Informação é poder.

PE A Parque Escolar, a empresa pública responsável pelo Programa de Modernização do Parque Escolar, reservou às direcções executivas a discussão e eventual participação apenas para os planos de pormenor.

É inegável a urgência de uma intervenção nas escolas face à degradação do parque escolar. Não coloco em causa, obviamente, a pertinência da decisão do governo mas sinto que esta intervenção de fundo nas escolas secundárias poderá ser uma oportunidade perdida na transformação de um modelo de escola baseado num sistema de repetição para um modelo de escola fundado num sistema de produção de saberes. Distingue-se o primeiro sistema do segundo pela introdução de um elemento qualitativamente diferente: o centro de recursos passaria a representar a inversão da lógica do espaço escolar. Isto para dizer que é evidente que as infra-estruturas condicionam a dinâmica de trabalho e a tipologia dos modos de trabalho pedagógico. E o tipo de intervenção que está a ser realizada nas escolas necessitava de uma outra intervenção que não se limitasse apenas a recuperar os espaços degradados. Não deveria ser uma intervenção neutra na medida em que é cada vez mais urgente uma alteração das lógicas de aceder e construir o saber, pelos alunos e professores.

Acompanho o programa de recuperação das escolas pela imprensa e procuro obter informações sobre o assunto junto da direcção executiva da minha escola, que será uma das escolas candidatas à requalificação. Considero que este assunto é demasiado importante para estar reservado às mentes iluminadas da empresa Parque Escolar e às direcções executivas, longe, portanto, das agendas e dos olhares dos professores. Com a proximidade que me é permitida pelas entidades responsáveis, é por demais evidente o secretismo em torno destes projectos. O que vem confirmar o pensamento de Crozier: nas organizações sociais “a informação é poder, e por vezes […] o instrumento essencial do poder”. Não partilhar a decisão e, ainda mais grave, não partilhar a informação, são dois indícios que denotam um modo obtuso de olhar para a escola pública, cada vez menos democrática.

Bitaites sobre a educação

ResPública: Sindicalização dos professores tem efeitos perversos

Braga da Cruz, reitor da Universidade Católica Portuguesa, afirma que a perda de autoridade dos professores é um dos efeitos perversos da sua sindicalização.

“A confiança na escola pública tem vindo a diminuir e para isso o comportamento dos sindicatos tem contribuído largamente.” (RR) vídeo aqui.

Não ouvi na íntegra o programa da RR e só tive acesso aos 2 minutos e 26 segundos que estão online. Do que ouvi, discordo da opinião de Braga da Cruz (BC), embora não possa dizer que discordo dos seus argumentos porque a peça jornalística não os apresentou.

A afirmação de BC parece enfatizar um certo modo de agir de uma organização de classe, não questionando, nessas breves palavras, a indispensabilidade do sindicalismo docente. Poderia fazê-lo, desde que concebesse a docência como uma não profissão. Mas não o fez. O que BC fez foi uma afirmação simplista, demagógica e imprecisa, porque não caracterizou o mau comportamento dos sindicatos. Mesmo que fosse possível definir o nexo causal entre o comportamento de uma organização plural (os sindicatos serão todos mal comportados?), BC teria de considerar, para ser intelectualmente honesto, a mesma relação com todas as restantes organizações e actores intervenientes na construção da escola pública. E se o fizesse, BC que é o reitor de uma instituição de ensino superior que também forma professores para a escola pública, teria de fazer mea culpa e assumir as responsabilidades que lhe cabem neste processo.

Um governo de doidos

Ana Jorge negoceia em segredo devolução das vacinas da gripe A.

A Ministra da Saúde, Ana Jorge, manifestou esta semana à empresa farmacêutica GlaxoSmithline a intenção do Governo português de reduzir a encomenda das vacinas contra a gripe A, avança a edição desta sexta-feira do SOL (Sol)

Pode estar descansada, senhora ministra. Por mim ninguém saberá que meteu o pé na poça.

Excelente notícia para Alegre

O secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, não apoia a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República e garante que será «objector de consciência» se o PS o apoiar. (Sol)

Atente-se no brilhante argumento:

Valter Lemos disse à Lusa que «Manuel Alegre nunca foi primeiro-ministro, nem sequer ministro ou presidente de câmara, ao contrário de todos os outros presidentes da República que tivemos». (Sol)

Eu acrescento, sr. Lemos: Que grande atrevimento candidatar-se sabendo que nunca foi presidente da junta de freguesia, ou presidente dos alcoólicos anónimos, ou presidente do FCPorto, ou secretário de estado do emprego. Vejam só o descaramento de Alegre…

Valter Lemos está muito enganado. Nós, eleitores, é que deveríamos invocar a objecção de consciência enquanto houvesse um Lemos a gravitar na política.

Em busca de um templo perdido

O Conselho das Escolas reúne esta segunda-feira, na Maia, cerca de 700 pessoas, entre especialistas em políticas educativas e directores escolares, para debater a autonomia das escolas e as lideranças necessárias a uma escola melhor na próxima década.

[…] Autonomia e liderança são os dois temas centrais do debate e segundo Álvaro Almeida dos Santos, há estudos que apontam a liderança como o segundo factor mais importante na escola, a seguir ao clima na sala de aula. (Diário Digital)

Sem discordar, devo acrescentar às declarações de Álvaro Almeida: mudar a prática é, antes de mais, um problema de aprendizagem, e não um problema de organização.

O foco aglutinador da mudança, dentro das relações colegiais na escola, deve ser a prática docente do dia-a-dia (Antonio Bolívar). Reúna-se o conselho de escolas. Reúnam-se os directores escolares para buscar o templo perdido…

Nenhum gato se esconde com o rabo de fora…

gato

Imagem daqui

O blogue APEDE divulga uma aplicação que está a ser utilizada em algumas escolas. “Com o GATo, uma aplicação electrónica da família Moodle, de cada vez que quiserem requisitar um simples projector de diapositivos ou vídeo-projector terão de começar por respeitar um mínimo de 48 horas de antecedência para efectuarem a  requisição electrónica (não sabemos se esse prazo difere ou não, de escola para escola, mas é esse o prazo na escola de onde nos chega este relato directo).”

Ora, coloca-se a pertinente questão de saber se esta aplicação pretende ser mais do que um instrumento de gestão de recursos materiais e passar a ser, também, um instrumento de avaliação dos recursos humanos docentes. Como observa a APEDE, o GATo fica “Mesmo, mesmo, a jeito para potenciais classificadores de professores recolherem dados e evidências, relativas à utilização das TIC em contexto de sala de aula. Ocorre-nos questionar:  Será que aqui há… GATo escondido com rabo de fora…?”

Como é evidente, nenhum GATo se esconde com o rabo de fora. Bastaria olhar para o rabo do GATo para que, num ápice, chovessem requisições de material para uso diminuto. O que seria caso para dizer que para uma perversão, perversão e meia.

É que o problema não deveria ser o de saber quem utiliza mais este ou aquele material. A questão é a de saber como o utiliza, se através do seu uso as aprendizagens são mais facilitadas, etc., etc. Tenho para mim que só é possível avaliar a qualidade da docência se o avaliador fizer parte do ecossistema; acompanhar o dia-a-dia e não se transformar num elemento estranho aos alunos e aos colegas. É evidente que o avaliador fazendo parte do processo estará nele implicado e terá constrangimentos, designadamente, a questão da parcialidade. Enfim, não há bela sem um senão… mas já seria tema para uma outra conversa.

Santana Castilho, o profeta.

O Luís Costa, no blogue Dardomeu (ler AQUI) lançou o desafio aos partidos: quem apresentar e se comprometer eleitoralmente com o nome de Santana Castilho (SC) para ministro da Educação contará com o seu voto, não necessitando de escrever mais nenhuma linha programática sobre Educação.

image Santana Castilho tem sido uma voz crítica às políticas erráticas do senhor Pinto de Sousa. Ao longo dos últimos anos de governação socialista, SC mostrou-se um excelente aliado dos professores na luta contra as aberrações legislativas produzidas pelo ME e nenhum professor deixará de reconhecer a importância das suas crónicas, normalmente bem fundamentadas, na alteração do senso comum a respeito da imagem dos professores. SC aproveitou com mestria a passerelle da comunicação social durante este período funesto para o sistema escolar e os professores. O maior contributo de SC para a causa do professorado terá sido o aclaramento do óbvio para quem está (ou já esteve) no terreno, mas que é demasiado fosco para aqueles que falam da escola a partir de dois quadros de referência: as experiências pessoais vividas nos bancos de escola e os testemunhos veiculados pel@s herdeir@s que ainda a frequentam.

Dito isto, e ficando claro que tenho um elevado apreço por SC, fico perplexo se a discussão que o LCosta suscitou, e que mereceu desde logo uma adesão espontânea de alguns bloggers e comentadores, é para ser levada a sério, ou se é um daqueles exercícios académicos que não escapam numa boa tertúlia de compinchas.

Admitindo a minha perplexidade, isto é, acabo por aceitar a primeira hipótese, por reduzirmos estas questões a uma questão de fé, não entendo como é que um ministro pode defender uma política sectorial desfasada da política global de um governo. A não ser que prevaleça a crença de que é exequível uma política monocromática sectorial, o que a acontecer isso revelaria, como direi sem ofender, uma deliciosa candura de quem assim pensa. E por falar em candura, o exemplo do PSD e o modo como este partido geriu as suas promessas eleitorais dever-nos-ia levar a pensar que a coisa política não deve misturar-se com o religioso. Mas isto sou eu, um incorrigível herege, a pensar em voz alta.

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PS (salvo-seja): Ao jeito de provocação, não deixa de ser curioso ver o Octávio, um defensor anti-rebanho quando se trata das questões sindicais, assumir agora a sua lealdade a um pastor da causa do professorado.

Os limites da representatividade sindical ou uma janela para os Mercados

O desacordo entre os professores acerca das vantagens do Acordo apela, uma vez mais, à discussão sobre o significado, o alcance e os limites da representatividade sindical. Há quem considere que os sindicatos ousaram assinar um acordo com o ME sem legitimidade para o fazer, na medida em que esse acordo não foi, como deveria ter sido, referendado pelos professores; Há quem se sinta defraudado com os termos do acordo acusando os sindicatos de inépcia por não terem interpretado os sinais do descontentamento dos professores; Há quem considere que os sindicatos fizeram um bom acordo face às circunstâncias políticas; Há ainda outras posições mescladas conforme os quadros de referência adoptados para a análise da situação.

O JPaulo acaba por polemizar este tema, com oportunidade, deixando-nos uma pista de reflexão: “o que pensam da ideia de que este acordo só se deveria aplicar a quem fosse sindicalizado nos sindicatos que o assinaram. Sim… isso, quem não é sindicalizado fica com a carreira Maria de Lurdes e os que são nos sindicatos não subscritores também… O que acham que escolheriam os professores? O ECD do acordo ou o ECD Maria de Lurdes?”

E quando a Terra gira ao contrário?

Pais defendem ajuste no horário

A maior associação representativa de pais e encarregados de educação (Confap) defende que os horários dos professores têm de ser reduzidos, tal como pretendem os sindicatos, que amanhã vão negociar o tema com o Ministério da Educação. "Os professores, em especial em início de carreira, têm horários brutais e há ajustamentos a fazer. Têm 22 horas semanais para aulas e 13 para componente não-lectiva, mas muitas vezes trabalham mais do que essas 13 horas e têm de tirar tempo às suas famílias para preparar aulas", disse ao CM Albino Almeida, presidente da Confap. (Correio da Manhã)

hummm… quando a esmola é grande o pobre desconfia!

O verdadeiro blogger é aquele que ejacula opiniões mais qualificadas.

Escrevia eu mais em baixo que é muito difícil formatar o juízo dos professores porque são profissionais qualificados, logo, têm por hábito beber nas fontes ao invés de beber pelo copo dos aguadeiros que inquinam as páginas dos jornais.

De repente deu-me para questionar algumas verdades,… cada vez mais incertas, até que emerge a pergunta retórica: Quantos professores beberam na fonte? Quantos professores leram o tal documento, aquele mesmo que nos tem permitido, a nós bloggers de referência (espero que me tolerem a graçola 8) ), ejacular opiniões?

Claro que não tenho audiência suficiente para tomar o pulso à classe. Mas pelo que me é dado observar, hummmm… não sei não!?

Os aguadeiros da desgraça

(Nicolau Santos –Expresso) nicolau

As opiniões desfavoráveis sobre o acordo veiculadas por jornalistas e outros fazedores de opinião afectos ao governo valem o que valem. Direi o mesmo das opiniões que sopram em sentido contrário, como é a paradoxal opinião do Sr. Engen… oopss, do Sr. Pinto de Sousa que já veio dizer que fez um bom acordo e que ganhou a batalha contra os sindicatos (se não o disse deste modo a coisa andou por lá perto).

Claro que este tipo de opiniões não devem formatar o juízo dos professores, porque um profissional qualificado, como é um professor, tem por hábito beber nas fontes ao invés de beber pelo copo de aguadeiros que infectam as páginas dos jornais.

Não deixa de ser curioso verificar que havia uma espécie de trégua velada dos arautos neoliberais acólitos do governo, que agora decidem vir a terreiro defender a tese catastrofista de que o défice das contas públicas vai sofrer um rombo com este acordo com os professores.

Também por isto, mas principalmente pela substância do que foi acordado,  considero positivo os sindicatos terem interrompido a luta com ganhos para os professores. É para mim claro que houve um boa capacidade de interpretação do mosaico fluído em que se joga a decisão política. Talvez tenha sido esta a razão pela qual os articulistas que apadrinharam as medidas de Maria de Lurdes Rodrigues se sintam defraudados pela inversão do sentido das reformas e apareçam agora a lamber as feridas em público.

Lamento, meus caros…

Adenda: Olha, olha, eles aí estão! Os arautos neoliberais que aplanaram o caminho para a anterior equipa do ME regressam cheios de força repetindo a tese das benesses e das mordomias para os professores. Será que ainda vende o conto do vigário?

in: http://ocantinhodaeducacao.blogspot.com/2010/01/os-professores-so-querem-dinheiro.html

Navegar na onda do descontentamento e a correcção das iniquidades.

O acordo assinado pelos sindicatos mais representativos de professores e o ME é um Bom acordo por três razões fundamentais:

1. Permite estagnar uma tendência de degradação do estatuto socioprofissional dos docentes;

2. Recupera o conteúdo funcional dos professores e faz da docência o cerne da profissionalidade (a carreira única);

3. Permite recuperar algumas perdas face ao actual ECD (de 2007 e 2009).

A transferência do palco negocial para o parlamento seria positivo para os professores se o acordo parlamentar gerasse um consenso mínimo entre os partidos da oposição que têm visões antagónicas da escola e da função docente. Ora, sendo esta uma hipótese inverosímil face à “dança” parlamentar, era muito provável a balcanização da oposição através da apresentação de soluções avulsas que seriam, como o foram anteriormente, obstaculizadas pelos restantes partidos. O acordo PSD/PS seria inevitável atendendo à responsabilidade do PSD no adiamento da solução e o acordo entre estes dois partidos políticos, cujas políticas neoliberais são por demais conhecidas, não augurariam nada de bom.

Predizer uma solução parlamentar, que vergasse o PS impondo-lhe uma solução que aprouvesse as reivindicações dos professores, é um exercício demagógico que visa navegar na onda da insatisfação dos professores em geral e dos mais prejudicados em particular. Percebo que alguns movimentos de professores e um conjunto de sindicatos menos representativos de professores tenham cedido à tentação de capitalizar o descontentamento geral, mas nenhuma destas organizações estará em condições de afirmar a garantia de uma solução mais vantajosa para os professores em consequência de um acordo parlamentar entre os partidos da oposição.

Apesar de me congratular com a solução negociada, não me resigno com as iniquidades que o acordo global não foi capaz de resolver. O Ricardo do blogue ProfLusos formula uma questão que faz parte de um pacote de assuntos a sugerir a acção protestativa durante as futuras negociações com o ME: O que irá acontecer em questões de reposicionamento aos colegas contratados que entretanto (ou seja, em 2011) consigam entrar em Quadro de Escola não agrupada ou Quadro de Agrupamento?

A questão pode ser, a meu ver, simplificada: quando e como é que os professores, que estão ou venham a integrar a nova estrutura da carreira, vão ser ressarcidos pelo facto de não ser considerado o tempo total de serviço efectivo?

Aguardemos pelos próximos capítulos…

O coro do Vital

Fora do coro

[Publicado por Vital Moreira] [Permanent Link]

Não acompanho a congratulação geral pelo acordo entre o Ministério da Educação e os sindicatos dos professores. Quando se cede em quase tudo, como sucedeu do lado governamental, é fácil concluir acordos. Quando se busca "a outrance" a concordância dos interessados, é sempre a parte pública que perde.
Com o acordo, quase todos os professores chegam ao topo da carreira com o decurso do tempo, mesmo os que nunca passem do mediano e corriqueiro "bom" na avaliação, o que não tem paralelo em nenhuma outra carreira no sector público (muito menos no privado evidentemente). É como se todos os militares tivessem garantida a chegada a general, ou todos os funcionários públicos a subida a assessor principal.
É evidente também o forte impacto deste regime sobre as finanças públicas e sobre o sistema de pensões, numa época em que a contenção da despesa pública vai estar na ordem do dia nos próximos anos.

Se o Dr. Vital Moreira diz que o Acordo é mau para o governo, já posso dormitar tranquilo: É porque o Acordo é Bom para os professores!

A tranquilidade vai voltar às escolas?

Pergunta o Público: “A tranquilidade vai voltar às escolas? As perdas de qualidade do ensino, por via do prolongado conflito agora encerrado, são irreparáveis? Ou, pelo contrário, existem agora mais e melhores condições para inverter o caminho? Seis respostas sobre o que espera a educação em Portugal.”

Pelo teor das respostas, presumo que @ jornalista do Público questionou o inquiridos com a questão genérica: Que portas abre o acordo entre o Governo e os sindicatos?

Mas como ninguém respondeu directamente à questão, eu insisto: A tranquilidade vai voltar às escolas?

A minha resposta é Não! A tranquilidade, a paz, ou a acalmia, não vai voltar porque nas escolas continuam os mesmos professores e as relações profissionais não se alteram com acordos de intenções (ou de princípios).

O individualismo é uma marca inexorável da cultura profissional docente. Ver mais longe do que a distância do próprio umbigo é um desafio imenso que se coloca aos professores. É evidente que não estamos perante um problema novo. O individualismo é uma forma de cultura profissional. A investigação avança com dois tipos de explicação para os factores que determinam o individualismo. No primeiro e mais tradicional, o individualismo é associado à desconfiança, aos comportamentos defensivos e à ansiedade; a defeitos e fracassos dos professores, que seriam em parte «naturais» e em parte resultado das incertezas do seu trabalho. (Hargreaves)

Bastou acenar com um sistema de avaliação invasiva, que entra pela sala de aula dos professores, para que se confirme a tese de Hargreaves (David): «O culto do individualismo», defende ele, «tem infectado profundamente a cultura ocupacional dos professores». Estes «guardam ciosamente a sua autonomia». Não gostam de ser observados, e ainda menos avaliados, porque receiam as críticas que podem acompanhar tal avaliação.

Ora, regressando um cenário de avaliação invasiva, voltará a intranquilidade. E como a avaliação está agregada à progressão na carreira, e como só a avaliação dentro da sala de aula permitirá acelerar na carreira, a paz podre desapareceu irremediavelmente das escolas.

Habituem-se! Ou resignem-se! Ou deixem-se de umbiguismos e privilegiem a acção Política!

A farsa contada pela Maria Lisboa

E depois falem-me de mérito, de incentivo, de vontade de dar mais à escola…

Não me tem apetecido escrever ou falar da vergonha que tem sido tudo o que se tem passado em termos de avaliação, não só por culpa do ME, mas mais por culpa de muitos colegas… e são estes últimos que mais me desanimaram com a sua postura de subserviência, de medo, de não me comprometo, de, em alguns casos, deixa andar que eu estou safo…
Foram nuns casos os equívocos, noutros as pressas, ainda noutros a falta de orientações concretas e atempadas. Tudo isto, associado às prepotências de avaliadores e directores, fez com esta avaliação se transformasse numa opereta de mau gosto só aplaudida pelos encenadores e pelos coreógrafos.
Eu que sou de desporto, nunca consegui perceber como é que as regras variam dentro de um campeonato, de como é que se vão inventando regras à medida que o jogo vai decorrendo e como é que a minutos do apito final os árbitros ainda nos vêm dizer que falta aplicar algumas regras.
E eu que sou de educação física sei que há diferenças entre uma coisa chamada desporto e outra chamada jogos tradicionais e/ou populares. E essa diferença é enorme. E é essa grande diferença que faz a diferença naquilo que nos está a acontecer com esta avaliação. Estamos a fazer jogos tradicionais numa coisa que é um campeonato desportivo.
Para quem não sabe, a diferença que separa estas duas matérias é a sua forma de regulamentação. No desporto, todas as modalidades se jogam com as mesmas regras em todo o mundo. Nos jogos tradicionais, para um mesmo jogo, as regras variam de país para país, da minha rua para a tua rua. E é este o grande problema desta avaliação, cada um joga com as regras da sua rua para depois ser comparado no campeonato do “mundo” inteiro.
Num dia, por coincidência, o mesmo em que o “outro” brindou a assembleia com um par de cornos, mostrando a todos a idoneidade dos nossos “eleitos”, tive que estar numa “acção” sobre classificação (está entre aspas porque uma acção com a importância desta se resumiu a uma informação de 4 horas). Quer isto dizer que esta “acção” que deveria constituir um dos preliminares deste processo, é a parte final do dito.

E depois falem-me de coerência, de boa gestão, de boas práticas, de coisas pensadas com tempo.

Nessa acção, para além de ter tido a certeza de muitas coisas que eu vinha defendendo como obrigatórias e imprescindíveis, de acordo com a legislação em vigor, e que não existiam na maioria das escolas/agrupamentos, fiquei a saber como se iria processar a dita classificação, isto é, a transformação de uma dita avaliação de desempenho num processo de seriação de professores.
Para começar a formadora informou-nos de coisas, pelas quais me consideravam louca quando eu chamava a atenção para a sua não existência, tais como as que se seguem.

Para qualquer “evidência” pedida tem que haver instrumentos de análise e respectivos critérios de êxito. Portanto, aquela gente que andou a pedir “portafolhas” com tudo e mais alguma coisa, teria que ter uma folha de análise com os respectivos critérios definidos e bem expressos e divulgados a toda a comunidade, assim como o respectivo registo avaliativo para cada uma das evidências pedidas. Que eu saiba, da minha escola e das escolas de colegas com quem falei, nada disto existiu e quando existiu constava de umas generalidades, onde a apresentação, a quantidade e outros itens semelhantes eram os factores a ter em conta. Teria de haver, estabelecidos em tempo útil, critérios de diferenciação para o caso dos Exc e MB excederem as quotas poder haver um desempate criterioso. Também, todos s itens do director teriam que ter indicadores e critérios de êxito bem definidos e que permitissem a diferenciação. Por exemplo, teria que haver uma definição do que era o empenho e de como se diferenciava (assim como de todos os outros parâmetros). Um dos exemplos que deu foi: aula de substituição – deu a aula, cumpriu o serviço; deu a aula, elaborou uma ficha de revisão, falando do que fez, do que ficou por fazer, das dúvidas que ficaram nos alunos, etc – cumpriu mais do que apenas o serviço, (claro que isto é quase impossível de realizar porque não faríamos mais nada do que andar com um bloco para registo de tudo e mais alguma coisa), mas foi o exemplo que deu para mostrar que as coisas não deviam ser feitas a olhómetro, como aconteceu em quase todo o lado, por não haver indicadores, especialmente no que diz respeito à avaliação dos directores, que permitissem medir a diferença (pelo que ouvi, raros teriam indicadores para os seus parâmetros).
Cingindo-me, nesta breve mostra de como tudo isto não passou de folclore, vou falar apenas das indicações para a avaliação do director que a foi a que aconteceu para a maioria de nós.
Como eu defendia e a maioria dos directores (e mesmo o ME) não queria aceitar como legal, no ponto A1, respeitante à assiduidade, todos teriam que ter Excelente (10). A não ser que se tivesse sido suspenso, preso ou tivesse faltas injustificadas, todos estavam dentro da lei e não poderiam ser prejudicados desde que não tivessem ultrapassado os limites previstos na legislação. A lei, especialmente quando essa lei é geral, não pode conduzir a penalizações determinadas em leis “menores”.
Punha-se então o caso do ponto A2 – o empenho. E era aqui que teria que ser feita a compensação à assiduidade, foi esta a sugestão da formadora para não sobrecarregar a Comissão de Avaliação com a escolha dos “premiados com o mérito”. E foi aqui que muitos directores (como o meu) resolveram utilizar o factor de compensação, dando regulares e insuficientes para compensar os excelentes do A1. A maioria sem critérios estabelecidos, sem indicadores que fizessem a diferença.
E como o A valia a dobrar também foram compensando “porifora”.
Só que este problema só se punha com a possibilidade dos Exc e dos MB.
Poucos foram os que não perceberam que não tinham que fazer compensações porque se não havia aulas assistidas (para a maioria), não tinham mais do que dar a notação que cada um valia, sabendo de antemão que todos teriam Bom. E houve Bons com 8 e com 9 em algumas escolas demonstrando o real valor das profissionais. E houve outras em que as pessoas foram avaliadas com as compensações tendo que ter notações “negativas” mesmo que não as merecessem para compensar a assiduidade.

E depois falem-me de mérito, de incentivo, de vontade de dar mais à escola.

Estes foram alguns dos problemas desta avaliação que por si só a tornou uma fantochada.
Mas isto agrava-se quando ficamos a saber que a primeira coisa que o director tem que fazer, quando inicia o processo de classificação on line, é “parametrizar a ficha”, isto é, abrir as fichas e transformá-las de acordo com a escola. Por exemplo, não vai avaliar o A5, assinala-o e esse campo passa a “não aplicável” e desaparece da ficha, ou pode alterar o texto de um parâmetro, ou acrescentar um parâmetro, etc.
Vocês sabem quais os parâmetros (e em que moldes) em que os vossos directores vos avaliaram? Eu, até hoje, continuo a não saber. Não faço a mínima ideia…
Depois da parametrização o director inscrevia em cada professor a sua condição de avaliado: coordenador, avaliador, avaliado, com aulas assistidas, sem aulas assistidas, etc. Conforme a “condição” do professor assim se abriam ou fechavam campos de classificação.
Para além disto, como explicou a formadora, o avaliador apenas tem que inscrever, no parâmetro, a avaliação qualitativa atribuída ao professor. Explicou mais, explicou que automaticamente o programa assume essa avaliação pelo valor máximo. Por isso me tem feito tanta confusão algumas notações que foram aparecendo aí pela blogosfera, nomeadamente umas que davam resultados até às milésimas.
Tanto quanto sei, também os avaliadores de aulas assistidas entraram nesta brincadeira das compensações para não criar problemas à comissão. Em cada “categoria” foram determinadas, a priori, as pessoas que iriam ter mérito e depois as avaliações/classificações foram atribuídas de acordo com essa determinação. Isto passou-se numa escola onde todos tiveram, obrigatoriamente, aulas observadas nos 2 anos (a titulo experimental, foi o que foi dito e decidido em CP). Só que este a título experimental, foi obrigatório e teve resultados! Resultados que diferenciam! Resultados que vão contar para a carreira! Resultados que colocam em cheque as quotas porque muitos professores se sentiram prejudicados porque comparativamente, dentro dos grupos, as diferentes categorias em resultado das compensações viram o seu trabalho não valorizado nuns casos e sobrevalorizado noutros.

E depois falem-me de mérito, de incentivo, de vontade de dar mais à escola.

E nem vos conto o meu caso e o caso da minha escola porque nem vale a pena!

in: http://professorsemquadro.blogspot.com/2010/01/e-depois-falem-me-de-merito-de.html

Um bom Acordo.

aperto-de-maos Não sendo um acordo perfeito, se considerarmos o cenário macabro criado pela anterior equipa ministerial os sindicatos fizeram um bom acordo.

Uma colega que esteve sempre na 1ª linha da Luta pareceu agastada com o teor do Acordo porque não discernia diferenças significativas face ao quadro anterior.

Discordei e aleguei:

1. A carreira do professores volta a ser ÚNICA, sem qualquer diferenciação iníqua, e todos os professores poderão ascender ao topo da carreira, apesar das vagas de acesso ao 5º e 7º que, isto é importante, retardam o acesso a alguns professores classificados com Bom e que não serão impedidos de aceder aos escalões mais elevados (graças à introdução de um factor de ponderação na classificação);

2. Os professores contratados que estão a servir o sistema serão dispensados da prova de ingresso;

3. Os relatores têm de ser obrigatoriamente do mesmo grupo disciplinar do avaliado;

4. Há várias matérias que já foram acordadas embora não surjam reflectidas neste acordo porque não têm que ver directamente com a carreira, designadamente, o novo concurso de professores no próximo ano e nesse concurso não haverá ultrapassagens que decorram das avaliações de Excelente e Muito Bom do período de avaliação anterior;

5. O ME comprometeu-se a rever o diploma de gestão escolar, o Estatuto do Aluno, e depurar o ECD em aspectos que têm que ver com o horário de trabalho e com o regime de faltas.

É verdade que este acordo de princípios não rompe radicalmente com o passado mas é para mim claro que inverte o sentido das mudanças operadas pela anterior equipa ministerial.

É um Acordo que ficará aquém das nossas expectativas se nos focarmos apenas no almejado!

É um Acordo que superará as nossas expectativas se o analisarmos com pragmatismo face à inversão de um roteiro de degradação do exercício da profissão docente implementado pela anterior equipa do ME!

Adenda (14.44): Mantêm-se o problema da inexequibilidade da avaliação do desempenho! Voltarei a este assunto.

O Linux que eu defendo para a Escola.

Defendia eu no texto precedente que nos faz falta Ubuntu na profissão docente! A IC desafiou-me a aclarar a minha ideia angelical explicando o como. Como é que os atributos – simples, seguro, discreto e… grátis fazem muita falta na profissão docente?

Começo pelo último atributo para reafirmar a minha convicção de que não há sistemas grátis assim como não há almoços grátis. Apesar do Linux apostar em software gratuito, é imperativo manter o hardware actualizado. Uma Escola grátis não tem de ser uma Escola pobre. O maior investimento terá de ser realizado nos suportes físicos e humanos – o hardware, para que a cultura possa ser impregnada nos alunos por intermédio da Educação (escolar) – o software. A gratuitidade que o Estado deve garantir para a Educação não dispensa uma aposta clara no sistema escolar. Bom e barato? No olhinho… Bem, escuso-me a terminar a frase e reproduzir a expressão de uma feirante, no mercado do Bolhão, depois de uma cliente insistir no abatimento ao preço do produto.

É por este motivo que defendo uma mudança no sistema operativo e estou desejoso pela metamorfose do sistema escolar. E porquê? Por tudo aquilo que tenho defendido neste cantinho e que passo a sintetizar: a escola mercantil, sim, esta escola (neo)taylorista que o senhor Pinto de Sousa nos quer impingir, castrará as novas gerações daquele património cultural mínimo que qualquer Escola tem o dever de ministrar. Esta é a primeira mudança operativa que ambiciono para a “minha” Escola. E até suspeito que há um projecto de escola capaz de inverter o rumo que foi traçado por uma casta de burocratas neoliberais. Essa Escola poderia ser a Cultural ou outra Escola qualquer que bebesse da filosofia da Escola Pluridimensional que foi “inventada” por MFPatrício. A mudança de sistema operativo não requer apenas uma mudança de filosofia. Reclama também uma mudança organizacional: Desde a organização do currículo, que deverá ser predominantemente orientado para uma formação geral de saberes embora nos anos terminais da escolaridade secundária se admita um “cheirinho” de especialização – uma espécie de antecâmara da formação profissional; à formação contínua de professores que deve estar centrada nas escolas e determinada pelas necessidades efectivas dos professores mas sempre desligada das contendas de carreira; às questões da afectação dos recursos que não poderão depender de modismos, dos Magalhães e de outros populismos eleitoralistas; de uma gestão escolar democrática que se borrifasse para os referenciais do economês e se preocupasse com os referenciais pedagógicos que, paradoxalmente, adornam a Lei de Bases do Sistema Educativo; de uma cultura docente menos balcanizada e mais cooperativa, mais responsável e menos esquiva às questões da Política;…

É este o Linux que eu defendo, IC! 🙂

Faz falta um Ubuntu na profissão docente.

images Por falta de assunto? Pelo cansaço? Pela excelente saidinha de fim-de-semana?

Não me faltam motivos para justificar o apagão de ano novo. De facto, não foi o esmorecimento, nem a regeneração. Foi uma mudança profunda, substantiva, de sistema operativo. Simbolicamente, é uma mudança que há muito desejo para a minha profissão. Uma espécie de mudança que toque o religioso: a alegoria da caverna aplicar-se-ia perfeitamente.

Não se trata apenas de um processo de conversão, de uma passagem do Windows (7) para o Linux, mas de algo radicalmente diferente: é um passadiço para um sistema verdadeiramente livre, embora, confesso, continuo com algumas amarras do Office por desprender. Este Ubuntu, na sua versão 9.10, surpreende pela flexibilidade e pelas imensas possibilidades no ambiente de trabalho.

E que falta nos faz um Ubuntu na profissão docente!…