Reforço da Educação Física – Uma questão de equidade e de equilíbrio na oferta curricular.

A proposta do conselho de escolas que aponta para um reforço da disciplina de Educação Física é um exercício de lucidez!

1. Porque a amplitude, complexidade e profundidade dos conteúdos programáticos, que decorrem dos objetivos que foram estabelecidos e dos pressupostos materiais e pessoais condizentes, requerem um alargamento do horário semanal da disciplina de Educação Física que se deve aproximar de uma hora diária da prática desportiva. O contexto de vida aconselha a extensão da Educação Física escolar!

2. É verdade que a decisão político-administrativa de reajustar as cargas horárias das disciplinas escolares é difícil porque os ganhos de umas disciplinas revertem em prejuízo de outras. Se é um dado inquestionável que todas as disciplinas são importantes pela especificidade dos seus conteúdos, importa perceber se há ou não redundância na estimulação das múltiplas inteligências. Se há disciplinas em excesso face ao tempo disponível, terá de ser este o único critério a determinar a diminuição ou alargamento do tempo adstrito à cada disciplina escolar. Ora, sabendo que a Educação Física escolar é a única disciplina que visa preferencialmente a corporalidade, é difícil de perceber as razões pelas quais o sistema educativo maltrata o corpo e porque rejeita as oportunidades de educação e formação que o corpo proporciona.

Gorduras do Estado

O Tribunal de Contas chumbou um contrato de 1,1 milhões de euros que foi celebrado, em Janeiro de 2011, pela empresa pública Parque Escolar com a construtora Mota-Engil.
(…) acusa o TC, a empresa celebrou um contrato “com vista a executar uma empreitada cujas obras já estavam concluídas e sem que houvesse quaisquer outras obras a realizar no seu âmbito”.

Percebem agora o conceito de Estado gordo?

Serviço público versus serviço privado

“Os pais de Joana, uma menina de nove anos que precisa de terapia da fala, puderam até agora usar uma sala da escola Básica Vasco da Gama, em Lisboa, que a criança frequenta, para esta ter sessões com a terapeuta duas vezes por semana, mas na semana passada receberam uma mensagem de correio eletrónico da diretora do Agrupamento Eça de Queiroz a informá-los de que a partir de agora terão que pagar dez euros por cada hora que a sala seja utilizada.”

Sem demagogia, vamos aos factos:

1. A menina precisa de terapia da fala e a escola não tem terapeuta da fala;

2. Os pais da menina recorrem a um serviço privado e contratam uma terapeuta;

3. Os pais da menina solicitam à escola a cedência de uma sala para o serviço;

4. A escola aluga uma sala aos pais da menina para que o serviço privado seja realizado;

Deve a escola pública patrocinar serviços privados?

Observada a questão numa ótica mercantil é óbvio que dinheiros públicos não devem servir para patrocinar serviços privados. A escola fez o que devia.

Observada a questão numa ótica de serviço público, de um serviço social de apoio às crianças e jovens com necessidades educativas especiais, a escola pública não é uma empresa e as lógicas de serviço público têm outro quadro de referência: a pedagogia. A escola não fez o que devia.

Decidam-se: Não podemos ter sol na eira e chuva no naval!

Constituição “à la carte”

O presidente da comissão de Assuntos Constitucionais, Fernando Negrão, defendeu hoje que a petição que já reuniu mais de 23 mil assinaturas pedindo a demissão do Presidente da República é de “objeto impossível” porque “a Constituição não o permite”.

A sério, Negrão? Olhe que eu não seria tão taxativo. Depende do modo como se decifra a Constituição. A acreditar na sapiência e na coerência do professor Marcelo, a Constituição deve ser situada (a expressão é minha). Dito de outra forma, a Constituição deve ser lida e interpretada num determinado contexto histórico e social. Foi assim que os constitucionalistas mandaram às malvas a Constituição no caso do roubo nos salários e nos subsídios dos funcionários públicos.

Não percebo por que não o podem fazer no caso da demissão do Presidente.

Blasfémia, senhores…

Entre uma leva de aulas li a Recomendação sobre Educação para a Cidadania (Recomendação n.º 1/2012) do Conselho Nacional de Educação (CNE).  Após apreciação do projeto de Recomendação elaborado pelo Conselheiro Almerindo Janela Afonso, o CNE deliberou aprovar o referido projeto.

Divergindo dos propósitos do governo, o CNE recomenda a manutenção da disciplina de Formação Cívica (cf. Decreto -Lei n.º 50/2011 de 8 de abril) considerando que “deve ser assumida como uma dimensão fundamental no ensino secundário, em adequada articulação com os processos que visam os melhores níveis de sucesso académico dos alunos. No ensino básico, deve ser revalorizada a educação para a cidadania democrática no âmbito da Formação Cívica, resgatando-a do enclausuramento excessivo relativo à gestão quotidiana dos problemas que decorrem das funções da direção de turma.

Não me surpreendi com o teor das recomendações e, sobretudo, com a crítica explícita sobre “as expectativas sociais e oficiais em relação ao currículo (por) privilegiarem a transmissão de conhecimentos, num contexto de algum modo favorável à indução de uma crescente seletividade e remeritocratização académicas.”

Ficarei apenas surpreendido se Nuno Crato não vier a terreiro defender a “implosão” deste seu órgão consultivo… por heresia.

DESAPARECIDO – Pedido de divulgação

O aluno do 10º Ano, Turma F, Luís Carlos Faria da Silva, está desaparecido desde 6ª feira, dia 20/01/2012, tendo sido visto pela última vez junto à Escola Secundária de Vizela, cerca das 13.30 horas, onde foi deixado pelo pai, imagepara frequentar às aulas da tarde, às quais  não compareceu.
Na altura do desaparecimento vestia calças de ganga azul, casaco com capuz cinza azulado e ténis pretos, e levava um saco e uma mochila preta.
Quem tiver alguma informação deverá contactar o tlm 962666548, ou as autoridades locais, GNR ou PSP.

Os pais agradecem.

Concurso de blogues

O Aventar dinamizou um concurso de blogues. É de louvar uma iniciativa que divulgue o que se diz na blogosfera porque permite dar mais visibilidade a bloggers pretensamente encerrados no seu círculo mais ou menos restrito e faz prova de vida a outros mais intermitentes. Não direi que se trata de um baile de debutantes na blogosfera, mas há que catalogar e desafiar os seus autores a perseverarem.

O concurso, não sendo uma novidade, foi uma iniciativa particularmente feliz porque surge num momento em que a blogosfera perdeu a aragem de modismo que a caracterizou outrora, e que recai presentemente no facebook, e confirma o seu lado alternativo aos tradicionais órgãos comunicação social.

Não sendo um blogue de grandes audiências, há um conjunto de leitores indefetíveis que ousaram passar pelo Aventar para participar neste concurso para nomear o outròólhar.

Agradeço a afabilidade e aproveito para felicitar os autores dos blogues mais votados e, sobretudo, aqueles que cuidam do tema educação.

Ridículo

Cavaco diz que as reformas dele não chegarão para pagar despesas

O problema do reformado Cavaco Silva é risível. O que confere significado à declaração do presidente da república é a desvinculação do seu autor… como se reinscrevesse uma dupla personalidade: Como se o cidadão reformado e o político Cavaco Silva, corresponsável pelas políticas que conduziram o país à antecâmara da bancarrota, não fosse a cara e a coroa da mesma moeda…

Ainda se brinca às avaliações?…

Com a devida vénia ao JMatias Alves pelo destaque do Relatório IGE, 2011.

Do USO DOS RESULTADOS DOS EXAMES

de JMA

Retomo relatório da IGE, para sublinhar o óbvio, mas que quase nunca tem consequências:

A experiência do primeiro ciclo de avaliação externa de escolas mostrou não só haver alguma dificuldade em interpretar os resultados escolares à luz da informação de contexto disponibilizada mas também um desconhecimento de informação de umas escolas relativamente às outras, o que não lhes permitia fazer um exercício comparativo do seu desempenho (benchmarking). Adicionalmente, as provas nacionais não estão calibradas, o que se demonstra pelo facto de a média de classificações variar substancialmente de um ano para o outro, não sendo crível que a qualidade dos alunos varie de forma tão brusca. Assim, não faz sentido fazer julgamentos acerca de evoluções positivas ou negativas do desempenho da escola nestas provas. Esta evolução poderá ser menos determinada pelo desempenho da escola que pela flutuação do grau de dificuldade da prova de um ano para o outro. Este problema aponta, por isso, para a criação de modelos que forneçam indicadores de desempenho relativo da escola face ao conjunto de escolas congéneres.
Relatório IGE, 2011

Só para tipos com boa inteligência existencial

“o mérito ou o demérito das áreas não curriculares não estava nelas mesmas, mas sim no que os professores faziam ou não faziam com elas. Infelizmente, em muito grande número de casos, não estavam a servir para nada, mas não se deve ignorar as “coisas” excelentes que alguns professores (muitos, ainda que não a maioria) faziam com elas, proporcionando aos seus alunos experiências muito marcantes na sua formação.” (IC, comentou aqui)

Percebo a afirmação da IC, concordo que o professor é um elemento chave de qualquer mudança substantiva no sistema educativo, mas discordo da tese relativa à benignidade das áreas não curriculares.

Há, de facto, um conjunto de professores que desenvolvem experiências significativas para os alunos. Há professores extraordinários, invulgares. Há o professor que não se limita ao curricular (heresia, senhor ministro da educação), que é muito mais do que um técnico, um professor transmissor do saber e do saber-fazer constituídos. Manuel Ferreira Patrício designaria este professor de “professor cultural”, o professor que convém à “escola cultural”.

Há professores de carne e osso que se aproximam deste padrão. Não direi que estão imunes a qualquer hecatombe pedagógica e profissional, mas lá vão resistindo e encontrando o alento nos seus processos de ensino e aprendizagem, dentro ou fora do bunker (sala de aula).

Um professor cultural pode muito mas não pode tudo. Não pode, por exemplo, transformar uma escola unidimensional numa escola pluridimensional. Não pode transformar uma escola reduzida à sua dimensão curricular numa escola integral, curricular, extracurricular e interativa.

Para não reescrever uma parte da história deste blogue, escrevo aqui e aqui o que penso sobre o assunto. E para que não se pense que o tema morreu, encontra aqui uma síntese escrita por Manuel Ferreira Patrício em Julho de 2011. O lugar do clube escolar é insubstituível no paradigma cultural de escola.

“Deve ser evidenciado o clube escolar. O clube escolar é o motor transformador da Escola unidimensional – a Escola das disciplinas e formações afins – em Escola pluridimensional. É o elemento estruturante principal da Escola de novo paradigma.
É o clube que verdadeiramente introduz na Escola a liberdade de escolha das aprendizagens e actividades formativas, abrindo espaço à dinâmica vocacional. É o clube que torna possível  a interacção. É o clube que pressiona a dimensão pedagógica lectiva, no sentido da adopção e prática de uma didáctica mais viva e activa, aberta ao gosto pelas matérias do currículo. De igual modo, é o clube que pressiona a dimensão extra- lectiva, pois o mais corrente é a iniciativa dos projectos nascer de um clube escolar. É o clube que propicia a organização dos grupos de aprendizagem e formação na base de afinidades electivas, pois um clube escolar é constituído com base na existência de gostos comuns. É o clube a mola que impulsiona dialecticamente a Escola para que nela emerja a dimensão holística/ecológica, facto que a experiência do Projecto Escola Cultural pôs inequivocamente à vista.
É o clube escolar que reconcilia as crianças e os jovens com a Escola.” (Manuel Ferreira Patrício)

As áreas não curriculares são metamorfoses da área escola e a área escola veio preencher o espaço do clube escolar.

Percebem agora a razão que me levou a enaltecer uma parte da proposta de alteração curricular do governo?

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Errata: Onde se lê “áreas não curriculares” deve ler-se “áreas curriculares não disciplinares”

Só para tipos com boa inteligência linguística ;o))

Era expectável que Nuno Crato, ministro, fosse capaz de justificar as opções políticas com o rigor que Nuno Crato, comentador, apregoou. Foi anunciada uma reorganização curricular e apresentada uma proposta pelo governo. O ministro justifica a alteração curricular alegando a necessidade de centrar aprendizagens nos conteúdos essenciais. Basta observar o quadro curricular e a distribuição da carga horária para se inferir a lógica que lhe subjaz: se considerarmos que o tempo adstrito a cada disciplina é uma demonstração do seu estatuto, o reforço da carga horária das disciplinas de Português e Matemática e a redução da carga horária das disciplinas de Educação Visual e de Educação Tecnológica são sinais inequívocos de uma ideia, a meu ver, preconceituosa de inteligência que urge combater. Mesmo que nos atrevêssemos a ordenar as inteligências que são estimuladas na escola, usando como critério uma característica subjectiva que lhes concedesse uma superioridade face às restantes inteligências, ficava por demonstrar que uma disciplina escolar tem o exclusivo do desenvolvimento de uma dada inteligência. E isto não invalida o facto de existirem disciplinas escolares cujos conteúdos constituem estimulantes especiais para determinadas inteligências. Ora, para quem tem como missão garantir o respeito do espírito da Lei de Bases do Sistema Educativo (que vê o aluno como um sujeito integral e multifacetado) impedir o acesso a determinadas disciplinas e conteúdos é uma iniquidade que importa desmistificar.

Se Nuno Crato pretende encontrar um critério para eliminar disciplinas redundantes, é a montante dos conteúdos que deve buscar esse critério. Não pode olhar para o conhecimento mais ou menos instantâneo que essas disciplinas produzem, mas antes deve pensar no tipo de inteligências que esses conteúdos estimulam.

Fui claro? Não?!

Só para tipos com boa inteligência lógico-matemática…

No 2º ciclo, as áreas não disciplinares ocupam 18% do tempo lectivo. Em comparação com outros países, Portugal “é o campeão da dispersão curricular”, frisou Nuno Crato.
As áreas não curriculares vão desaparecer das escolas a partir do próximo ano lectivo na sequência da nova estrutura curricular propostas pelo Ministério. O objectivo, repetiu Crato, é o de centrar aprendizagens nos conteúdos essenciais
.

Há muito que defendo a eliminação das áreas não curriculares, assim como defendi em tempos a eliminação da área escola. Estes abortos pedagógicos, que não se confundem com a atividade desenvolvida nos clubes escolares (devidamente regulamentados e de frequência facultativa), não têm qualquer cabimento na minha concepção de escola pluridimensional ou cultural.

Por razões bem diversas, concordei com o ministro da educação quando este decidiu remover do currículo as áreas não curriculares. Mas discordo de qualquer redução curricular que se faça desdenhando a teoria das múltiplas inteligências de Gardner. Quando o ministro considera que tem o objetivo de centrar aprendizagens nos conteúdos essenciais, refere-se aos conteúdos essenciais que estimulam uma determinada inteligência.

Fui claro?… Não?!…

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Errata: Onde se lê “áreas não curriculares” deve ler-se “áreas curriculares não disciplinares”

Currículo nacional falacioso…

O currículo nacional não deve ser, não pode ser, determinado por uma elite, ela própria subordinada a um conjunto de interesses económicos e financeiros que procuram defender o statu quo.

O currículo concretiza um plano cultural nacional a ser executado pela escola. Será um esforço inglório qualquer tentativa de determinar um projeto nacional para o sistema educativo sem um elevado consenso nacional, por duas razões fundamentais:

  1. Porque um projeto educativo nacional é um projeto de médio e de longo prazo e nenhum partido político pode garantir a manutenção desse plano para lá do seu mandato.
  2. Porque de um currículo nacional subjaz uma conceção de homem e uma conceção do mundo. Nenhum partido político, num sistema democrático, tem legitimidade para representar esse ideal humano.

Nuno Crato é, de facto, um ministro muito… crente!

Pensamentos avulsos, nada desconexos, sobre a alteração curricular.

1. Não é nada pacífico o processo pelo qual uma determinada elite procura impor o conhecimento que a sociedade deve interiorizar como oficial. A Escola é uma via e o currículo é o instrumento utilizado por essa elite para impor o conhecimento.

2. Observando a proposta do governo para a reorganização curricular percebe-se um grande peso ideológico no modo como são distribuídas as cargas horárias das diferentes disciplinas escolares. A conceção reducionista da educação, obcecada pelas exigências do mercado, acaba por afetar o desenho curricular conquistando preponderância as disciplinas que presumivelmente servem os interesses dessa elite conservadora.

3. Os professores têm sido renegados sistematicamente pela tutela na discussão sobre a configuração do desenho curricular . Percebe-se a hegemonia da conceção neo taylorista de escola. Os professores surgem no “lugar do morto” na discussão entre o governo e os diretores. Seguem (n)a viagem mas não têm qualquer intervenção na condução do processo.

4. É bem provável que se relevem valores perversos nas aulas, como o individualismo, o classismo, o egoísmo, a rivalidade,…

Hilariante!

Bastou o PDS/CDS apropriar-se da máquina do Estado, para o Ramiro perder o discernimento. A partidarite é, de facto, uma doença que só pode ser tratada na oposição.

Diz ele:

Não faz sentido que o Governo pague o salário dos dirigentes sindicais. Mário Nogueira não leciona há 20 anos. Há 20 anos que trabalha para a Fenprof e para o PCP. Atingiu o topo da carreira sem o mais pequeno obstáculo, apesar de estar a tempo inteiro na direção da Fenprof há duas décadas. É um excelente funcionário. Exerce as suas funções com entusiasmo, competência e dedicação. Tem todo o tempo do mundo para fazer guerra ao Governo. Um Governo que lhe paga para ele fazer guerra.

Com esta legislação, Portugal não vai longe. Dirigentes sindicais, pagos pelo Governo, para fazerem guerra ao Governo e promoverem a desconfiança entre trabalhadores e patronato não lembra ao Diabo.”

Vejamos. O Governo é, para o Ramiro, o patrão. E um patrão não deve pagar os salários a quem lhe faz guerra. Certo? Os deputados da oposição que pensem num modo de vida alternativo.

O problema não é o Ramiro pensar que o nosso país é a coutada do partido político A, B ou C. O problema é que há uma prática, um modus operandi que fez escola nos delfins das jotas que concretiza esta ideia.

Blogs do ano 2011

O Aventar organiza pela primeira vez um concurso de blogs com o objectivo de promover e divulgar o que de mais interessante se faz na blogosfera portuguesa e de língua portuguesa. É organizado em duas fases de apuramento, a primeira aberta a todos os que queiram participar e a segunda constituída pelos 5 mais votados de cada categoria.

O outrÒÓlhar está muito bem acompanhado na categoria Educação :

Se gostas de concursos, passa por lá!

Os diretores escolares querem sol na eira e chuva no nabal

O colega Adalmiro, Pres. Assoc. Nac. de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, admitiu ao Correio da Manhã a sua desilusão pelo modo como os diretores têm sido tratados pela tutela. Serei excessivo se universalizar o gozo e a jactância que sentiram muitos diretores pela promoção artificial que resultou do fim do 115/A. O abandono da colegialidade na direção escolar e a concentração de poder(es) no diretor criou essa sensação falaciosa de poder, porque a tutela nunca abdicou do controlo das escolas usando inúmeras ferramentas de prestação de contas que coartam a ação dos diretores. A intenção da ministra era óbvia: queria desacreditar o movimento sindical porque sempre preferiu representantes de professores mais amigáveis e subservientes. Excetuando algumas manifestações de solidariedade, muito situadas e avulsas, alguns diretores quiseram passar pelos intervalos da chuva sem molho. E não faltaram oportunidades para tomadas de posição solidárias dos diretores no leque de reivindicações que fizeram a agenda da luta dos professores. Só para nos situarmos, recordo o modo como os diretores se posicionaram (por ação ou por omissão) na constituição do conselho geral transitório nos primórdios do 75/2008. Podia evocar posição tíbias no concurso dos titulares e no processo de avaliação de desempenho, mas seria fastidioso.

Enfim, o colega Adalmiro não deixa de ser enternecedor. Se não gosta de ser um funcionário administrativo travestido de diretor, presumo que o seu calvário não terá fim se regressar às salas de aula no próximo ano letivo, porque será um manga-de-alpaca camuflado de professor. Percebo a sua desilusão. Só não percebo é a afirmação de que “Os directores têm de ter intervenção na política educativa, (porque) ninguém sabe mais de escolas do que nós.” Não quero crer que o Adalmiro pensa que um dia, quando regressar à sala de aula, ficará oco. Deixará de saber de escolas!? Terá de se reduzir à sua insignificância política só porque entrou numa espécie de bunker!? Por que será que o diretor Adalmiro renega ao professor Adalmiro o exercício pleno da função do professor? Será que se trata apenas de um problema existencial ou é um sinal da necessidade de limitar os mandatos aos titulares de órgãos de gestão?