Ainda pensei que a área não disciplinar de Estudo Acompanhado tinha como objectivo ensinar as crianças e jovens a estudar. Claro que só um lírico como eu, que nada percebe de metodologia de estudo, é que poderia pensar que a criação desta área não disciplinar visava uma coisa muito simples: ajudar as crianças a encontrar um método singular para um estudo autónomo.
Depressa as áreas não disciplinares (Área de Projecto e de Estudo Acompanhado) foram subjugadas pela Matemática e pelo Português e transformadas em centros de treino intensivo, ou cuidados intensivos, como os designa o colega Arsélio Martins, da APM.
Nada de surpreendente se considerarmos que há muito tempo prevalecem as lógicas mercantis no sistema de ensino. Daí a febre dos resultados atestados nos famigerados rankings. Daí o papão dos exames nacionais. O que me leva a pensar que as ideias, os projectos, as inovações, tudo o que é criado com o intuito de transformar a escola acaba metamorfoseado em produto negociável. Com a conivência dos órgãos de gestão e com o silêncio cúmplice dos conselhos pedagógicos, as áreas não disciplinares (insisto no negrito), designadamente, o Estudo Acompanhado e a Área de Projecto, acabaram na alçada das disciplinas do regime (Matemática e Português) e a Educação Cívica acabou por ser uma propriedade do Director de Turma para o trabalho directo com os alunos porque há sempre que resolver problemas do quotidiano escolar (o que até nem me parece mal face ao objecto da disciplina).
O governo decidiu, e bem, acabar com a farsa. Eu sei que não o fez pelos melhores motivos: Não vai acabar com as áreas não disciplinares por ter verificado que o sistema foi pervertido. Mas se há males que vêm por bem, este é um deles, por muito que custe aos excelsos líderes das associações de professores de Português (APM) e Matemática (APM).