A crítica sindical – discurso e substância.

Partindo do princípio de que se deve manter a actual matriz organizacional do sistema escolar, há uma necessidade efectiva de colocar mais professores nas escolas apesar da tendencial diminuição do número de alunos. Porquê?

Porque o número de alunos por turma, em geral, é excessivo – Menos alunos por turma implica um aumento das turmas e de professores (quem labora no terreno sabe que há uma melhoria substancial das condições de trabalho com turma mais pequenas, entre16 a 20 alunos);

Porque o tempo de trabalho individual é insuficiente – O alargamento do conteúdo funcional do professor, a nova avaliação de desempenho e a necessidade de criar evidências… “desvia” o professor para matérias de cariz administrativo inócuas.

Porque o crédito global de horas para ser utilizado nas actividades dos clubes e projectos relevantes para a escola é escasso.

Ao defender a urgência de integrar mais professores no sistema escolar não estou a afirmar que é possível ocupar todos os professores disponíveis, por enquanto (prevejo uma alteração deste cenário a manter-se a campanha hostil sobre a função docente levada a cabo por arautos neoliberais instalados nos partidos políticos do arco de governação e a consequente redução de candidatos a professor).

Mesmo que o sistema de colocação de professores funcionasse correctamente, o que não é o caso, mesmo que o sistema de vagas fosse mais previsível, o que seria possível se as mudanças não ocorressem abrupta e tardiamente, o desemprego docente não acabava. É uma "verdade de La Palisse" que nem os sindicatos, nem os professores já contratados, ou por contratar, enfim, ninguém crê na integração de todos os professores disponíveis. A estabilidade do emprego é uma ambição legítima daqueles que, ano após ano, procuram um lugar no quadro. A negociação colectiva parece ser a forma mais segura para atingir essa mesma estabilidade. Há, porventura, quem não deseje a estabilidade e prefira a “sã” concorrência pelo emprego. Aí faz todo o sentido que se defenda a negociação individual dos contratos de trabalho, com a correspondente alteração do vínculo jurídico-funcional. No entanto, para a maioria, a contratação colectiva legitima o papel e a representatividade das organizações sindicais.

Esta não é, julgo eu, a discussão na blogosfera que decorre da divulgação das listas das necessidades transitórias. E a discussão até fazia todo o sentido, principalmente, se fosse desencadeada por aqueles que refutam, de forma mais ou menos velada, a legitimidade da representação sindical.

A questão central não é reservar o direito à crítica aos sindicalizados. Seria o mesmo que reservar a crítica sobre a acção de um partido político aos seus militantes. Um absurdo, digo eu. A questão é outra. Não é o direito à crítica que aqui se discute mas as razões de fundo dessa crítica, por mais acertado que seja o seu discurso. E as razões de fundo ajudam-nos a perceber o sentido das críticas e o modo como elas nos conduzem, ou não, ao fim desejado.

Obesidade e o Estado hipócrita

Crianças obesas com risco para a saúde podem ser separadas dos pais que não as ajudem a perder peso.

Estou globalmente de acordo com o Ramiro. O Estado, antes de cobrar aos pais, deve cumprir com as suas obrigações: na legislação que produz, nas escolas que governa, devia zelar pela saúde da população infanto-juvenil. O reforço da carga horária de Educação Física é apenas uma medida elementar que já deveria ter sido tomada por uma razão de bom senso, como sugere o Parlarmento Europeu cuja recomendação o Governo  ignorou cobardemente.

4 breves notas sobre o Estatuto do Aluno

Já consultei o famigerado Estatuto do Aluno logo que o vi divulgado no Umbigo (não sei se se trata de uma cópia fiel do documento que foi promulgado pelo PR ou se é um projecto de trabalho… enfim, o Simplex soa a conversa da treta).

Mas sem grandes delongas:

Gostei:

Que a participação de ocorrências disciplinares sejam realizadas directamente ao director.

Não gostei:

Da hiper-burocracia no tratamento do dever de assiduidade;

Dos planos individuais de trabalho para os alunos que violem o limite de faltas injustificadas.

Estranho:

O artigo (4ºA) que alude à autoridade do professor. Só não percebo a inexistência de um artigo a proteger a autoridade dos directores… Seria uma medida congruente com o espírito da lei… digo eu.

O plano tecnológico é o efeito “placebo” para os problemas do país.

Videovigilância para prevenção de incêndios estará operacional em 2011. (12.02.2010 – 17:10 Por Lusa)

A secretária de Estado da Administração Interna, Dália Araújo, disse que em 2011 estará operacional, em todo o país, um sistema de videovigilância de prevenção de fogos florestais.

Videovigilância instalada em 700 escolas já em Setembro

O governo bem se esforça para nos convencer que o plano tecnológico é a panaceia para os problemas do país. Foi assim com a revolução educativa através dos Magalhães. Há-de ser assim com os fogos nas florestas ou com os assaltos nas escolas.

São medidas políticas placebo para resolver os problemas de um país de faz-de-conta!

Adenda: Texto referenciado pelo Público em 28/8/2010. Agradeço ao Paulo Prudêncio o lembrete com a imagem.

“Cadê” o Estatuto do Aluno?

O ME está temporária e lamentavelmente indisponível. Presumo que está fechado para obras. Na blogosfera só existem alusões às notícias que nos dão conta que o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, já promulgou o normativo. Não quero acreditar que a comunicação social evoque alterações ao Estatuto do Aluno sem ter conferido o documento original. Se conferiu o documento original é lastimável que os professores e os seus representantes sejam os “últimos” a saber; Se a comunicação social não conferiu o documento é lastimável porque a notícia soa a propaganda.

O que tu queres sei eu…

E para compor o ramalhete dedicado ao economês, junto um título de imprensa cor-de-rosa cujo alcance é por demais evidente:

«Salários sobem o dobro dos espanhóis» é o título do «Jornal de Negócios».

Trabalhadores abrangidos ao nível mais alto da década. Os aumentos negociados entre sindicatos e patrões nos primeiros seis meses do ano subiram 2,5% em Portugal. Em Espanha, o aumento nominal foi de 1,3%.

Eles não sabem o que fazem…

Joseph Stiglitz
"Europa corre o risco de entrar em nova recessão"

 

"Cortar nos investimentos de elevado retorno apenas para fazer parecer os números do défice melhores é realmente um disparate", disse Joseph Stiglitz em entrevista à rádio RTE, citado pela Bloomberg.

O Nobel da Economia em 2001 alerta mesmo que "pelo facto de tantos na Europa estarem focados no número artificial de 3%, [limite imposto para o défice], que não tem qualquer ligação com a realidade e tem em conta apenas um lado da balança, a Europa está em risco de entrar numa nova recessão".

Os sindicatos têm razão

Apesar de ser um visitante relativamente assíduo deste site alternativo, foi através do Francisco Trindade que descobri este valioso texto. Fica para memória futura a desmistificação da causa do desemprego – a excessiva protecção dos empregos fixos – e a tentativa de responsabilizar os sindicatos pelo elevado desemprego em Espanha.

Este artigo mostra o erro das teorias neoliberais, que atribuem o elevado desemprego em Espanha às rigidezes laborais resultantes da excessiva protecção dos empregos fixos (chamados insiders) à custa dos empregos temporários e desempregados (chamadosoutsiders). O artigo assinala que a maior causa do desemprego é o reduzido crescimento económico, consequência da escassíssima procura (tanto pública como privada) resultante de um grande endividamento devido à diminuição dos rendimentos do trabalho como percentagem do rendimento total. Esta diminuição também explica os problemas de baixa produtividade do país.

Uma das explicações que foram dadas com maior frequência nas revistas económicas espanholas (a grande maioria das quais são financiadas pela banca e pelo mundo empresarial e que, portanto, reproduzem a doutrina económica neoliberal que tais grupos promovem) para o elevado desemprego em Espanha, é a suposta rigidez do mercado laboral, resultante do que se considera a excessiva influência dos sindicatos que, na sua defesa dos contratos fixos (chamados insiders, isto é, os que estão dentro do mercado laboral), estão a proteger os trabalhadores de idade avançada à custa dos jovens que têm dificuldades em encontrar emprego (e aos quais se chama, por isso, outsiders, isto é, os que estão fora do mercado laboral), pois os postos de trabalho existentes estão já ocupados pelos outros trabalhadores de idade mais avançada (que podem ser seus pais). Como consequência de dar maior segurança ao pai, dificultando a possibilidade de despedi-lo, o empresário pensa duas vezes antes de oferecer um trabalho ao seu filho, pois teme que mais tarde não poderá despedi-lo. E daí se conclui que o empresário não crie emprego e, portanto, o desemprego seja alto. Assume-se assim que há uma luta intergeracional por postos de trabalho. Esta luta intergeracional é também apresentada pelos mesmos autores no caso das pensões, ainda que aí não seja entre os jovens e os seus pais, mas entre os jovens e os seus avôs. Os idosos – é-nos dito – estão sobreprotegidos, vivendo em condições muito favoráveis, resultado de pensões excessivamente generosas, e isso à custa dos jovens, que contribuem com mais do que lhes corresponde, pagando as pensões dos seus avôs, pensões que eles mesmos não poderão desfrutar, como resultado da suposta insolvência da Segurança Social [1].

A tese insiders-outsiders como causa do desemprego foi promovida há já vários anos pelo secretariado económico da OCDE (o clube dos países mais ricos do mundo) no seu informe Employment Outlook 1999. Em tal informe, apontava-se que o facto de o desemprego médio dos países da UE-15 ter sido maior (durante o período 1980-1999) que nos EUA se devia a que os mercados de trabalho daqueles países eram mais rígidos e regulados que os dos EUA. E, como prova disso, referiam-se à dicotomia insiders versus outsiders que, segundo eles, caracterizava os mercados laborais europeus. Tal tese foi desacreditada rapidamente, pois os dados mostravam facilmente o erro dos seus pressupostos. Na verdade, o desemprego dos países que constituiriam a UE-15 tinha sido menor durante o período anterior, 1960-1980, que o desemprego dos EUA, mesmo quando os mercados laborais europeus estavam já então mais regulados que os estado-unidenses. Mais, os mercados laborais na UE-15 estavam mais desregulados no período 1980-1999 que no período anterior, 1960-1980. Não podia, portanto, considerar-se que o maior desemprego na UE pudesse atribuir-se à maior regulação dos mercados de trabalho europeus (nem tampouco aos insiders-outsiders). Mais, o desemprego entre os jovens nos EUA (que não tinha tal dicotomia outsiders-insiders) era muito maior que nos vários países da UE-15. Isso levou a que a OCDE tivesse que corrigir a sua tese. E, no seu informeEmployment Outlook 2006, concluiu com a seguinte frase: «da nossa análise da OCDE podemos afirmar que o impacto das medidas proteccionistas de emprego [nota minha: a narrativa utilizada para definir o que os autores neoliberais chamam rigidezes laborais] é estatisticamente insignificante para explicar o nível de desemprego num país da OCDE». Mais claro, só a água. A partir de então, a OCDE deixou de utilizar o argumento outsider-insider para explicar o desemprego (ainda que utilize outros argumentos, igualmente erróneos, pois continua parada no pensamento neoliberal).

Mas os economistas neoliberais, impermeáveis aos dados, continuam a repetir o dogma insiders-outsiders para explicar o desemprego, sendo o último exemplo o artigo de Juan J. Dolado no El País de 17.06.10 onde, de novo, os insiders, os trabalhadores adultos são responsáveis pelo elevado desemprego dos jovens, concluindo que o melhor para todos é que se facilite aos empresários que possam despedir, por igual, todos os trabalhadores, assumindo que hoje os empresários têm grandes dificuldades em fazê-lo. Os dados, no entanto, não avalizam tal pressuposto. Segundo os dados oficiais do Ministério do Trabalho, no período de Outubro de 2008 a Outubro de 2009, 50% dos contratos extinguidos tiveram uma indemnização de apenas 8 dias por ano. E a grande maioria dos restantes receberam uma indemnização de 20 dias por ano, e, só para uma minoria de despedimentos declarados improcedentes, a indemnização foi de 33 a 45 dias por ano. Mais. Como bem escreveu Vidal Aragonés [2], «o custo para os empresários é substancialmente inferior em muitos casos. No caso dos despedimentos individuais e colectivos em empresas de menos de 25 trabalhadores que derivem de causas económicas, técnicas organizativas ou produtivas, o empresário pagou (em 2009) 60% e o FOGASA (Fundo de Garantia Salarial) os restantes 40%. E as empresas insolventes não abonaram quantidade alguma, assumindo o FOGASA o total da indemnização».

O que estamos a assistir é a uma enorme avalanche mediática e ideológica encaminhada a responsabilizar os sindicatos pelo elevado desemprego em Espanha. Para isso, o argumentário inclui uma tentativa de separar os sindicatos da sua função defensora dos interesses dos trabalhadores, apresentando os sindicatos como aparelhos corporativistas que defendem os seus próprios interesses, que se apresentam como distintos – na verdade, inclusive opostos – aos interesses dos trabalhadores que representam. Um exemplo desta postura é o artigo de Francesc Homs i Molist, representante da direita na Cataluña, CIU, em El Siglo (18.06.10), no qual faz a afirmação de que se o PSOE fosse na verdade autenticamente solidário com os trabalhadores, deveria enfrentar os sindicatos, pois estes estão a dificultar a resolução do elevado desemprego. É surpreendente que as direitas em Espanha (responsáveis por a Espanha – e a Catalunha – estarem na cauda da UE no seu estado de bem-estar e por os salários dos trabalhadores serem dos mais baixos) estejam agora a apresentar-se como os partidos dos trabalhadores [3].

AS CAUSAS NUNCA MENCIONADAS DO DESEMPREGO

O que múltiplos estudos científicos mostraram é que a causa mais importante para que se crie ou destrua emprego é a procura que os empresários têm sobre os bens e consumos que produzem. O mundo empresarial não expandirá a sua lista de empregados a não ser que haja um aumento dos produtos que produz e vende. E esta é a situação em Espanha. O mundo empresarial tem por diante um problema grave de escassez na procura. O problema do desemprego não está no mercado de trabalho, mas na baixa procura e no tipo de procura e produção. E a escassa procura deve-se a dois motivos que a ênfase no mercado de trabalho está a ocultar. Um é a excessiva polarização dos rendimentos na Europa e em Espanha. Os rendimentos do trabalho diminuíram na UE de uma forma espectacular, enquanto os rendimentos do capital aumentaram enormemente. E esta polarização tem sido inclusive mais acentuada em Espanha. Os lucros empresariais cresceram em Espanha 73% no período 1995-2005 (mais do dobro da média da UE-15, 33%), enquanto os custos laborais aumentaram no mesmo período 3,7% (cinco vezes menos que na UE, 18,2%), dados que raramente aparecem nas revistas económicas, ou inclusive na imprensa em geral. E esta situação criou vários problemas. Um deles é a escassa procura (resultado da descida da massa salarial) e consequente endividamento das classes populares. O grande endividamento das famílias espanholas baseia-se neste facto. Segundo a Agência Tributária espanhola, em 2007, 63% dos assalariados (16,7 milhões de trabalhadores) tinham um salário bruto de 1.100 euros. O que isso implica é uma grande escassez na capacidade aquisitiva das classes populares, profundamente endividadas, e que, quando falhou o crédito, paralisou a procura doméstica. E isso ocorreu em cada recessão económica que Espanha teve. E a pobreza do sector público (Espanha tem a despesa pública por habitante mais baixa da UE-15) explica também o endividamento público e o escasso poder e recursos que o estado tem na sua capacidade de estimular a economia. Este escasso poder substitutório (do estímulo privado) é consequência das políticas neoliberais das direitas, que mais do que partidos dos trabalhadores foram sempre partidos dos banqueiros e dos empresários, que se opuseram a aumentar os seus impostos (segundo a Agência Tributária, um empresário paga menos impostos que um assalariado) e a despesa pública, dificultando assim o crescimento da despesa pública como estímulo para a recuperação económica e a redução do desemprego.

E a outra consequência da descida dos rendimentos salariais é a baixa produtividade em amplos sectores da economia. Contra o que escrevem os economistas neoliberais, o facto de os salários serem baixos não se deve a que a produtividade seja baixa, mas ao contrário, a produtividade é baixa como consequência da existência de salários baixos. Se um empresário tem a possibilidade de pagar salários baixos porque há grande número de candidatos para um posto de trabalho (caso da vindima, do turismo ou da construção, por exemplo), os salários que pagará serão baixos. Ora bem, se não lhe for permitido pagar salários baixos, terá que investir no posto de trabalho e no trabalhador para se assegurar de que um trabalhador faça o que agora fazem dez.

É isto que acontece nos países nórdicos, de tradição social-democrata. Na verdade, o economista Meiner convenceu há já muitos anos o governo social-democrata e os sindicatos suecos de que não podiam permitir-se salários baixos na Suécia. Uma economia baseada em salários baixos era e é uma economia ineficiente. Daí que se proibissem os salários baixos. Nos convénios colectivos, os salários baixos não se permitem, nem em situações provisórias. E isso teve um grande impacto na produtividade da economia. Não é preciso dizer que houve empresas que entraram em colapso ao não poderem pagar tais salários, mas era, e é, responsabilidade pública encontrar um posto de trabalho (de similar nível salarial) para o trabalhador que teve que deixar aquela empresa que encerra. E é responsabilidade pública encontrar-lhe, não apenas um trabalho, mas também uma casa e uma escola para os seus filhos, entre outros requisitos.

Não se pode pedir flexibilidade ao trabalhador, à custa de lhe criar insegurança, tal como ocorre em Espanha, onde o mundo empresarial e bancário está muito mal habituado, por ter estado sobreprotegido pelo poder político, não só durante a sua ditadura, mas também posteriormente. Em Espanha fala-se muito da rigidez laboral, quando o maior problema é a rigidez e dureza empresarial. A primeira é a resposta à segunda. E o fracasso da administração pública nesta dimensão é enorme. É injusto exigir flexibilidade ao trabalhador à custa da sua segurança. Espanha tem a despesa em protecção social mais baixa da UE-15. Só 20%, em comparação com 32% na Suécia e 30% na Dinamarca. O mundo empresarial e a banca espanhola, bem como o estado espanhol, não entenderam que a protecção e coesão social são elementos chave para garantir uma elevada produtividade. Todos os países do sul da Europa têm escassa produtividade porque têm escassa protecção social. O mundo empresarial espanhol, conhecido pela sua dureza (e apoiado por meios de persuasão próximos a ele), opôs-se à expansão da despesa pública e da protecção social, preferindo conseguir a flexibilidade laboral, não com a segurança, mas com aumento da insegurança. Daí o elevado desemprego. Mas isto é improvável que o leitor oiça, veja ou escute nos meios de maior difusão do país, nos quais durante os próximos meses vamos ver uma enorme avalanche contra os sindicatos, por trás da qual há uma tentativa de diluir ainda mais a Espanha social, e a protecção social dos espanhóis.

 

[1] Ver minha crítica a David Taguas, fiel representante do pensamento neoliberal, que foi, em seu dia, director do gabinete económico de La Moncloa no governo Zapatero, La Seguridad Social es viable: Réplica a David Taguas, 24/02/2010.

[2] “Una reforma constituida a base de mitos”, El Periódico, 17/06/2010.

[3] Ver o meu artigo Partido Popular, el partido de los trabajadores?, 14/06/2010, e “Los nacionalismos conservadores y liberales en España”, a publicar em breve [NT: O artigo em questão foi publicado em 25/06/2010 com o título Conflicto de naciones y/o clases?.

Vicenç Navarro; 21 de Junho de 2010

Basta de boas vontades incompetentes.

Como adepto incondicional do Benfica, assisti com tristeza ao desenrolar do jogo desta noite com o Nacional da Madeira. Estou certo de que são momentos como este que definem a grandeza das equipas. E como diria Lipovetsky se fosse treinador de futebol: valem mais acções “interessadas” mas capazes de melhorar o destino dos homens (das equipas), do que boas vontades incompetentes.

Espero que uma luz ilumine a cabeça de Jesus.

As moscas gravitam sobre o excremento! Por que será?

Há certificados do 12º ano à venda na Internet, por 400 euros. A notícia é avançada esta quinta-feira pelo jornal «i». A mesma notícia explica que a Agência Nacional de Qualificação (ANQ), encontrou durante «um programa de visitas de acompanhamento a Centros Novas Oportunidades», em 2009, candidatos certificados com trabalhos «retirados integralmente da internet, e com base nos quais é feita a validação e certificação de competências». (in: IOL)

Acompanho o processo de certificação com algum distanciamento e sou um crítico descrente deste processo porque não acredito na decomposição de competências profissionais em competências escolares; Não acredito na validade das grelhas de análise, nos mosaicos de indicadores, onde se inferem as competências escolares. Desmintam-me se erro na análise: O processo de validação e certificação de competências é labiríntico e o instrumento de avaliação (o porta-folhas) parece ter uma vida própria, parece dispensar o sujeito que supostamente caracteriza e evidencia.

E é neste clima favorável à desvalorização do saber escolar que emerge o embuste.

Obrigado…

A minha intermitência blogoEsférica, ou não estivesse em período de recobro, não me permite reagir com prontidão aos desafios lançados pelos companheiros mais perseverantes.

Há alguns dias, o Ramiro decidiu revelar dez dos seus blogues favoritos. O outrÒÓlhar foi um dos nomeados, o que me deixa grato pela lembrança. Olhando para este tipo de prática blogoEsfércia, que é mais frequente do que poderia pensar um observador menos atento, é possível apurar dois efeitos complementares: um efeito mais imediatista e outro mais alargado no tempo, talvez mais substantivo: O primeiro efeito busca, através de um certo mimetismo, a promoção da filiação e da resiliência; O segundo, reforça uma ética de reconhecimento do “outro”.

Sinto-me por isso muito lisonjeado, sobretudo pela razão da escolha.

Obrigado, Professor(a)...A propósito do tema deste post, descobri uma iniciativa que vale a pena ser destacada pelo simbolismo que encerra neste tempo marcado por um individualismo do “cada um por si”, ou como diria Lipovetsky (leitura de férias), um individualismo irresponsável.

Obrigado(a) Professor(a).

Forno

O Inverno foi tão duro e impertinente que acabei por desejar o Verão da Andaluzia só para contrabalançar. A ideia foi peregrina! 41ºC às 21 horas? Mas que é isto?…

Percebo agora porque lhe chamam, à avenida, kansas city. Deve ser para evitar o incómodo de passar para o outro lado do Atlântico.

Um modelo de ensino plural para combater o insucesso escolar.

Respondendo a um pedido de várias famílias, algumas das quais se julgam independentes, e até correndo o risco de ser “desautorizado” pela Fenprof 😉 , atrevo-me a criticar um texto do Paulo Guinote que li hoje no Sol. Não sei de quem é a responsabilidade do título mas ainda pensei que o insucesso escolar sofresse uma pega de caras ao invés de sofrer uma pega de cernelha, contornando o problema com medidas superficiais em sistema caduco (1). Esta farpa é de somenos importância face à relevância da reflexão que, apesar de ser prometida, não foi cumprida no referido artigo de opinião.

E por falar em quebra de promessas, veremos se é possível dizer o que me apetece dizer em meia dúzia de parágrafos.

O que é a retenção?

A retenção é uma estratégia de remediação do insucesso escolar. Sempre que um aluno não demonstra proficiência no domínio de um conjunto de matérias de ensino convencionadas para um determinado ano de escolaridade, fica retido, chumba, fica a marcar passo. É o ME que determina o que é susceptível de ser dominado pelo alunos (acabo por evitar com esta explicação simplista as terminologias dos objectivos, das competências, das metas de aprendizagem, e de outros quejandos) prescrevendo programas nacionais, que depois são desconstruídos nas escolas em cada grupo disciplinar, e através dos normativos reguladores dos critérios a ter em conta para a retenção de um aluno. São os professores, nos conselhos de turma, que ratificam, ou não, os juízos parcelares de cada professor (observando recomendações do conselho pedagógico) e decidem pela retenção se entenderem que ela é útil para o aluno. Há, nesta fase do processo, um carácter discricionário, subjectivo e situado.

Se acompanharmos o processo de retenção de um aluno, que é determinado a montante do conselho de turma pela acção do ME e das suas equipas de trabalho, e a jusante pelo investimento pessoal de cada um dos alunos, pelo caldo de cultura de onde emerge, pela competência de ensino dos seus professores, etc., etc., verificamos que modificando variáveis exógenas é possível manipular os resultados do insucesso escolar transformados em mais ou menos retenções. É óbvio que o aluno é um sujeito activo neste processo e tem uma palavra decisiva a dizer, devendo ser sempre responsabilizado no seu percurso escolar.

Um esboço de proposta

Como é evidente, o actual modelo de ensino, unilateral, é curto para satisfazer as necessidades múltiplas da população escolar.

Em traços muito largos proponho:

  • Um modelo plural de ensino para atender às necessidades também elas plurais da população escolar;
  • Um ensino generalista até ao 6º ano de escolaridade, com retenções no final de cada ciclo de dois anos a decidir pelo conselho de turma (pluridocência);
  • Do 7º ano até ao 12º devem coexistir dois sistemas, permeáveis, com níveis de exigência distintos;
  • Um sistema orientado para o prosseguimento de estudos superiores, exclusivo, piramidal; um sistema orientado para os alunos com baixas (ou sem) expectativas, de prosseguimento de estudos, inclusivo, com oferta diversificada de áreas disciplinares (com ou sem conteúdo profissionalizante);
  • A permeabilidade, ou a transição entre sistemas, é possível desde que haja consequências.

Esta proposta busca um modelo plural cuja configuração evitará a previsível terraplanagem dos programas escolares que decorrem do alargamento da escolaridade obrigatória.

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Adenda: (1) Depois do esclarecimento no Umbigo, a pega de cernelha acaba por se justificar.

Como é possível?

“Como é possível um turista de luxo ficar numa maca num corredor de hospital?”, diz o presidente da Câmara de Loulé.

Como é possível ouvir da boca de um presidente de Câmara um dislate desta natureza. Mais grave ainda quando se trata de um médico de profissão que devia ficar agastado com as condições degradantes de atendimento de qualquer cidadão, magnata ou proletário.

Quando a dignidade dos cidadãos é medida pelo seu poder de compra, estamos conversados!

Engodo para pacóvios? Não, muito obrigado!

Encontro uma analogia no estilo entre a proposta de revisão da constituição apresentada por PPCoelho e a ideia peregrina de acabar com as retenções que foi ateada pela ministra da educação. A inoportunidade das duas propostas não é ingénua, como alguma opinião crítica quis fazer crer. Ela faz parte de uma estratégia política que procura marcar uma agenda, mostrar serviço, lançar o foguetório só para lembrar à populaça que há festa na aldeia. Como é evidente, os promotores das iniciativas pressagiavam não só as resistências como o estardalhaço gerado, assim como tinham consciência do seu grau de inexequibilidade. O PSD não pode alterar nada na constituição sem o consentimento do PS e a ministra da educação sabe muito bem que tem um espaço político exíguo para implementar mudanças no sistema educativo.

Tudo o que se disse e escreveu sobre as matérias em apreço teve apenas o mérito de suscitar a exorcização de alguns fantasmas ideológicos e, reconheçamos, até permitiu alimentar boas conversas de “silly season”.

É por isso que sinto uma espécie de formigueiro quando leio ou ouço dizer que os autores das propostas recuaram com o rabo entre as pernas logo que soaram as trombetas da contestação. É que só cai no engodo quem quer ou quem não pode dar-se ao luxo de perder clientela. Pensava eu que escrever mais do que meia dúzia de parágrafos sobre o assunto seria suficiente para colocar os pontos nos iis e dizer que o rei vai nu. Certo? Errado!

Balha-me Deus!

Chumbo à discussão dos chumbos!

Sempre me fez alguma confusão a ideia que perpassa das medidas de política educativa que não suscitam o comprometimento dos alunos. Mudar de curso como quem dá aquela palha é apenas um exemplo do efeito perverso da “infantilização” do sistema de ensino. Não defendo escolhas definitivas de um curso no início do ensino secundário. O que eu defendo é a responsabilização dos alunos pelas suas decisões. Defendo que uma opção, seja ela por uma via profissionalizante ou, dentro desta, de uma área profissional, reclame um compromisso do aluno. E deve haver consequências para o aluno pelas suas decisões. A leviandade deve ser penalizada. Assim como deve ser penalizada a opção equívoca de um percurso escolar, quando se escolhe um curso para o qual se veio a descobrir falta de propensão ou requisitos, por exemplo.

Como promover a responsabilidade nos alunos?

Sem este enquadramento é difícil discutir com seriedade o óbito dos chumbos no ensino.