Os lambe-botas

As DRE’s nomeiam as comissões executivas transitórias sem divulgar os critérios que presidiram às escolhas, o que não obsta, bem pelo contrário, as teses de compadrio e de suspeição de favores mal ou bem amanhados.

No meio deste clima pouco transparente ainda é possível observar, por entre as brechas de alguma racionalidade, um rodopio tresloucado de serviçais que buscam guarita no novo dono.

Deprimente e execrável!

Bandeira a meia-haste

O lugar do desporto numa sociedade moderna deve emergir da sua dimensão holística. Reduzir o desporto às suas dimensões comercial e industrial – é o mesmo que o subjugar às regras de uma economia capitalista onde o espetáculo é o ópio do povo – é amputá-lo de dimensões que catapultam o sujeito para níveis superiores de desenvolvimento: Refiro-me concretamente à prática desportiva devidamente orientada e ao desporto como instrumento educacional, duas prioridades governativas que nenhum governo pode negligenciar. Quando um governo opta por camuflar o que é essencial preferindo relevar o que é acessório numa lógica desenvolvimentista, opta pelo simulacro em vez da política responsável.

É exatamente a triste realidade a que assistimos incrédulos, mas impávidos. É uma lástima o oportunismo conivente da comunicação social que parece apenas interessada em navegar a onda do negócio.

A bandeira do desporto português está a meia-haste!

Um atentado à Educação

Este blogue não é, e não vai ser certamente, um blogue de Educação Física. Mas é um blogue de Educação. E como não há Educação sem Educação Física, há que denunciar o atentado à Educação que este MEC engendra pela via da revisão curricular.

Se pensa que estou a exagerar, veja o vídeo do professor José Soares e considere as razões mencionadas.

Está aqui: http://www.josesoares.pt/2012/06/ef-nas-escolas-isto-e-bem-pior-do-que.html

NÃO HÁ EDUCAÇÃO SEM EDUCAÇÃO FÍSICA

Leonardo Rocha

Coordenador do grupo de especialistas que elaborou as Metas de Aprendizagem da Área curricular de Educação Física

O conhecimento das medidas anunciadas no documento “Matrizes curriculares dos Ensinos básico e secundário” causou-me estranheza, preocupação e indignação, quer pela forma, quer pelas consequências, nas resoluções que apresenta para uma problemática tão sensível e emergente da sociedade portuguesa.

Pela forma, porque se trata de uma medida encapotada na pretensa delegação de autonomia às escolas. Delegar competências implica assegurar a todos os decisores a melhores condições estruturais e organizativas para que as suas decisões possam ser assumidas em plenitude de direitos e obrigações. Os constrangimentos atuais e herdados com que as escolas se debatem, a falta de uma cultura que dê visibilidade à necessidade e utilidade da Educação Física escolar, o descompromisso formativo de quem nos governa, conduzirão, naturalmente, alguns decisores locais a procurar soluções administrativas que, reduzam custos, facilitem a organização dos horários e desmobilizem o envolvimento crítico e democrático dos diferentes agentes educativos. Poderão as escolas decidir que não querem mais horas de matemática?

Ainda pela forma, porque ignora os consensos científicos e pedagógicos conseguidos pela prática e reflexão de centenas de docentes de vários níveis de ensino e áreas de formação, para quem os curriculum devem ser uma unidade estruturante fundamental de organização e gestão da vida das escolas. Como exemplo refira-se a suspensão, sem que se conheçam os motivos, das “Metas de Aprendizagem”. O que temos hoje? Umas servem, outras não! Algumas estão publicadas, outras… ainda não! Quando o mais importante foi o processo de esclarecimento e aproximação entre especialistas de todas as áreas curriculares dos Ensinos básico e secundário, informa-se (decide-se) que a “decisão” de distribuir a carga horária cabe a um órgão de escola cada vez mais burocrático e administrativo.

Pelas consequências, porque ao ignorar pareceres e recomendações de vários organismos internacionais e nacionais conceituados (Comissão Europeia, Parlamento Europeu, Parlamento Português, Organização Mundial de Saúde, entre outros), diminui a participação da área curricular “Educação Física” na identificação e resolução de problemas emergentes da sociedade portuguesa – sedentarismo e obesidade. Quando a generalidade dos estudos realizados em todo o mundo sugerem que se deve aumentar o tempo de prática de atividade física na escola entre as crianças e os jovens, o diploma “Matrizes curriculares para os Ensinos básico e secundário” reduz a possibilidade dos alunos terem acesso a um recurso essencial para o seu desenvolvimento – a prática orientada de atividade física. Retirar aos alunos tempo de prática curricular impede-os de consolidarem competências fundamentais á procura e habituação a um estilo de vida ativo no futuro! Remete-os para zonas nebulosas onde usufruir de uma atividade física regular depende de “gostar” ou “ter jeito”, como se o sedentarismo, considerado já em alguns países como doença, fosse um comportamento aceitável.

Ainda pelas consequências, porque explicitamente transmite, de novo, a ideia que a área curricular da Educação Física não é importante, depende de boas vontades, poderá mesmo ser facultativa. Quando, de novo, se engloba a Educação Física numa denominada área de Expressões, oculta-se o seu principal campo de intervenção, escamoteia-se a importância dos conteúdos que ensina, desprezam- se os argumentos da comunidade científica da área. De novo a imagem de Educação Física que trespassa a professores, alunos e pais é desvalorizada nos seus objectivos e desvirtuada dos seus propósitos.

Tudo isto é exatamente o contrário do que precisávamos.

Promover a atividade física na escola e fora dela é um imperativo nacional que não pode estar dependente de governações a prazo.

Não há Educação sem Educação Física.

Educação Física – Parecer elaborado pelo CNIPE (Conselho Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação)

Parecer sobre a contabilização da classificação de Educação Física na média do Ensino Secundário para efeitos de ingresso no Ensino Superior.

(…) a CNIPE entende que a obrigatoriedade da sua frequência se deve manter, e a sua nota ter o mesmo peso que as demais disciplinas, podendo no entanto, a sua avaliação ser feita de acordo com as competências demonstradas pelos alunos, e não pela sua capacidade de execução dos conteúdos, privilegiando assim, uma atitude positiva para superar constrangimentos individuais, valorizando o esforço empregue e motivando a adopção de um estilo de vida saudável, numa sociedade que não o valoriza.

(…) No que respeita ao acesso ao ensino superior, e como última opção a CNIPE julga que se forem consideradas as três melhores classificações das quatro disciplinas do tronco comum, desde que se considere sempre a(s) especificas se cria maior igualdade nas condições de acesso, com base na valorização das competências individuais.

Ler o parecer aqui.

Há argumentos que servem,… este não!

Corro risco de descontextualizar a discussão que terá levado o Paulo a escrever este post. Mas não resisto a comentar esta afirmação:

Mas voltando ao que disse, acho que mais do que quais poderes punitivos das escolas ou professores ou imposições exteriores, muitos alunos precisam desenvolver um mínimo de auto-controle e auto-disciplina, de forma a não confundirem criatividade e liberdade com a busca permanente de satisfação dos seus desejos ou desenvolvimento pessoal com total descontrole de um ego dominado pelas necessidades e um id desmesurado.

Se os exames podem ter um papel positivo, entre nós, no nosso contexto específico, para isso? Acho quem sim e que há adultos que deveriam, de uma vez por todas, resolverem os seus traumas infanto-juvenis.

É fácil de demonstrar a fragilidade do argumento da auto-disciplina e de auto-controlo que evoca o Paulo Guinote em defesa dos exames nacionais.

Dizer que um aluno com um mínimo de auto-controle e auto-disciplina fica mais apetrechado para resolver uma prova de exame (dominando a matéria em avaliação, obviamente) é uma coisa; Outra coisa bem distinta é considerar que um exame desenvolve essas capacidades, o que é falso. Os exames funcionam aqui como qualquer outra competição a que o aluno é sujeito, como a competição desportiva por exemplo: Os exames, como qualquer outra prova, permitem expressar essas capacidades. E quanto mais importante e mais exigente for a prova ou competição, mais relevante é o treino. E as capacidades de auto-controle e de auto-disciplina não são exclusivas do treino para exames nacionais.

Fazendo uma ponte entre este assunto e aquele que me tem ocupado nos últimos dias (mais precisamente, o erro crasso da desvalorização sob diversos formatos da disciplina de Educação Física), não percebo como os defensores da massificação dos exames nacionais (e esta não é para o Paulo porque já se demarcou desta posição do MEC) não aproveitam precisamente o contributo da disciplina de Educação Física.

Saber como e em que áreas disciplinares mais se desenvolvem e se treinam o auto-controle e auto-disciplina, saber que estas capacidades não se reduzem à sua aplicação em provas de exames e que são treinadas para apetrechar o aluno de forma a saber gerir as situações de stress do seu quotidiano, escolar e não escolar, são saberes básicos que nenhum ministro devia descurar.

Voltando ao equívoco do Paulo: nunca me passou pela cabeça defender a necessidade de obrigar todos os alunos à realização de competições desportivas, só porque aí se revelam as capacidades físicas, volitivas e cognitivas, incluindo aquelas a que o Paulo fez referência.

Não faltarão, certamente, argumentos mais consistentes para defender os exames nacionais, alguns dos quais são desenvolvidos no seu blogue. Mas convenhamos… este argumento, nem ao diabo lembra.

Matrizes curriculares – Tomada de posição _Professores catedráticos

Exmo Senhor

Ministro da Educação Prof. Doutor Nuno Crato

Excelência

A publicação do documento “Matrizes Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário” suscita-nos a maior perplexidade, no que à disciplina de Educação Física diz respeito, dadas as suas implicações na formação e desenvolvimento harmonioso dos alunos e nas consequências que necessariamente terá na sociedade portuguesa.

Não se vislumbram razões de ordem pedagógica e científica nas medidas adoptadas. Pelo contrário, são decisões que contrariam não só recomendações de instituições internacionais credíveis (Comissão Europeia, Parlamento Europeu, Organização Mundial de Saúde, para citar apenas algumas), mas também a própria evidência científica.

Refira-se um exemplo:

Childhood is an important period to instil a preference for healthy behaviours, and to learn the life skills necessary to maintain a healthy lifestyle. Schools clearly play a crucial role in this respect. This is also an area where there is already firm evidence of the effectiveness of intervention: studies show that locally focussed actions, with very wide ownership, targeting 0-12 year olds will be effective in changing behaviour in the long run. Work should focus on nutrition education, and on physical activity. Health education and physical education are among priority themes in the new Lifelong Learning Programme (2007-2013)(In, White Paper “A Strategy for Europe on Nutrition, Overweight and Obesity related health issues”, 2007,Commission of the European Communities, 2007, pag. 8).

As chamadas de atenção da parte da Comissão Europeia foram feitas considerando que:

1) Estão muito bem documentados os benefícios para a saúde da prática das actividades físicas e desportivas na infância, na adolescência e na idade adulta.

2) É muito preocupante a percentagem de crianças e jovens que apresenta baixos níveis de actividade física. A situação apresenta-se particularmente grave nas raparigas, nas crianças e jovens portadores de deficiência, e nos alunos oriundos de famílias com fracos recursos económicos.

3) É cada vez maior o número de crianças e jovens com excesso de peso e obesidade, como resultado de uma dieta inadequada, ou pouco variada, e reduzida actividade física.

4) As crianças e jovens sedentários estão mais predispostos a converterem-se em adultos inactivos.

5) Reconhece-se não ser possível resolver o problema do sedentarismo e da obesidade nas crianças e jovens sem o contributo da Escola e da Educação Física.

Acontece que, infelizmente, Portugal está entre os Países com taxas mais elevadas de sedentarismo e obesidade entre a população infantil e juvenil. Assim, torna-se totalmente incompreensível a decisão de reduzir a carga horária da disciplina de Educação Física no 3º ciclo e no ensino secundário, ou deixá-la à decisão última das Escolas.

Procurar solucionar o fraco rendimento escolar dos estudantes portugueses, em algumas áreas disciplinares, à custa da redução do tempo lectivo atribuído à Educação Física, é um preconceito que não tem qualquer sustentação científica, e que terá necessariamente efeitos perversos no desenvolvimento harmonioso da população escolar e agravará os custos do país com a saúde pública.

A decisão do Ministério da Educação e Ciência de reduzir a carga horária da Educação Física ocorre, paradoxalmente, quando um número crescente de estudos tem vindo a demonstrar que:

1) A prática estruturada da actividade física e do desporto, na Escola, exerce uma influência positiva no comportamento, na atenção, na aprendizagem e no rendimento escolar dos alunos.

2) O rendimento escolar é mantido, e algumas vezes aumentado, quando existe um incremento dos níveis de actividade física formal na Escola, situação que se verifica mesmo nos casos em que há uma redução do tempo curricular ou do tempo livre dedicado ao estudo de conteúdos predominantemente cognitivos.

Reduzir a carga horária da Educação Física não tem como consequência apenas privar a população escolar de uma parte da actividade física a que tem direito e necessita para o seu pleno desenvolvimento. É limitar significativamente a oportunidade de todas as crianças e adolescentes adquirirem os conhecimentos e desenvolverem as atitudes e competências necessárias para uma participação emancipada, satisfatória, consciente e prolongada na cultura do movimento ao longo de toda a vida. Significa ainda desvalorizar, perante a sociedade em geral, a importância de uma prática regular das actividades físicas e desportivas e a responsabilidade de cada cidadão assumir um estilo vida activo e saudável.

As reformas educativas (e curriculares) só ganham verdadeiro significado pedagógico e social quando contribuem para melhorar a formação daqueles que frequentam o sistema educativo, beneficiando a sociedade no seu conjunto. Não se conseguem apreender os benefícios que resultarão para os alunos e o país da concretização das medidas constantes no documento “Matrizes Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário”.

Se por hipótese, com a publicação do documento “Matrizes Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário”, o Ministério da Educação e Ciência pretende alcançar objectivos que nada têm a ver com a formação da população escolar, então V. Exª tem o dever ético de os dar a conhecer à população portuguesa.

Nem a actual situação de crise financeira e económica justificam tal medida; há já algum tempo que estudos de organismos internacionais concluíram que o investimento em Educação Física e Desporto representa a melhor poupança nos gastos com a saúde.

Na expectativa de que não deixará de reconsiderar a decisão tomada, colocamo-nos à disposição de V. Exª, e do Ministério da Educação e Ciência, para os esclarecimentos que possa entender úteis.

Com os melhores cumprimentos,

António Manuel Fonseca

Prof. Catedrático, Universidade do Porto afonseca@fade.up.pt

António Marques

Prof. Catedrático, Universidade do Porto amarques@reit.up.pt

António Rosado

Prof. Catedrático, Universidade Técnica de Lisboa arosado@fmh.utl.pt

António Veloso

Prof. Catedrático, Universidade Técnica de Lisboa apveloso@fmh.utl.pt

Carlos Ferreira Neto

Prof. Catedrático, Universidade Técnica de Lisboa cneto@fmh.utl.pt

Francisco Bessone Alves

Prof. Catedrático, Universidade Técnica de Lisboa falves@fmh.utl.pt

Francisco Carreiro da Costa

Prof. Catedrático, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias fcarreiro.costa@gmail.com

Francisco Sobral Leal

Prof. Catedrático, Instituto Superior Dom Afonso III

fjsobral@gmail.com

João Abrantes

Prof. Catedrático, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias joao.mcs.abrantes@ulusofona.pt

João Barreiros

Prof. Catedrático, Universidade Técnica de Lisboa jbarreiros@fmh.utl.pt

João Paulo Vilas-Boas

Prof. Catedrático, Universidade do Porto jpvb@fade.up.pt

Jorge Bento

Prof. Catedrático, Universidade do Porto jbento@fade.up.pt

Jorge Ferreira Crespo

Prof. Catedrático, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Jorge Mota

Prof. Catedrático, Universidade do Porto jmota@fade.up.pt

Jorge Proença Martins

Prof. Catedrático, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias defdl@ulusofona.pt

José Alberto Ramos Duarte

Prof. Catedrático, Universidade do Porto jarduarte@fade.up.pt

José Alves Diniz

Prof. Catedrático, Universidade Técnica de Lisboa

JADiniz@fmh.utl.pt

José Gomes Pereira

Prof. Catedrático, Universidade Técnica de Lisboa jgpereira@fmh.utl.pt

José Maia

Prof. Catedrático, Universidade do Porto jmaia@fade.up.pt

José Soares

Prof. Catedrático, Universidade do Porto jmsoares@fade.up.pt

Leonor Moniz Pereira

Profª. Catedrática, Universidade Técnica de Lisboa lmpereira@fmh.utl.pt

Luís Bettencourt Sardinha

Prof. Catedrático, Universidade Técnica de Lisboa lsardinha@fmh.utl.pt

Pedro Cordeiro Sarmento

Prof. Catedrático, Universidade Lusíada pacsarmento@hotmail.com

Pedro Teixeira

Prof. Catedrático, Universidade Técnica de Lisboa pteixeira@fmh.utl.pt

Rui Proença Garcia

Prof. Catedrático, Universidade do Porto rgarcia@fade.up.pt

Sidónio Serpa

Prof. Catedrático, Universidade Técnica de Lisboa sserpa@fmh.utl.pt

Não se esqueçam da galinha na balança…

… porque é bem provável que ela perca peso.

Mais exames nacionais no ensino básico não é consensual

Hoje estou mais inclinado para a fauna. Mais especificamente para a doença da bicharada. Refiro-me à avaliatite e a sua variante, a examite, que é, como todos já percebemos, uma doença contagiosa face à facilidade como a coisa se apega…

O argumento dos custos e dos recursos agregados serão, para os cratêses mais devotos, amendoins. Feitas as contas, basta poupar com os docentes privilegiados que ainda têm emprego, intensificando ainda mais o seu trabalho, e mandando os contratados para os centros de emprego. O MEC sabe que pode alargar os cordões à bolsa com o circo montado em torno dos exames. Bem, não é pelos custos que a porca torce o rabo. O problema são as dinâmicas de trabalho que se perdem e a entropia na escola como resultado da realização de provas de exame ou das provas intermédias. Eu sei que as segundas são facultativas mas, convenhamos, qual é a escola que está disposta a perder um treino de conjunto (utilizando o linguajar futebolês) ou um ensaio geral quando está aí prestes a chegar o jogo do campeonato (os ditos cujos)?

E depois perdemos um mês e meio de trabalho de ensino e de aprendizagem, porque há que manter a máquina dos chouriços em funcionamento.

Não engordem o porco, não!…

Os extremos tocam-se!

Crato quer mais exames a mais disciplinas

Os vinte e poucos anos de serviço – atentem ao rigor – permitem-me olhar para o sistema escolar e antecipar a era pós crato:

Face ao sectarismo do ministro – uma pobre hipérbole cartesiana que se consubstancia na defesa de inimagináveis disciplinas estruturantes e na redução do currículo ao saber ler, escrever e contar – assistiremos ao retorno da ideia de escola que olha o aluno como sujeito integral, cultural. Não sei que estrada será calcorreada, mas tenho a certeza para onde nos levará o caminho. Uma escola demissionária da sua função educativa (re)produz uma sociedade axiologicamente débil, ou não fosse a escola um microcosmos da sociedade.

Um ministro pode estragar muita coisa mas não pode tudo. Um governo pode fazer retroceder o sistema escolar várias décadas, como é o caso. Mas tal como o elástico, depois de esticado ao máximo basta soltar uma ponta…

Farinha do mesmo saco

Todos temos consciência de que a generalidade dos alunos, na generalidade das disciplinas, só estuda empenhadamente quando a avaliação a sério. Serão poucos os que investem quando a passagem é «de borla». E só se aprende quando se estuda, ao contrário do que é prometido pelos «especialistas» da educação. (Guilherme Valente)

Este senhor, um defensor do cratês que põe a cabeça no cepo pelo rigor não consegue evidências científicas que atestem que sem exames a sério os alunos não estudam.

De tão avesso ao eduquês (conotado com a pretensa ausência de rigor e de exigência sabe-se lá em quê) acaba por estatelar-se na retórica oca da incoerência, como atesta a inexistência de uma crítica ao ministro pela medida facilitista do governo em ostracizar a disciplina de Educação Física e os seus profissionais.

Diz Guilherme Valente que só se aprende com uma avaliação (e classificação, já agora) a sério. Ora, se as coisas funcionam desse modo, que sinal dá Nuno Crato aos alunos do ensino secundário ao não considerar a classificação de Educação Física na Média do Ens Sec para efeito de Ingresso no Ensino Superior? Que as aprendizagens na Educação Física são inócuas e dispensáveis?

Percebem agora por que razão o eduquês e o cratês são farinha do mesmo saco?

Ao cuidado de Nuno Crato.

… a matemática está muito mais ligada ao cérebro esquerdo e a criatividade ligada mais ao cérebro direito, as pessoas que nasceram com uma certa prevalência do cérebro direito relativamente ao cérebro esquerdo também vão ficar prejudicadas. Coitados, vamos tirar a matemática, ou as línguas, a geometria e o desenho, dos currículos para não causar stress às pessoas que ficam mais favorecidas pelo cérebro direito ou pelo cérebro esquerdo… (José Soares)

Ver o vídeo aqui.

Ainda sobre a panela de pressão…

Caro Sr.

Albino Almeida

Quero dar-lhe os meus parabéns pela vitória que ajudou a conseguir neste particular. Aliás, o seu rejubilo acerca desta temática evidencia isso mesmo.

Contudo, como pai, gostaria de lhe dizer que a minha filha e cerca de 80 a 90% dos estudantes filhos de pais que V. Exª diz representar e defender, consideram que o senhor faz, e continua a fazer, um péssimo serviço em defesa dos direitos e das melhores condições possíveis para o sucesso escolar dos nossos filhos. Se não compreende o que lhe pretendo transmitir, vou tentar explicar-lhe. Para além disso, pode consultar um anexo que lhe envio e que pertence a uma escola secundária deste país, que se chama Escola Secundária de Almeida Garrett, em Vila Nova de Gaia.

Veja V. Exª que ao apoiar esta medida vai contra os interesses de 90% dos alunos do ensino secundário, cuja média de EF ajuda a melhorar a média final de acesso ao ensino superior.

Dou-lhe um exemplo real. A minha filha é aluna desta escola numa das turmas do 11º ano. Se fizer a média atual com EF, a média final é de 17,714 valores; se retirar a classificação de EF a média cai para os 17,5. Já fez as contas às classificações dos seus filhos, se é que os tem? E às dos filhos dos seus amigos? E às dos filhos daqueles que nada lhe diz nada?

Penso sinceramente que só refletiu acerca daqueles, muito poucos, que por terem 20 à maioria das disciplinas, não conseguem atingir essa classificação a educação física. No entanto, é prática transversal nas escolas públicas deste país que os conselhos de turma têm em consideração esta situação e, normalmente, votam a subida da classificação à disciplina de EF. Paralelamente, nas escolas privadas, se o aluno tiver 20 às demais disciplinas, nem necessita de realizar as auals de EF, pois obtém 20 administrativamente. Ora esta vergonha, que também o devia envergonhar, e pela qual deveria lutar em virtude das assimetrias que causa aos filhos daqueles que diz representar, parece não o incomodar, vá lá saber-se porquê!!!!

Em comentário às suas infelizes declarações, que passo a citar ““É uma medida positiva, porque vai libertar os alunos de uma pressão desnecessária”, posso dizer-lhe que continua a fazer um mau papel como representante dos pais dos filhos que frequentam as nossas escolas. Se o senhor for às escolas, assistirá exatamente ao contrário, pois as aulas de EF e as classificações que os alunos obtêm, são bem mais benéficas, saudáveis e psicologicamente favoráveis do que a pressão do testes intermédios, dos exames nacionais, das classificações obtidas a disciplinas como Português, Matemática, Física e Química, Biologia e Geologia, … Será que o senhor não lê jornais? Não tem conhecimento das médias nacionais dos testes intermédios e das médias nacionais dos exames? Como pode alguém dizer de forma completamente incongruente, tal como o senhor o fez, que a classificação da disciplina de EF causa pressões desnecessárias? Sinceramente, o senhor não tem o direito de representar um organismo que deveria defender os interesses dos alunos, PREJUDICANDO-OS.

Sobre as implicações atitudinais e disciplinares que esta media acarreta, que já as conheço, porque por elas passei antes da medida de David Justino (ministro que como deverá saber foi quem introduziu a medida que agora é tirada violentando os alunos), falaremos mais tarde. Quando os alunos não se interessarem por uma disciplina que não lhes afeta o futuro, revelando atitudes de irresponsabilidade, desmotivação, falta de empenho, etc, quando esta medida contribuir para o aumento do sedentarismo (pois quem não tem estímulos não cria hábitos), quando os alunos tiverem comportamentos inadequados perante recusas na realização de tarefas, etc, quando os processos disciplinares se forem acumulando nas escolas, o senhor como corresponsável e apoiante desta medida absurda deveria ser responsabilizado.

Mas como em tudo neste país, somos fruto de ações incompetentes que não responsabilizam quem prevarica.

E já agora, eu chamo-me Paulo Mota, sou coordenador do Departameno de Expressões da Escola Secundária de Almeida Garrett, escola na qual acumulo as funções de encarregado de educação, função esta que serviu de mote para esta reflexão.

Para finalizar, sugiro que faça um inquérito que não necessita de uma amostra muito extensa e questione os alunos acerca da mentira que criou na sua mente – Qual a disciplina ou disciplinas que te colocam maior pressão? Quer que lhe diga a resposta que vai obter? Não, não lhe vou dizer, pois tenho a certeza que, como não perde tempo a analisar as reais consequências que as classificações nas diferentes disciplinas curriculares têm nos filhos daqueles que diz representar, sobra-lhe tempo para estudar antes de saber e para refletir antes de agir.

Tenho a certeza que quando analisar bem a situação, vai dizer aos seus companheiros do governo que se calhar enganou-se, pois as classificações que não deverão contar para a achar a média de acesso correspondem a outras disciplinas…que não a EF.

Paulo Mota

A panela (d)e pressão

Educação Física não vai contar para a média

A nota da disciplina de Educação Física vai deixar de contar para a média final do ensino secundário e para a entrada na universidade já a partir do próximo ano lectivo, confirmou ao CM o Ministério da Educação e Ciência.

(…) “É uma medida positiva, porque vai libertar os alunos de uma pressão desnecessária”, disse ao CM Albino Almeida, da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap).

Para a CONFAP, o problema é a pressão… da panela. No próximo passo sairão as restantes disciplinas sem controlo externo exames nacionais.

Para o MEC, há dois problemas graves: o sectarismo com que olha para o elenco curricular; e a visão retrograda de aluno e de pessoa.

Classificação de Educação Física na Média do Ens Sec para efeito de Ingresso no Ensino Superior

Boi manda homem para o hospital quando cobria vaca

O sentido de oportunidade terá traído o homem. Certo?

Isto vem a propósito da medida que o MEC está a preparar, que ostraciza a disciplina de Educação Física e relança um velho assunto:

O relatório foi produzido pelo Grupo de Avaliação e Acompanhamento da Implementação da reforma do Ensino Secundário (GAAIRES) 

Cenário A

A classificação da disciplina não é contabilizada no cálculo da média do ensino secundário para efeitos de acesso ao ensino superior.

Argumentos favoráveis

  • Diversidade na oferta efectiva da disciplina nas diferentes vias do ensino secundário;
  • Desigualdades nas condições das instalações, equipamentos e materiais dos estabelecimentos de ensino que oferecem a disciplina;
  • Pressão por parte dos alunos e famílias;
  • Diversidade de opções por parte dos professores, decorrente das modalidades propostas pelo programa em alternativa, por um lado, e condicionadas pelos recursos das escolas, por outro.

Argumentos contrários

  • Atribuição de um estatuto de excepção à disciplina de Educação Física no contexto das demais disciplinas e áreas curriculares;
  • Promoção de atitudes de pouco investimento na disciplina por parte dos alunos;
  • Legitimação do estado de coisas no que diz respeito à desigualdade das condições físicas e materiais dos diferentes estabelecimentos de ensino;
  • Prejuízo dos alunos que investem na disciplina e obtêm classificações elevadas.


Cenário B

A classificação da disciplina é contabilizada na média do ensino secundário para efeitos de acesso ao ensino superior.

Argumentos favoráveis

  • Igualdade de estatuto entre as disciplinas do currículo, designadamente as que integram a componente de formação geral ou equivalente em todas as vias do ensino secundário;
  • Importância da disciplina para o desenvolvimento dos alunos, no desenvolvimento de aptidões, atitudes e valores, proporcionadas pela exploração das suas capacidades mediante actividade física adequada, intensa, saudável, gratificante e culturalmente significante.

Argumentos contrários

  • Diversidade de características biológicas/genéticas dos alunos que se reflecte no seu desempenho;
  • Desigualdades nas condições das instalações, equipamentos e materiais dos estabelecimentos de ensino que oferecem a disciplina;
  • Diversidade na oferta efectiva da disciplina nas diferentes vias do ensino secundário;
  • Pressão por parte dos alunos e famílias;
  • Diversidade de opções por parte dos professores, decorrente das modalidades propostas pelo programa em alternativa, por um lado, e condicionadas pelos recursos das escolas, por outro;

Cenário C

O aluno poderá excluir uma das disciplinas do seu plano curricular, cuja classificação lhe seja menos favorável (podendo esta ser ou não a da disciplina de Educação Física), com excepção das disciplinas que integram a componente de formação específica.

Argumentos favoráveis

  • Maior equidade no acesso ao ensino superior, uma vez que ao aluno seria facultada a possibilidade de prescindir da classificação que mais o prejudicasse;
  • Maior equidade na consideração das disciplinas e do seu valor relativo.

Argumentos contrários

  • Dificuldade de aceitação, por parte de determinados sectores, da possibilidade de não serem consideradas as classificações de disciplinas como Português ou Filosofia, no cálculo da média para efeitos de acesso ao ensino superior;
  • Facilitação de atitudes de desinvestimento, por parte dos alunos, em disciplinas definidas à partida.


Cenário D

O aluno pode decidir se pretende contabilizar a classificação de Educação Física no cálculo da média para efeito de acesso ao ensino superior.

Argumentos favoráveis

  • A decisão cabe ao aluno, permitindo-lhe optar pela situação que mais o beneficie;
  • Promoção da valorização da disciplina por parte dos alunos que nela legitimamente investem ou poderão vir a investir.

Argumentos contrários

  • Iniquidade no acesso entre os alunos cujo plano de estudo inclui a disciplina de Educação Física e os alunos cujo plano de estudo efectivo não inclui a disciplina de Educação Física, por exemplo, alunos das escolas profissionais privadas em que esta não seja oferecida.

O “cratês” no seu melhor…

Depois da redução da carga horária semanal da Educação Física, no caso das escolas optarem por 50 minutos letivos, da redução do tempo destinado ao desporto escolar,  há rumores de que a disciplina de Educação vai deixar de contar para a média de acesso ao ensino superior.

É bem provável que o mentor do cratês – essa ideologia anti pedagógica bolorenta – ignore os efeitos das medidas que levianamente agora implementa.

E não é por falta de avisos.

Atentem aos argumentos da CNAPEF e da SPEF:

Caros colegas,

Foi com profunda indignação e total discordância que a comunidade da Educação Física (EF) se confrontou, no passado dia 25 de maio de 2012, com o teor da matriz curricular para implementar no ano letivo 2012/13, disponibilizada no sítio da Direção Geral de Educação (DGE).

A total falta de coerência entre o conteúdo desta matriz e o do documento referente à Revisão da Estrutura Curricular que o Ministério da Educação e Ciência (MEC) apresentou como a proposta final decorrente deste processo, no dia 26 de março de 2012, ao movimento associativo de Educação Física e público em geral, só nos pode levar a concluir que se trata de um equívoco por parte do MEC, um erro que urge corrigir.

Não são minimamente sustentáveis as decisões que o documento encerra. Esta proposta de matriz promove de forma totalmente injustificada, e sem qualquer base científica, uma redução horária da única área do currículo que contribui direta e decisivamente para a saúde da população infantojuvenil portuguesa, num país que, ao nível da Europa, revela uma das mais baixas taxas de prevalência de atividade física e a segunda maior taxa de prevalência de obesidade e sobrepeso na segunda infância. Consequentemente, promove o desenvolvimento de um dos maiores flagelos do século XXI, o sedentarismo, e compromete o imprescindível desenvolvimento de hábitos de vida saudável na população portuguesa, surgindo em contraponto com uma recente resolução da Assembleia da República, que identifica exatamente este problema e reconhece a necessidade de se reforçar a atividade física da população em idade escolar.

Para além de não existirem nenhumas razões conceptuais, científicas e de natureza curricular que fundamentem a agregação da EF, Educação Visual, Tecnologias da Informação e Comunicação e Oferta de Escola numa área intitulada de Expressões e Tecnologias no 3º ciclo, é atribuído um crédito total de minutos a esta área para ser gerido no seio de cada escola, de acordo com o critério dos seus gestores. Tal aglutinação permite que possa vir a desprezar-se totalmente a carga horária que estava definida para a área curricular da EF, por ano/ciclo de escolaridade, que, já por si, era claramente insuficiente face a todas as orientações internacionais, nomeadamente europeias. No caso particular do Ensino Secundário, é proposta uma redução de trinta minutos na carga horária da disciplina de EF, o que perfaz cerca de menos 16 horas de aulas anuais, ou seja, menos cinco semanas de aulas por ano.

O que está em causa não é a atribuição de maior liberdade/autonomia às escolas na gestão das cargas horárias, com a qual, por princípio, concordamos. Contudo, jamais poderemos concordar que, para além da confusão conceptual já referida no 3º ciclo, se apresente uma matriz de forma totalmente anárquica, sem qualquer coerência, que não defina, tal como o faz para o Português,  Matemática e Educação Visual (que não são áreas curriculares, mas sim disciplinas do currículo), o tempo mínimo por semana que a área curricular de EF deve ter em cada escola, do 1º ao 12º ano. Garantido esse tempo mínimo, poderiam as escolas, mediante critérios pedagógicos com vista ao sucesso dos alunos, atribuir mais tempo a determinadas disciplinas, inclusivamente à própria EF.

Os Programas Nacionais de Educação Física e as Metas de Aprendizagem (recentemente elaboradas e daí decorrentes), cujos princípios e modelo têm a nossa total concordância(pois são totalmente fiéis às moções aprovadas pelos profissionais ao longo das duas últimas décadas), são muito claros nas orientações que definem. Foram elaborados na base do compromisso de um mínimo de 3 aulas semanais, em dias diferentes e, desejavelmente, não consecutivos, para qualquer ciclo de ensino, no sentido de garantir coerência no desenvolvimento do currículo desta área na escola sem comprometer os seus objetivos e a sua especificidade.

Passados vinte e dois anos da primeira reforma, está sobejamente comprovado que a carga e a regularidade de atividade física que qualquer criança e jovem até aos 18 anos devem desenvolver são de 60 minutos por sessão e cinco vezes por semana. Esta questão é, aliás, muito clara e encontra-se igualmente muito bem explícita, quer pela unanimidade e multiplicidade de trabalhos de investigação publicados sobre o tema, quer nas últimas orientações curriculares europeias, nas reiteradas recomendações da Organização Mundial de Saúde, pelo Parlamento Europeu, pela European Physical Education Association (EUPEA)  e pelos pareceres emitidos pelas associações representativas dos profissionais de Educação Física.

A EF é, e deverá ser sempre, uma área da formação geral, a par do Português, para todos os alunos até ao final da escolaridade, independentemente das suas vontades e vocações (como é o caso do Desporto Escolar, facultativo), organizada no maior número de aulas semanais possível, na unidade turma, segundo o seu próprio Programa, por objetivos (em termos de competências genéricas por área/ciclo e específicas por matéria/ano), estabelecendo um plano curricular do 1º ao 12º ano, de aplicação flexível e orientada para a realização dos objetivos de ciclo, para todas as escolas.

Como se as más notícias não bastassem, tivemos acesso a um projeto de diploma onde, entre outras alterações, a nota de EF no final do ensino secundário deixará de contar para a média de acesso ao ensino superior, excepto para alunos que queiram fazer prosseguimento de estudos nesta área. A confirmar-se, esta medida provocará um retrocesso tremendo na importância da EF e do seu estatuto de equidade com as suas congéneres da formação geral. A reorganização curricular do ensino básico e a reforma curricular do ensino secundário, regulamentadas pelos Decretos-Lei n.º 6/2001 e 74/2004, respectivamente, vieram como nunca reconhecer a importância da avaliação em EF como um mecanismo essencial e imprescindível de valorização e distinção do trabalho dos alunos e de desenvolvimento da própria área disciplinar, consagrando-a assim, bem como aos seus conteúdos, como uma área de carácter singular e insubstituível, com estatuto semelhante a todas as outras disciplinas do currículo nacional. A manterem-se estes critérios de acesso ao ensino superior, a atribuição de um estatuto de excepção à EF no contexto das demais disciplinas apenas poderia conduzir a situações nada desejáveis como, para além de todas as questões associadas à saúde e à educação do ser humano no âmbito das atividades físicas, prejudicar os alunos que investem nesta área disciplinar e obtêm classificações elevadas (que são a maioria), promover atitudes de pouco investimento na mesma por parte dos alunos e legitimar o estado de coisas no que diz respeito à desigualdade das condições físicas e materiais dos diferentes estabelecimentos de ensino, comprometendo de forma irremediável a educação dos alunos e o desenvolvimento da disciplina.

A acrescer aos cortes em relação à disciplina de EF, o que levou agora o MEC a cortar no tempo que cada grupo-equipa, no âmbito do Desporto Escolar, dispunha semanalmente, já de si insuficiente (Despacho normativo 13-A/2012)? Do ano letivo 2010/11 para o ano letivo 2011/12, passou-se de uma atribuição de 4 horas semanais por grupo-equipa para 3 horas (aliás, 135 minutos), e a perspetiva de aumento e garantia de oportunidade de prática desportiva na população jovem é agora reduzi-lo as umas insignificantes 2 horas (aliás, 100 minutos)?

Considerando as graves consequências para as finalidades do sistema educativo nacional e a forte indignação da classe dos profissionais da EF face a estas orientações, solicitámos ao MEC a suspensão destas matrizes e a realização de uma audiência urgente. Entretanto, apelámos através de carta endereçada às escolas, que os colegas, nas suas escolas e junto da tutela, façam urgentemente eco desta preocupação, tomando as providências julgadas necessárias para que o atual estatuto curricular da disciplina de EF não seja prejudicado. Solicitamos-vos igualmente que nos deem conhecimento das posições que tomarem para os endereços eletrónicos institucionais do CNAPEF e da SPEF.

Com os nossos melhores cumprimentos,

Os presidentes das Direções do CNAPEF e da SPEF,

João Lourenço

Marcos Onofre

Partidarite

Só a partidarite acéfala justifica a complacência de alguns colegas com Passos Coelho e seus muchachos.

Dói assistir à terraplanagem de direitos sociais sob o pretexto da inevitabilidade das medidas de austeridade. Dói só de ouvir declarações hipócritas de agradecimento pelos sacrifícios, sabendo que fazem parte de uma coreografia típica de políticos neoliberais que se propõem, sobretudo, sugar o Estado, mas transferindo o ónus da culpa dos défices para os cidadãos incautos, que gastaram muito mais do que deviam… e podiam.

Haja paciência!

Complexo de inferioridade

O azar e a influência da má arbitragem justificarão o resultado do primeiro jogo no europeu. Será assim que os analistas da bola vão tentar formatar a opinião pública para camuflar o óbvio: a ausência de ambição e o complexo de inferioridade face ao poder dos de fora, são as duas causas mais profundas da atitude subserviente que demonstraram os jogadores da seleção nacional no jogo com os alemães.

A culpa? É do Queiroz, claro!

A propósito do erro crato de retirar tempo à Educação Física…

… divulgo um testemunho interessante que foi retirado do blogue do professor José Soares.

Um mail de um ex-aluno meu sobre as questão das horas de EF.

do José Soares de José Soares

Este mail foi-me enviado por um ex-aluno aquando da publicação do meu vídeo sobre a redução de horas de EF. Pedi autorização para o publicar na íntegra e aqui está uma reflexão muitíisimo interessante.

Caro Prof. José Soares,
O meu nome e Ricardo Furriel e foi com muito agrado que escutei o seu vídeo acerca da Educação Física nas escolas.
Eu acabei a minha licenciatura na FCDEF (agora FADEUP) em 2002 e estou desde 2003 em Nova Iorque a dar aulas de Educação Física.
Depois de ver o vídeo, o que me chamou mais a atenção foi a parte do seu encontro com a Secretaria de Estado. Deu para entender que ela estaria super interessada e motivada para fortalecer a ideia de saúde e bem estar nas escolas publicas. Mas os problemas parecem sempre começar a partir dai: as ideias e vontade criam-se, mas não há um plano e implementação dessas mesmas ideias.
Eu fiz Erasmus em Roma no meu 4o ano do curso (2000/01) e em 2001/02 estagiei na Escola António Sérgio em Gaia. Já nessa altura se falava em investir mais no desporto escolar, proporcionar horas extras a docentes e alunos, alertar para a necessidade de maior foco na saúde e bem-estar etc… Tudo boas ideias, mas que sem apoios (financeiros, logisiticos e admnistrativos) essas ideais acabam sempre por acabar no esquecimento.
10 anos volvidos e o cenário não me parece que esteja a mudar. Os meus colegas, alem de não saberem se tem emprego ou não, alguns deles com família, contam-me historias que eu costumava ouvir na António Sérgio… ou pior! Ou seja… o que aconteceu nos últimos 10 anos?
Para lhe fornecer uma ideia mais clara daquilo que eu estou a falar: eu trabalho numa escola publica, high school (o equivalente ao nosso ensino secundário), com alunos do 9o ao 12o ano (aqui são quatro anos ao contrario de 3 em Portugal).  Todos os alunos tem que completar 7 semestres de Educação Física e um semestre de Saúde para lhes ser atribuído o diploma. Todos os alunos tem Educação Física todos os dias durante 48 minutos. Na minha escola, as instalações incluem 1 piscina olímpica (reabriu este ano), 2 ginásios de musculação, 1 sala de spinning, 2 salas de dança, 1 sala de yoga, 1 sala de wrestling, 1 pavilhão de voleibol, 1 pavilhão de basket, 1 campo de futebol / futebol americano / basebol com pista de atletismo e 4 campos de ténis.
Antes de continuar, eu estou a par da realidade e sei que não e possível comparar com Portugal. Mesmo aqui em NYC há muito poucas escolas que tem estas instalações. Mas todos os anos a minha Principal (equivalente a Presidente do CD) põe uma determinada parte do orçamento para o desporto. E não e opção, ela tem mesmo que fazer isso. E porque? Porque da um bom nome a escola e atrai estudantes e pais. E quantos mais estudantes concorrerem a escola, melhor publicidade a escola tem. E o ciclo continua.
Outra das coisas que e fulcral em Nova Iorque e o desporto escolar. Os clubes são extra quando falamos em atletas. A minha escola tem 22 equipas e um total de 400 atletas. Os vários desportos são praticados 3/4 meses por ano e e normal um atleta que joga futebol de Setembro a Novembro faca parte da equipa de Atletismo Indoor de Dezembro a Fevereiro e Outdoor de Marco a Junho. Isto só para dar um exemplo. As universidades americanas recrutam 99% dos seus atletas nas escolas secundarias. Todo este processo ajuda os atletas, pais, professores e administradores a perceberem e a respeitarem o que e desporto, o que e Educação Física e o quão importante e a saude e o bem estar para o seu dia a dia.
Claro que depois de saírem da escola tem um McDonalds e um Burger King a cada canto, mas pelo menos há vontade e realmente investimento no que concerne a Educação Física. Eu como professor de Educação Física sinto-me obrigado a informar todos os meus alunos da importância de uma boa alimentação, sono, exercício etc para melhorar o seu bem estar. E a razão maior e porque os meus superiores me dão incentivo para tal.
O ponto a que queria chegar: se só houver vontade por parte de quem manda, ira ser complicado. O mercado da Educação Física nas escolas em Portugal esta saturadissimo. Os professores “novos” com vontade, disponibilidade e crença em melhorar o “sistema” não tem lugar. Com os cortes orçamentais que se vem nos jornais todos os dias não me parece que a situação vá mudar a curto prazo.
Infelizmente para a educação física nas escolas.

Um abraço,
Ricardo Furriel