Quem defende a CONFAP?

O Conselho Executivo da CONFAP divulgou em 22 de Dezembro do corrente ano, na sua página oficial e em vários órgãos de comunicação social, uma posição sobre a avaliação dos alunos do ensino secundário. Propõe o Conselho Executivo da CONFAP: “ que as classificações obtidas em  E.F., ou não contem para a media final, ou que se estabeleçam mecanismos claros e transparentes,  que permitam o nivelamento da média de E.F. relativamente às médias das demais disciplinas; Ponderar o peso dos parâmetros de avaliação prática e teórica para não empurrar bons alunos para cursos superiores que nada lhes dizem, por terem insuficiência de média, em consequência dos resultados alcançados numa só disciplina.”

Atendendo a que a CONFAP não questiona a presença da Educação Física no roteiro das disciplinas escolares, porque considera que “a Educação física é benéfica para os jovens nesta faixa etária”, passarei ao lado dos principais argumentos que legitimam a existência da disciplina no contexto escolar, não obstante ser necessário explicitar a sua incumbência educativa para se perceber que o “problema das classificações em Educação Física” é um mero artefacto que esconde uma ideia utilitarista de Escola e de Ensino. Uma ideia que, levada às últimas consequências, é nefasta ao pleno desenvolvimento das crianças e jovens porque “descorporiza” a educação.

Os objectivos da Educação dependem dos contextos sociopolíticos e os processos de transformação social determinam o sentido dos objectivos educativos. Vivemos numa fase marcada por uma enorme convulsão social e os discursos que emanam da crise não são claros. Direi que há uma pluralidade de discursos da crise, que enfatizam, a meu ver, algumas das suas manifestações: Existe a crise dos mercados, a crise das instituições, a crise dos modelos societários, etc. Ora, neste quadro de grande volubilidade axiológica, somos obrigados a renovar argumentos a favor da educação como projecto antropológico. Urge empurrar a educação para fora das bandas do utilitário e do acessório.

A proposta da CONFAP revela exactamente uma visão de escola unilateral, uma escola que se (pre)ocupa das aprendizagens, dos saberes e das competências que tornam patente o carácter instrumental do ensino. É uma escola que se (pre) ocupa com a formação profissional, com os saberes, disciplinas e aprendizagens que “servem” à profissão que há-de vir apesar de ninguém saber o que aí vem, porque os tempos são de grande incerteza. A ideia de que é necessário dotar as crianças e jovens com ferramentas cognitivas, psicomotoras e afectivas que as ajude a vencer a imprevisibilidade, é afrontada com uma retórica paradoxal de que o que importa são os saberes hegemónicos de duas áreas disciplinares, matemática e língua materna, pouco ou nada importando que se ampute, em última instância, o currículo escolar.

Atente-se ao argumento que é usado para reclamar um tratamento desigual na disciplina de Educação Física. A CONFAP acha que “muitos dos alunos do Ensino Secundário não têm grande destreza física. Há bons alunos, de excelência, até, os quais,  apesar do seu empenho, não conseguem obter boas classificações a Educação Física, acabando tal facto por lhes descer a media geral de acesso ao Ensino Superior.

Ainda perceberia a proposta da CONFAP se visasse a redução do leque das disciplinas para a contabilização da média de acesso ao ensino superior. Se os alunos pudessem escolher o elenco das disciplinas para aferir a média de acesso consoante as diferentes vocações e capacidades (escolhendo as melhores 2, 3 ou 4 disciplinas, ou rejeitando 1, 2, ou 3). Aí seriam respeitadas as diferenças apesar de continuar a beliscar o conceito de excelência que remete para o sujeito integral e multilateral.

A CONFAP defende a adulteração das regras de acesso ao Ensino Superior. Mas não se incomoda em fragilizar aqueles alunos que no seu trajecto escolar não descuraram a corporalidade. O conceito de excelência da CONFAP é um conceito de conveniência. É um conceito desprovido de equidade. Assim, não!

3 thoughts on “Quem defende a CONFAP?

  1. Duvido que alunos inteligentes aceitem que a CONFAP os trate por “corpos burros”. Ou será que a CONFAP possui algum estudo técnico e científico que ressuscita o velho dualismo corpo/alma! Nesse caso, sugiro que quantifique, para cabal conhecimento dos seus associados, o número de filhos:
    . inteligentes em corpo burro;
    . burros em corpo inteligente;
    . burros em corpo burro;
    . inteligentes em corpo inteligente.
    Seria preferível que a CONFAP, numa lógica de descriminação positiva, muito apregoada noutros escritos, reformulasse os seus escritos para potenciar a Educação Física e Desporto e aqueles que, implicitamente apelida de “burros de corpo inteligente”, seguramente a maioria numa escola ainda tradicionalista e redutora, pudessem atingir a excelência.
    “Mens sana in corpore sano” é, contudo, a nossa sugestão porque assenta numa lógica de equilíbrio!

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  2. Gostei do teu comentário, Paulo. 🙂
    Há por aí uma apologia revisionista do dualista “corpo/alma” que urge combater. E o Sr. Albino e os seus comparsas deviam ter mais cuidado nas posições públicas da CONFAP porque não se representam a si próprios.

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  3. A posição da CONFAP é um chocalhar dos esqueletos que estavam no armário. Não apareceram durante uns anos mas… estavam lá!

    Continuamos a ser empurrados pela aragem do preconceito relativamente ao “eu global”, característica muito própria de um povo pouco culto e influenciado em demasia por posicionamentos sócio/religiosos em que o corpo, apesar de estarmos no século XXI, ainda é o parente pobre do “homo-iluminadius-oportunisticus”.

    A CONFAP já há alguns tempos que não tinha opinião sobre nada e começava a ficar esquecida, algo que não é muito conveniente para quem recebe uns “apoiozitos” do estado. A solução que encontrou para este problema está à vista: recuperar uma temática que soa bem aos ouvidos de muita gente (menos informada) e que facilmente permite reunir apoiantes arreigados.

    Quanto à razão de ser, aos fundamentos, à coerência… Isso não interessa! O que interessa à CONFAP é aparecer na comunicação social.

    Por essa razão, acho que não lhe devemos dar muita atenção. Se o fizermos estaremos a fazer um favor aos “Albinos” deste país!

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