo nos blogues.
Às vezes dou por mim a pensar se não seria mais útil dar mais tempo aos colegas, principalmente àqueles que prefiguram casos perdidos ao nível da acção. Para quem defende que a blogosfera docente é uma sala de professores sem muros, que os blogues são catalisadores de vontades, parecerei contraditório…

Isto vem a propósito de um novo manifesto:
Escola Pública pela Igualdade e Democracia
http://www.petitiononline.com/mudar123/