Vamos atirar o zarolho ao mar!?

Embalado pela ópera melodramática bufa, representada pelos políticos do bloco central, bem secundados pelos opinadores do economês, decidi tocar pelo mesmo diapasão. Como a prestação de contas para os representantes políticos tem sido uma balela, já que poucos ousam assumir os seus erros e as más decisões, não tenho que temer desacertos nos diagnósticos e tiros na água quando se trata de prognósticos.

Mas avencemos. Tenho observado as retóricas da crise n(d)os mercados e d(n)os Estados e constato dois tipos de retóricas que aparecem enformadas por um conteúdo de tipo maniqueísta. De um lado, temos as boas soluções – aquelas que enfatizam os cortes nas despesas (com o trabalho, por exemplo); e do outro lado, temos as más soluções – aquelas que decorrem do aumento das receitas (impostos, fundamentalmente). A ideia que se pretende fazer passar para a opinião pública é a da inevitabilidade destas medidas, as boas e as más, para contentar os credores que vão taxando a seu belo prazer o juro da nossa dívida. Há pelo meio desta negociata um conjunto de agências, que são tudo menos independentes, que avaliam o risco para os empréstimos. Farinha do mesmo saco.

Acorrentados a um compromisso com a União Europeia, que nos salva e que nos tolhe, que ninguém sabe onde começa nem onde acaba, que vai refreando a indignação porque está longe o centro das decisões, o povo lá vai carpindo as suas mágoas com promessas de revolta que obviamente nunca chegará a cumprir porque a ganância do individualismo é genético e salve-se quem puder.

Sem linha de rumo e navegando à vista sob um comando zarolho, o país encalhou. Como não se pode mudar de embarcação e muito menos desejar o naufrágio, não acham que está na horinha de mandar o capitão ao mar?