Sonho para 2013…

Um sonho cego a nada

 

Prometemos

que teríamos em comum

não sermos dois, apenas um

E que as nossas almas nuas

viciadas na bruma

não fossem duas

apenas uma.

 

Prometemos

um sonho para lá do aterro

um sonho sem medo

um sonho semente enraizada

um sonho sem ego

um sonho cego

a nada.

 

Um sonho

um sonho apenas

só um

um sonho sem penas

apenas um

um sonho

realizado por nenhum.

 

Paulo Anes

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“roubado” aqui

9 anos…

Há dias o Pedro falou ao país. Percebendo a indiferença dos portugueses, abrigou-se numa rede social para se lamechar aos seus amigos… Triste figura!

O espetáculo tomou conta do nosso quotidiano. Agregado aos órgãos de comunicação social, o espetáculo disfarça a fraca política. É incontornável a incursão mediática sobre as mais diversas manifestações humanas e não adianta carpir mágoas suspirando por um tempo de estadistas. É a lógica imediatista, consumista e vertiginosa, que ordena o quadro valorativo deste tempo. É o tempo dos clichés. É o tempo do efémero! Lamentavelmente, a escola acaba por projetar este tempo…

9 anos na blogosfera e não se vislumbra um sinal de esperança e de mudança, Sophia?…

Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura

Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura

Este é o tempo em que os homens renunciam.

Sophia de Mello Breyner
in Mar Novo (1958)

Bom Natal!

Aproveito este espaço para renovar o votos de um Bom Natal para todos os amigos e companheiros de viagem.

A acompanhar os meus votos, junto este poema que roubei à Maria Lisboa no seu cantinho:

tempo de adulto, tempo de criança

Imagem (in: www.fizogg.co.uk/gallery2_22.html)natal

espero que me calhe a fava

que é costume meter no bolo-rei;
quer dizer que o comi, que o partilhei
no natal com quem mais partilhava

numa ordem das coisas cuja lei
dos afectos e memória em nós grava
nalgum lugar da alma e que destrava
tanta coisa sumida que, bem sei,

pela sua presença cristaliza
saudade e alegria em sons e brilhos,
sabores, cores, luzes, estribilhos…
e até por quem nos falta então se irisa

na mais pobre semente a intensa dança
do tempo de adulto e tempo de criança.
Vasco Graça Moura

Com papas e bolos se enganam os tolos

Não foi por obra do acaso que o país chegou onde chegou. Foi necessário conjugar vários elementos perversos para a saúde da nossa democracia: irresponsabilidade política de inúmeros oportunistas, videirinhos que tomaram de assalto lugares de comando do Estado; inércia abstencionista de milhares de eleitores que deixam terreno fértil para a aberração democrática designada por “partidos do arco do poder”; conivência da comunicação social, em muitos casos acéfala, que por manifesta incompetência parece mais vocacionada para propagandear o poder hegemónico do que para desconstruir os factos políticos, garantindo o mesmo espaço mediático ao contraditório.

E mais grave do que não abrir um espaço para o contraditório é ocupar esse espaço com uma metamorfose da propaganda oficial travestida de contraditório. A opinião de Maria de Lurdes Rodrigues, só para dar um exemplo, é em termos conceptuais a opinião do atual ministro da educação: são econometristas da educação e acreditam cegamente de que é possível melhorar a qualidade do serviço educativo sem contar com os professores. No fundo, fazem parte da mesma família política, a família de “partidos políticos do arco do poder” que nos conduziu ao ponto onde nos encontramos!

Com papas e bolos se enganam os tolos.