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O Conselho de Escolas vai propor à ministra da Educação a reorganização dos ciclos de ensino em três ciclos de quatro anos cada.
A reorganização dos ciclos de ensino em três ciclos de quatro anos cada implicaria mudanças ao nível dos actuais 2º e 3º ciclos e secundário.

Álvaro Almeida dos Santos considera que a proposta garante maior “sequencialidade e coerência curricular” ao longo dos 12 anos de escolaridade obrigatória.

Antes de me pronunciar a favor ou contra, e antes de ser tentado a pensar que esta proposta visa, em primeiro lugar, alargar o mercado de trabalho aos licenciados nas Escolas Superiores de Educação que poderão leccionar mais dois níveis de ensino (7º e 8º ano), quero ler a proposta na íntegra.

Afinal o anho bale…

Como constata o Paulo: “A verdade é que, realizado aquilo que era suposto ser realizado, hoje é domingo e tudo está na mesma.”
Apenso à observação do Paulo que o mar continua revolto e pungido pelas areias húmidas. A verdade é que a abelha zoa, a andorinha chilreia, o anho bale, o bezerro berra e até o cavalo relincha.
Estranhamente, depois da manifestação que juntou cerca de 300 mil funcionários públicos, não houve o tsunami esperado. Malogradamente, o governo não acenou, como deveria acenar, com a bandeira branca suplicando uma trégua, quiçá a renúncia. Não chegou o pedido de desculpas aos funcionários públicos e ao país, com uma menção especial aos professores, pelas medidas (pré)anunciadas. José Sócrates não renunciou ao cargo abandonando a acção política partidária para se dedicar em exclusivo à gestão empresarial, actividade para a qual estará devidamente habilitado já que beneficia de uma experiência governativa marcada pelo sucesso.
Hoje é domingo é tudo está na mesma. Má sorte a nossa…

Jogo de espelhos

O líder parlamentar do PS, Francisco Assis, considera a discussão em torno da redução do número de deputados “demagogia pura, fácil e oportunista, dado o momento de crise em que vivemos.

É uma grande verdade que o tempo de crise em que vivemos é chão fértil para a demagogia pura, fácil e oportunista, senhor Assis. O problema é que vivemos permanentemente em crise e a demagogia impregnou-se no discurso político.

E porque falamos de demagogia, ajudem-me a descobrir o argumento invocado para não reduzir o número de deputados. Eu não o encontrei…

BASTA!

Man29Maio Foi uma decisão sensata o apelo da APEDE à participação na manifestação do dia 29 do corrente mês. Espero sinceramente que os outros movimentos de professores sigam este exemplo, deixando para outras núpcias as quezílias e os remoques.

Como referem, e bem, os colegas da APEDE: este é o tempo de dizer BASTA e "exigirmos uma inversão de políticas que não penalize os que sempre são penalizados e que responsabilize quem tem efectivamente de ser responsabilizado".

Valente(s) a provedor(es) para a qualidade do ensino, já!

VO(para ler, clicar na imagem)

aqui fizera referência à esotérica intervenção de Valente de Oliveira (VO) no programa televisivo “Plano Inclinado”. Hoje, o seu homónimo Guilherme publica um texto no Público que designou “O princípio do fim do eduquês?” que é uma pretensa resposta a um artigo escrito no mesmo jornal pelo professor Daniel Sampaio no qual se regozija por ter encontrado um novo aliado para a sua luta contra um inimigo sem rosto – o eduquês.

Esta batalha protagonizada por Valente de Oliveira e outros teóricos “cratezes” atinge contornos surrealistas, porque estes intelectuais se deixaram enredar numa teia de conceitos e pré conceitos avulsos, que denunciam um problema: a qualidade no (sistema de) ensino, ou a falta dela.

Como se trata de uma lógica maniqueísta, basta dizer que uma determinada ideia de escola é promotora do facilitismo para se atribuir ao criador, inquisitoriamente, o epíteto de eduquês. O problema é que a cartilha é liberal ao ponto de se poder virar o feitiço contra o feiticeiro e o algoz acabar por se transformar, num ápice, na própria vítima, a não ser que exista uma consonância absoluta entre os auto-designados anti-eduqueses.

Quantas características de um mau ensino e de uma má escola são aceitáveis para nos livrarmos desse epíteto?

Será que eu, porque considero os exames nacionais uma falácia, não só por razões que se prendem com a fiabilidade dos mesmos mas também por considerar que os exames enformam e deformam o ensino (porque não garantem aprendizagens duradoiras e significativas), posso ser apelidado de eduquês?

Mas é um facto que sempre estive, e não me faltam evidências para o demonstrar, ao lado dos professores, logo, promovo condições para um ensino de qualidade. Será que esta característica me deve transportar para o purgatório dos anti-eduqueses?

Bem… o melhor é eleger Valente de Oliveira a provedor do anti-eduquês e esperar que ele me absolva! Valha-me Deus…

Adenda: Agradeço ao Paulo Prudêncio a chamada de atenção (cf. caixa de comentários). Confundi os dois Valentes embora, coincidência ou talvez não, os dois façam parte da escola “anti-eduquesa”. Meia culpa pelo erro e, em vez de um, proponho dois provedores do anti-eduquês. Irei modificar o título deste texto mantendo o conteúdo do mesmo.

Não há como esconder a cabeça na areia.

Man29Maio Só por conveniência retórica é que o fjsantos disse acreditar que a blogoEsfera docente está alheada da manifestação de professores, no dia 29, por distracção e cansaço. Se há característica que marca um blogger é a vigilância. Não sei se a razão de fundo desse alheamento tem que ver com um preconceito elitista que recusa misturar num movimento comum a casta de profissionais intelectuais com trabalhadores braçais. O que eu sei é que este apelo da FENPROF à mobilização dos professores, num momento em que se prenuncia a degradação das condições sócio-profissionais com o pretexto dos PEC’s, deita por terra não só as teorias conspirativas daqueles que classificavam a FENPROF como parceira de tango do ME, como desmascara uma astuciosa tendência protestativa de alguns movimentos de professores, afinal, um mero truque para ganhar protagonismo.

Como comentei no blogue do fjsantos, se os sindicatos organizam uma contestação, não deviam porque apenas servem interesses partidários, do PCP, obviamente. Se não contestam, os tipos têm uma aliança com o ME que não interessa aos professores.

Enfim… alguns movimentos escondem a cabeça na areia e não aderem à contestação porque não colhem protagonismo; alguns bloggers de massas não aderem porque, paradoxalmente, não gostam das aglomerações de massas.
E nós vamos cantando e rindo até à próxima convulsão profissional…

Vida difícil!

Tirem a banca ao puto (II)

Portugal sem governo

“Quando, há vários anos, a irresponsabilidade e o aventureirismo se começaram a manifestar no domínio da Educação, os analistas políticos da nossa praça diziam que se estava a realizar uma fantástica reforma no Ensino, que finalmente os professores iriam entrar nos eixos, que a Escola Pública iria passar a ser um exemplo, e por aí fora…, e muito povo aplaudia e considerava que as críticas e as manifestações dos professores eram reacções corporativas de quem estava a perder privilégios e mordomias.

Quando a irresponsabilidade e o aventureirismo alastraram à Saúde, à Justiça e às Obras Públicas, os analistas políticos da nossa praça continuavam a dizer que se tratava de reformas corajosas e necessárias, e muito povo aplaudia e achava que as críticas e as manifestações de protesto eram reacções corporativas de quem estava a perder privilégios e mordomias.
Agora que a irresponsabilidade e o aventureirismo chegaram à Economia e às Finanças, isto é, agora, que a irresponsabilidade e o aventureirismo atingem toda a gente, eis que as vozes aduladoras deste Governo repentinamente se calaram e eis que já se ouve e vê muito povo a reclamar. O mesmo primeiro-ministro que era apelidado de corajoso, de decidido, de justiceiro, passou a ser o desorientado, o mentiroso, o incompetente.”(Ler mais aqui)

Tirem a banca ao puto!

Nesse tempo dos jogos de cartas havia uma moeda –  o cromo. O jogo também obedecia às leis da oferta e da procura… Quando o puto da banca ficava sem cromos para pagar o seu azar no jogo entrava em bancarrota, era excluído e deixaria de ser “o homem da banca”. Alguém lhe tomaria o lugar e o jogo continuava. O caloteiro era punido e com sorte não era sovado. o puto era responsabilizado “epidermicamente”.

O nosso puto da banca vai brincando com os cromos, que são os nossos cromos mas que ele distribuiu pelos seus amigos como se fossem seus. Já foi ameaçado de exclusão porque não cumpre promessas, porque se endivida cada vez mais, porque age como um alienado de palavra fácil e vã.

É tempo de punir o caloteiro antes de nos sovarem, porque o puto da banca joga com os nossos cromos!

Ora diga lá outra vez…

O Nobel da Economia Paul Krugman defende que os salários nos países periféricos da Europa, como Portugal e Espanha, têm de baixar 30% face à Alemanha.

Leitura 1 – Se o Nobel o diz,… é muito difícil contrapor um argumento da autoridade. Mas tenha a certeza absoluta, porque acredito que o tipo não está a fazer um frete à turba financeira, que a ideia do homem é boa: há que diminuir o fosso que separa os mais ricos dos mais pobres. Como não há condições para fazer aumentar os salários da classe média, então é preciso baixar 30% dos salários da classe alta. O que me parece muito bem!

Adenda: “os salários nos países periféricos da Europa, como Portugal e Espanha, têm de baixar 30% face à Alemanha.”

Leitura 2 – Se, por hipótese, o ordenado mínimo na Alemanha for de 1000 euros, em Portugal deve ser de 700 euros?

Sindicatos e a defesa dos interesses – particular e geral

Há coisas que me parecem claras até nos dias em que pretendo atear um debate.

Na reflexão do Paulo Guinote (por extenso para não ferir susceptibilidades) sobre a acção sindical, e deixando de lado o seu lado quezilento, destaco e comento, ao de leve, a questão dos limites da representação sindical:

Há que distinguir as matérias que são objecto de negociação colectiva, e sobre as quais os sindicatos devem defender os interesses do grupo que representam (a pluralidade sindical permitirá que os professores apoiem o sindicato que melhor os representam. E os outros? E aqueles que não se sentem representados pelos sindicatos? Têm sempre a possibilidade de criar o “seu” sindicato!), das matérias que são do domínio privado mas que têm repercussões na actividade laboral e que suscitarão mediação sindical (essa mediação só deverá ser requerida pelos professores sindicalizados, obviamente).

O Lado B

seg1505b (…)
Expresso-Única, 15.05.2010

O Expresso dedica-lhe a capa da Revista e oito páginas. Sucede que António José Seguro, no seuregisto parlamentar de interesses, declara que é "colaborador do Jornal Expresso" e da SIC. A entrevista publicada, promocional, deverá provavelmente fazer parte da avença. Mas repare-se mais: António José Seguro também declara, no seu registo de interesses, que tem como actividade principal… a docência universitária. Mais: informa que dá aulas "na Universidade Autónoma de Lisboa, no Instituto Superior de Comunicação Empresarial e num curso de pós-graduação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas". É obra! Dá aulas em três escolas do ensino superior e ainda consegue ser… deputado. Mais: é deputado por Braga e mora nas Caldas da Rainha. Este rapaz, que tanto abomina a "desonestidade e a mentira", tem futuro!… (in: Abnóxio)

A seita.

No dia seguinte ao anúncio do novo pacote de medidas de austeridade, a percepção de risco em relação a Portugal não dá sinais de calmia.

Haverá seguramente uma lógica intrincada a explicar o fenómeno. Os especialistas em economês dirão que não havendo uma relação de causa/efeito (imediata não há, como se vê) entre as medidas de austeridade e a reacção dos mercados especulativos, as medidas eram inevitáveis.

A seita acredita!

O benefício do infractor.

A imprevisibilidade do comportamento dos mercados financeiros e a crise internacional têm sido pretexto para a irresponsabilidade política. Promessas vãs plasmadas em programas eleitorais deixaram de ser critério válido para responsabilizar candidatos. Os partidos políticos do arco da governação (como eles próprios se denominam) perceberam rapidamente que o que está a dar é a produção de candidatos de plástico. As propostas políticas não são feitas para serem cumpridas porque a irresponsabilidade política não tem sido suficientemente penalizada nas urnas.

Até quando?

A catedral

Jorge Bento consideraria uma heresia evocar, especialmente no dia de hoje, algo escrito por si e com este conteúdo simbólico.

“As catedrais são porventura a expressão mais sublime da arte. Seja no plano da forma, seja no plano dos significados que encarnam, elas configuram um nível extraordinário e sublime de transcendência. Não é apenas Deus que vem ao encontro dos homens para ficar e morar no meio deles; nelas os homens congregam sonhos e mitos que lhes dão asas e os transfiguram e elevam a seres quase divinos. Tentando assim localizar o sentido da vida onde só se conhece o vazio da falta dela.”

Pelo regresso da gestão democrática às escolas Pelo reforço da sua autonomia pedagógica

MANIFESTO

Considerando que a gestão democrática, constitucionalmente consagrada, torna imperativa a garantia de princípios de democraticidade e de participação, como os de elegibilidade e colegialidade dos órgãos, postos em causa no actual regime de, administração e gestão das escolas, os professores e os educadores subscritores deste manifesto reclamam do Ministério da Educação (ME) a promoção de um amplo debate sobre esta matéria, que possa permitir consensualizar, a curto prazo, um regime alternativo ao actual.

Esse novo regime, para além da criação de Conselhos Locais de Educação como órgãos descentralizados da administração educativa, já previstos na Lei de Bases do Sistema Educativo, deve consagrar margens de autonomia efectiva para as escolas, o direito destas poderem optar entre um órgão de gestão unipessoal ou colegial, um processo de eleição directa do órgão de gestão por um colégio eleitoral alargado e a redefinição das competências e composição do órgão de direcção estratégica da escola/agrupamento, actualmente atribuídas ao Conselho Geral.

No imediato, os professores e os educadores subscritores reclamam a introdução das seguintes alterações ao DL 75/2008, visando o reforço das competências e a autonomia de funcionamento do Conselho Pedagógico:

  1. Compete ao Conselho Pedagógico, enquanto órgão de direcção pedagógica da escola, definir o modelo de organização do processo de ensino/aprendizagem, nomeadamente o tipo, as competências e a composição das estruturas pedagógicas intermédias, tornando o seu funcionamento menos burocrático, reforçando a coordenação pedagógica e a articulação curricular e adequando-o à realidade de cada comunidade educativa;

  2. Compete ainda ao Conselho Pedagógico flexibilizar a organização dos espaços, tempos, agrupamentos de alunos e apoios educativos;

  3. O Presidente do Conselho Pedagógico é eleito de entre os seus membros docentes, deixando de ser obrigatória a acumulação desse cargo com o de Director;

  4. Para além do Director, o Conselho Pedagógico é constituído pelos coordenadores das estruturas de gestão intermédia e de supervisão pedagógica que vierem a ser definidas ao nível da escola/agrupamento, democraticamente eleitos pelos docentes que as constituem.

Assinar aqui.

Um país que engravidou a ver um filme 3D.

Mulher diz que engravidou a ver filme porno 3D

Marido acreditou na justificação e registou criança

Perguntar-se-ão: por que razão esta notícia sensacionalista, mas credível se tivermos em conta que tudo se passa na América, emirja num blogue sério e pouco ou nada devoto a trivialidades, modéstia à parte?

Ao ler esta notícia pensei no país engravidado por um primeiro-ministro que parece ter saído de um filme 3D.

O povo acredita na justificação e, pasme-se, vai registar a criança.

Que é uma história pornográfica, disso não tenho dúvidas!

É um plano inclinado, de facto!

Não resisto a reeditar um texto que escrevi em 2006 depois de assistir ao programa Plano Inclinado, que tem como protagonistas o moderador Mário Crespo, dois convidados residentes, Medina Carreira e Nuno Crato, e um convidado especial que é escolhido em função da temática. Nos dois últimos programas a Educação foi tema de debate e o Paulo Guinote, no primeiro, e Guilherme Valente, no segundo, lançaram o seu outroolhar.

É a retórica do “murro na mesa” de Medina Carreira e o caceteirismo teórico de Nuno Crato que mais me diverte neste programa. Confesso que parei o vídeo e “rebobinei” o filme para ouvir a fantástica definição eduquesa do eduquês proferida pelo Guilherme Valente:

“Já se percebeu o que é o eduquês. É uma mistura de ideologia política reaccionária à modernidade, as pedagogias ditas modernas mas que afinal não são modernas, o pós-relativismo… este eduquês gosta de indisciplina.”

E agora vai o texto e a reedição de um debate inacabado.

Rousseau e a crise do modo de pensar a educação…

Cartografia do debate
Depois do livrinho do Nuno Crato ter colocado no top dos lugares comuns o termo “eduquês” que foi, salvo erro, proferido pela primeira vez pelo ex-ministro da educação Marçal Grilo, tem varrido a blogosfera uma onda de anti-eduqueses críticos do(s) pensamento(s) de Rousseau. Não importa discernir as motivações e os interesses que os movem nas suas batalhas, mas interessa aclarar o debate e reafirmar que os discursos são bafientos e que esta discussão é um refluxo de uma discussão iniciada por Filomena Mónica em 1997, prolongada depois no Público por José Manuel Fernandes. Essa discussão, que envolveu muitos articulistas consagrados, motivou a edição de dois pequenos livros, editados pela Profedições, do António Margalhães e do saudoso Stephen Stoer.
Como os discursos anti-eduqueses escolheram como alvo a abater Rousseau e as Ciências da Educação, nada melhor do que deixar aqui o contraditório, escrito por estes dois autores que se dizem “Orgulhosamente Filhos de Rousseau” [1998, profedições, esgotado].

Observem como esta pergunta continua actual:
"O que é que estará a acontecer na ordem social portuguesa para que, no que diz respeito à educação e ao sistema educativo, vozes mais ou menos autorizadas se levantem contra a influência de Rousseau? Na verdade, parece ter-se criado um consenso acerca da culpa e dos culpados dos problemas do nosso sistema educativo:
Rousseau e os seus sequazes.
As ideias que os apóstolos de Rousseau seguiriam e com que teriam envenenado todo o sistema e respectiva orientação política seriam: a) a assunção de que o centro do processo de ensino-aprendizagem são as crianças e os jovens e não o corpo do saber a ensinar; b) que o processo deve ser adequado às características afectivas e gnosiológicas destes; e c) que o ensino deve ser articulado e articular processos de aprendizagem, ser, em suma, ensino-aprendizagem.
Contudo, os protagonistas dos ataques aos filhos de Rousseau, não se ficam por aqui. J. M. Fernandes (JMF), na esteira de Filomena Mónica, avança que a nefasta influência do filho do relojoeiro de Genebra promove uma «desresponsabilização geral» que «é corolário lógico de uma "democracia de base" que toma cada estabelecimento de ensino numa espécie de comuna autogerida que não presta contas a ninguém» (Público, 22 de Dezembro).
Retoricamente irado, JMF diz que tudo isto está errado, porque «a democracia é o império da lei» (ibid.).
De facto, tudo é cozinhado numa retórica de "murro na mesa", de "basta", que impressionará os mais distraídos, mas que deve consistir em objecto de reflexão. É que a questão que é obnubilada é esta: as políticas educativas são construídas num espaço plural de forças, poderes e influências em que o contexto académico, do Estado e dos grupos de trabalho entretecem lógicas díspares e múltiplas, impossíveis de unificar num só vector teórico e político.
Por isso, a posição de "murro na mesa" é caceteirismo teórico, porque pouco subtil, pouco dada à captação das diferenças, dos matizes (veja-se a controvérsia gerada sobre o caso dos "currículos alternativos"). Na verdade, a autogestão comunal que as escolas praticariam, nas palavras de JMF, é uma flor retórica bem grosseira, pois qualquer aluno, qualquer professor, qualquer auxiliar da acção educativa, por mais distraídos, sabem que isso é um disparate.
Mas, e essa é a força da retórica e dos meios de comunicação social, pode ser transformado em verdade, em facto, em prova contra os filhos de Rousseau." [pp. 31-32]

Hoje é o primeiro dia

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Adenda:

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Para quem tem a sorte de ainda ter uma mãe que sirva de porto de abrigo, estas palavras fazem ainda mais sentido.