Mês: Agosto 2009
Um ME regulador… do quê, exactamente?
A prudência não me permite grandes euforias e até me parece bem que os dois dossiers mais controversos no sector da educação sejam resolvidos já – o estatuto do aluno e o ECD (passando, obviamente, pela ADD).
Hummm… mas fiquei com a pulga atrás da orelha quando ouvi MFL dizer que o ME passará a assumir apenas uma função reguladora. Isso significa precisamente o quê? É que se perguntarem à excelsa ministra da educação ela dirá que a função do SEU ME é… regular!
Grão a grão…
Dois eleitores assumidamente PS ouviram as minhas razões para não votar PS. São familiares muito próximos e, naturalmente, sensíveis à minha condição socioprofissional. Houve um argumento de peso que dificultou a minha tarefa: a ausência de credibilidade nas alternativas de governação. Houve um argumento de peso que facilitou a minha tarefa: o princípio subjacente ao rompimento unilateral de um contrato [que podia designar de roubo já que não encontro outra palavra para descrever o logro que foi a divisão da carreira] e a correspondente perda salarial.
A luta dos professores começa e acaba no espaço privado.
Vendedores de banha da cobra
O PGuinote anda entretido [é pena que a comunicação social não faça eco de um serviço público meritório] a desmascarar alguns truques de vendedores de banha da cobra.
O PS não podia ter escolhido melhor.
(via abnóxio)
Correio da Manhã, 24.08.2009
Perguntas metódicas
José Sócrates e a sua ministra da educação estão, ou não, em condições de provar que a pretensa melhoria de resultados escolares traduzem uma melhoria das aprendizagens dos alunos?
Qual foi o estudo, e quem o realizou, que valida o entusiasmo dos dois políticos?
[imagem daqui]
O trunfo da ministra.
Mas será a medida anunciada [a melhoria dos resultados escolares dos alunos] motivada pela baixa de exigência das escolas?
Eu espero que os professores não tenham diminuído a exigência porque isso pode virar-se contra eles próprios. Não acredito que os professores e as escolas tenham diminuído a exigência. (Maria de Lurdes Rodrigues)
Note-se como a exigência associada aos resultados escolares dos alunos é, para a ministra da educação, um conceito unilateral. Se o jornalista não se limitasse a servir apenas de caixa de ressonância deveria ter contestado a afirmação da ministra. Deveria ter perguntado se há ou não uma relação entre os resultados escolares e, para além da óbvia exigência dos professores, a exigência do sistema educativo, da administração educativa, do quadro legal, dos programas escolares, do contexto sociocultural e do investimento pessoal dos alunos. E em caso afirmativo, qual a magnitude destas variáveis nos resultados escolares.
Esta questão faz-me lembrar uma imagem do bridge utilizada por António Nóvoa, na qual um dos parceiros ocupa o “lugar do morto”, sendo obrigado a expor as suas cartas em cima da mesa: nenhuma jogada pode ser feita sem atender às suas cartas, mas este não pode inferir no desenrolar do jogo.
Adenda: Como era expectável, o ufano dirigente da CONFAP já veio corroborar, testemunhar, os excelentes resultados anunciados por S. Exª, o futuro ex-primeiro-ministro. Seria um erro de palmatória omitir a referência a uma tão nobre e distinta figura do baralho ministerial. E foi isso que fiz… 8)
Porque é preciso avivar a memória…
Os técnicos que observaram arriba não detectaram risco de acidente iminente. “O ministro do Ambiente afirmou que a arriba que hoje ruiu provocando cinco mortos tinha sido observada sexta-feira passada por técnicos da Administração Regional Hidrográfica do Algarve (ARH), não tendo sido detectado “risco de acidente a curto prazo“.
Os economistas e os membros do governo não detectaram atempadamente o risco de crise financeira mundial. Disseram que era difícil, talvez impossível.
Fácil, mas mesmo muito fácil, era fazer uma previsão dos resultados escolares dos alunos indexando-os à avaliação dos professores. Não é verdade senhora ministra?
Fim de tarde…
… na melhor cidade do mundo… muito provavelmente!
PS folclórico; PSD espartano
Comentário político
Ontem ouvi a entrevista de MFLeite na RTP1 e já foi possível perceber a cadência que marcará a campanha eleitoral do PSD. Não fora o embaraço evidente que decorre da inclusão de António Preto nas listas do partido, a senhora tentou passar uma mensagem de credibilidade e de serenidade. MFL adoptará uma estratégia de campanha que marque a diferença em relação a JSócrates, uma diferença não só no estilo – mais austero, menos exibicionista – mas também na substância – Jsócrates promete e não cumpre; eu só prometo o que poderei cumprir.
Prevejo que JSócrates contra-ataque trazendo para o debate político a questão “António Preto”, mesmo que isso possa parecer um acto político suicida por evocar a questão “Freeport”. Por um lado, denotará coragem política [para muitos poderá será considerado um acto de pura alienação] de quem não deve não teme e terá oportunidade de vestir a pele de vítima que tão bem representa; por outro lado, minará a credibilidade da líder do PSD porque desviará os holofotes mediáticos para o lado menos transparente de MFLeite.
PS (salvo-seja): MFLeite disse que o seu programa eleitoral contemplará tudo aquilo que fora defendido pelo PSD no último ano, de onde se infere que a questão da divisão da carreira estará arrumada se o PSD for governo.
outrÓÒlhar
Se alguém fizer contas de uma maneira diferente da minha, nunca poderei afirmar, de maneira definitiva, se está errado ou se aplica uma matemática diferente.
Gianni Vattimo
Jogar com o tempo.
Não me vou alongar com a questão da oportunidade política, ou falta dela, da divulgação da prova pública. Que o governo quer contar espingardas e usar estes dados na campanha eleitoral já todos terão percebido. A questão é saber como não “colaborar” com o governo neste seu desígnio eleitoralista e deixar para outras núpcias as decisões mais difíceis e que têm que ver com uma eventual progressão na carreira.
A melhor forma de não “colaborar” com este governo é, evidentemente, votar noutro partido político. Depois temos a não realização da prova pública. Seguidamente, como muitos professores já perceberam uma coisa é a realização da prova pública e outra bem diferente é o concurso para professor titular, embora a primeira seja requisito da segunda, existe a possibilidade de jogar com os prazos e deixar para um período pós-eleitoral a decisão de realizar a prova pública mais ou menos contestatária.
Como simples delegado sindical e um activista confesso, sem acesso a fontes privilegiadas, direi que a FENPROF deverá sugerir aos professores o retardamento da decisão até que seja clarificado o mosaico parlamentar.
O meu umbigo.
O Paulo desafia-me a comentar a recente medida do ME. O que me ocorre dizer, em primeiro lugar, é que esta acção legislativa faz-me lembrar o náufrago desesperado que agarra tudo o que lhe aparece à mão para evitar o mais que previsível afogamento.
Há, por enquanto, três alternativas, ou melhor quatro alternativas a considerar (duas delas estão fundamentadas aqui – a 1 e 2):
1. Recusar a prova pública;
2. Realizar a prova pública e apresentar documentos iguais por todos os professores;
3. Realizar a prova pública e defender um trabalho que desmonte o sistema;
4. Realizar a prova pública sem qualquer acção contestatária.
Tal como o fiz com a FAA, sou um defensor da realização de um trabalho que faça emergir o processo pérfido animado pelo ECD. Eu defendo a alternativa 3. 8)
(Des)Acerto de agulhas.
Interrogava-se o Paulo Guinote no zénite da discussão pós entrega/não entrega dos OI?s: Mas então há dirigentes sindicais que, querendo a suspensão do modelo como linha política inegociável, depois se preocupam em negociar a implementação concreta desse modelo, querendo mesmo que os PCE imponham os OI a quem decidiu não os entregar?
Percebo agora, perfeitamente, o alarido e até alguma confusão entre os “umbiguistas” pela aparente “recaída” do Paulo que propõe outra linha de ataque ao sustentar que todos os docentes em situação de concorrer [ao recém-criado concurso de titulares] o devem fazer e transformar a sua prova pública num manifesto individual – sempre com fundamentação se possível irrepreensível e adjectivação moderada – contra este modelo de carreira e de avaliação.
O Paulo diria há uns meses que a sua inflexão seria uma incoerência. Diria precisamente: “quer-me parecer que há quem deseje o melhor de dois mundos: recusar a avaliação para efeitos de luta e depois tê-la para assegurar a vidinha.” Mas ainda bem que inflectiu porque não se trata de desejar o melhor de dois mundos, como escreveu ao classificar a acção da FENPROF. Trata-se de escolher a melhor estratégia de luta para o combate político: Estratégia susceptível de se verificar inócua e até de suscitar resultados opostos aos desejáveis. Mas, como diria uma personagem aqui do Norte, prognósticos… só no fim do jogo 😉
Mantenho o que escrevera há uns meses: há uma linha muito ténue que separa a incoerência do desacerto na escolha de uma estratégia de luta. Por todas as razões e principalmente porque a melhor estratégia terá de ser tangível àquilo que a maioria está disposta a dar! E quando se trata de aferir a vontade das maiorias… estamos conversados 8)
Depois da bonança…
(foto retirada daqui)
… que venha a tempestade 😉
Os “Endireitas” da Educação Física
Lera a notícia no Público e fiquei apreensivo. Esperava uma reacção da APPEFis (Associação Portuguesa de Professores de Educação Física) que está encerrada para férias desde o dia 6 ou da SPEF (Sociedade Portuguesa de Educação Física). Nada. Hoje o Expresso deu-lhe um pequeno destaque no fim da página 14. Percebo a reacção da Associação das empresas do sector porque a nova lei é geradora de entropia. Estranho o silêncio da comunicação social e das associações de classe.
“Os monitores, treinadores pessoais e directores técnicos dos ginásios terão de ser licenciados em Ciências do Desporto ou ter uma habilitação equivalente. Assim o exige o diploma aprovado esta semana pelo Governo que dá um prazo de 90 dias para os profissionais sem licenciatura (o negrito é meu) requerem “o reconhecimento das suas competências” junto do Instituto do Desporto de Portugal. A Associação de empresas do sector quer a revogação da nova lei.” (Expresso, 8 de Agosto)
Se é positiva a ideia de “ordenar” um sector que funciona numa espécie de baldio, propício a todo o tipo de experimentalismos, o conceito das “Novas Oportunidades” para o ensino superior abre um precedente cujas repercussões ainda não foram devidamente percebidas pelos opinadores consagrados. É que bastará um portefólio bem recheado e um conjunto de evidências de anos e anos de prática a “virar frangos” para justificar uma licenciatura, um mestrado ou um doutoramento. Que interpretação estranha do paradigma bolonhês!…
Já estou a imaginar a reacção da Ordem dos Médicos se o primeiro “endireita” decidir reclamar a licenciatura em medicina; ou a reacção da comunicação social se uma cartomante requerer o doutoramento em Pscologia Aplicada.
O bloco do Bloco.
Interrompo o meu silêncio blogosférico para registar o debate, que acompanho em directo online, de FLouçã com alguns dos bloggers da nossa praça. Gostei da interpelação do PGuinote que tentou vincular Louçã a compromissos concretos e como era expectável, até porque Louçã é um economista, foram sublinhadas as ideias centrais que estão inscritas no programa do Bloco. Espero que a existir uma próxima incursão online, o Bloco se faça representar em cada área de governação pelo seu ministro sombra. Presumo que perdi uma oportunidade de ouvir a Ana Drago a dizer o que fazer e como fazer para acabar com a farsa da avaliação, o que fazer para acabar com a divisão da carreira, o que fazer em Outubro. Creio que seriam estas as questões concretas que o PGuinote e eu gostaríamos de ver respondidas.