Há lutas em dois quintais

O Estudo Acompanhado era a unidade de cuidados intensivos do Português e da Matemática", defende ao DN Arsélio Martins, da APM, para quem esta solução era ainda assim "um paliativo" que só disfarçava as carências.

Ainda pensei que a área não disciplinar de Estudo Acompanhado tinha como objectivo ensinar as crianças e jovens a estudar. Claro que só um lírico como eu, que nada percebe de metodologia de estudo, é que poderia pensar que a criação desta área não disciplinar visava uma coisa muito simples: ajudar as crianças a encontrar um método singular para um estudo autónomo.

Depressa as áreas não disciplinares (Área de Projecto e de Estudo Acompanhado) foram subjugadas pela Matemática e pelo Português e transformadas em centros de treino intensivo, ou cuidados intensivos, como os designa o colega Arsélio Martins, da APM.

Nada de surpreendente se considerarmos que há muito tempo prevalecem as lógicas mercantis no sistema de ensino. Daí a febre dos resultados atestados nos famigerados rankings. Daí o papão dos exames nacionais. O que me leva a pensar que as ideias, os projectos, as inovações, tudo o que é criado com o intuito de transformar a escola acaba metamorfoseado em produto negociável. Com a conivência dos órgãos de gestão e com o silêncio cúmplice dos conselhos pedagógicos, as áreas não disciplinares (insisto no negrito), designadamente, o Estudo Acompanhado e a Área de Projecto, acabaram na alçada das disciplinas do regime (Matemática e Português) e a Educação Cívica acabou por ser uma propriedade do Director de Turma para o trabalho directo com os alunos porque há sempre que resolver problemas do quotidiano escolar (o que até nem me parece mal face ao objecto da disciplina).

O governo decidiu, e bem, acabar com a farsa. Eu sei que não o fez pelos melhores motivos: Não vai acabar com as áreas não disciplinares por ter verificado que o sistema foi pervertido. Mas se há males que vêm por bem, este é um deles, por muito que custe aos excelsos líderes das associações de professores de Português (APM) e Matemática (APM).

(Hard)CORE

Em 3 de Agosto o Governo constituiu a CORE – Comissão para a Optimização dos Recursos Educativos.

No despacho, publicado em Diário da República e assinado pela ministra da Educação, pode ler-se que esta é uma comissão, presidida por Carlos Alberto Pinto Ferreira, de "carácter eminentemente técnico", que deverá concluir o seu trabalho dentro de três anos, ou seja, no final desta legislatura. O objectivo é, além de acompanhar a evolução do sistema educativo, propor medidas de política educativa e elaborar estudos técnicos para melhorar a qualidade do ensino, sempre com as palavras "optimização" e "eficácia" no horizonte.

A comissão durou apenas 3 meses. Estou convencido que foi o tempo necessário para que a comissão, criada com o intuito de optimizar o sistema, verificasse a sua inocuidade. Daí ter proposto, digo eu, a sua própria extinção.  O que não deixa de ser paradoxal, irónico e até hardCORE .

É ou não uma boa notícia…

… quando alguém revela que deixou de ser relator no seguimento de um pedido de escusa?

Não é que a farsa em que se transformou a ADD dependa dos protagonistas, alguns dos quais quiçá bem preparados para implementar um modelo de avaliação que é iníquo, obtuso e indecifrável.

Olhando para o quadro em que se vai desenvolvendo este processo, fica claro como são inócuas as críticas ao modelo realizadas em conversas catárticas nos recantos das salas de professores.  Em nome da coerência, o “inconformismo” devia ser traduzido em acções concretas. É que uma coisa é ser “obrigado” a desempenhar uma função; Outra bem diferente, é aceitar tacita e passivamente uma designação.

Autonomia das escolas e a febre dos resultados

O Ramiro defende uma proposta de financiamento onde “Cada agrupamento de escolas faria um contrato com o ME por quatro anos, sendo-lhe permitido gerir as escolas em completa autonomia curricular e pedagógica e sendo obrigado a apresentar resultados no final dos quatro anos.

Se os resultados dos alunos conhecerem progressão, o contrato será renovado. Se houver regressão, o contrato será denunciado, o director demitido e a gestão do agrupamento entregue, por contrato, a uma entidade com provas dadas na gestão de instituições educativas.”

Os resultados dos alunos progridem quando:

Sobem as classificações dos alunos nas disciplinas sujeitas a exame nacional;

Sobem as taxas de aprovação;

Diminuem as taxas de abandono escolar.

Para cumprir este desiderato, os directores promoveriam centros de treino de alto rendimento em disciplinas sujeitas a exame nacional (nada de novo e que já não aconteça em muitas escolas privadas) (E se forem generalizados os exames nacionais a todas as disciplinas, seria muito interessante perceber a agenda dos centros de treino); Aumentariam a pressão sobre os professores no sentido da aprovação dos alunos e intensificar-se-iam os sistemas de controlo e vigilância dos professores; Desenvolveriam estratégias perversas de selecção de alunos com maior potencial de aprendizagem e menor predisposição para o abandono.

Em nome de uma pretensa eficiência na utilização de recursos, será que vale a pena incrementar a avaliatite? Espero que esta tese não venha a corroborar a seguinte hipérbole: na sua azáfama de pesar a galinha, o dono acabou por se esquecer de a alimentar.

Ninguém é dono de alguém.

O associativismo livre é um direito constitucional incontestável desde que não se destine a promover a violência e os respectivos fins não sejam contrários à lei penal. Já o escrevi por diversas vezes, e não é um exercício inócuo de retórica: os movimentos de professores que emergiram na contestação às políticas educativas de José Sócrates têm caminho aberto para andar ao lado, à frente, atrás, em sentido inverso ou no mesmo sentido das organizações já constituídas. Não sendo obrigadas a fazê-lo eu preferia que dissessem ao que vêm, para tomar partido. Se a ideia é ser uma espécie de organização sombra dos sindicatos, uma espécie de sentinela da consciência (admitindo as organizações têm essa qualidade psíquica), o diabinho ou anjinho das acções sindicais, não vejo qualquer inconveniente por mais que desagrade aos dirigentes sindicais mais ortodoxos; Se a ideia é constituir-se como uma associação alternativa de professores, isto é, um movimento cuja área de intervenção ultrapassa as questões corporativas e visa uma intervenção política que não se confunda com a acção estritamente partidária ou sindical, então há que definir claramente esses contornos; Se a ideia é constituir um sindicato alternativo aos inúmeros sindicatos de professores já existentes, então há que assumi-lo sem reservas e passar a arregimentar sócios; Se a ideia é apenas existir, com uma intervenção inócua na blogosfera, então deixem correr o marfim.

De todas as possibilidades que elenquei, o papel de diabinho e de anjinho parece-me estar mais ajustado à intervenção destes movimentos, designadamente a APEDE e o Movimento da Escola Pública.

Enquanto que o segundo, por sustentar uma maior harmonia com a acção sindical, não necessita de partir para o terreno para recrutar apoios, já o primeiro, a APEDE, para marcar as agendas sindicais, não poderá dispensar esse trabalho de rua. Ora, é aqui que o rabo da porca entorta. Como mobilizar o professorado parece ser o busílis da questão.

Sindicatos e movimentos de professores terão de aguardar mais alguns meses, até porque a conjuntura será cada vez mais favorável à mobilização dos professores: quando se concretizarem os cortes salariais prenunciados; e quando as condições de trabalho atingirem um novo patamar de deterioração.

Até lá, será mais do mesmo.

Greve geral – Não se cansem a contar

A meio da tarde, a Secretaria de Estado da Administração Pública tinha informação de que 1730 escolas do ensino básico e secundário estiveram hoje encerradas, o que representa 33,3 por cento, ou um terço, do total de estabelecimentos existentes.

(…) Como já aconteceu em greves anteriores, para a percentagem de adesões não serão contados os docentes que leccionam nas escolas que hoje estiveram encerradas. (Fonte: Público)

Greve Geral – Um balanço situado.

O que esta greve geral põe verdadeiramente em causa é a legitimação de um conjunto de políticas estruturais iníquas que têm empobrecido o país e aumentado o fosso entre aqueles que auferem mais e menos proveitos pelo seu trabalho.

É um momento de contestação que não tolera ambiguidades face à gravidade da situação financeira, económica e social. Quem não aderiu à greve geral perdeu hoje uma boa oportunidade para se demarcar destas políticas. Perdeu uma boa oportunidade para dar um sinal inequívoco de que não quer anuir o trabalho de responsáveis políticos inábeis que se mostram incapazes de inverter um processo que, a não ser travado brevemente, nos conduzirá à bancarrota.

Tem por isso um sabor a papel de música toda aquela argumentação que explica a não adesão à greve: ora fazendo um lamento a inexistência de um plano de luta mais ambicioso e mais global; ora antecipando a (in)consequência dos resultados da luta, porque o governo não mudará as suas políticas; ora fixando-se na actuação dos sindicatos, porque têm telhados de vidro, como se a actuação dos sindicatos fosse o alvo da greve; ora evocando outros subterfúgios mais comezinhos, como por exemplo, que a vida está cara e o dinheiro da greve faz muita falta.

É triste quando os professores, pelo seu exemplo, mais do que pela sua retórica, dão um sinal aos seus alunos de conformismo e de resignação face às circunstâncias sociais de grande iniquidade. É deplorável!

A propósito disto, ou a despropósito, sei lá, é um alívio confirmar que não faltam professores cuja coluna vertebral se mantém firme e hirta como se fosse uma barra de ferro.

Agora é tempo de procurar outros sinais e outras evidências.

E por falar em evidências: a adesão de professores à greve, na minha escola, rondou os 60%.

Façam Greve!

grevegeral

Que seja Greve.

Que seja Geral.

Que se faça.

Que se sinta…

Que seja de todos.

Façam "folga",

façam "huelga",

façam "strike",

façam "streik",

façam "greba",

façam "إضراب,

façam "стачка",

façam "vaga",

façam"stávka",

façam "grev",

façam "罷工",

façam "απεργία",

façam "staking",

façam "lakko",

façam "sztrájk",

façam "ストライキ",

façam "strejke",

façam "забастовка",

façam "हड़ताल",

façam "counter",

façam "mogok",

façam "sciopero",

façam "verkfall",

façam "welga"

Façam em português…

Façam qualquer coisa,

Demarquem-se da "Corja"

e não deixem que o façam por vocês.

Chegou a vossa vez.

Fechem as escolas,

As fábricas, e as "portas" todas.

E, se ficarem abertas,

Luza esta "chave" na mão de quem as não fechou.

Muita Unidade.

___________________

Paulo Duarte

(Não sei quem é o Paulo Duarte mas subscrevo)

Greve com salários pagos

PME portuguesas vão "aderir" à greve geral

As 12.800 empresas associadas da Associação Nacional de PME (ANPME) vão pagar salários aos trabalhadores que amanhã fizerem greve e algumas delas vão mesmo encerrar.

Não direi que esta medida a ser aplicada pelo ME, num cenário surreal obviamente, garantiria a adesão massificada dos professores à greve geral. Mas que diminuiriam os pretextos risíveis para não aderir, disso não tenho qualquer dúvida.

Por que se ri a ministra?

Professores: ministra ri-se de proposta do sindicato

– Fenprof defende a extinção das direcções regionais de Educação

Por que se ri a ministra?

Do absurdo da proposta? Das consequências da proposta? Da risibilidade dos ganhos financeiros que adviriam com a materialização da proposta?

Não!

A ministra ri-se porque «Quem gere o Ministério da Educação são os responsáveis do Ministério da Educação». Este extraordinário não argumento utilizado pela ministra evidencia pelo menos duas coisas:

1. que o ME, sendo em última instância o gestor da coisa educativa, não atendeu, nem atenderá, às propostas exógenas às estruturas do ME, o que é grave porque transforma qualquer negociação realizada ou a realizar com os diversos parceiros educativos numa ópera-bufa;

2. sempre que a ministra ri, ri-se o “modus vivendi” instalado no ME.

Greve Geral – Equívocos

greve1Alinho pelo mesmo diapasão retórico do Octávio dizendo que respeito todos aqueles colegas que não “decidam aderir à Greve Geral do dia 24 de Novembro, ainda por cima se forem aqueles colegas com os quais partilhei muitas das lutas travadas contra os governos de Sócrates.” É um respeito que decorre da adopção tácita das regras democráticas de convivência e do exercício da cidadania. Mas, perdoem-me a arrogância, tenho sérias dificuldades em compreender os argumentos.

Foquemo-nos nos três motivos elencados pelo Octávio para não aderir à Greve:

1. “não alinho na mistificação daqueles que pretenderam mobilizar os professores para esta Greve Geral, recorrendo à instrumentalização das reivindicações dos professores, mormente o modelo de avaliação, que eles próprios aceitaram e legitimaram sempre que tiveram oportunidade para o substituir. (…)

2. esta Greve Geral, isolada e desprovida de uma agenda de resistência continuada e persistente, adquire uma dimensão meramente folclórica, sem que ninguém ainda tenha percebido que expectativas de resultados decorrerão desta jornada de luta (…)

3. depois de os dirigentes das centrais sindicais terem admitido, publicamente, a inevitabilidade do Orçamento de Estado para 2011 e virem manifestando uma complacência e uma mansidão para com o governo de Sócrates (…), não tenho dúvidas de como tudo isto não passa de encenações, por parte de quem, nos momentos decisivos, está feito com este governo.”

Das três razões evocadas existe um alvo comum: os sindicatos. O que me permite pensar que as razões para a adesão à Greve geral emergem da actuação dos sindicatos ao invés de serem desencadeadas pela actuação do Governo.

São verdades la palicianas considerar que os sindicatos são as organizações responsáveis pelo agendamento das greves; que é possível discordar da oportunidade e que nem sempre estaremos de acordo com a actuação do governo; que as greves são formas de luta discutíveis.

Tudo isto é verdade.

Mas também é verdade de que se trata de uma Greve Geral, não sectorial. Mesmo que os sindicatos usem uma estratégia, admitamos como hipótese, errada, isso não pode significar que os professores, como profissionais intelectuais que são, fiquem reféns dessas razões e não busquem razões cujo alcance ultrapassam as fronteiras corporativas.

Não quero crer que o Octávio, como homem livre do pensamento que é, esteja refém de uma pretensa necessidade de afirmação e de independência em relação às organizações sindicais. Ou assume que não concorda com esta forma de luta e Greves(?), não muito obrigado; ou então é bem possível que só numa próxima reencarnação é que encontre motivos tão fortes para dizer Não às soluções políticas que os nossos representantes encontram para os desafios do presente.

Mais Filosofia e menos avaliatite

Exame de Filosofia vai ser reposto no ensino secundário

Quando li o título da notícia ainda pensei ser surpreendido à medida que o corpo da mesma fosse despido. A minha esperança era ver reforçado o peso da disciplina no ensino secundário, um sinal de reconhecimento do papel da disciplina na formação dos alunos. É difícil de compreender que as principais associações de profissionais da disciplina, a sociedade portuguesa e pela associação de professores de Filosofia, não façam qualquer referência a este facto e pareçam regozijar-se apenas com a inclusão da disciplina no lote de exames obrigatórios para a conclusão do ensino secundário. É triste constatar a pobreza de argumentos que são usados para legitimar o “lugar” da disciplina na escola. E é ainda mais triste quando se esperava destes representantes profissionais mestria no uso do argumento.

Vendilhões do templo

Não é uma blasfémia dizer que somos um país de projectos e sonhos adiados, um país governado por vendilhões de Magalhães do templo. A legislação que temos é das melhores e mais progressistas do mundo ocidental e no entanto temos um sistema de justiça desacreditada pela morosidade dos processos, transformando o país num terreno fértil para a germinação de videirinhos e Chico Espertos. O governo pavoneia-se entre os seus parceiros europeus, no domínio da modernização tecnológica, porque lidera desde 2008 o ranking da Comissão Europeia sobre a disponibilização e a sofisticação de serviços públicos online. Fantástico, Mike. No entanto, continuamos a ter escolas que têm de pagar a privados o acesso à internet porque a banda larga disponibilizada pelo ME ainda é uma miragem.

Hoje, é preciso ver para crer!

E porque quero ver para crer é que não ligo patavina à resolução do conselho de ministros que aprova a Agenda Digital 2015, uma iniciativa inserida no âmbito do Plano Tecnológico. Contudo, aqui fica o registo para memória futura de mais uma promessa adiada.

ADD – Um embuste anunciado.

Designado relator e sem saber se é deferido ou não o meu pedido de escusa do cargo, procuro o norte enquanto releio normativos e materiais construídos pela comissão de avaliação. De todos os documentos consultados, há um que me arrelia especialmente dada a sua ambiguidade. O que é grave porque se trata de um documento orientador. Refiro-me, como é óbvio para quem os leu, aos Padrões de Desempenho Docente.

Enquanto não existir a clarificação conceptual dos descritores, não é possível garantir a integridade do processo. Fazer de conta de que há um elevado consenso acerca do significado de cada um dos descritores é alimentar a farsa e empobrecer um sistema que deveria ser fundamental para o desenvolvimento profissional dos professores.

Anedotário, um rebate de consciência ou uma manifestação peculiar de cogitar a fuga?

– (…)

– A greve é justa?

– É!

– Então vais fazer greve?

– Talvez!

– Talvez?

– Faço greve se não for provocado porque eu não gosto de me sentir encurralado!… Se os sindicatos reconhecerem que erraram quando assinaram esse famigerado acordo que traiu as massas!… Se for evidente de que eu não faço parte desse rebanho de avassalados!…

– ???? hummmm…

PSD, por qué no te callas?

A Resolução do Conselho de Ministros nº1/2007 deu luz verde à “criação de uma entidade pública empresarial cujo objecto principal, em moldes empresariais, é o planeamento, a gestão, o desenvolvimento e a execução da política de modernização e manutenção da rede pública de escolas secundárias. A empresa Parque Escolar foi concebida num caldo neoliberal onde os chavões da qualidade, eficácia, agilidade de procedimentos e racionalidade económica estão longe de ser demonstrados e à medida que se vão conhecendo os números do endividamento destas empresas mais me convenço do contrário. A gestão do que é bem público por privados foi encontrar terreno fértil na governação socialista, de cariz neoliberal, com a conivência dos dois partidos de direita.

Não deixa de ser irónico que ao invés de pedir contas ao governo pelas garantias dos pressupostos que levaram à criação da referida empresa, isto é, se a Parque Escolar gere com eficácia, e se a racionalidade económica existe de facto, o PSD decida meter a boca no trombone para questionar o executivo sobre a isenção fiscal aplicada à Parque Escolar no OE de 2011.

É caso para dizer ao Miguel Macedo, líder parlamentar do PSD: Por qué no te callas?

Vale a pena pensar nisto…

O Zé Manel Faria escreveu, no blogue Delito de Opinião,  um bom texto sobre educação e a aprendizagem do não. Saber quando e como dizer não, é, afinal, o princípio da autonomia.

Escola/Saber/Querer/Autoridade

A educação limita-se à transmissão dos modelos tradicionais e não se presta a grandes discussões. O seu papel é apenas o da conservação de um Estado social em que só se verificam mudanças de caracol.

A ser assim, a melhor dádiva que a Escola pode conceber às crianças e jovens parece ser uma certa e importante disponibilidade do espírito que permita não apenas acompanhar a história na sua marcha precipitada mas, ao mesmo tempo, dominar os novos problemas que surgem como consequência das contínuas e necessárias mudanças históricas e quebrar dia após dia os variadíssimos muros que nos aparecem de todos os lados em quase todos os sítios: sejam eles dentro de casa, na Escola, na turma, na organização social e/ou política.

A educação não deve ser orientada apenas para o saber. O que é que pode acontecer se as diferentes vontades – do professor e dos alunos – entrarem em choque?

Admitindo que a liberdade é o sinal distintivo do ser humano e que a evolução consiste em libertar o homem de todas as sujeições que lhe são exteriores, a autoridade exacerbada, longe de facilitar a vida em comum, oculta-lhe o verdadeiro fundamento, alienando o homem e o jovem da sua própria consciência, tornando-se inapto para toda e qualquer forma de total integração social autêntica// a Democracia.

Não é, pois, uma ordem conservadora, autoritária e estática, que se deve procurar, mas um equilíbrio entre quereres antagónicos. Equilíbrio precário e instável e, por tal motivo adequado ao progresso humano. Vivo, justo e não mercantilista.

Se o jovem não aprende a sentir-se ele mesmo é natural que não aprenda o manual/programa. É necessário não esmagar o orgulho, a franqueza, até a turbulência sadia do mesmo, porque não está em momento algum posta em causa a minha liberdade: se o docente se sentir totalmente livre, não precisa de se deixar vencer.

A aprendizagem do não, da oposição, da contestação, pode ser uma linha clara de pedagogia democrática.

A educação não pode assentar no princípio da autoridade. A sê-lo, teremos jovens instruídos, mas passivos, que aceitam com resignação as orientações da ordem estabelecida. Esta ideia encaixa completamente tanto nos jovens como em adultos. Todos aqueles que são homens ou mulheres completas não precisam de uma autoridade e só o reconhecimento da livre vontade de cada um fará da Escola a antecâmara de um futuro risonho.

Não devemos ser apenas criaturas boas. Boas para serem domesticadas.

José Manuel Faria

Regabofe

Médicos meteram licença e ficaram no mesmo lugar pelo dobro do salário

Há médicos de hospitais EPE em licença sem vencimento da Função Pública a exercer as mesmas funções no posto que ocupavam, mas com contrato individual de trabalho e um salário quase dobrado. A prática era corrente até o Governo impor medidas de contenção. (Fonte: JN)

Não é de legalidade que se trata, obviamente. Sendo uma prática legal, estou plenamente de acordo com Merlinde Madureira, da Federação Nacional dos Médicos (Fnam): é imoral!

Este governo tem uma propensão especial para atrair os videirinhos. Por que será?

ADD – Vale tudo… ou quase.

Por muito que se esmerem não conseguirão transformar um modelo de avaliação potencialmente iníquo, porque assenta em bases equívocas,  porque o estatuto de superioridade profissional dos avaliadores face aos avaliados é artificial e sem correspondência com a prática profissional quotidiana, num instrumento relevante para o desenvolvimento dos professores e das escolas. Dêem as voltas e baldrocas que derem, por mais remendos que façam a esta ADD, o resultado será o mesmo: evidenciará a FARSA em que se transformou a avaliação dos professores.

Por mais perguntas que se façam, as respostas merecerão sempre a nossa gargalhada.

Formação acelerada – Educação financeira.

Guiões de educação financeira fornecidos às escolas

Professores e alunos das escolas do 1.º ao 3.º ciclo do Ensino Básico vão ter um novo instrumento de trabalho a partir deste mês: guiões pedagógicos para dinamização de actividades sobre educação financeira.

À escola continuam a ser assacadas responsabilidades sobre todas as iliteracias. E para fazer-de-conta que a escola ensina e os alunos aprendem, inventam-se programas de educação formação para isto e para aquilo. A educação é instrumental, a educação é transformada em formação profissional, a “formação acelerada” parece ser a panaceia para as maleitas sociais. E haverá sempre um programa preparado à pressa para atacar o problema emergente.

O problema agora parece ser a educação financeira. A Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC)  preparou o documento e o ME não perdeu a oportunidade para “sugerir” (porque não será de leccionação obrigatória na área não disciplinar Educação para a Cidadania) às escolas um “guião pedagógico” para dinamização de actividades sobre educação financeira. Como é normal no ME, primeiro chegam os programas e depois, se calhar, chegará a formação dos professores.

A imprensa noticia, as escolas entretêm-se com o desafio, e para não variar, ficará tudo na mesma. A não ser que o kit seja testado, e comprovado, em conselho de ministros.

Greve geral (I)

Apesar de não gostar de comentar resultados de sondagens, sobretudo quando desconheço a ficha técnica, a sondagem do JN suscita-me uma pequena observação porque parece revelar uma faceta perversa dos inquiridos.

Diz o JN que Maioria dá OK à greve mas não tenciona aderir pelo simples facto de que “a convicção maioritária é de que a greve não levará o Governo a alterar as suas posições — só 18% se inclinam para admitir que haja cedências da sua parte.”

Diz o jornal que “ nada menos de dois terços dos cidadãos consultados no âmbito do estudo de opinião assegura que não tenciona aderir à paralisação.”

Como refere, e bem, o Telmo Bértolo: “As greves parecem não resultar no nosso País, ao contrário do que acontece noutros países europeus mais desenvolvidos do que o nosso, onde os seus cidadãos têm mais consciência dos seus direitos e deveres e põem a sua dignidade a frente do dinheiro… Aqui parece acontecer o contrário. Estamos sempre à espera que sejam os outros a resolver os nossos problemas!…”

E os pretextos serão pelo menos três: os materialistas, mais virados para os trocos; os analistas, focados nas tácticas e estratégias sindicais erráticas; e os oportunistas, que usam a retórica dos segundos motivados pela força dos argumentos dos primeiros.

Haja decoro, por favor. Assumam o desacordo se tencionam não aderir à greve geral.