Escola certificadora – um paradoxo.

«A nossa proposta de Estatuto [do Aluno] não inclui a reprovação por faltas. A reprovação decorre da insuficiência da aprendizagem se assim o conselho de turma o entender», afirmou a ministra, em declarações aos jornalistas, no final de uma audição na Comissão de Educação da Assembleia da República.

A governante acrescentou que «se o conselho de turma verificar que há uma aprendizagem o aluno passa», mas a escola deverá «impedir que o aluno repetidamente falte à escola», porque se isso acontecer, «naturalmente que não vai conseguir aprender».

«Sentimos que não devemos associar a ausência da escola à repetência», reiterou. (in: tsf)

A Escola transformada em guiché da educação, como podia ser da segurança social ou das finanças, é uma ideia que começa a ganhar força com os governos do senhor Pinto de Sousa e que se vem materializando com a proliferação dos Centros de Novas Oportunidades. A ideia de atrair à escola outros públicos, mais velhos, transformando os saberes profissionais em saberes escolares acabou por baralhar públicos da escola, juntando pais e filhos na escola, avós e netos, confundindo os burocratas do ME ao ponto de nos fazer crer que a outra escola, sim, sempre houve uma outra escola que não se confunde com centros de validação embora também validasse, era facilitadora e promotora do processo educativo.

A Escola, que sempre foi uma unidade pedagógica, um reencontro com a velha tradição helénica da paideia que Coménio universalizou, metamorfoseia-se com os avanços das políticas educativas neoliberais. O que não deixa de ser paradoxal. E não deixa de ser paradoxal deixar que o princípio administrativo prevaleça sobre o princípio pedagógico contrariando, aliás, a própria Lei de Bases dos Sistema Educativo que poucos se lembram que existe e que ainda ordena todo o sistema educativo. Num tempo em que se exigem mais valências à Escola para suprir défices de educação, que decorrem da demissão das famílias no trabalho educativo, eis que surgem políticas que empurram as escolas para as lógicas empresariais de catalogação de produtos “educativos”.

Enquanto estas mudanças mais ou menos sub-reptícias ocorrem, há muita gente a assobiar para o ar fazendo de conta que não percebem o sentido da mudança: por quanto tempo mais as organizações de professores  (sindicatos, movimentos, associações de disciplina, escolas de formação, …,) vão pactuar com esta farsa?

1 thoughts on “Escola certificadora – um paradoxo.

Deixe um comentário