Desvalorização do saber – Paradoxos

Lisboa, 29 ago (Lusa) – O Ministério da Educação admitiu hoje estar a preparar novas ofertas de ensino, entre as quais cursos de ensino vocacional, que poderão ser frequentados por opção, dos alunos ou encarregados de educação, ou como resultado do desempenho escolar.
Ler mais: http://visao.sapo.pt/educacao-governo-prepara-novos-cursos-de-ensino-vocacional-para-dar-mais-oportunidades-a-alunos=f683336#ixzz24vkPaV8d

É intolerável o modo como o governo e o seu MEC trata as disciplinas “não fundamentais”, os cursos profissionais como segunda oportunidade, a escola dos coitadinhos, só justificável à luz de uma visão reacionária de educação.

Atentem ao paradoxo da eficiência e do rigor, que nos é relembrado todos os dias: por que são anunciados novos cursos vocacionais a 15 dias do início do ano escolar? De que serve um anúncio tão precoce? Ou será que estão a pensar implementar estas novas experiências já este ano letivo, depois das turmas constituídas?

Mas o que é grave é o facto de não existir uma estratégia de valorização do saber ao longo da vida. Como se o saber profissional dispensasse uma atitude permanente de valorização do conhecimento.

Rabos-de-palha

Por alegadas razões ideológicas, como atestam estas declarações da ministra da agricultura no caso do pavilhão atlântico, estão a ser delapidados bens do Estado. A RTP, por proposta de um inenarrável conselheiro do governo, vai ser liquidada! Os responsáveis políticos pelos prejuízos da estação pública, que de forma criteriosa escolheram as administrações, vêm agora apontar uma solução esotérica.

Concessão da RTP é “muito atraente para potencial comprador”

Chegou o tempo de acabar com a inimputabilidade civil por decisões políticas danosas…

Não pedes pouco, não!…

O governo quer que 50% dos jovens do ensino secundário escolham o ensino profissional. É esse o seu objetivo já para este ano.

Como é que o governo vai aliciar os jovens a escolher o ensino profissional? Alegando que o país precisa? Prometendo empregos que ninguém pode garantir? Colocando entraves de natureza administrativa para que as escolas limitem a oferta dos cursos orientados para o prosseguimento de estudos?…

Que empregos fazem sentido para o país? Será possível confiar no sistema de qualificação profissional dos nossos jovens? Ou será que assistiremos a uma mudança de paradigma dos cursos profissionais? Pode o governo garantir que esta repentina aposta na formação de nível secundário não faz parte do projeto “troikiano” de rebaixamento salarial dos portugueses (presumindo-se que, em regra, os licenciados com emprego conseguem salários mais altos)?

Sei que são perguntas excessivas para final de período balnear… mas há que promover sinapses de neurónios “encarquilhados”.

Se houvesse coerência…

… Nuno Crato apressar-se-ia a lastimar o desempenho das nossas melhores universidades.

 A Universidade do Porto, a Técnica de Lisboa e a Clássica encontram-se entre as 500 melhores universidades de todo mundo, num ranking mundial que seleccionou mais de 1.200 instituições de ensino superior.

No rescaldo da participação olímpica, “O secretário de Estado Alexandre Mestre adiantou que o Governo quer «premiar o mérito» e assegurou que «já houve mudanças ao nível dos critérios de comparticipação financeira»”. Estar entre os vinte melhores do mundo é muito mau. Mas estar entre os 500 melhores do mundo pode ser muito bom. Desde que seja numa área estruturante.

Haja paciência!

Uma no cravo e outra na ferradura

O Paulo, que não perde uma oportunidade para molhar na sopa, consegue fazer de um ato de contrição (e ia tão bem lançado) um contra-ataque aos críticos apriorísticos do cratês. Se estivéssemos no nicho do futebolês diria que a estratégia é bem conhecida aqui pelos lados do dragão: É que não há memória de ver um andrade reconhecer um erro, de estimativa ou de facto, e se porventura esse quiproquó não puder ser mais disfarçado, então há que aproveitar para reunir as tropas numa cruzada contra os mouros. E não é que o truque resulta sempre?!

Só não percebi por que razão é que o Paulo pensa que tem maior legitimidade para fazer as críticas que faz ao Nuno Crato. Claro que o problema é meu porque embirro com o Paulo e raramente lhe reconheço uma virtude.

Estudo endereçado ao ministro Crato

Não encontrei o registo no Público online (1). Com recursos muito limitados, produzi a imagem que se segue de uma notícia que nos dá conta dos resultados de um estudo longitudinal realizado pela FMH e que tem como destinatário especial o ministro da educação.

Não deixa de ser preocupante a desinformação do MEC, que mente descaradamente, ao declarar ao jornal que os alunos do secundário podem escolher a nota de Educação Física para efeitos de média de acesso ao ensino superior. Percebo a dificuldade em explicar essa decisão, mas haja decoro!

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Adenda: Foi disponibilizada ao final da tarde, aqui: http://www.publico.pt/Sociedade/alunos-que-fazem-mais-exercicio-fisico-tem-melhores-resultados-escolares-1558459?p=1

Nem sempre o óbvio é tangível!

Recolocando o problema da luta dos professores: há que pressionar o governo para obstaculizar o avanço das políticas que deterioram a qualidade da escola pública e ostracizam os seus profissionais.

O modo como se deve influenciar o governo em geral, e o MEC em particular, não é consensual e, nos últimos anos, sindicatos, movimentos e blogues de professores divergem nas formas que preconizam. Contudo, há um denominador comum entre estas forças de pressão: todos procuram mobilizar os professores porque se presume que o tamanho conta. A chave do problema parece ser a MOBILIZAÇÃO.

Houve um tempo, logo que Nuno Crato chegou ao MEC, que muitos professores acreditaram que bastavam os argumentos para conter a ofensiva do governo. Talvez por ingenuidade ou pela evidente afinidade ideológica de Nuno Crato comentador, alguns professores acreditaram que estariam dispensados de regressar à rua e que esse tempo estaria esgotado.

Como todos reconhecem agora, quero crer que a opinião dos colegas citados pelo Público retratam a opinião geral dos professores, a mobilização, seja ela em torno de uma iniciativa de sofá ou de uma iniciativa de rua, é uma condição necessária para inverter o rumo dos acontecimentos.

Nem sempre o que parece óbvio é tangível. Quer pela inabilidade de alguns dirigentes sindicais em lidar com a blogosfera, quer pelos preconceitos bacocos de professores com as estruturas sindicais, a verdade é que a onda divisionista, a que se referia o Paulo Guinote na peça jornalística do jornal Público, serve perfeitamente os interesses dos inimigos da escola pública, promotora de uma sociedade sem castas, e de algumas coutadas.

Ora, se o problema são os divisionistas, criem-se as pontes. Há dois colegas que reúnem, a meu ver, o perfil adequado para desempenhar esse papel: o Paulo Prudêncio, pela visibilidade que tem na blogosfera docente e pelo equilíbrio das suas posições críticas, e o João Paulo pela sua experiência sindical e ligação à FENPROF. Tivessem eles vontade porque não lhes falta a capacidade!

Emagrecem os resultados assim como emagrece o investimento…

Os últimos meses foram particularmente difíceis e, sem me dar conta, acabei o ano mais irritado, mais intolerante, mais suscetível, do que é costume. Pudera. As políticas de agressão aos funcionários públicos intensificaram-se e, na escola situada, as políticas de agregação de escolas puseram a nu o impensável.

Havia que sair de cena e, na blogosfera, recorri aos serviços mínimos. As leituras são intermitentes e só escrevo por necessidade, como é o caso, porque os tempos de regeneração devem ser respeitados.

Impõe-se, então, um breve comentário à “nossa” participação olímpica.

Um país que negligencia a cultura desportiva, que desinveste na educação desportiva, que tem uma política avulsa de desenvolvimento desportivo, só por mero acaso alcança resultados desportivos de alto nível. Gostei de ler este texto no arrastão. Acrescentar-lhe-ia talvez um ou outro excerto do texto que li no Público (6/8/12), numa carta à diretora, do leitor Joaquim Moura (versão papel). Destaco, por exemplo, o que diz sobre a “arrogância, vaidade, exigência sem nexo demagogia e pouca noção das possibilidades reais de alcançar as metas sonhadas, a vitória final, por parte dos acompanhantes, imprensa exagerada, e poder político, oportunistas…” Ou quando sugere “uma entidade qualificada, exterior, competente, que faça o estudo, o levantamento sobre o que fazem, em que é que são úteis, de facto, os excessivos membros da embaixada numerosa que acompanha os atletas nobres, e se tamanha comitiva olímpica se justifica tão alargada, tal como a despesa que acarreta e de retorno mais do que duvidoso.”

E por aqui me fico…

Se pensam que já batemos no fundo…

atentem à notícia:

Hoje entram em vigor um conjunto de alterações à lei laboral, algumas das quais terão um impacto quase imediato na vida dos trabalhadores. A partir de agora, as empresas podem reduzir para metade o valor das horas extraordinárias que pagam até aqui e o mesmo acontecerá com a compensação (em tempo e dinheiro) do trabalho em dia feriado. 

O que poderá provocar uma verdadeira hecatombe no serviço público da educação é a possibilidade do trabalho docente poder ser ainda mais intensificado. Para já é ainda distante a possibilidade do Banco de horas individual. Mas pensemos quão atrativos são, para um econometrista, claro, os períodos de interrupção das atividades letivas. Serão resmas de horários zero!…

“Banco de horas individual
A reorganização do tempo de trabalho que até agora só podia ser negociada coletivamente desce para o nível individual.

Assim, o empregador pode negociar diretamente com o trabalhador a criação de bancos de horas, tendo de observar dois limites: este não poderá exceder as 150 horas anuais e permite que em alturas de “picos” de atividade o tempo de trabalho passa ser aumentado em duas horas diárias.

A proposta é feita por escrito ao trabalhador e se este não responder no prazo de 14 dias considera-se que aceitou. Assim que 75% dos trabalhadores estiver de acordo, o banco de horas estende-se a todos. O grande objetivo deste instrumentos é permitir às empresas poupar com o pagamento de horas extraordinárias.”